POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tinha escrito este texto na semana passada, mas achei
melhor não publicar, porque os ânimos andavam meio exaltados. O mais estranho é
que uma semana depois o furor já passou e o tema deixou de ser tão comentado.
Vamos lembrar: quantas vezes, no episódio dos presos torturados e dos ônibus
queimados, os joinvilenses ouviram ou leram que "bandido bom é bandido
morto" e que a tortura de presidiários é até merecida. Tortura e pena
de morte andaram na boca do pessoal, em especial nas redes sociais e nos
comentários online dos jornais.
Opa. Ainda nem expressei qualquer opinião, mas imagino que a esta altura
já tem por aí algum brucutu mental doidinho para me desancar (nos
comentários do blog, claro, porque é onde os machos do teclado são mais
machos). Mas calma. Não pretendo discutir a pena de morte propriamente dita e
sequer falar de direitos humanos. Pessoas que escolhem escolhem o lado da
civilização não desperdiçam tempo a argumentar com quem não quer ouvir. É
enfadonho.
O objetivo deste texto é falar de coragem física. A minha questão é muito simples: você, que é a favor da pena de morte, teria coragem de ser o executor, de fazer a coisa pessoalmente? Ou seja, seria capaz de dar o tiro mortal, de injetar o veneno, de acionar o cadafalso da forca? Duvido. Se a pessoa for minimamente civilizada, é óbvio que não consegue.
Ok...
um pouquinho de filosofia (apesar de saber que para os brucutus mentais só
existe a filosofia bovídea: cagando e andando). Mas sou otimista e gosto de
pensar que as máximas do imperativo categórico kantiano estão entranhadas na
cultura ocidental. E uma dessas máximas é aquela que fala de não matar, uma vez
que isso "vai contra qualquer princípio de conservação da vida".
Para
ficar em Kant, lembro também da ideia de coisificação do outro, de um indivíduo
se sentir no direito de suprimir a vida do outro. Mas se formos pensar nisto de
forma radical, você, que defende a pena de morte, está em boa companhia.
Suprimir a vida do outro é o tipo de problema que nunca preocupou Hilter,
Stalin, Pol Pot ou Idi Amin Dada. Bem-vindo ao clube.
Mas
voltemos ao escopo deste texto. O fato é que a maioria dessas pessoas não teria
tomates para sujar as mãos e aplicar a pena de morte pessoalmente. Ou seja, são
a favor da pena de morte, mas por interposta pessoa. Tem que ser Estado a
executar a sentença. Ou você, que defende a pena capital, era capaz de ser o
carrasco e matar olhando a sua vítima olho no olho? Claro que não. É por isso
que deseja uma lei que outorgue ao Estado o direito de matar.
Ok...
é possível que haja alguém com essa coragem. Mas aí temos um dilema. Pense bem.
Se você for mesmo capaz de ser o carrasco, então está a se transformar naquilo
que repudia: seria um assassino. E, pela sua lógica, o que deve acontecer a
alguém capaz de matar? A pena de morte. Eis uma aporia, senhoras e senhores.
P.S.
Estranharam a foto? Ora, alguém vai dizer que não é um bom exemplo da execução
de uma pena de morte? Você seria o executor?