quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pega ladrão!

POR GABRIELA SCHIEWE

OSCAR PISTORIUS - Na madrugada do dia 14 deste mês, a modelo Reeva Sttenkamp foi encontrada morta, com três tiros de arma de fogo, na cidade de Pretória, na África do Sul.

O crime ocorreu na casa do atleta paralímpico, conhecido mundialmente, Oscar Pistorius, que alegou ter atingido sua amada namorada, achando se tratar de um ladrão.

O que é isso, molhados? Isso parece o Cidade Alerta. Cruzes. 

É verdade e eu, como advogada, sei da premissa: ninguém será declarado culpado até sentença final condenatória. Ahhhh, mas dá um tempo pra minha cabeça. A namorada do indivíduo estava na casa dele, como ele bem sabia, aí escuta um barulho no banheiro e sai atirando com a desculpa de que se sentiu acuado por estar sem suas próteses e com a possibilidade de alguém estar invadindo a sua casa?

A moça foi morta com três tiros de arma de fogo e ainda com escoriações na cabeça, a princípio feitas com um bastão de críquete, e ainda foi derrubada a porta do banheiro, que estava trancada pelo lado de dentro. Tá, só um momentinho. Ele não estava sem as próteses e por isso atirou? Como derrubou a porta com o bastão?

Não estou aqui para dar uma de Mãe Dinah, mas acredito que essa é mais uma triste história que liga diretamente o esporte às páginas policiais.

O que estaria levando esportistas renomados, (alguém lembra de OJ Simpson, Mike Tyson, jogador de futebol americano e os exemplos são vários) a cometer atos de violência contra suas companheiras? Teria esta violência alguma relação com as substâncias ingeridas para atingir a perfeição e conquistar os melhores resultados?

É gente. A decisão até poderá ser favorável ao Pistorius que, nas Olímpiadas, quando perdeu o primeiro lugar para o brasileiro, já demonstrou certo desequilíbrio psicológico em não saber lidar com as derrotas. Eu, particularmente, não vejo se tratar de uma tragédia ao acaso, mas sim de um assassinato puro, movido por sabe-se lá quais causas.

JASC - E os JASC não serão mais realizados na cidade de Joinville para que a verba seja destinada à saúde.

Que decisão nobre do nosso ilustre Prefeito, digna de aplausos da população joinvilense que, desde então o reverencia.

Como é que é? Foi isso mesmo? E todo mundo achou superbacana? Não, não, não, caros molhados. Vocês engoliram essa assim? Na maciota?

O carnaval, salvo engano, teve um orçamento inúmeras vezes maior e mesmo assim houve a garantia do governo que não importasse da onde viria a verba, mas a Liga das Escolas poderia ficar tranquila pois o Carnaval iria aconter e aconteceu.

Entenda-se que não estou menosprezando a saúde, muito pelo contrário, pois está caótica e não é de hoje. O que não posso concordar é que, a partir de agora, qualquer coisa que, por algum motivo, o governo de Joinville não queira realizar, utilize a desculpa que o dinheiro será destinado à saúde.

Sabemos que existe uma Lei de Diretrizes Orçamentárias, visto que saúde, educação, lazer, esporte, como demais outras, são obrigações constitucionais que se deve proporcionar à população.

Essa decisão não glorificou Joinville, apenas me deixou envergonhada por ver que a maior cidade do Estado não consegue realizar os JASC desde 1992, quando foi a cidade campeã, e quando já havia se comprometido há algum tempo que no ano de 2013 seria realizado aqui. E, na hora, passa o bastão pra Blumenau que, pasmem, possui dinheiro sobrando? Só pode, pois irão realizar os JASC assim, de supetão.

Ah, porque tinha que realizar a reforma do Ivan Rodrigues e Abel Schulz. Sim. E o Centreventos Cau Hansen? E as escolas com quadras de esportes, tanto públicas como particulares, SESC, Univille, Grêmio Whirpol, e tantos outros não seriam suficientes para respeitosamente honrar uma promessa e presentear os nossos atletas amadores com esse alento, de disputarem os JASC dentro da sua própria cidade?

Qual foi a explicação plausível, arraigada em verdade e demonstrada factualmente e, não apenas com: o valor será destinado à saúde!

Os nossos atletas amadores, que devem ter melhores condições na base do esporte, também precisam do incentivo maior ou, do que adianta ficar treinando se não haverá uma competição oficial para que se demonstre este talento?

Essa decisão foi à lá Zagallo: "vocês vão ter que me engolir". E mais nada se fala!

JEC - Ufa! Uma notícia boa no nosso "Cidade Alerta", o Tricolor venceu e foi um jogo para enriquecer o futebol brasileiro. Foi um clássico na acepção da palavra.

O JEC sempre esteve atrás, mas não desistiu em momento algum e, no último suspiro, reagiu e virou a parada.

Parabéns ao Joinville e à torcida tricolor. Deveria ser sempre assim, "seu" Artur Neto. Não acham?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cão Tarado


O gerente em tempos de crise

POR JORDI CASTAN

A cada dia surgem novas informações, e mais precisas, sobre a situação financeira da prefeitura de Joinville. É importante que se diga que, do mesmo modo que acabaram não se provando todos os milhões da divida divulgados em 2008 pelo novo governo, também há uma possibilidade que não se confirmem todos os valores divulgados agora. Mas é um fato é inequívoco: o valor da dívida aumentou nos últimos quatro anos. E a situação é pior que antes.

É justamente para administrar Joinville em tempos de tempestade que a maioria do eleitorado votou em Udo Dohler. O seu perfil como gestor e empresário levou muitos eleitores a fazerem uma escolha absolutamente racional: votar em alguém que soubesse ler um balanço, que já tivesse administrado uma empresa em situações difíceis (muitos esquecem que a Dohler nem sempre teve resultados positivos). Chegou a hora de pôr à prova a perícia do timoneiro. Ver a sua habilidade para levar a bom porto a nau desgovernada que tem sido esta cidade nos últimos anos. Aliás, é bom que se frise não ter sido só nos últimos quatro anos.

Todos nós nos achamos bons marinheiros em águas calmas, sem vento e sem ondas. Quando o vento aumenta, quando a escala Beaufort se encontra acima de 7 graus, é bom tirar os meninos do leme e poder contar com um capitão experiente. É provável que o capitão esperasse uma travessia mais tranquila, com mar mais calmo e no máximo uma brisa suave.

A situação de Joinville com receitas em crescimento e despesas fora de controle, tem tudo para piorar. O quadro generalizado de baixo crescimento econômico no país projeta redução das receitas públicas já no curto prazo. As despesas, porém, continuam aumentando, como se não houvesse amanhã. O custeio da máquina pública não conhece o bom senso e não sabe o que é diminuição de despesas. O trabalho do prefeito e da sua equipe é o de secar gelo.

Países europeus, que até ontem eram considerados ricos, hoje enfrentam uma crise econômica que os obriga a reduzir salários e benesses do funcionalismo público. A situação é tão grave que há também redução do número de funcionários e corte em serviços públicos estratégicos como saúde, educação e segurança. Aqui, no Brasil, e em Joinville concretamente, a sensação é que nada disto vai acontecer e que o baile e a festa devem continuar.

Atrasos de salários, falta de investimentos em infraestrutura ou de recursos para saúde, esporte ou educação não deveriam parecer algo tão distante da nossa realidade. E a experiência do timoneiro pode ajudar a controlar o temporal. Resta só ver como a tripulação vai responder ao desafio.

Escala Beaufort para estabelecer a velocidade do vento

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Não vou sentir saudades de Ratzinger

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não vou sentir saudades de Joseph Ratzinger. Podia salientar as inúmeras razões que todos conhecemos - a proibição do uso camisinha, a frouxidão como tratou a pedofilia dentro da igreja, a falta de misericórdia para com os homossexuais, a incapacidade de falar com as outras confissões etc -, mas a minha bronca é específica e não é de agora. 

Todos já ouvimos falar da sua erudição e do seu elevado perfil de intelectual, qualidades sempre usadas para contrabalançar o seu conservadorismo exacerbado. É é daí que vem a quezília. A coisa vem desde os anos 80, quando ele assumiu a missão pessoal de detonar a Teologia da Libertação, um movimento que, pela primeira vez na minha vida adulta, me permitiu achar a religião tolerável.

Foi um tempo que tornou possível partilhar ideias com os católicos ligados à Teologia da Libertação, porque partilhavam utopias terrenas também presentes no campo de pensamento das esquerdas: a solidariedade para com os mais fracos e a oposição à repressão econômica, social ou política. Ok... tem gente que julga ser um delírio juvenil, mas para mim é a obrigação ética de qualquer humanista.

Mas vamos aos motivos práticos para a minha antipatia por Joseph Ratzinger. É que a Teologia da Libertação tinha uma relação muito próxima com aquilo a que podemos chamar Filosofia da Libertação (uma espécie de Filosofia da América Latina), um campo de pensamento onde sempre achei que poderia me inscrever.

Talvez tenha sido a primeira vez, na história do pensamento autóctone da América Latina, que surgia uma corrente de estudo dos problemas locais a partir de métodos de análise locais e de pensadores locais. O problema é que ambas as correntes estavam intimamente ligadas. E o fim de uma poderia levar ao fim da outra. 

Todos sabemos que a academia do hemisfério sul vive ainda uma espécie de teoria da dependência intelectual e prefere os filósofos do norte. Vamos fazer um teste? Diga lá o nome de cinco filósofos alemães. Eu ajudo: Habermas, Marx, Heidegger, Hegel, Kant. Ou cinco pensadores franceses. Fácil: Baudrillard, Foucault, Barthes, Sartre, Bourdieu. Gregos? Sócrates, Platão, Aristóteles ou os mais recentes Castoriades e Axelos.

Agora diga o nome de cinco filósofos latino-americanos. Difícil, não? Mas naquela altura começavam a surgir nomes relevantes, como Enrique Dussel, Horácio Cerutti-Guldberg, Raúl Fornet-Betancourt,  Leopoldo Zea, Sírio Lopez Velasco, Franz Hinkelammert, entre outros. Intelectuais que, inclusive, haviam estabelecido pontes de diálogo com pensadores europeus ou norte-americanos, como Habermas, Apel, Bourdieu, Chomsky, Ricouer ou Rorty.

O fim da Teologia da Libertação foi um dos fatores a provocar um retrocesso nesse panorama, porque havia muitos nomes comuns à Filosofia da Libertação. E Joseph Ratzinger deu uma "ajudinha" para deter esse movimento.