Aproveitando
a presença no Brasil da nossa co-blogger Fernanda Pompermaier, que abandonou o
frio ártico sueco para desfrutar do calor joinvilense, e a tecnologia, que
permitiu a participação do Jose António Baço desde Lisboa, o coletivo, mesmo
com sentidas ausências, realizou uma reunião de planejamento para propor
melhorias e novidades para 2014.
sábado, 28 de dezembro de 2013
Pepe legal
POR FELIPE SILVEIRA
Não somente pela simplicidade, mas principalmente pelas ideias e coragem de executá-las, o presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, é a personalidade do ano. A sugestão me foi dada pelo companheiro de blogue Charles Henrique Voos, depois que eu disse que duas das minhas primeiras opções já haviam sido publicadas.
A legalização do aborto e da maconha (não cabe aqui se aprofundar nas duas questões) são apenas duas das políticas uruguaias que tem chamado a atenção de todo o mundo pela coragem de enfrentar dois graves problemas sociais que são tão envoltos de preconceitos, dogmas, disputas econômicas e religiosas. Claro que Mujica não aprovou as leis sozinho, mas seu papel foi fundamental junto com a atuação de movimentos sociais, parlamentares e população.
A simplicidade de Mujica também é importante, pois é política. Não se trata somente de ir de fusquinha para o trabalho ou de sandálias para a posse de um ministro. Muito mais importante do que isso é oferecer a residência oficial da presidência para moradores de rua. Esse tipo de atitude tem muito valor no enfrentamento com o capital.
Em um mundo que tem sido transformado em um gigantesco mc donalds, ver a coragem de Pepe Mujica para fazer as coisas de modo diferente é um alento e um incentivo.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
A potência criativa da política
Corria o mês de junho, e o que começou como uma sequência de manifestações contra o aumento na tarifa do transporte público – no Brasil, historicamente caro, principalmente porque de baixíssima qualidade –, recebidas com a habitual truculência governamental, transformou-se rapidamente em uma das maiores mobilizações da nossa história republicana, e a maior desde as “Diretas Já”, em meados dos anos de 1980.
Sobre as manifestações, mantenho o que disse à época: a seu modo e muito peculiarmente, elas contribuíram para ampliar e tornar mais visível um processo de reinvenção da política por meio de uma ocupação do espaço público que o toma em seu sentido mais amplo: como um lugar de confrontos e conflitos, de afirmação das potencialidades insurgentes do presente mais que de promessas de redenção futuras.
Se para os observadores da política cotidiana tais características já apareciam em mobilizações como a “Marcha das Vadias” e as “Paradas da Diversidade”, entre outras, a força libertária e centrípeta do “Movimento Passe Livre” – minha personalidade do ano – deu nova dinâmica a esse processo. O slogan “Não é pelos R$ 0,20” deixou claro a quem quisesse entender (mas sempre há quem não queira) que o direito à cidade é, hoje, um debate central.
De quebra, o MPL e as manifestações colocaram na pauta do debate público a violência policial – e a necessidade de desmilitarizar a polícia –; o desgaste do modelo democrático centrado unicamente na política partidária e institucional; as contradições do modelo econômico desenvolvimentista patrocinado pelo governo petista; além do oportunismo da direita brasileira, sempre cansada. E trouxe de volta um pouco de paixão e criatividade à política.
Convenhamos, não é pouca coisa. País nenhum sai incólume de um acontecimento como esse. O Brasil também não.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Espionagem, corrupção,...
POR JORDI CASTAN
A personalidade do ano em nível internacional foi Edward Snowden - e
os "wikileaks"-, que permitiu que soubéssemos o que já imaginávamos: que todos espiam a todos e que a
espionagem tem outros objetivos além da segurança nacional. Os interesses econômicos
entre muitos outros. O Brasil foi espionado e também espiona.
O ponto interessante de caso Snowden é que seria como se todas as
conversas e comunicações entre os agentes públicos fossem publicadas. Com
certeza saberíamos mais sobre como são administradas nossas cidades, estados e
o próprio Brasil.
Aqui em Joinville tivemos também o vazamento de conversas
envolvendo o prefeito Udo Dohler em que o tema era a LOT e as conversas que
manteve com alguns vereadores, para que a LOT fosse aprovada. Pena que o
prefeito não deu os nomes de quem o procurou. Que falta faz aqui um Edward
Snowden.
Uma sociedade mais transparente é uma sociedade melhor para os
seus cidadãos. A nossa ainda é muito opaca. Snowden mostrou o caminho.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
A esquizofrenia nossa de cada dia
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Se eu tivesse que escolher o personagem do ano, não teria dúvidas: é Thamsanga Jantjie, o cara que apareceu como tradutor de sinais nas
cerimônias do funeral de Nelson Mandela. Depois de ter sido apanhado pela
fraude o homem alegou ser esquizofrênico e ouvir vozes. Para mim Jantijie é o
símbolo da esquizofrenia que ataca a humanidade.
E nem era
preciso ir muito longe para encontrar exemplos. Há uma certa esquizofrenia
nessa tendência de beatificação do próprio Nelson Mandela. Afinal, parece que
o homem não tinha inimigos (nem mesmo os que o prenderam por décadas), quando muitos dos países que lá estiveram
representados foram coniventes com a sua prisão e o regime do
apartheid. Falou-se de paz e ignorou-se a sua defesa da luta armada.
E por falar
em armas, eis outro sintoma de esquizofrenia. Se olharmos para o mundo vamos
ver a Rússia, que vende armas ao regime Bashar-al-Assad, enquanto as potências
ocidentais municiam os opositores do regime sírio. E poucas coisas podem ser
mais esquizofrênicas do que ver o assassinato de 1.300 pessoas com armas
químicas que, segundo (não) sabemos, tanto podem ser do governo quanto da
oposição.
Mas viajemos
até ao Brasil. Tem gente que sai aí pelos meios de comunicação ou pelas redes
sociais a gritar “cadeia para os mensaleiros”, mas assobia para o lado e faz
ouvidos moucos quando ouve palavras como Siemens, Alstom, metrô, helicóptero,
cocaína ou tucanoduto. É um dos sintomas da esquizofrenia: ela faz ver coisas
ou faz ver apenas o que se quer.
E em
Joinville, que mais parece uma Casa Verde (para quem conhece Simão Bacamarte)?
Ninguém entende o que se pretende com a tal LOT. Uma pessoa é flagrada em ato
corrupção e condenada a umas horinhas de trabalho comunitário. Um moleque de 16
anos chefia o tráfico de drogas num bairro da cidade. O prefeito diz publicamente
que a corrupção diminuiu e ninguém pergunta que raio de corrupção é essa. Um
vereador processa uma cidadã que o criticou. A cidade ainda se excita com
chaminés, como se vivesse no século XVIII. E mais, muito mais.
Portanto, a
esquizofrenia, na figura de Thamsanga Jantjie, que tanto podia ser sul-africano
quanto brasileiro, é a personagem do ano.
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