POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Se eu tivesse que escolher o personagem do ano, não teria dúvidas: é Thamsanga Jantjie, o cara que apareceu como tradutor de sinais nas
cerimônias do funeral de Nelson Mandela. Depois de ter sido apanhado pela
fraude o homem alegou ser esquizofrênico e ouvir vozes. Para mim Jantijie é o
símbolo da esquizofrenia que ataca a humanidade.
E nem era
preciso ir muito longe para encontrar exemplos. Há uma certa esquizofrenia
nessa tendência de beatificação do próprio Nelson Mandela. Afinal, parece que
o homem não tinha inimigos (nem mesmo os que o prenderam por décadas), quando muitos dos países que lá estiveram
representados foram coniventes com a sua prisão e o regime do
apartheid. Falou-se de paz e ignorou-se a sua defesa da luta armada.
E por falar
em armas, eis outro sintoma de esquizofrenia. Se olharmos para o mundo vamos
ver a Rússia, que vende armas ao regime Bashar-al-Assad, enquanto as potências
ocidentais municiam os opositores do regime sírio. E poucas coisas podem ser
mais esquizofrênicas do que ver o assassinato de 1.300 pessoas com armas
químicas que, segundo (não) sabemos, tanto podem ser do governo quanto da
oposição.
Mas viajemos
até ao Brasil. Tem gente que sai aí pelos meios de comunicação ou pelas redes
sociais a gritar “cadeia para os mensaleiros”, mas assobia para o lado e faz
ouvidos moucos quando ouve palavras como Siemens, Alstom, metrô, helicóptero,
cocaína ou tucanoduto. É um dos sintomas da esquizofrenia: ela faz ver coisas
ou faz ver apenas o que se quer.
E em
Joinville, que mais parece uma Casa Verde (para quem conhece Simão Bacamarte)?
Ninguém entende o que se pretende com a tal LOT. Uma pessoa é flagrada em ato
corrupção e condenada a umas horinhas de trabalho comunitário. Um moleque de 16
anos chefia o tráfico de drogas num bairro da cidade. O prefeito diz publicamente
que a corrupção diminuiu e ninguém pergunta que raio de corrupção é essa. Um
vereador processa uma cidadã que o criticou. A cidade ainda se excita com
chaminés, como se vivesse no século XVIII. E mais, muito mais.
Portanto, a
esquizofrenia, na figura de Thamsanga Jantjie, que tanto podia ser sul-africano
quanto brasileiro, é a personagem do ano.