terça-feira, 12 de maio de 2015
Liberdade para quem?
POR FELIPE CARDOSO
Sem direito a terras, educação e saúde, abandonados e à margem, milhares de negros espalhados pelo país comemoraram a sua liberdade.
Mas qual liberdade?
Privados dos seus direitos, tendo apenas deveres, milhares de negros tiveram que se contentar com subempregos e com a moradia em morros com barracos. Além de contar com a violência e a opressão policial.
Uma liberdade maquiada, isso sim.
As senzalas tornaram-se favelas, as mortes, torturas e castigos antes praticados pelos senhores e capitães do mato, hoje são dadas por políticos e policiais. A casa grande? Não preciso nem dizer o que são. A música e a cultura ainda são criminalizados e, muitas vezes proibidas, assim como a capoeira e o samba foram. Os terreiros de Candomblé e Umbanda recebem diversos ataques de intolerantes.
Nos jornais, na moda, na publicidade, nas novelas, na política, nos altos cargos das empresas, nas universidades e vários outros lugares não vemos representatividade.
As piadas, as chacotas e as humilhações ainda são as mesmas.
Corpos ainda são arrastados. Eterna Cláudia. Corpos ainda estão desaparecidos. Eterno Amarildo. Corpos ainda são presos injustamente. Eterno Vinícius. Corpos ainda são mortos: Cláudia, Amarildo, Eduardo, DG… Melhor parar, pois a lista é grande.
Movimentos sociais ainda são criminalizados e silenciados. Enquanto isso, continuam reproduzindo o discurso da meritocracia e agora propagando o discurso do racismo reverso.
Por falar em meritocracia, quando vão nos pagar os nossos méritos de 400 anos de trabalhos forçados? Vamos seguir a lógica ao pé da letra? Um pouco de coerência faria bem nesses momentos.
Pelos erros do passado, por aprender com muitas dores e humilhações, percebemos que nada mudou. Notamos que a princesinha pintada de santa durante muito tempo, só libertou os escravos por estratégia financeira, motivos econômicos. Nossa história foi apagada, nossas árvores genealógicas estão incompletas. Até disso nos privaram.
A nossa liberdade começa a ser construída na nossa cabeça, ao observarmos os fatos, ao lermos, ao escrevermos, ao denunciarmos, ao reivindicarmos, ao nos unirmos, ao lutarmos. A liberdade do negro está sendo construída por conta própria. O PT deu algum espaço, mas esse espaço foi exigido pelo povo negro. Os movimentos estão crescendo, estamos nos conscientizando e não estamos mais aceitando tudo calado.
Após 127 anos ainda não estamos livres, mas estamos construindo os nossos próprios caminhos para a liberdade… Como sempre foi.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
A Secretaria das Roçadas
POR JORDI CASTAN
Quem esperava um choque de gestão vai ter que começar a
aceitar: a maior obra desta administração são as roçadas. Na falta de outra
coisa para mostrar, a poderosa Secretaria de Comunicação, a SECOM, dedica o seu
esforço, a sua equipe e o seu orçamento a divulgar a trivialidade do
quotidiano. Tudo aquilo que passaria despercebido se alguma coisa importante
estivesse acontecendo passou a ganhar o destaque de um grande acontecimento.
Roçadas de mato, troca de lâmpadas queimadas e novos
uniformes passam a ser notícia de capa. E podemos juntar a boa disposição
da imensa maioria da imprensa sambaquiana, que não tem a menor dificuldade em
assumir o papel de caixa de ressonância das notícias diariamente encaminhadas pela a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal.
Noticiar o trivial, o dia a dia de uma cidade como Joinville
é um exemplo interessante de como fazer jornalismo. Imagino os profissionais
que um dia sim e outro também precisam escrever notas sobre a roçada do mato na
Rua dos Caraminguás ou a troca de lâmpadas na servidão do Zé das Couves. Talvez a repintura de alguma faixa de pedestres ou a reparação, pela enésima vez, do
buraco entre as Ruas dos Macacos e dos Saguis se esforçando em dar uma nova
redação ao texto que será encaminhado para a imprensa local. A única diferença é que o texto que ontem falava da Rua Xis, hoje fala da Rua Ípsilon. E até poderá
ser utilizada a foto da mesma rua de ontem, só que tomada desde outro ângulo.
Mas temos que ser compreensivos. À falta do que mostrar, à falta do que inaugurar é bom saber em que é gasto o dinheiro público em
Joinville. Imaginamos, inclusive, um projeto de reforma administrativa criando a Secretaria
Municipal das Roçadas e dos Capins, com recursos oriundos do Fundo Municipal do
Mato e realocando funcionários deslocados do cerimonial que, não tendo muito que
inaugurar ultimamente, terão lugar em áreas em que o seu trabalho se faz mais necessário. O risco é que passemos a
inaugurar roçadas e capinas, organizemos velórios para lâmpadas queimadas e que
organizemos cursos de desenho de moda para uniformes da Guarda Municipal. Ou seja, que glamourizemos o nada absoluto, convertendo em notícia a ausência de notícia.
Ops!!! mas se já estamos fazendo isso hoje.
sexta-feira, 8 de maio de 2015
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