sexta-feira, 20 de julho de 2018

Moro herói: Superman ou Supermané?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Antes de começar a ler este texto, peço que dê uma olhada na imagem lá no fim. Já viu? Então vamos lá. Um tal movimento “Patriotas do Brasil - Maringá - Terra de Sérgio Moro” vai promover um ato nacional contra a soltura de Lula e de repúdio ao STF. E com um “plus”. O evento, diz o cartaz, vai contar com a presença do próprio Sérgio Moro. Parece um daqueles memes zoeiros, mas o tal movimento tem até página no Facebook.

O pessoal lá no norte do Paraná diz que Sérgio Moro é “o” herói nacional. Devem ser os mesmos que já consideraram Joaquim Barbosa uma espécie de Batman. Porque apresentam o juiz vestido como Superman. Opa! Então, qual será a kryptonita deste Superman de pés-vermelhos? É o ego descomunal. A vaidade de Sérgio Moro é tão grande que não cabe nem livrinho chamado “Constituição Brasileira”, que ele parece desprezar.

Herói? Nelson Mandela foi herói. Luther King foi herói. Mahatma Gandhi foi herói. Sérgio Moro é apenas um homenzinho que não está à altura do poder da sua caneta. Qual foi o seu ato de heroísmo? Ter passado num concurso e, por lógicas do sistema judicial, adquirir o poder de mandar prender e mandar soltar? Não há heroísmo aí. O poder está na caneta, não no homem. Sem a caneta Sérgio Moro seria apenas um mané.

O escárnio não tem limites. O cartaz de Maringá anuncia “a presença confirmada do nosso herói”. Faz sentido. Depois de ser fotografado ao lado de figuras de proa do tucanato, Sérgio Moro parece já não se incomodar com minudências éticas. Nem tem medo do ridículo (afinal, o Superman usa as cuecas fora das calças). Só isso explica a presença num evento promovido por um pessoal que mostra fartos sintomas de lunatismo.

"Patriotas do Brasil - Maringá - Terra de Sérgio Moro"? O ridículo culto da personalidade parece não afetar o juiz. Pelo contrário, fica a ideia de que satisfaz uma insaciável gula pelos holofotes. Nestes tempos, aparecer num evento onde as pessoas o tratam como o Superman é coisa de mané. Um supermané. É uma péssima gestão de imagem. Ou talvez o juiz pense que é mesmo um super-homem.

É a dança da chuva.


À esquerda, o cartaz do evento. À direita, Moro em luta com o seu ego...


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Mulheres que amam Bolsonaro são mulheres ou robôs?

POR LEO VORTIS
Pouca gente tem dúvidas do machismo de Jair Bolsonaro. E muita gente duvida que haja mulheres dispostas a votar nele. No entanto, um olhar para as redes sociais mostra que muitas delas apoiam o candidato. Um estudo recente da  organização InternetLab revela que Jair Bolsonaro tem mais de 400 mil robôs entre os seus 1,1 milhão de seguidores. Dá um percentual de 34%, o que torna legítimo concluir que muitos deles sob perfis femininos.

Há mulheres que amam Bolsonaro e há outras que odeiam. E hoje, para tentar elaborar um rápido perfil dessas mulheres, escolhi exemplos aleatórios de posts no Twitter. É fácil perceber que os textos favoráveis são mais longos e menos espontâneos. Já as eleitoras que não aturam o candidato são mais incisivas, diretas e sem necessidade de explicar a posição. Enfim, as mulheres que apoiam Bolsonaro serão robôs?

Veja, tire as suas conclusões e comente.


terça-feira, 17 de julho de 2018

Não queria voltar ao tema, mas: "muito obrigado"

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não queria voltar ao assunto. Mas seria uma injustiça não mostrar gratidão ao pessoal que anda pelas redes sociais a proteger o mundo do avanço nazista. Como já disse alguém, o preço da liberdade é a eterna vigilância. No meu caso, a Copa do Mundo foi uma tragédia dentro de campo. Os meus dois times – Portugal e Brasil – foram despachados muito cedo e tive que assistir a festa dos outros. Mas nem tudo foi mau...

O lado bom é ter descoberto, pelas redes sociais, que o Brasil tem um sem número de especialistas em política internacional. É impressionante. Afinal, durante quatro anos tudo o que rola sobre o tema é um tanto pífio. De um lado, um discurso que assenta no de sempre:
- Vai  para Cuba.
- Vai para a Coreia.
- Vai para Venezuela.
Do outro, os caras que defendem as virtudes daquilo que julgam ser o socialismo.

Mas o hype aconteceu no jogo final, quando ficaram frente a frente as seleções da França e da Croácia. Foi bonito ver tantos entendidos no tema, com destaque para duas espécies de analistas.

Os especialistas em política internacional gritaram:
- Allez Les Blues, seleção quase africana.
Os especialistas em política da Europa Central foram mais incisivos:
- Fora, Croácia. Fora, nazistas.

Obrigado, senhores. Na minha ingenuidade, não tinha percebido que os croatas estavam a aproveitar a alienação do futebol para distribuir exemplares do “Mein Kampf”. E o que andam fazendo Modric no Real Madrid, Mandzucic na Juventus ou Perisic na Internazionale? Ora... contagiando o futebol europeu com ideias nazistas. E o zagueiro Vida? Esse nem disfarça. Faz campanha pela Ucrânia. Só pode ser mauzão.

Respirei aliviado quando vi que os nossos especialistas em política internacional estavam atentos e na resistência. Croatas não passarão. E nem adianta vir a loiraça presidente com aquele sorriso simpático, porque ninguém acredita nela. Houve até um jornal brasileiro que publicou uma matéria chamada “O Lado Sombrio de Kolinda Grabar”. Li e não entendi bem qual é o lado sombrio, mas a mim ela não engana. 

E para provar que decidi ficar atento, trago aqui a comprovação de que Luka Modric faz abertamente a saudação nazista, na comemoração de uma vitória. Podem ver na foto que ele está a fazer o gesto. A imagem não deixa margem para dúvidas. Ah... tem uns tontos - gente desinformada que não entende de política internacional - dizendo que ele levantou a mão para mandar um beijo. Ah... mas esses croatas não enganam mais ninguém.

Enfim, sinto que estou seguro e livre da ameaça croata. Obrigado a todos estes analistas políticos. Só tenho uma dúvida bem pequenininha. Confesso que ficaria mais tranquilo se tivesse a certeza de que eles são capazes de achar a Croácia no mapa. Just in case.

É a dança da chuva. 

Parece uma saudação nazi, mas talvez seja melhor ver o filme abaixo...




segunda-feira, 16 de julho de 2018

As palmeiras da Al. Bruestlein estão morrendo. Joinville vai perder o seu cartão postal?


POR JORDI CASTAN
Quem fica gazeteando ou dormindo na aula acaba pagando caro pela omissão. Quando Joinville celebrou seus 150 anos, entre outras ações e atividades foi elaborado o projeto de paisagismo e revitalização da Rua das Palmeiras. Antecipando que as centenárias palmeiras imperiais tinham entrado no final do seu ciclo de vida - e para evitar que Joinville perdesse um dos seus cartões postais -, a empresa Whirpool adotou a iniciativa e patrocinou o projeto de recuperação. O projeto seguiu as mesmas diretrizes que anos antes já tinha sido feito no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ou seja, intercalar palmeiras novas entre as existentes, de forma a criar uma segunda linha de palmeiras que, no momento certo, iriam tomando o lugar das originais.

O trabalho foi feito. O projeto foi do nosso escritório, o Boa Vista Paisagismo, e a execução feita pela equipe da Agrícola da Ilha. O o resultado está lá, para quem quiser ver. Uma nova geração de palmeiras garante hoje que Joinville não fique sem uma das suas referências históricas mais importantes.

O presidente da comissão organizadora do sesquicentenário deveria lembrar os motivos que incluíram a revitalização da Alameda Bruestlein na lista de eventos organizados para celebrar a data. O projeto previa garantir que Joinville mantivesse a Rua das Palmeiras por outros 150 anos. A equipe que trabalhou no projeto olhou para além de quem, por visão curta, só enxerga quatro anos. E fez a sua tarefa de casa. Foi ao Rio, visitou o Jardim Botânico, viajou a diversos países do Caribe de onde as Roystoneas são originárias, estudou o seu ciclo de vida e propôs a melhor solução.

Depois disso, pouco foi feito. As palmeiras, tanto as originais como as novas, não receberam qualquer cuidado especial. Nenhum programa regular de adubação e manutenção foi previsto e executado. Sem falar da infeliz intervenção no governo Carlito. Agora - e depois de várias reuniões de uma comissão interdisciplinar - foram identificadas deficiências de nutrição e pregos e feridas nos troncos. Ações corretivas serão tomadas.

O governo fez o que melhor tem sabido fazer nesta gestão: acordar tarde e não estudar direito. As suas ações são insuficientes, tardias e lentas. Acrescentaria ainda que têm poucas possibilidades de ter sucesso, porque o problema das palmeiras é um problema de senilidade. Estão no final do seu ciclo de vida vegetativa. Aliás, com a pouca atenção que tem recebido ao longo das ultimas décadas, até que as plantas duraram muito. O nível freático da região é alto, o governo não tem dado qualquer manutenção as palmeiras imperiais, nem tem nenhum cuidado especial para um patrimônio tombado.

Triste sina de uma Joinville que, nas mãos de uma gentalha como esta, não cuida do pouco que ainda resta do seu patrimônio e da sua história. As palmeiras morrem em pé. Com seu porte majestoso imponente nos lembram da grandeza dos líderes que Joinville já teve e da pequenez dos que a governam hoje.

E para não dizerem que foi por falta de avisos, releiam este post de 2016 (as palmeiras morrem de pé). A História da Alameda Bruestlein está toda ela registrada. Quem trouxe as sementes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em que ano foram plantadas. Quem plantou as palmeiras. Quanto custou o serviço. Quem tiver interesse deveria ler a publicação elaborada pela equipe do Museu Nacional de Colonização (Rua das Palmeiras).

Em tempo e aproveitando o tema do texto: a equipe do planejamento e da mobilidade segue firme na sua aloprada ideia de levar adiante, sem apresentar nenhum estudo técnico convincente, de converter a Rua Marajó na rua de saída de Joinville. Ver caminhões, ônibus e carretas passando pelo labirinto que estão propondo será um bom entretenimento. Depois não digam que não foram avisados. O problema nunca foi a falta de aviso, o problema é a surdez misturada com arrogância e teimosia. Juntas formam uma mistura explosiva.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Udo Dohler visto pelo Sandro Schmidt (3)

A série de charges sobre Udo Dohler, pelo talento do Sandro Schmidt, tem hoje o seu último post (até que surjam mais, claro). Divirtam-se.

Pacto


"Croácia nazista": o samba do jornalista doido

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um caso estranho. Ontem as redes sociais brasileiras foram invadidas por gente a denunciar uma “Croácia nazista”, numa alusão à seleção que enfrenta a França, na final do Mundial 2018, no domingo, na Rússia. Como não tinha visto o tema na imprensa europeia (todos os dias faço um pequeno périplo pelos jornais) fui conferir. E nada. Houve textos na imprensa britânica antes do jogo Croácia x Inglaterra, mas a coisa ficou por aí.

A imprensa do velho mundo trata os croatas de maneira diferente. A televisão portuguesa, por exemplo, repetiu vezes sem conta uma reportagem a mostrar os filhos dos jogadores no relvado, após a vitória sobre a Inglaterra. As cenas com a criançada são ternurentas. O filho do zagueiro Vida, que aparece de pés descalços e muito divertido, acabou por se tornar a estrela da companhia. Foi bonita a festa dos miúdos, pá!

Outra reportagem a circular pela Europa foi a do fotógrafo mexicano Yuri Cortez, que foi atropelado pelo jogador Mario Mandzukic e acabou submerso sob toda a equipe nas comemorações do segundo gol da Croácia. Como todo bom fotógrafo, mesmo numa situação de aperto ele nunca deixou de clicar e com isso conseguiu belas fotos. Exclusivas, claro. Aliás, parece que virou uma espécie de “crush” na Croácia.

No Brasil foi diferente. Houve quem se afastasse do objetivo da competição, o futebol, e se concentrasse numa politização da imagem da equipe dos Balcãs. Ou seja, tentaram levar a ideologia para dentro do campo. Até seria legítimo se os textos tivessem rigor jornalístico, contextualização histórica e, principalmente, ausência de preconceitos. Mas não. O que se fez foi tentar pintar um quadro moralista, com as cores da tradicional superioridade moral da “esquerda”.

SEM CONTEXTO - É de notar que os textos publicados no Brasil parecem ter uma raiz comum. Os poucos argumentos (todos relacionados ao passado) são repetidos e o tratamento da informação é sempre negligente. Mas houve um que chamou a atenção pela agressividade da manchete: “O fascismo dentro das quatro linhas: jogadores comemoram com saudações nazistas”. Exato. Assim mesmo, sem qualquer contextualização.

Com um título destes fica a parecer que Modric, Rakitic, Mandzukic e companhia são mesmo um bando de nazistas. Mas felizmente isso parece ter sido apenas no Brasil. Na Europa, a abordagem é outra. A imprensa destacou uma geração de jogadores que sobreviveram ao banho de sangue que foi a Guerra dos Bálcãs. Quase todos os atletas croatas têm uma história para contar sobre os tempos da guerra, quando ainda eram crianças. E nenhuma é bonita.

Eis um dos casos narrados. Luka Modric, craque do Real Madrid, hoje com 32 anos, recebeu esse nome numa homenagem ao avô, que cuidava dele enquanto os pais trabalhavam numa fábrica. Em 1991, as milícias sérvias invadiram a vila onde eles viviam e executaram um grupo de idosos, entre os quais o avô do jogador. Na escalada de violência, queimaram a casa da família, que teve que emigrar e buscar abrigo fora do país.

Um aviso. Não se trata de dizer que os croatas são santos. Nenhum povo é. Mas é preciso ter uma perspectiva histórica. Há nacionalismos na Croácia? Claro que há. A Guerra dos Balcãs ainda está muito fresca na mente dos povos da região e é natural haver ressentimentos. Aliás, nunca é demais lembrar que a Iugoslávia era resultado de uma arquitetura estalinista, uma “união” artificial feita com cola de farinha.

EXUMAÇÃO DO CADÁVER - Mas voltemos aos textos. Quais são os “argumentos”? É quase uma exumação de cadáveres jornalísticos. É um tema que se repete a cada Copa do Mundo (lembram de 2013?). “Ah... tinha uma suástica no campo”. Fato debatido à exaustão, quando aconteceu. “Ah... o jogador fez a saudação nazista”. O cara tomou um gancho exemplar. “Ah... o Vida disse ‘viva a Ucrânia’”. Ora, se você entende o xadrez da Ucrânia comece a dar aulas, porque é um troço complexo.

A questão é: como classificar os textos veiculados no Brasil? Nestes tempos digitais, a análise do jornalismo – e assemelhados – ficou muito mais complexa. Mesmo assim, é fácil adiantar expressões capazes de enquadrar as matérias: misleading news e clickbaits. E tudo acaba em fake news, claro. O quê? Sim, hoje em dia existe até um glossário com expressões para explicar o mau jornalismo e a desinformação que circula nas redes sociais.

Fake news, todos sabemos, são notícias falsas que usam a credulidade dos leitores para desinformar. Misleading é um nadinha diferente, mas vai dar ao mesmo: são informações imprecisas e textos mal elaborados, com o objetivo de enganar os leitores. Clickbait é a técnica de criar títulos fortes, quase sempre mentirosos, para atrair a atenção. É aí que a porca torce o rabo: os caras sabem que as pessoas só leem os títulos.

Não sou especialista em Croácia, país que ainda não conheço (sei que recebem bem os visitantes), mas qualquer pessoa atenta aos fatos na Europa – do âmbito do futebol ou não – identifica muita leviandade na ideia da “Croácia nazista” em pleno 2018. O país tem um passado que condena, mas isso não autoriza a simplificar coisas que são complexas. E, sabemos todos, os leitores menos avisados, de esquerda ou direita, não resistem ao apelo das notícias fáceis. O resultado é um samba do croata doido.

UMA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO - Mas por que só no Brasil isso virou tema? Pensemos. Uma boa parte da esquerda brasileira convive bem com a figura do criptoditador Vladimir Putin. A Rússia é um país com grande know-how na produção de fake news. Os russos não gostaram nadinha do apoio de Vida à causa ucraniana (portanto, de recusa à Rússia). A Croácia foi vaiada pelos russos no jogo contra a Inglaterra (e será de novo no domingo). Ligue os pontos.

É a dança da chuva.


Fake News: põe tudo no liquidificador e bate...

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Social media: Brasil em segundo, JEC em quinto

POR LEO VORTIS
Quais são as seleções com maior número de seguidores na Copa do Mundo, na Rússia? Os dados disponíveis apontam apenas para duas redes sociais, o Twitter e o Instagram, mas o Brasil tem presença forte nas duas. É terceiro lugar no Twitter, com 4,2 milhões de seguidores, e segundo no Instagram, com 2,8 milhões.

A combinação das principais redes aponta uma liderança do México, com um total de 7,4 milhões. Em segundo está o Brasil, com um total de 6,8 milhões. E em terceiro vem a França, com uma soma de 6,3 milhões. A Croácia, que neste domingo disputa a final com os gauleses, tem pouco mais de 1 milhão de seguidores em todas as redes.

É difícil medir os resultados das seleções, uma vez que há uma certa “sazonalidade” nos jogos. Mas o mesmo não acontece nos clubes. As estatísticas mostram que as equipes com mais seguidores do mundo (somadas todas as redes sociais em que estão presentes) estão na Europa. Não deve ser coincidência o fato de participarem nas ligas mais importantes do mundo, a  espanhola e a inglesa. Eis a lista:
- Real Madrid - 189 milhões
- Barcelona - 184
- Manchester United - 110
- Chelsea - 69 milhões
- Arsenal - 60 milhões

E em Santa Catarina? A Chapecoense é o clube mais popular nas redes sociais, muito à frente dos outros, o que pode ser explicado pela notoriedade obtida depois do trágico acidente com o avião, que vitimou a equipe. O ranking catarinense, em números redondos:
- Chapecoense: 5,9 milhões
- Figueirense: 1 milhão
- Criciúma: 800 mil
- Avaí: 500 mil
- JEC: 366 mil


Neste domingo, França e Croácia disputam a final do Mundial 2018


Ponte para o futuro.


terça-feira, 10 de julho de 2018

Uma patacoada jurídica

POR CLÓVIS GRUNER
Há um trecho quase sempre esquecido da famosa conversa telefônica entre Romero Jucá e o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado. Refiro-me, vocês sabem, ao diálogo em que ambos combinam o “grande acordo com o Supremo com tudo” que culminaria no impeachment de Dilma e na posse do presidente que, parece, só consegue apoio acima de um dígito entre os comentaristas anônimos desse blog e milicianos do MBL.

Voltemos ao telefonema. Lá pelas tantas, como parte da definição da estratégia de colocar Temer na presidência para “delimitar tudo onde estava”, Machado defende que um “governo de união nacional”, possível apenas com a saída de Dilma, “protege o Lula, protege todo mundo”. Se em algum momento proteger o Lula esteve mesmo nos planos da quadrilha que chamamos de governo, parece que, passados dois anos, ela mudou de ideia.

E se para isolar e inviabilizar a candidatura do ex-presidente os signatários do acordo não mediram esforços no aparelhamento das instituições, incluindo o Poder Judiciário, o outro lado decidiu ver até onde chegava jogando nas mesmas regras – ou na ausência delas. E o resultado foram os eventos patéticos de domingo (08),  resultado da extrema politização das nossas cortes, ao menos teoricamente, responsáveis por zelar pela normalidade jurídica.

A sequência de acontecimentos é de conhecimento público, e análises jurídicas pertinentes e bem fundamentadas circulam amplamente desde o final de semana (recomendo particularmente o artigo “Politização com esteroides”, de Conrado Hübner Mendes, professor de Direito e colunista da revista Época). Vou arriscar alguns pitacos sobre as motivações e os possíveis desdobramentos políticos do imbróglio.

Mídias e desespero - Se a intenção era manter Lula nas mídias e visibilizar os interesses políticos nebulosos por trás da cruzada pessoal e partidária de Moro, a estratégia dos deputados petistas e advogados Paulo Pimenta, Paulo Teixeira e Wadih Damous foi impecável. A apresentação do habeas corpus, depois de encerrado o expediente normal do tribunal, em um final de semana onde o plantonista, o desembargador Rogério Favreto, é um conhecido crítico da Lava Jato, não foi mera coincidência.

Se como plantonista Favreto não extrapolou suas obrigações legais, o bom senso e o respeito à “normalidade” sugerem que ele deveria ter se manifestado impedido de julgar o pedido, em função de sua proximidade com o PT. Ao mandar às favas os escrúpulos, já que isso se tornou prática comum nos tribunais superiores – e aí estão Gilmar Mendes e Alexandre Moraes, no STF, além do próprio Moro, a dar provas fartas de que já não importa manter mesmo a mais remota aparência de isenção –, o desembargador não contribuiu para melhorar a imagem da toga.

A insubordinação do juiz de Curitiba, que não encontrou tempo e alegou excesso de trabalho para não julgar o conterrâneo e companheiro Beto Richa, mas despachou de férias em Portugal, e a atitude destemperada dos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, tampouco. Afinal, se o fundamento da decisão era frágil e juridicamente insustentável, bastaria seguir o procedimento normal, esperar a segunda para derrubá-la e Lula voltar à sua cela na Polícia Federal.

Um cenário incerto - O desespero de Moro e dos desembargadores de Porto Alegre para impedir a sua liberdade, mesmo que por poucas horas, desequilibrou momentaneamente o jogo político, e a favor de Lula e do PT. A dúvida é sobre quais os efeitos desse desequilíbrio no médio prazo. Se a intenção é insistir na tese da candidatura de Lula, o tiro talvez saia pela culatra e repercussões de domingo escampem ao planejado.

É verdade que o ex-presidente segue liderando todas as pesquisas, mas também o é que o voto em Lula tem algo de messiânico, radicalizando uma característica do eleitorado brasileiro, a desconfiança em partidos e programas e a aposta em lideranças carismáticas, como Lula. A estratégia de fortalecer o nome do ex-presidente, mantendo-o em evidência ao mesmo tempo em que reforça a imagem de um líder popular perseguido por forças antidemocráticas, não garante que seus votos serão automaticamente transferidos ao candidato ungido por ele.

O melhor, e venho insistindo nisso há alguma tempo, era as esquerdas oferecerem uma alternativa programática a Lula, o que nem o PT nem nenhum outro partido o fez até agora – à exceção, talvez, do PSTU, mas sem chance alguma de prosperar eleitoralmente. Mesmo fora da órbita petista não há nome viável que inspire segurança, seja Ciro ou Marina. A direita liberal, ao apostar em nomes como Alckmin ou Amoedo, também arrisca nadar e morrer antes de chegar à praia.

O risco é de que o descontentamento e a desconfiança dos eleitores com a política e os partidos tradicionais inflem a única candidatura identificada, hoje, como alternativa a “tudo o que está aí”, e quem capitalize os votos principalmente indecisos nas eleições de outubro não seja um candidato ou partido comprometido com a democracia. É possível, embora não seja certo, que a geleia geral de domingo também sirva para recrudescer a opção pelo fascismo e fortaleça a candidatura daquele que não se deve nomear.