quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O repórter fodão, o guarda e a liberdade de imprensa

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
"’Tu quer ser o repórter fodão? Bota a mão na cabeça’, me disse um guarda municipal de Joinville na tarde deste domingo. Isso aconteceu depois que fiz fotos de dois guardas revistando seis jovens no jardim do Museu de Arte de Joinville (MAJ). Estou bem, mas desconfiado de que há agentes que não simpatizam com a liberdade de imprensa na cidade. Será que estou exagerando? O que vocês acham? Já presenciaram situações parecidas?”

O relato é do repórter Alex Sander Magdyel, o tal “fodão”. O episódio ficou quase restrito às redes sociais e pouco mais. Infelizmente. Porque a fraca repercussão midiática não está em linha com a seriedade dos fatos. Em qualquer democracia, o caso seria motivo para ações visíveis e inequívocas das autoridades, neste caso o poder público municipal. Em Joinville, todos sabemos, vai ser um simples “fait divers” e cair no esquecimento.

Não se enganem. O caso é grave. Não apenas pela agressividade contra o repórter, mas pela resposta frouxa dos inquilinos da Prefeitura. A reação resumiu-se a uma nota de 12 pontos, na qual 11 são uma defesa dos policiais e o outro é pura miopia. É quando diz que “em momento algum foi cerceado o direito à liberdade de imprensa”. Errado. Apontar uma arma taser e revistar a mochila do repórter configura um caso claro de agressão à liberdade de imprensa.

Mas discutir liberdade de imprensa em Joinville é jogar palavras ao vento. E a nota é a melhor prova disso. Tímida. Burocrática. Tediosa. Quem lê fica com a sensação de que o redator já estava de pijama, pronto para dormir, quando foi obrigado a sair da cama para escrever o texto. Entende-se. Para o poder, o tema da liberdade de imprensa é sempre uma chatice. Para os jornalistas, é como os discos voadores: todos ouviram falar, mas nunca viram.

Todos sabemos que o ambiente da comunicação não é democrático. Nem no país, nem em Joinville. Qualquer jornalista conhece o poder das verbas publicitárias e o efeito dos telefonemas para as redações. É um vício de décadas. Mas este momento é diferente e pede reflexão. É preocupante quando a autocracia ganha força muscular. E porta armas. O risco não é apenas para a liberdade de imprensa, mas para toda a sociedade.

É a dança da chuva.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Fodão



POR SANDRO SCHMIDT

Pré-sal: Temer amputa o Brasil e hipoteca o futuro dos brasileiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer comemorou o resultado dos leilões para a exploração dos campos de petróleo do pré-sal, realizados na semana passada. O presidente disse que o país agora entra num novo ciclo de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, acenou com a criação de 500 mil novos empregos. O negócio garantiu ao governo uma arrecadação de 6,15 bilhões de reais em bônus (abaixo do esperado). Michel Temer tenta passar a ideia de que a entrega do pré-sal aos estrangeiros foi um negocião.

Só que logo a seguir a revista “Exame” tratou de jogar água no chope de Temer, com uma manchete até irônica: “pré-sal arrecada 1/5 do que Temer gastou para escapar de denúncia”. Segundo a revista, a grana que entra para os cofres públicos cobre parte ínfima do buraco financeiro. Não dá para comemorar, claro. Mas o que está em jogo não são os números. É o entreguismo. A corja do golpe está a entregar o Brasil de bandeja. E os brasileiros permanecem em estado de catatonia. 

Entreguismo é a palavra do momento. É possível que muitos não saibam, mas há muito tempo a expressão é vista como um conceito ideológico, com repercussões nos planos político, social e econômico. O entreguismo é um mal do tal terceiro mundo e consiste na entrega das riquezas nacionais para a exploração de outros países. Gente com outros interesses. A desnacionalização de certos setores estratégicos para as economias nacionais faz parte da estratégia. É a tragédia de um passado colonial que nunca acaba.

A entrega do pré-sal põe a nu a lógica do entreguismo. Deixa claro que as elites lesa-pátria estão do lado dos estrangeiros. Temer e a sua catrefa podem insistir nessa tecla, mas nenhum negócio é aceitável se representa um golpe na soberania nacional. E quem ainda tem na memória o escandaloso processo de privatização da Vale do Rio Doce sabe do que estamos a tratar: uma das empresas mais valiosas do patrimônio público é vendida a preço de banana. Mas logo a seguir não pára de dar lucro aos compradores.

Mas não se ouve uma única panela. Porque muitos brasileiros, em especial a classe média, vivem o delírio de um estado mínimo e um pretenso liberalismo. O problema é que a maioria não faz a mínima ideia do que está a falar. E nem percebe que está a ser envolvida por um tipo de “ideologia”. Por quê? Porque o discurso, feito a partir da colagem de clichês surrados, é fácil de absorver. Tão fácil que até os analfabetos mirins do MBL, por exemplo, conseguem passar por inteligentes.

O país está nas mãos de gente disposta a entregar os anéis, mas também os dedos. Não se iludam, porque não estamos a falar de estratégias políticas ou econômicas. Estamos, isto sim, a tratar de simples entreguismo, autênticos crimes de lesa-pátria. Há quem não consiga enxergar, mas quando o “gigante acordar” a sério vai ver um Brasil amputado nas suas riquezas. E com o futuro dos brasileiros hipotecado. Eis a ironia: quem alertou para a sacanagem foi tachado de “petralha, bolivariano, esquerdopata”. Mas quem avisa...

É a dança da chuva.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Economizar? Ah ah ah. O pessoal da "gestón" está de brincadeira...



POR JORDI CASTAN
Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Então, hoje temos aqui um texto quase do tamanho de "Os Lusíadas". Sei que a leitura pode ficar enfadonha para alguns, mas escutar as queixas constantes sobre a falta de dinheiro e a falta de gestão já ficou chato. Assim, nada melhor para mostrar que não há mesmo é gestão, porque há dinheiro para jogar fora. Podem até achar que não há vergonha. Eu acho que há. Mas esses que ai estão nunca a usaram. 



Ah! Não esqueça de pagar todos seus impostos e taxas direitinho, porque o "bicho" está sempre esfomeado e quer mais dinheiro para seguir gastando. Da maneira que você viu nestas imagens...


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Canal 100 era nota 10

POR ALEXANDRE CAMARGO
“Que bonito é/as bandeiras tremulando/a torcida delirando/vendo a rede balançar”. O pessoal com mais tempo de janela já sacou que estou falando do Canal 100, de Carlos Niemeyer. Era uma atração à parte no cinema. Antes de começar o filme, vinha uma espécie de telejornal. O Canal 100 também falava de outros temas, mas a galera queria ver eram as crônicas de futebol, quase sempre jogos de Rio de Janeiro ou São Paulo.

Uma coisa era certa. Mesmo que o filme em cartaz fosse uma porcaria, só ver o Canal 100 era a garantia de que o espectador não tinha jogado dinheiro fora. Quando aparecia a vinheta do programa e a tela ficava cheia com aquelas luzes “estouradas”, parecendo fogos de artifício, era sinal de que vinha coisa boa.

No ar desde os anos 50, o Canal 100 teve os seus momentos altos nas décadas seguintes e desapareceu no início deste século. Foi tempo suficiente para moldar as referências visuais de gerações – em especial cinquentões como eu – que aprenderam a ver os jogos em película de cinema, com a câmara ao nível do gramado e com os jogadores em planos fechados. Um leve slow motion era a marca do programa.

E quem não lembra do “tananan nananan nananan nananan”, a música que acompanhava as jogadas? O autor foi Luiz Bandeira, mas quando foi lançada, em 1956, com o nome de “Na Cadência do Samba”, a música não teve sucesso. Mas tudo mudou quando o tema foi escolhido por Carlinhos Niemeyer para prefixo e fundo musical do Canal 100. O sucesso foi estrondoso. E a música foi rebatizada para “Que Bonito É”.

Tudo passa. E o Canal 100 passou. Mas não sem deixar marcas na vida de gerações e gerações, que viram, nas telas dos cinemas, alguns dos momentos mais bonitos da história do futebol brasileiro. E não podemos esquecer dos locutores que narravam os resumos dos jogos. Só tinha fera. Destaque para o conhecido Cid Moreira, então em começo de carreira. Bons tempos.

Alexandre Camargo é especialista em Gestão de Qualidade, vive em Florianópolis e torce pelo Flamengo