terça-feira, 26 de setembro de 2017

Golpe militar não é opção. E os militares sabem disso...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dizem que um bêbado – e não só – deve tomar muito cuidado ao descer as escadas, porque se erra um degrau acaba por errar todos. O bêbado é o Brasil. E o golpe que apeou Dilma Rousseff do poder (ainda há quem recuse a palavra) foi o primeiro degrau errado. O país começou a rolar escada abaixo até se transformar num bordel onde tudo o que cheire a poder, no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário, se prostitui.

O Brasil mergulhou num vazio ético. O resultado é que começou a surgir, aqui e acolá, alguma algaravia sobre intervenção militar. A doideira dessa gente é tanta que há militares a lustrar os coturnos e alguns cretinos a fazer eco dessa tontice na sociedade. Desde o escroto senador Magno Malta, para quem 7 em cada 10 brasileiros querem a volta dos militares, até o empresário catarinense daquela loja da breguésima “estátua da liberdade”.

Intervenção? Difícil acreditar que os militares embarquem nessa furada. É de notar que ainda existem, nas fileiras, quadros que se orientam por uma ultrapassada mentalidade da caserna, quando os cérebros eram simples depósitos de ideias reacionárias. Mas hoje o golpismo militar dos anos 60 parece um exotismo. Aliás, seria o golpe pelo golpe, porque os militares não saberiam o que fazer com o poder. Só reprimir. E isso não é solução.

A ideia da autoridade autoritária, do “prende e arrebenta” e da “ordem” imposta pelas armas ainda tem adeptos por esse Brasilzão afora. Afinal, muitos brasileiros nunca souberam o que fazer com a democracia. Há muita gente que considera a liberdade uma coisa estranha, quase antinatural. E se recusa a entrar no século 21. Mas mesmo que haja muita gente a clamar pelo golpe, não parece que os militares entrem nessa roubada.

O leitor e a leitora lembram do último golpe militar (ou tentativa) ocorrido no mundo? Sem pesquisar muito, é fácil lembrar Tailândia, Egito, Sudão, Costa do Marfim ou Guiné-Bissau. Sem desrespeito pelos povos desses países, fica a pergunta: é nesse ambiente terceiro-mundista que o Brasil quer se situar? Claro que não. O golpe militar é um problema, nunca a solução. Os militares brasileiros sabem disso, apesar de vez por outra entenderem dar prova de vida.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Higienização em Joinville: a incompetência não se cerca com grades







POR JORDI CASTAN
Em Joinville os problemas se gradeiam. Não se resolvem, só se escondem. Em lugar de buscar soluções, o caminho escolhido é o de colocar grades. Grades, muros, cercas elétricas e concertinas é a alternativa dos incompetentes para lidar com os problemas da cidade.

Primeiro foi a marquise do Bradesco no centro. Agora o jardim do MAJ, um dos poucos espaços verdes abertos à população, é o próximo alvo e corre o risco de ser gradeado. Seria aberto apenas em alguns horários. E com isso Joinville pode perder mais um espaço público, com a anuência de parte da sociedade que mora atrás de grades e muros.

É resultado de uma sanha higienizadora, que esconde os problemas em lugar de enfrentá-los e resolvê-los. E que ganha força com o apoio de uma administração inepta, caolha e covarde.
É mais fácil colocar uma grade que exigir mais segurança. É mais fácil excluir as pessoas que integrá-las. É mais fácil empurrar que aproximar.  É mais fácil impor que escutar. As escusas são as mais variadas e esfarrapadas. Faltam policiais, não há câmaras, há consumo de drogas, as pessoas tem medo. As famílias têm se afastado do jardim do MAJ, onde fazem barulho, bebem álcool e por aí afora.

Deixa entender. A Guarda Municipal não foi criada para apoiar e complementar o trabalho da Policia Militar? Ou foi criada só para os agentes ficarem escondidos e multar? Não há uma legislação que estabelece o nível de barulho permitido em áreas residenciais? Por que não se fiscaliza e se faz cumprir? Ah sei, os policiais não tem combustível, veículos, disponibilidade, efetivo ou qualquer outro motivo o escusa que venha a calhar.

Só falta dizer que os policiais são covardes demais para resolver esses problemas menores, que são fruto só da inépcia das autoridades. Aliás, é bom lembrar que o jardim do MAJ está na frente da Cidadela Cultural Antarctica, aquele cortiço cultural em que se converteu o espaço que deveria ser um centro irradiador de cultura.

Joinville é hoje uma cidade acomodada, acovardada e que causa vergonha. Uma sociedade de omissos que não levantam a bunda do sofá para resolver e enfrentar seus problemas. E problemas que se avolumam frente a inércia e o descaso. A proposta de gradear o jardim do MAJ é estúpida, própria de quem encara os problemas desde uma visão parcial e distorcida. O uso dos jardins do MAJ pela sociedade não é um problema de segurança pública, é um problema cultural, social, humano. E de meio ambiente, até paisagístico. Por isso não pode ser tratado só a partir de uma abordagem repressiva e truculenta. Porque gradear um espaço público como aquele é cercear o direito de uso de um dos poucos espaços públicos que a sociedade utiliza.

Há várias tribos e grupos que fazem dos jardins do MAJ seu espaço de lazer, numa cidade que não oferece quase nada para a população. Não há só arruaceiros. Aliás, é o que menos há. Vejo famílias fazendo piquenique, casais tirando fotos, gente celebrando um aniversário, escutando música, passeando ou simplesmente namorando ou conversando.

Em lugar de melhorar o espaço - cuidar do jardim e melhorar a manutenção do vergonhosamente abandonado Parque das Águas - a mobilização é para gradear o espaço. Começo a achar que Joinville merece mesmo esse bando de ineptos que administram a cidade. Uma sociedade que não se mobiliza para defender a liberdade é uma sociedade que merece mesmo viver rodeada por grades, cercas e muros. Uma sociedade cada dia mais fragmentada, desarticulada, desestruturada, gradeada.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Futebol , calcio, football: dos alambrados nas várzeas, aos torcedores de PS

POR EMERSON GONÇALVES
Sou da turma de 1975. Nasci aqui em Jaraguá do Sul e as primeiras lembranças da bola me remetem aos divertidos rachões nos enlameados campos de várzea do bairro Água Verde. Aliás, nome inspirado por ali estarem sediados os primeiros campinhos de bola próximos a áreas alagadiças com muito limo. Naquela época, por influência das rádios cariocas e paulistas, geralmente a piazada ou torcia para times do RJ ou SP e, nesses rachões, você se achava um Sócrates, um Emerson Leão, um Serginho Chulapa ou, quem sabe, um Dinamite. E  os metidos a craque eram Zico.

Meu falecido pai era santista; mas não teve jeito, os dois filhos escolheram ser palmeirenses, mesmo numa época em que o time vivia numa fila e conseguia perder campeonato paulista até para o Internacional de Limeira.

Sou da geração que achava o máximo assistir aos domingos na Band o campeonato italiano e ver por lá desfilarem os maiores craques da época e aprender a ter um segundo time pra torcer, dessa vez na Itália. Já adulto me peguei assistindo aos jogos do espanhol, que se tornou destino para os grandes craques do mundo todo.

Mais recente os torcedores dos times tupiniquins começaram a temer os chineses com suas cifras milionárias, arrancando os jogadores que mal e mal começam a se destacar nos certames regionais. Nos últimos dias, visto a transferência milionária redescobrimos o campeonato francês.

Mas confesso que o que mais me assusta, de repente, seja uma preocupação nostálgica e boba. É ver a geração do meu sobrinho, hoje com seis anos, torcer para o Barcelona, pois é o melhor time do Play Station, e nem sequer se interessar ou esboçar qualquer sentimento de apreço pelo time local do Varzeano, ou o nosso Grêmio Esportivo Juventus e muito menos pelos times nacionais.

Saudades da várzea, dos rachões com lama até o pescoço, da bola de borracha e das narrações em rádios em ondas curtas que as melhores jogadas ficavam por conta do nosso imaginário, pois bem nesses momentos o som do sinal da emissora era superado pelas interferências eletromagnéticas.




Emerson Gonçalves vive em Jaraguá do Sul, 
é reporter na Rádio RBN 94,3 FM
e torce pelo Palmeiras.

A corrupção na boca dos hipócritas

POR DOMINGOS MIRANDA
Atualmente a palavra corrupção é uma das  mais usadas pelos hipócritas. Geralmente falam dela, não com o intuito de erradicá-la, mas apenas para obter benefícios políticos ou pessoais com tal postura. O caso mais exemplar é o de Geddel Vieira Lima, que dava declarações a favor da moralização e foi pego com R$ 51 milhões de propinas em malas e caixas. Ao longo da história estes “bucaneiros” da política também levantaram denúncias sobre corrupção, depois comprovadas falsas, para destituir presidentes eleitos, tais como aconteceu com Getúlio Vargas, João Goulart e Dilma Rousseff.

O verdadeiro combatente pela moralidade na política age de forma desinteressada e, muitas vezes, o seu nome cai no esquecimento. Aqui, bem perto de nós, temos um exemplo eloquente, o de Crispim Mira, nascido em Joinville em 13 de setembro de 1880. Pouco se fala deste grande jornalista, advogado e escritor, autor de 14 livros, entre eles Terra Catharinense (obra elogiada por Monteiro Lobato), Os Alemães no Brasil e Acorda Brasil.

Crispim Mira iniciou a sua carreira jornalística em Joinville, aos 19 anos, como redator da Gazeta de Joinville e depois no Jornal do Povo. Em 1908 está trabalhando em Florianópolis, na Gazetha Catharinense, e no ano seguinte funda o jornal Folha de Commercio, onde inicia uma série de artigos falando do abandono do porto da capital. Dezessete anos mais tarde, outras denúncias sobre o porto, desta vez em seu novo jornal, Folha Nova, seriam o pivô de seu assassinato.
Crispim Mira

Em fevereiro de 1927, Mira dá detalhes de nepotismo, fraude e desvio de recursos públicos da Comissão de Melhoramentos dos Portos, órgão encarregado da manutenção dos portos. O diretor da instituição se sentiu ofendido e desafiou Crispim Mira para um duelo. Este foi lacônico e disse que sua arma seria a pena e colocou as páginas de seu jornal à disposição do ofendido para nela defender-se. No dia seguinte, 17 de fevereiro, Aécio Lopes, filho de Tito Lopez, também funcionário da Comissão de Melhoramentos dos Portos, na companhia de outras três pessoas, dirige-se à redação da Folha Nova e dispara dez tiros, um deles atinge Crispim Mira que deixava a redação junto com seu filho de 14 anos.

No dia 5 de março, o jornalista morre, aos 46 anos de idade. Cerca de 10 mil pessoas, numa cidade de 40 mil pessoas, participaram de seu enterro. Houve uma farsa no julgamento e os quatro acusados do crime foram absolvidos. O escritor Enéas Athanásio escreveu que a morte de Crispim Mira “é uma página negra na história catarinense, página que, embora amarga, não pode e não deve ser esquecida para que nunca mais se repita”.

Joinville, a terra natal deste herói, nunca deu o valor devido a este combatente. Em um momento em que tanto se fala em combater a corrupção, ninguém se lembra do exemplo de Crispim Mira, que deu sua vida em prol da moralidade pública. A casa onde ele morou, na rua Visconde de Taunay, hoje funciona uma pizzaria. Mas no local não existe nenhum marco identificando o nome de Mira.

Os hipócritas sempre levantam o nome de um juiz de Curitiba, ligado ao serviço de informações americano, como símbolo da luta pela moralidade pública. Mas nem sabem que o verdadeiro herói viveu na sua cidade e está esquecido. Assim é a nossa sociedade. Enquanto isso, a corrupção continua firme como nunca.