terça-feira, 10 de abril de 2018
Odiar Lula. E odiar, odiar, odiar...
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
- “Leva e não e traz nunca mais”.
- “Manda este lixo janela abaixo aí”.
De férias, fui despertado por uma mensagem de alguém a perguntar se eu sabia da veracidade do áudio com essas frases. Elas teriam sido proferidas por pessoas envolvidas no voo que transportava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Curitiba. Tudo indica que são verdadeiras, mas nem precisariam ser. Os desejos de morte do ex-presidente são mais do que reais. É só dar uma olhada nas redes sociais.
É apenas fruto da escalada de ódio (de classe, mas não só) que tomou conta do Brasil. A cultura do ódio fez perder todas as referências, ao ponto de tornar irrelevante o valor da vida humana. É a rejeição da civilização. É a invalidação do imperativo categórico de Kant, aquele que fala em só querer para os outros o que queremos para nós (a vida é um bem universal). Enfim, é a negação do contrato social.
O episódio, somado a tantos outros que têm acontecido ao longo dos últimos tempos, revela o estado de putrefação a que chegou um certo inconsciente social. O ódio fez perder as referências da vida em sociedade. A decência, a tolerância e o respeito pelo ser humano – e pela vida – tornaram-se moeda podre. A corrosão do caráter dos indivíduos é o caminho para o fracasso da democracia. E parece não haver volta.
Sigmund Freud escreveu que o ódio é um processo do ego que projeta a destruição do ser odiado. O alvo dessa projeção? É todo aquele que se mostra irredutível à minha própria imagem. Ou seja, se o outro é diferente e não se converte à minha imagem, é inevitável odiá-lo. E surge a negação desse outro e, em situações mais extremas, o desejo de destruição (a pulsão de morte). Lula é alvo de todo esse ódio.
Há quem rejeite a expressão “ódio de classe” (os odiadores são os primeiros), mas ela é uma evidência no Brasil. O discurso do ódio ocupa o dia a dia dos conservadores. E é sempre oportuno lembrar Bernard Shaw, quando ele diz que o ódio é a vingança do covarde. Quem tem olhado para a caixa de comentários deste blog sabe do que estou a falar.
É a dança da chuva.
- “Leva e não e traz nunca mais”.
- “Manda este lixo janela abaixo aí”.
De férias, fui despertado por uma mensagem de alguém a perguntar se eu sabia da veracidade do áudio com essas frases. Elas teriam sido proferidas por pessoas envolvidas no voo que transportava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Curitiba. Tudo indica que são verdadeiras, mas nem precisariam ser. Os desejos de morte do ex-presidente são mais do que reais. É só dar uma olhada nas redes sociais.
É apenas fruto da escalada de ódio (de classe, mas não só) que tomou conta do Brasil. A cultura do ódio fez perder todas as referências, ao ponto de tornar irrelevante o valor da vida humana. É a rejeição da civilização. É a invalidação do imperativo categórico de Kant, aquele que fala em só querer para os outros o que queremos para nós (a vida é um bem universal). Enfim, é a negação do contrato social.
O episódio, somado a tantos outros que têm acontecido ao longo dos últimos tempos, revela o estado de putrefação a que chegou um certo inconsciente social. O ódio fez perder as referências da vida em sociedade. A decência, a tolerância e o respeito pelo ser humano – e pela vida – tornaram-se moeda podre. A corrosão do caráter dos indivíduos é o caminho para o fracasso da democracia. E parece não haver volta.
Sigmund Freud escreveu que o ódio é um processo do ego que projeta a destruição do ser odiado. O alvo dessa projeção? É todo aquele que se mostra irredutível à minha própria imagem. Ou seja, se o outro é diferente e não se converte à minha imagem, é inevitável odiá-lo. E surge a negação desse outro e, em situações mais extremas, o desejo de destruição (a pulsão de morte). Lula é alvo de todo esse ódio.
Há quem rejeite a expressão “ódio de classe” (os odiadores são os primeiros), mas ela é uma evidência no Brasil. O discurso do ódio ocupa o dia a dia dos conservadores. E é sempre oportuno lembrar Bernard Shaw, quando ele diz que o ódio é a vingança do covarde. Quem tem olhado para a caixa de comentários deste blog sabe do que estou a falar.
É a dança da chuva.
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Danilo Gentili, por exemplo, sugere a morte de Lula. |
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Hoje tem Reinaldo Azevedo...
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
De férias, deixo o Reinaldo Azevedo ocupar o meu lugar no blog (e vejam que não sou nadinha fã do Rola Bosta). É uma fala com alguns dias, mas dado os acontecimentos dos últimos dias parece ter interesse histórico.
De férias, deixo o Reinaldo Azevedo ocupar o meu lugar no blog (e vejam que não sou nadinha fã do Rola Bosta). É uma fala com alguns dias, mas dado os acontecimentos dos últimos dias parece ter interesse histórico.
Lula esta preso. E agora?
POR JORDI CASTAN
Prefiro manter o foco nos assuntos paroquiais, no quotidiano da vida da vila. Esse quotidiano que nos últimos anos tem sido dominado pela inação da inépcia. Mas hoje o tema não poderia ser outro que a prisão de um condenado em segunda instância.
Depois do espetáculo vergonhoso e lamentável promovido per unas centenas de fanáticos que colocaram acima da lei, finalmente o ex-presidente Lula foi preso por crime comum. O primeiro ex-presidente brasileiro preso por crime comum. Seus seguidores insistirão em que se trata de um julgamento político, alguns até insistem em dizer que Lula é hoje um preso politico. Lula, e é bom não confundir, é um politico preso. É oportuno lembrar que esta condenação em segunda instancia é pelo primeiro processo que corre na justiça contra ele, há ainda outros e, se for condenado, como tem grandes possibilidades de acontecer sua pena será aumentada.
Lula e seus seguidores vivem num mundo fantasioso, um mundo em que acreditam que podem construir a sua realidade. Se consideram cidadãos acima do bem e do mal, membros de uma casta superior que tem direitos que não são os mesmos dos cidadãos comuns. Preocupa esta incapacidade de ver a realidade como ela é. No mundo fantástico em que acreditam que podem decidir quando, onde e como se entregar para cumprir a ordem de prisão. Acreditam ainda que podem, com truculência e bravatas, impor a "sua verdade" sobre o cumprimento da lei. É oportuno lembrar que neste episódio a imagem da justiça, da lei e da própria Policia Federal saíram arranhadas. Verdade que tanto o juiz Moro como a Policia Federal agiram com o bom senso que faltou aos organizadores do espetáculo circense em que tudo se converteu.
É bom para a imagem do Brasil ver finalmente um condenado preso. Muitos chegamos a duvidar que isso algum dia acontecesse. Ilude-se quem acredita que Lula possa ficar preso por muito tempo. Ele sabe demais e pelos seus antecedentes no passado, não seria nenhuma surpresa se, depois de uns dias em prisão, ele decidisse contar um pouco do muito que sabe. Lula não tem perfil de herói. Tal vez por isso haja tantos interessados em que ele não fique muito tempo preso.
Prefiro manter o foco nos assuntos paroquiais, no quotidiano da vida da vila. Esse quotidiano que nos últimos anos tem sido dominado pela inação da inépcia. Mas hoje o tema não poderia ser outro que a prisão de um condenado em segunda instância.
Depois do espetáculo vergonhoso e lamentável promovido per unas centenas de fanáticos que colocaram acima da lei, finalmente o ex-presidente Lula foi preso por crime comum. O primeiro ex-presidente brasileiro preso por crime comum. Seus seguidores insistirão em que se trata de um julgamento político, alguns até insistem em dizer que Lula é hoje um preso politico. Lula, e é bom não confundir, é um politico preso. É oportuno lembrar que esta condenação em segunda instancia é pelo primeiro processo que corre na justiça contra ele, há ainda outros e, se for condenado, como tem grandes possibilidades de acontecer sua pena será aumentada.
Lula e seus seguidores vivem num mundo fantasioso, um mundo em que acreditam que podem construir a sua realidade. Se consideram cidadãos acima do bem e do mal, membros de uma casta superior que tem direitos que não são os mesmos dos cidadãos comuns. Preocupa esta incapacidade de ver a realidade como ela é. No mundo fantástico em que acreditam que podem decidir quando, onde e como se entregar para cumprir a ordem de prisão. Acreditam ainda que podem, com truculência e bravatas, impor a "sua verdade" sobre o cumprimento da lei. É oportuno lembrar que neste episódio a imagem da justiça, da lei e da própria Policia Federal saíram arranhadas. Verdade que tanto o juiz Moro como a Policia Federal agiram com o bom senso que faltou aos organizadores do espetáculo circense em que tudo se converteu.
É bom para a imagem do Brasil ver finalmente um condenado preso. Muitos chegamos a duvidar que isso algum dia acontecesse. Ilude-se quem acredita que Lula possa ficar preso por muito tempo. Ele sabe demais e pelos seus antecedentes no passado, não seria nenhuma surpresa se, depois de uns dias em prisão, ele decidisse contar um pouco do muito que sabe. Lula não tem perfil de herói. Tal vez por isso haja tantos interessados em que ele não fique muito tempo preso.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Lula, Moro e o momento da guerra simbólica
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sérgio Moro foi com muita sede ao pote. O timing para a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva é mau e só pode ter sido fruto de pouca reflexão. Ou pela obsessão de ver o ex-presidente atrás das grades. Lula da Silva já veio a público dizer que considera a prisão um “sonho de consumo” do juiz. Faz sentido. A ordem de prisão foi a mais rápida entre os réus soltos da Lava Jato. É vapt-vupt.
A história não tem fim à vista. Lula pode ser preso num dia e solto no outro. O imbróglio jurídico ainda não acabou e não se sabe o que vai acontecer. Nem quando. O fato é que o julgamento tem sido político e, neste momento, retiradas a Lula as hipóteses de recorrer em liberdade, a questão passa a ser eminentemente política. A política é a praia do ex-presidente e isso recomenda um olhar atento para as decisões deste dia.
Há muito mais em jogo do que simplesmente trancafiar um ex-presidente. Hoje será o dia D de uma batalha simbólica capaz de marcar os acontecimentos dos próximos tempos. Mais do que a prisão, hoje estarão em jogo as palavras, as ações e, principalmente, as imagens. O país tem um encontro consigo mesmo. O futuro do vai ser influenciado pelos símbolos que este dia venha a produzir.
Não é por respeito que Sérgio Moro proíbe o uso de algemas. É uma estratégia. Retirar as algemas da narrativa deste dia é apenas uma artimanha campônia. O juiz sabe que a imagem de Lula algemado pode criar uma semântica muito poderosa, capaz de fugir ao controle do golpe. Diz o velho adágio que uma imagem vale por mil palavras, mas neste é muito mais do que isto.
Outra patranha do juiz é a de que Lula deve se entregar por moto próprio. É claro que isso facilitaria em muito a vida de Sérgio Moro. Ele sabe que o ex-presidente vai estar cercado de seguidores e que abrir caminho entre a multidão poderia ser o estopim para a exacerbação dos ânimos. O risco de que a situação se inflame é muito elevado nestes tempos de polarização política.
Resistir ou se entregar? Lula pode fazer o jogo do juiz e agir de forma republicana. Ou seja, fazer o que Sérgio Moro determinou. O problema é que ser republicano não tem funcionado. E isso implicaria perder a batalha simbólica. Se o julgamento tem sido político – com o objetivo último de afastar Lula da corrida presidencial –, o ex-presidente pode assumir uma ação política e partir para a resistência pacífica.
O que isso quer dizer? Ora, Lula pode simplesmente ficar onde está e esperar pela ordem de prisão. É preciso ter em atenção que, nos dias que correm, a percepção torna-se muito mais importante que a realidade. As batalhas políticas são, antes de tudo, batalhas simbólicas. A semântica que ficará para a posteridade será construída pelas imagens, ações e movimentos das próximas horas.
É previsível que surjam pelo menos duas narrativas, uma no plano interno, com a velha imprensa no papel de partido de oposição, e outra no plano externo, muito mais favorável a Lula. A estratégia do PT de focar os seus esforços na imprensa internacional tem funcionado. O mundo sabe o que se passa no Brasil. E sabe que o objetivo é evitar que o ex-presidente volte ao Planalto.
A narrativa está contra o golpe. Há uma sucessão de fatos que mostram o apodrecimento das instituições no Brasil, incluindo a velha imprensa antipetista. A morte de Marielle. Os tiros na caravana de Lula. A ameaça de quartelada. E agora a prisão de Lula pode ser o corolário de uma imagética que põe o golpe em xeque. É esperar para ver. Minuto a minuto, até às 5 da tarde.
Sérgio Moro foi com muita sede ao pote. O timing para a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva é mau e só pode ter sido fruto de pouca reflexão. Ou pela obsessão de ver o ex-presidente atrás das grades. Lula da Silva já veio a público dizer que considera a prisão um “sonho de consumo” do juiz. Faz sentido. A ordem de prisão foi a mais rápida entre os réus soltos da Lava Jato. É vapt-vupt.
A história não tem fim à vista. Lula pode ser preso num dia e solto no outro. O imbróglio jurídico ainda não acabou e não se sabe o que vai acontecer. Nem quando. O fato é que o julgamento tem sido político e, neste momento, retiradas a Lula as hipóteses de recorrer em liberdade, a questão passa a ser eminentemente política. A política é a praia do ex-presidente e isso recomenda um olhar atento para as decisões deste dia.
Há muito mais em jogo do que simplesmente trancafiar um ex-presidente. Hoje será o dia D de uma batalha simbólica capaz de marcar os acontecimentos dos próximos tempos. Mais do que a prisão, hoje estarão em jogo as palavras, as ações e, principalmente, as imagens. O país tem um encontro consigo mesmo. O futuro do vai ser influenciado pelos símbolos que este dia venha a produzir.
Não é por respeito que Sérgio Moro proíbe o uso de algemas. É uma estratégia. Retirar as algemas da narrativa deste dia é apenas uma artimanha campônia. O juiz sabe que a imagem de Lula algemado pode criar uma semântica muito poderosa, capaz de fugir ao controle do golpe. Diz o velho adágio que uma imagem vale por mil palavras, mas neste é muito mais do que isto.
Outra patranha do juiz é a de que Lula deve se entregar por moto próprio. É claro que isso facilitaria em muito a vida de Sérgio Moro. Ele sabe que o ex-presidente vai estar cercado de seguidores e que abrir caminho entre a multidão poderia ser o estopim para a exacerbação dos ânimos. O risco de que a situação se inflame é muito elevado nestes tempos de polarização política.
Resistir ou se entregar? Lula pode fazer o jogo do juiz e agir de forma republicana. Ou seja, fazer o que Sérgio Moro determinou. O problema é que ser republicano não tem funcionado. E isso implicaria perder a batalha simbólica. Se o julgamento tem sido político – com o objetivo último de afastar Lula da corrida presidencial –, o ex-presidente pode assumir uma ação política e partir para a resistência pacífica.
O que isso quer dizer? Ora, Lula pode simplesmente ficar onde está e esperar pela ordem de prisão. É preciso ter em atenção que, nos dias que correm, a percepção torna-se muito mais importante que a realidade. As batalhas políticas são, antes de tudo, batalhas simbólicas. A semântica que ficará para a posteridade será construída pelas imagens, ações e movimentos das próximas horas.
É previsível que surjam pelo menos duas narrativas, uma no plano interno, com a velha imprensa no papel de partido de oposição, e outra no plano externo, muito mais favorável a Lula. A estratégia do PT de focar os seus esforços na imprensa internacional tem funcionado. O mundo sabe o que se passa no Brasil. E sabe que o objetivo é evitar que o ex-presidente volte ao Planalto.
A narrativa está contra o golpe. Há uma sucessão de fatos que mostram o apodrecimento das instituições no Brasil, incluindo a velha imprensa antipetista. A morte de Marielle. Os tiros na caravana de Lula. A ameaça de quartelada. E agora a prisão de Lula pode ser o corolário de uma imagética que põe o golpe em xeque. É esperar para ver. Minuto a minuto, até às 5 da tarde.
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