terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Carnaval não é coisa de gente daqui

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Não ter desfile de Carnaval é uma coisa. Mas a ideia de pôr a polícia na rua para impedir a reunião das pessoas é tosca. É uma atitude autoritária, provinciana e mal humorada. Mesmo sem saber de onde partiu a decisão, há um fato evidente: foi uma medida burra. E que volta a expor o retrato de uma cidade entregue a gente conservadora, pouco imaginativa e inimiga da felicidade. Em todas as esferas de poder.

Fiquemos por Joinville. A Hermann Lepper vive um vazio democrático. O povo – esse detalhe chato – parece não importar. E quando se envia uma frota de carros da guarda municipal, numa desproporcional demonstração de força, fica claro que não há preocupação em disfarçar o autoritarismo. Mas isso já todos sabem. É só ver os comentários nas redes sociais (que destoam do silêncio cúmplice de uma imprensa submissa).

Mas não é o que interessa discutir. Tendo o Carnaval como pano de fundo, o que se pretende é falar na falta de imaginação, na incapacidade de ver o óbvio e numa gestão que, tudo indica, só sabe fazer contas de merceeiro. A ideia é falar de dois temas que têm sido sistematicamente relegados para último plano: o turismo e a cultura. Que, não por acaso, acabaram enfiados num mesmo saco desta administração (já escrevi sobre isto aqui).

Quando se fala em cultura, não há disfarces. O inconsciente social de Joinville ainda conserva uma matriz focada na ética protestante do século 19. Trabalhar. Poupar. Levar uma vida ascética. É um modelo de vida sem espaços para devaneios. Não é estranho, portanto, que o Carnaval seja olhado com desconfiança, como algo que só serve para outro tipo de pessoas. O famoso “não é gente daqui”.

Os inquilinos da Hermann Lepper não cumpriram a promessa de fazer um grande desfile de Carnaval e ainda assim recebem o apoio de boa parte dos joinvilenses. Eis a contrafação cultural. É fácil criminalizar o Carnaval, sob o argumento de que o país está em crise e há coisas mais importantes (como se fosse um grande investimento). É o discurso moralista repetido pelos conservadores que se reveem no estilão casca grossa do prefeito.

O problema é que essa gente não faz a mais pálida ideia do que é cultura. Seria dispensável repetir, mas como ninguém ouve, vamos insistir. O Carnaval é uma das maiores expressões da cultura brasileira. Tem história. Tem antropologia. Tem linguística. Tem política. Tem ação. Enfim, expressa da cultura de um povo (que não é feito só de gente de olhos azuis). Negar o Carnaval é negar a liberdade de expressão.

Há uma evidência do ponto de vista do turismo. Quem anda pela redes sociais viu muitos joinvilenses a viajar para outras cidades onde há Carnaval. Bem ou mal, essas cidades têm um produto. O produto atrai consumidores. E os consumidores trazem dinheiro. Em Joinville isso não acontece. Pior: não interessa. As autoridades veem a promoção do Carnaval como uma carga de trabalhos e como se fosse dinheiro jogado fora.

O problema é a incapacidade de ver aí uma oportunidade de negócios para o turismo. O que é necessário? Simples. Criar um produto. Depois olhar para o marketing mix desse produto e encontrar uma forma para fazer dele um gerador de receitas. Não é difícil. Mas a atual gestão parece sofrer de um déficit de imaginação. E de proatividade. Quem não gostaria que o Carnaval de Joinville fosse um produto de sucesso, capaz de gerar receitas?

Só os tolos, claro.
É a dança da chuva.





Teje preso!


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Karneval de Xoinville é a stammtisch


POR BARON VON EHCTZSEIN
Guten tag, minha povo.

Schadenfreude! Bem feito! Xente, foceis lembrón que eu afisei: nón vai ter karneval em Xoinville. Mas quiserram ir sarracotear e balançar as trasseirras lá na Musseu de Arte. Nón pode. Aquilo nón é sambódromo. Mas na fim até teve uma coisa parrecida com karneval, porque o Guarda Municipal e o PM forrán pro avenida e puserrón a bloco no rua.

Foi um quase que nem a karneval. Os blocos mais bonitos erram os de folións vestidos de polícia. É clarro que falharón na quesito animaçón, mas a fantasia de polícia esdava muito bem feita. E nem esquecerón de levar armas de tudo quanto que é tipo, parra parrecer mais real. Os carros alegórricos estavón um marravilha. Tinha sirrene, luz e tudo.

O único coisa que falhou foi o baterria. Porque os polícia nón baterram em ninguém. Amok laufen. Foceis sabem, a minha enredo favorrito erra cassetete na lombo dessas kommunisten. Mas nón teve nem uma sopapozinho parra endireitar esses nutzlos. É só xente inútil. Nón pode ser xente de Xoinville, porque aqui só tem xente trabalhadorra.

E son muito teimossas. Nón entendo pra que tanta pressa. Oktober logo vem e aí eles vão poder ir atrás do bandinha alemão cantano: “quem nón gosta de bandinha bom sujeito nón é... é ruim do cabeça ou é doente da pé”. O melhor é que em oktober aquela pessoal mais escurrinha nón aparrece.

Geisterfahrer! Tem xente dissendo que a nossa querrida prefeito foi no contramón e que prometeu o maior karneval de sempre em 2017.  Foceis nón entenderrón dirreito. Quando fala “karneval” quer dizer “stammtisch”, que é um festa de xente decente e de olhos bem assul. Em Xoinville, festa da povo é a stammtisch, porque só xunta xente de bem, que a xente reconhece por causa dos jacarrezinhos nos camisas.

Palavra de barón. Ausschlafen… vão dormir.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

No Carnaval, a fantasia é acreditar nos políticos


POR JORDI CASTAN

Nestes dias o tema o carnaval está, por motivos óbvios, na pauta. O cancelamento, em cima da hora, do desfile do Carnaval, pegou muita gente de surpresa. A última gota - ainda que o correto fosse dizer a penúltima gota, porque essa gente não descansa na árdua tarefa de se superar a cada dia - foi o cancelamento do evento previsto para ser realizado no Mercado Municipal. A história, que inclui até denúncia anônima e órgão público descumprindo acordo, está muito mal contada.

Se todos os envolvidos contassem o que sabem e o que esta sendo postado nas redes sociais for comprovado, quarta-feira de cinzas será o dia em que Joinville despertará vendo o tamanho das suas lideranças políticas. É ainda menor do que já era. Fazer acordo de cavalheiros é algo que só pode ser feito com cavalheiros. Não é bom confundir políticos com cavalheiros e menos ainda acreditar na palavra de quem não tem. Quem acreditou, agora descobre que foi iludido. E, pior ainda, que nunca houve intenção de cumprir o compromisso.

Espanta? Aqui na vila o restaurante popular do Bucarein pode ficar fechado durante quase quatro anos, sem nenhum motivo convincente e crível. E na mesma vila obras públicas tem as datas de inauguração propostas que não seu cumprem, sem maiores justificativas. Ora, o cancelamento do Carnaval foi só mais um tijolo na parede com que se constrói a inépcia e se ilude diariamente ao cidadão.

O tempo mostra quais são as organizações e especialmente as pessoas nas que não se deve acreditar. Quando dizem “sim” pode apostar que é “não”. No quesito credibilidade devem ser considerados abaixo de zero, menos alguma coisa. Os sambaquianos já desenvolveram a capacidade de identificar estes contadores de lorotas. Quando os escutam dar entrevistas prometendo isso ou aquilo, por estes lados o pessoal não dissimula mais a pouca credibilidade que este tipo de pessoas e instituições merecem.

Para quem tiver interesse no assunto é bom dar uma olhada no link  Expectativa da Prefeitura de Joinvilleé promover um grande carnaval em 2017.

Historias como estas há centenas na cidade todos os dias. O estranho é que ainda haja uma boa parte da população que acredite nas promessas que políticos e outros contadores de patranhas repetem como mantras cada dia. Porque eles jogam com a esperança de que o eleitor menos esclarecido politicamente confunda a versão oficial dos fatos com a realidade.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A história não tem vagina?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há uma coisa importante sobre as palavras: elas são históricas, dependem das vontades humanas. E por isso muitas acabam distorcidas, outras interditadas. Numa sociedade historicamente dominada pelo macho e pelos moralismos, é fatal que certas palavras tenham desaparecido dos discursos na esfera pública. Muitas viram palavrão ou a sua pronúncia acaba considerada ofensiva.

Faz algum tempo, li um texto sobre um estudo que concluiu: a medicina fala pouco na vagina. Era uma reportagem interessante, mas o que chamou à atenção foi a reação dos leitores no site do jornal. Eram todos homens... e estavam todos indignados com o texto. Diziam que não era coisa de jornal sério. Dá o que pensar. Não é à toa que os sujeitos acharam estranho. Afinal, se a medicina fala pouco sobre a vagina, a imprensa fala ainda menos... considera tabu.

O apagamento da palavra vagina é coisa das sociedades machistas e moralistas, que sempre andaram muito preocupadas em negar o prazer às mulheres. Aliás, não pense que a clitoridectomia é coisa imaginada apenas por povos bárbaros africanos. Os puritanos que colonizaram os Estados Unidos também propunham o uso de substâncias químicas no clitóris para impedir que as mulheres tivessem prazeres solitários.

O fato é que a vagina tem história. Uma história que parece assustar os homens. Aliás, houve um tempo (em Homero e depois dele) em que se acreditava que os homens andavam arredados do processo de concepção. Havia a crença de que as mulheres eram engravidadas por seres microscópicos que se moviam ao vento e entravam no organismo feminino para a fertilização. Hoje a gente ri.

Heródoto narra que as mulheres egípcias embarcavam em canoas e mostravam as partes íntimas aos povos das margens do Nilo em sinal de chiste. Durante muito tempo, as mulheres somalis mostravam a vagina quando queriam ofender alguém. E já escrevi aqui mesmo sobre a imperatriz Wu Hu, que obrigava os convidados a darem lambidelas nas suas partes baixas.

Nem sempre a vagina foi tratada com tantos pruridos, como hoje em dia nas sociedades moralistas. É mesmo demonizada, uma coisa que vem desde os tempos da Inquisição. Aliás, em tempos mais recentes a ciência estabeleceu uma relação entre a histeria e a vagina. No final do século 19 e início do século 20, muitos médicos aderiram à técnica de masturbar as suas pacientes para curar a doença.

E vem da Itália um dos registros históricos mais curiosos. Quando foi deposto, Mussolini acabou preso pelos inimigos, que o executaram ao lado de Clara Petacci, a sua amante. O requinte da vingança foi pendurar o corpo dos dois numa praça de Milão. Mas como Clara estava de saias, os executores amarram as suas vestes, para que as suas partes íntimas não fossem vistas. Temiam os executores que a visão da vagina de Clara Petacci desviasse as atenções do povo para o que realmente importava: a morte de Mussolini.

O fato é que se fala muito no pênis, ao mesmo tempo em que há um grande silêncio sobre a vagina. É como se fosse um palavrão, uma coisa ofensiva. Aliás, qualquer um de nós, homens que têm internet, está farto de receber aqueles e-mails manhosos com a proposta de “enlarge your penis”. Mas duvido que alguém tenha recebido algum de “fit your vagina”. É ou não, leitor e leitora?

Uma história sem vagina é incapaz de gerar frutos.

É a dança da chuva.