“Como essa gente fazia para passar vergonha antes da internet?”. É uma pergunta que muitas pessoas fazem no dia a dia. Afinal, as manifestações de idiotia ganharam uma proporção desmesurada com a world wide web e, em especial, as redes sociais. Não por acaso a expressão “vergonha alheia” entrou para a fraseologia do dia a dia dos falantes de língua portuguesa. Mas a ciência tem uma explicação: os idiotas não sabem que são idiotas.
Já ouviu falar no Efeito Dunning-Kruger? É um fenômeno identificado pelos investigadores David Dunning e Justin Kruger há algum tempo, quando trabalhavam na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. O que é o tal efeito? Simples. É uma situação muito comum nos dias de hoje: as pessoas com poucos conhecimentos acreditam saber mais do que as pessoas melhor preparadas.
É mais ou menos o seguinte: quando você entra numa discussão (acontece muito no online), uma pessoa que se informa pelas redes sociais, em especial Whatsapp e Facebook, acha que tem uma capacidade de argumentação superior a alguém com um doutorado, por exemplo. Dominadas pelo anti-intelectualismo, as redes sociais fizeram tábula rasa do conhecimento. E o resultado é a ideia de superioridade das pessoas menos cultas. Ora, sem meias palavras: são os ignorantes.
Uma pessoa com maior instrução (não estou a falar de educação) sabe que tem muitos vazios de conhecimento a preencher. O que, muitas vezes, chega a provocar insegurança. Já os indivíduos de pouco conhecimento não têm dúvidas. Só certezas. Ou seja, a incompetência destes últimos os impede de reconhecer as suas próprias limitações. É o que Dunning e Kruger denominaram “superioridade ilusória”.
O mais curioso no estudo dos dois pesquisadores é a constatação de um fenômeno que afeta os melhor preparados. Por identificarem muitas lacunas no próprio conhecimento, essas pessoas acabam se sentindo uma espécie de fraude. E passam a sofrer daquilo que Dunning e Kruger chamaram “síndrome do impostor”. Eis a conclusão: a ignorância gera confiança (ilusória, claro) e o conhecimento gera dúvidas.
O estudo se ocupou de tão distintas como raciocínio lógico, compreensão de texto, conhecimento financeiro, matemática, inteligência emocional, xadrez e até dirigir automóveis. O resultado foi de que as pessoas menos preparadas têm dificuldades em reconhecer a própria incompetência, ao mesmo tempo que falham ao reconhecer as qualidades das pessoas mais preparadas.
Onde já vimos isso? Ora, Dunning e Kruger investiram enorme tempo e recursos da universidade em pesquisas. Mas talvez nem fosse necessário. Era só dar uma passadinha nas redes sociais. Ou dar olhada nos comentários anônimos aqui no Chuva Ácida.
É a dança da Chuva.
A seguir, um filme sobre o Efeito Dunning-Kruger.