quinta-feira, 14 de junho de 2012

O honesto é o desonesto


POR JORDI CASTAN

Nem os honestos são tão honestos, nem os maus são tão malvados.

Toma corpo nesta antessala da campanha eleitoral a disputa entre dois modelos de candidatos. Numa abordagem simplista, quase estulta, busca-se reduzir o debate sobre a eleição do próximo prefeito a uma falsa dicotomia, com os pré-candidatos divididos em dois grupos: o dos honestos que não fazem e o dos desonestos que fazem.


A lógica apresentada pelos defensores de uma e outra corrente é capenga. Porque deveriam ser incluídos os honestos que fazem (na suposição de que haja algum) e os desonestos que tampouco fazem (parece que também os há). Só considerando as quatro alternativas o jogo estaria completo.

O curioso é que, entre os defensores dos honestos que não fazem, há o reconhecimento explícito de que o seu candidato não fez, fez pouco ou ainda fez menos do que se esperava. Mas que sua maior virtude é a honestidade. A prova é que mora ainda no mesmo apartamento, num conjunto habitacional classe média baixa, mesmo depois de mais de 20 anos de vida política. Não quero entrar no mérito de debater isso aqui. Se morar no mesmo apartamento depois de 20 anos é um indicador de honestidade ou de falta de capacidade de progredir e economizar. Ou se as suas economias foram dirigidas a outros investimentos.

Os defensores dos que enriqueceram em pouco tempo até concordam que o seu candidato pode não ser um modelo de honestidade. Na realidade, é voz corrente que chegou com pouco mais que a roupa do corpo e que hoje amealhou um patrimônio significativo para quem só trabalhou no serviço público. Construiu a imagem que fez mais obras que nenhum outro prefeito. Consolidando a lógica perversa de que é um bom candidato porque, mesmo eventualmente não sendo um modelo de virtude, é um político que faz.

O escritor italiano Italo Calvino publicou, em 1952, o  livro “Il Visconte Dimezzato”, publicado no Brasil com o título de “O Visconde Partido ao Meio”. Com a fantasia e a ironia característicos, Italo Calvino relata as aventuras de Medardo di Terralba que, no fragor de uma batalha contra os turcos em Bohemia, foi dividido em duas metades por uma bala de canhão. Numa ficou toda a sua bondade e na outra toda a sua maldade.


Entendia Calvino que os seres humanos têm dentro de si, ao mesmo tempo, o bem e o mal, lutando na busca do permanente equilíbrio. Já no primeiro capítulo resolveu uma parte da dicotomia. Ninguém é absolutamente honesto ou totalmente desonesto. Os mafiosos mais truculentos têm o seu código de conduta e o respeitam. Eles são, ao seu modo, honestos com os seus companheiros. As pessoas mais bondosas são capazes de infringir grandes males, em quanto acreditam estar fazendo o bem.

Sobre como resolver a falsa dicotomia e escolher entre o candidato do bem e o do mal, gostaria de recomendar a leitura do livro, porque ele encerra a chave para a resposta. Uma dica: é que as coisas nunca são o que parecem ser, nem os honestos são tão honestos, nem os maus são tão malvados.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Comemorações de gol nunca vistas

ET BARTHES
Comemorações de gols como você nunca viu. Bastam alguns efeitos especiais e a história fica muito mais divertida.





Você vota, eu viajo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje tenho uma proposta política a fazer: quero o seu voto. 

Tenho pensado em voltar a viver no Brasil. E a mudança, claro, traria perdas e ganhos. A maior perda, com toda certeza, seria deixar de viajar pela Europa com certa frequência. Porque aqui é fácil viajar para os países vizinhos. Com o surgimento das empresas aéreas low-cost, até pobres como eu podem andar por aí.

E tem o ganho. Depois de muito refletir, encontrei a solução para o meu problema. Volto para o Brasil e entro para a política. Afinal, os políticos brasileiros são os campeões mundiais de viagens aéreas, os paladinos dos programas de milhas. Se conseguir me eleger para qualquer cargo (governador, prefeito ou deputado, não importa) tenho certeza de que continuarei a viajar à grande e à francesa. Mas em vez de Paris prefiro a Cote D’Azur, que é onde estão as beldades.


Isso das viagens foi uma descoberta genial do sistema político brasileiro. Os caras andam aí pelo mundo feito saltimbancos, com
direito a diárias polpudas, e alguns eleitores acreditam que eles estão a trabalhar a sério. É uma teta. Para parecer que estão a fazer algo de relevante, basta mandar um videozinho, uma fotinho, um textinho. Ou dar uma entrevista ao vivo para uma rádio (ligação paga com dinheiro público, claro).


E é para isso que eu conto com essa forcinha do leitor-eleitor: você vota, eu viajo. Mas não pense que parto para essa candidatura sem um programa de governo. Bem... na verdade é mais um programa de viagens, o que vai dar no mesmo. Para começar, proponho a mudança na forma de governo. A idéia é implantar um novo sistema, o parlamentarismo-viajandão: é muita conversa, muita viagem e pouco trabalho.

É um sistema que obriga a abrir escritórios de trabalho em alguns pontos estratégicos do planeta. Nas Rivieras, nas Seichelles, nas Bahamas ou nas montanhas da Noruega, por exemplo. E aqui o leitor-eleitor mais antenado já percebeu uma grande diferença. É que os nossos políticos tradicionais são breguésimos e têm um péssimo gosto. Só viajam para lugares carne de vaca, cinzentões e sem charme como a China, a Rússia e cus-de-mundo dos EUA.



E a grande inovação. Vou acabar com essa palhaçada dos políticos tradicionais, que convidam certos "jornalistas" amigalhaços para as viagens. Lembram de um ex-prefeito que convidou um daqueles radialistas infames para um tour pelos Estados Unidos? E um passarinho gringo me contou que o inglês do tal radialista (que foi convidado como jornalista sem ser jornalista) não ia além do "mi tárzan, yú djeine".


É o mesmo ex-prefeito que, numa viagem a Paris (sempre teremos Paris), levou um assessor de imprensa que nada pescava da língua de Camus ou, para salvar a situação, mesmo de Dickens. Aliás, era mesmo difícil que o cara soubesse quem eram Camus ou Dickens. E acho que o cara só saiu da França porque achou que a porta onde estava escrito "sortie" era a porta da sorte.


Ah... e o mesmo político, quando secretário do governo estadual, foi acompanhado por outro radialista para uma digressão por Portugal. Ooops! Para a terra de Camões ele leva um cara que toma autênticas tareias da língua portuguesa? Como diria o poeta, os políticos usam essas abébias para galvanizar a malta.

Mas voltemos ao que interessa. Para finalizar, eis a grande notícia, caro leitor-eleitor: é que, caso eleito, todos os meses eu pretendo sortear uma viagem entre os meus eleitores e eleitoras, com direito a todas as mordomias com o dinheiro público. E você, claro, pode ser um deles. Isso é corrupção? Perfeito. Quer dizer que já estou pegando o jeito da coisa.







Adaptação de um texto publicado no jornal A Notícia

terça-feira, 12 de junho de 2012

CÃO TARADO


Jogador driblado pelas hemorróidas

POR ET BARTHES
Leonardo Ponzio, jogador do River Plate, dando o sangue para tirar o seu River Plate da segunda divisão. O coitado teve um sangramento por causa das hemorróidas durante um jogo. Impossível disfarçar.