POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Parece que o diabo anda a fazer as suas maldades neste segundo turno. Primeiro o candidato Kennedy Nunes divulga uma foto ao lado do bispo católico. Aí a diocese do bispo emite uma nota a dizer que a publicação não foi ética, porque dá a entender que seria um apoio à candidatura. O candidato devolve a acusação, insinuando que a diocese teria sido induzida por outros a tomar essa posição.
É fácil entender os dois lados. Kennedy Nunes tem razão em dizer que, ao veicular a imagem, não falou em apoio. Mas qualquer estudante com duas aulinhas de semiótica sabe que a coisa acabaria por ter outro significado. Kennedy Nunes, que tem diploma de jornalista, deve ter feito essa cadeira e provavelmente sabe: não é preciso falar em apoio para sugerir um apoio efetivo.
A questão é saber
até que ponto essa pequena patranha valeu a pena. Para começar, Kennedy Nunes
deixou o bispo numa batina justa, porque ficou a ideia de uma quebra do
princípio da neutralidade da Igreja. E criou um fait-diver desnecessário que,
para fazer coro com a imprensa, acabou com uma “nota de repúdio” à sua
conduta. E repúdio é uma palavrinha chata de ouvir.
Resta saber se
Kennedy Nunes ganhou algum voto católico com isso. Não parece. Quando muito,
pode ter perdido uns dois ou três votinhos. O hábito do cachimbo deixa a boca torta. Se o voto de cabresto ainda é possível
em certas confissões religiosas, em que os pastores levam o rebanho para o
próprio curral eleitoral, o mesmo não vale para os católicos. É que há
muitas reses tresmalhadas, desobedientes e indiferentes.
Ah... passou quase despercebido. Quando parecia
que ia ficar por isso mesmo, eis que os assessores de Kennedy Nunes
decidem jogar um pouquinho de gasolina na fogueira. Os caras partilharam, nas redes sociais, uma foto na qual Udo Dohler aparece numa missa
católica. Qual é pecado? Ah... parece que ele é luterano e, ao visitar uma
igreja da concorrência, estaria a ofender os fiéis católicos.
Sim... o
raciocínio é bastante torcido. O post é uma obra literária: “Que feio, seu Udo.
É assim que o senhor quer governar Joinville? Se não respeita nem a fé alheia.
Acha que os fiéis não viram isso?” Sério, amigo? Fico a perguntar que mente
brilhante pariu esse texto. Aliás, que fique entre nós, leitor ou leitora, mas
se a burrice fosse pecado havia uns caras que jamais entrariam no céu.
Para finalizar. Eu
juro que tentei evitar o tema religião durante as eleições. Mas como não fui eu
quem começou essa palhaçada, fiquei à vontade meter o meu bedelho. Afinal, a coisa
só vem referendar a minha tese: misturar política com religião só pode dar
cagada. Aliás, é uma coisa que se sabe desde os tempos de antanho, quando se
dizia “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”.