segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Udo Döhler vai abraçar a Viúva Porcina?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O nome mais fora de lugar entre os pré-candidatos à Prefeitura de Joinville é Udo Döhler. Por uma razão simples: ele não precisa do emprego para nada. Afinal, ao contrário da maioria dos seus pré-adversários, o empresário já está com a vida ganha e não lucra grande coisa ao se meter no lodaçal da política.
Aliás, neste momento deve haver muita gente a fazer a mesma pergunta: por que razão o empresário iria deixar uma aposentadoria dourada para ingressar numa atividade armadilhada como a política? Prestígio pessoal? O gostinho do poder? Vaidade? Tédio? Conselhos duvidosos? Ok... essa é uma questão de foro íntimo que só ele próprio poderá responder.
No entanto, há um fato incontornável: ninguém chega onde Udo Döhler chegou tomando decisões mal pensadas. E o empresário sabe que, ao avançar com a candidatura, tem um importante diferencial a seu favor: os eleitores andam com o saco cheio de políticos incapazes de cumprir o que prometem.
Todos sabemos que em política mais vale a percepção do que a realidade. E os políticos tradicionais simbolizam um acumular de decepções. Nada mais lógico, portanto, que construir a imagem do candidato Udo Döhler a partir do perfil de gestor. É uma poderosa arma de marketing pessoal, sem sombra de dúvida.
Muitos eleitores – por ingenuidade ou legítima fé – acham que a solução passa por um governo tecnocrata. Não passa. Nenhum município pode ser governado com soluções puramente empresariais. Ser um gestor tem vantagens, mas também os seus óbices. Haverá muitos momentos em que o administrador precisará vestir a pele de político. E o fator político pode ser a kriptonita de Udo Döhler.
A VIÚVA PORCINA –  O problema para o empresário não é a candidatura em si, mas tudo o que ela comporta. Ou seja, a sua vitória significa a volta da maralha do PMDB ao poder (se bem que nunca saíram de lá). E qualquer pessoa com dois dedos de memória sabe que isso não augura coisas boas.
O que é o PMDB, tanto no plano nacional quanto local? Uma gororoba ideológica. Uma mistela moral. Um esturricado ético. No caso de Joinville, ao longo das últimas administrações, o partido tem sido uma espécie de Viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido. Ou seja, esteve lá sem ter estado.
E como em política só falta ver boi voar, ninguém pode pôr de lado a possibilidade de coligações com os caras da tríplice. E aí corremos o risco de tudo virar um bordel fisiológico, com a Viúva Porcina no papel de cafetina. O risco da promiscuidade é tanto que nem a imagem de seriedade de Udo Döhler escapará ao contágio.
Há outro fator interessante. Tem gente a fazer analogias e a pensar que Udo Döhler pode ser uma espécie de Wittich Freitag dos nossos dias. Besteira. Todos sabemos que a história só se repete como farsa. E os tempos são muito diferentes. Hoje temos uma mídia mais democratizada. As redes sociais, por exemplo, são uma mídia incontrolável e capaz de provocar danos sérios na imagem dos políticos. Aliás,vivemos tempos tão diferentes que até um zé-ninguém como eu pode vir para um blog e tentar dissecar a candidatura do empresário.
Bem-vindo ao mundo da política, sr. Udo Döhler. É bom começar a conviver com a ideia de virar vidraça. Porque , não tenho dúvidas, tem gente a acumular pedras.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A imprensa e o ônibus


POR JOSÉ ROBERTO PETERS


Quando cheguei a Joinville para estudar, no final dos anos 70, a cidade era muito diferente do que é hoje: poucos prédios e só a Santos Dumont asfaltada. Diziam que o lençol freático era muito alto para asfaltar e para grandes construções. Eram duas empresas de ônibus: os azuis dominavam o norte e os marrons o sul. Parecia uma espécie de guerra da secessão: de um lado, os caras do Norte, do outro, os caras do Sul.

A gente comprava os bloquinhos de passe — os azuis só recebiam os deles — que valiam até que as passagens aumentassem de preço. Aí tínhamos que dar um passe e completar o resto com dinheiro. Demorou até que as empresas entendessem de economia: a gente pagava adiantado, poxa. Os diretórios acadêmicos da FURJ e da FEJ até que tentavam lutas pelo passe estudantil. Mas quem respeitava estudante naquela época? Era o tempo da novembrada, do governo militar.

O tempo foi passando e algumas coisas foram mudando: os ônibus ficaram todos amarelos. Lembro que quando estava no DCE da Univille, já nos anos 90, fretamos dois ônibus para levar estudantes do centro direto até ao Bom Retiro. Era a nossa tentativa de lutar pelo passe estudantil, denunciar o monopólio e mostrar aos “empresários de visão” que havia gente suficiente para abrir uma nova linha.

Fomos barrados na Santos Dumont por várias viaturas da polícia com homens armados de escopeta e tudo. O aparato policial contra dois ônibus com cerca de oitenta estudantes armados até os dentes com cadernos, livros e canetas: gente perigosa. Ah! Junto com a polícia havia também um fiscal da prefeitura — em hora extra, pelo jeito — para conferir a licença dos ônibus.

Após uma negociação, um tanto quanto tensa, fomos liberados para ir até à faculdade. A partir desta foi colocada uma linha direta do centro até a Univille. A imprensa na época não deu uma linha do nosso protesto, mas gastou algumas para dizer da visão dos empresários que abriam uma nova linha para a população.

Quando anunciaram que Joinville ia ser uma das primeiras cidades do país a usar a bilhetagem automática, lembro-me de ter conversado com alguns cobradores e perguntar o que seria dos empregos. Eles diziam que os donos das empresas já haviam falado sobre isso: iriam transformar todos em motoristas. Que bom. Principalmente se fosse verdade. Parece que muita gente não sabia fazer as contas: um ônibus um motorista. E a imprensa — principalmente alguns radialistas — se vangloriava do status de primeiro mundo de Joinville.

Lá por 2007 — eu já não estava mais em Joinville — aparece o movimento pelo passe livre e alguns “jornalistas” atacaram. Qualquer um pode ver no Youtube as cenas e os comentários isentos enquanto mostravam as imagens: “Ele não tem dinheiro pra pagar ônibus, mas olha a banha”, dizia um dos “jornalistas” falando sobre um dos manifestantes. “A polícia tem de agir, pois é contra a constituição fechar as ruas”, dizia outro.

Pois é, mas as coisas mudam. Agora acertaram o tom. Quando a polícia usou gás de pimenta sobre os manifestantes contra o aumento das passagens, a mesma "imprensa" ataca o prefeito — que por um passe de mágica passa a ser o comandante da PM. A concessão do serviço público ganha espaço na mídia. Gente que nunca andou de ônibus ataca o monopólio. Discute-se a inflação com gráficos e que tais.

Tô gostando de ver. Acho até que vou recomendar este pessoal da "imprensa" de Joinville pra ajudar a dar um pau na polícia paulista. Uma polícia que prende e agride estudante na USP, que manda bomba de efeito moral nos que lutam pelo passe livre na Paulista e que agora está dando um show na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos. A grande imprensa tem muito a aprender.


José Roberto Peters é matemático e foi professor universitário em Joinville.

Frituras, fritados e mais autoflagelação



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um filme feito com livros

ET BARTHES
Os livros podem construir uma boa história em vídeo? Claro que sim. É a prova é este filme feito por um casal de Toronto, que passou duas noites sem dormir para produzir os movimentos dos livros. É obvio que os dois tiveram a ajuda de outros voluntários. O cenário foi a livraria Type, em Toronto. O resultado final, um espetáculo de movimento, vale a pena.





Bom dia, Joinville!

POR FELIPE SILVEIRA

Todas as manhãs, quando abro meu twitter, sou recebido com calorosos bons-dias dos futuros candidatos a Prefeitura de Joinville. Abro um sorrisão, feliz pela simpatia dos nossos homens públicos, e penso: esse dia vai ser bom! Pacientemente, aguardo mais twits, esperando que algum candidato diga algo sobre política mesmo, sobre o que pensa sobre a cidade, sobre direitos, sobre comunicação, sobre cidadania, sobre violência, sobre drogas...

Mas fico só no aguardo mesmo. Tem candidato filósofo, candidato jornalista (aquele que publica informações “importantes”), candidato que quer voltar no tempo, candidato revoltado e candidato analista. Só não tem candidato que discuta a sociedade, suas necessidades e costumes.

E não tem por um simples motivo: porque a sociedade não quer. Candidatos são um reflexo da nossa sociedade e seus discursos são frutos dos nossos anseios e cobranças. E, puta que pariu, nós estamos contentes com o que tem por aí.

Um bom exemplo do que eu estou falando é a questão da segurança pública. Eu não quero saber se o candidato (nesse caso ao governo estadual) promete aumentar o número de policiais. Infelizmente, essa é a discussão que importa para a sociedade, achando que isso resolve alguma coisa do problema da segurança pública.

Eu gostaria de saber qual político vai reformar a polícia. Esse, sim, ganharia meu voto. Qual candidato vai aproximar a polícia da comunidade? Qual vai proibir a prática ilegal de violência da polícia? Qual vai trabalhar pela redução de desigualdades? Afinal, sabemos que a violência é fruto da desigualdade, e não fruto da “vagabundagem”.

Da mesma forma, não quero saber qual político vai alargar ruas para que caibam mais carros (pode transformar tudo em rua que sempre vai ter engarrafamento se não mudar a lógica do transporte). Eu quero saber deles vai propor um verdadeiro debate sobre mobilidade urbana, no qual fique claro que a política individualista do uso do carro no dia a dia é nociva à sociedade. Quero saber qual vai fechar uma via de carro para abrir mais corredores de ônibus, qual vai criar uma empresa pública de transporte para que todos tenham o direito de ir e vir garantidos, já que o modelo atual de transporte privatizado provou o seu retumbante fracasso na garantia desses direitos assegurados pela Constituição.

No entanto, é cada vez mais claro que a sociedade, no geral, não quer saber de nada disso. A maioria só quer saber de entrar no seu carrinho e não ficar tanto tempo no trânsito. Pra isso, quer avenida mais larga. Vão dar com os burros na água. Ou vão se jogar na água... sei lá.