POR FELIPE CARDOSO
O vídeo do governo paranaense sobre o racismo viralizou na Internet e acendeu, mais uma vez, o debate sobre raça e racismo no Brasil. Muitos compartilhamentos e elogios à propaganda elaborada para combater o racismo.
Um dos comentários vistos foi que o “governo do Paraná esfregou na nossa cara o racismo”. Como assim?
Não, não estou criticando a propaganda. Gostei e acho importante a existência dela. Sei do seu poder e sim, acredito que devemos levar e propagar a luta antirracista em diversos meios. A problematização é outra.
Parabenizar o governo por fazer o seu papel em promover a justiça e a igualdade é um tanto quanto preocupante. Dizer que o governo paranaense esfregou na nossa cara o racismo é de uma desonestidade sem tamanho.
Essa propaganda é resultado da militância e luta dos movimentos e coletivos negros, de intelectuais negros. Essa luta não é de hoje. Não é de agora que denunciamos a nossa estereotipagem negativa e o racismo institucional existente no Brasil e no mundo.
Então dizer que o governo do estado do Paraná promoveu algo revolucionário é injusto e mostra um pouco da face da "branquitude" (privilégio branco).
A repercussão da propaganda deixa evidente o quanto as vozes de milhões de negros e negras ainda não valem. É preciso que pessoas brancas façam e demonstrem como é.
Mas quando é um texto de uma mulher negra comentando que sofreu racismo em sua entrevista de emprego, ou que perdeu a prova do ENEM, pois não pode utilizar seu turbante, é tudo “mimimi”. Quando falamos que negros são maioria dos desempregados, quando falamos no genocídio e encarceramento da população negra é vitimismo. Quando falamos da importância de cotas, quando denunciamos a falta de representação em espaços de poder já estamos querendo muito.
Mas daí quando surge uma propaganda que mostra pessoas brancas explicitando tudo o que relatamos diariamente, daí ela esfrega na nossa cara o racismo? Sério mesmo?
O que fez Abdias do Nascimento, o que fez Lélia Gonzalez, Clóvis Moura, Milton Santos? O que faz Jeruse Romão, Cristiane Mare da Silva, Stephanie Ribeiro, Luana Tolentino? O que fazem os movimentos e coletivos negros contemporâneos? O que fizeram os movimentos e coletivos do passado?
Espero realmente que nos aprofundemos, de maneira geral, nos estudos sobre “branquitude”, raça e racismo. Pois esse vídeo foi uma bela demonstração de privilégios e de como nós, negros e negras, ainda não temos voz, não somos vistos e escutados. O racismo só passa a existir quando o branco fala que existe.