POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes recebi, por e-mail, uma mensagem a divulgar o tal movimento
“O Sul É o Meu País”. Cuma? Gente, eu era capaz de jurar que a coisa já não
existia. É o tipo de tolice que tem prazo de validade e neste caso esse prazo
já venceu faz muito tempo.
Fui dar uma olhada na internet e vi que o cadáver
ainda se debate. Acho que é um típico caso de alma penada: é quando o defunto
não sabe que morreu. Aliás, parece que este nasceu morto. Mas o movimento até é
seguido por uma meia dúzia de muares pingados. Não surpreende. O discurso é
capaz de seduzir pessoas com atrapalhação mental.
Os caras falam em “autodeterminação do povo
sul-brasileiro”. Mas quem é o povo sul-brasileiro? Eu, por exemplo, acho que não posso ser
incluído nessa elite. Não sou loiro. Não tenho olhos azuis. A minha pele tende
para o escuro (devo ter ascendência moura). E o meu sobrenome tem poucas
consoantes, o que me impede de tentar passar por alemão. Desculpem, não é
alemão.... é “sul-brasileiro”.
Ok... não quero ser injusto. É óbvio que não podemos
esquecer as raízes europeias desse novo país. Vocês já viram a bandeira? A cor
é um azul igualzinho ao azul da bandeira da União Europeia. Mas tem apenas três
estrelinhas que representam o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Faz
sentido. Tem uns caras que nascem e crescem no Brasil, mas juram que são europeus.
Se eu bem entendi, os tipos querem fechar a porteira e
dificultar a entrada dos outros brasileiros – imagino que os nordestinos em
especial. É que essa gente lá de cima não quer trabalhar e só vive na teta. As
gentes obreiras do sul trabalham e pagam impostos (são os grandes
impulsionadores do PIB nacional), enquanto aqueles vagabundos só querem mamar. Não é assim, mas é uma ideia fácil de engolir.
Mas será boa ideia transformar as divisas em fronteiras?
Imaginem, leitor e leitora, as
chatices de uma viagem para São Paulo, por exemplo. Não vamos esquecer que São
Paulo continuaria a ser Brasil e para entrar lá seria preciso ter um
passaporte. Outra coisa. Para fazer compras a gente teria que comprar reais.
Aliás, o novo país precisaria de uma nova moeda. E eu até tenho um nome para
sugerir: sulreal.
DE REPÚBLICA EM REPÚBLICA - Não sei se essa coisa de autodeterminação é boa ideia.
Numa rápida incursão pela internet, descobri que teríamos a união da República das Araucárias, da República Juliana e da República Rio Grandense. Mas você, leitor e leitora, acha que essa tal
união podia durar? Duvido. Sou capaz de apostar que logo esse pessoal estará a
pregar a segregação. Afinal, as idéias separatistas estão no código genético
deles. Já imaginaram como seria esse novo país em pouco tempo?
Os gaúchos iam começar a falar em autonomia, porque contribuem com a maior parte do PIB, enquanto os catarinas - esses vadios - só querem saber de praia. Os paranaenses iriam exigir que a capital fosse em Curitiba e não haveria um acordo (nem dentro do Paraná, porque Londrina era candidata a capital e acabaria por pedir a separação). Os catarinas, por seu lado, iriam começar a falar em fechar as fronteiras do sul, por estarem fartos de tantos CTGs no seu território.
E o que aconteceria conosco, aqui na
República Juliana? Eu, para começar, faria uma proposta: Joinville deveria
começar um movimento para se separar de Florianópolis. Porque a maior cidade do
Estado – onde está quem realmente produz – não pode ficar sustentando aquele
monte de gente da capital, que em vez de trabalhar pendura o paletó na cadeira
e vai para a praia folgar.
E de separação em separação a gente chegaria
ao momento ideal: cada
quintal seria uma república. Não
é legal?