POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dilma caiu. A pressão das classes alta e média, a
conspiração da oposição, uma imprensa nada meiga e jigajogas jurídicas tornaram
possível o impeachment. Houve até um lado picaresco: muitos “impeachmentistas”
ficaram surpresos ao descobrir que, afinal, não seria Aécio Neves a assumir. O
país passa a ser governado pelo vice Michel Temer, que tenta salvar o governo.
Sem êxito.
Um PMDB historicamente ávido por cargos e benesses
parte para o takeover. O governo é dominado pela velha política
clientelista e desenha-se um novo alinhamento: o Palácio do Planalto nas mãos
do PMDB, a Câmara de Deputados liderada pelo PMDB e o Senado com um presidente
do PMDB. A lista de Janot é esquecida. Renan Calheiros e Eduardo Cunha se
fortalecem no vórtice das decisões.
Nenhum país escapa incólume à queda de um presidente.
Uma mudança traumática de governo, ainda mais num regime que se queria
democrático, traz indícios de caos. A instabilidade política provoca o recuo
dos investidores. Os projetos destinados à produção e à geração de empregos são
abortados. Há uma sangria na economia e desaparecem os recursos públicos
capazes de alavancar os investimentos.
Com a economia paralisada, o governo corta nos
programas sociais e tira ainda mais dinheiro do mercado. O consumo das famílias
cai e leva o setor produtivo à crise. Sem soluções para escoar os seus
produtos, os fabricantes começam a demitir e arrastam o comércio. Sem trabalho
e dinheiro, as famílias ficam sobre-endividadas. Para buscar recursos, o
governo aumenta os impostos.
O leitor e a leitora devem estar a estranhar este
exercício de futurologia e imaginação. Fazer previsões, em especial sobre o futuro, é cada
vez mais arriscado. Mas é apenas uma forma de, como um jogador de xadrez,
tentar antever movimentos. Há joinvilenses que pretendem sair às ruas no
domingo, muitos a sonhar com o impeachment de Dilma Roussef (que até o momento
não é acusada de qualquer crime). Mas o sonho corre o sério risco de virar
pesadelo. O caos institucional nunca construiu boas sociedades.
É a dança da chuva.