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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Joinville que você não vê

POR GUILHERME GASSENFERTH

Com os nove anos de voluntariado pelos bairros de Joinville, passei a perceber algumas realidades que preferiria não ter que conhecer. Com as apologias à grandeza de Joinville e à pujança de sua economia somos forçosamente induzidos a crer que os problemas sociais daqui são mínimos. Isto está bastante afastado da realidade. Como a pobreza é escondida, parece que vivemos na Escandinávia. Mas nossos bairros mais pobres são subsaarianos.

Em Joinville, há 10 aglomerados subnormais, ou seja, favelas. Um aglomerado subnormal é, para o IBGE, “cada conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa.”

7.198 pessoas vivem em favelas em Joinville. Para uma cidade cujo ex-prefeito venceu uma campanha eleitoral ao governo do Estado afirmando que Joinville não tinha favelas, o número é assustador. Você leitor, sabe onde estão estas favelas? Provavelmente não.

Joinville possuía em setembro do ano passado 4.700 famílias que recebiam o Bolsa Família, benefício que apenas famílias com renda per capita inferior a R$ 70,00 ou com renda inferior a R$ 140 mas com filhos adolescentes têm direito. O leitor aí consegue imaginar como passar o mês com R$ 140? 4.700 famílias não tem a opção de apenas imaginar, elas sabem como é.

Observando os dados do Censo 2010, o IBGE informa que dos 277.453 joinvilenses ocupados na semana em que fez a pesquisa, 11,2% ganhavam salário entre R$ 0,00 e R$ 565,00 mensais, sendo que o total de habitantes ocupados que ganhavam menos de dois salários mínimos batia na casa de 53,27%.

Joinville tem alguns índices que assustam e desafiam o status de cidade com 13º IDH do Brasil. Confiram alguns índices educacionais: 1,77% das nossas crianças entre 7 e 14 anos estão fora da escola. 1.130 crianças que não estudam. Quando se analisa a idade de ensino médio (15 a 17 anos), o índice sobe para 15,71%. São 4.175 jovens fora da escola nesta faixa etária. Todas informações quentinhas, agora de 2010.

A situação precária em que alguns de nossos moradores vivem também é assustadora. 359 residências não tem nenhum tipo de abastecimento de água – poço, captação do rio, nada. 1.224 casas não tinham geladeira! Só 72,7% tinham condições de saneamento consideradas adequadas pelo IBGE. 6.203 casas tinham esgoto a céu aberto! 40% dos domicílios particulares estão em ruas não pavimentadas. Para a cidade mais rica de Santa Catarina, os números e dados são muito vergonhosos.

Trouxe a situação à tona porque os joinvilenses não conhecem a realidade social da cidade. E os miseráveis costumam ser invisíveis na sociedade. É a invisibilidade social. Percebam como há diversos motoristas que quando um pedinte aparece na janela fazem de conta que não há nada ali ao lado. Se uma mosca estivesse ali na janela iriam querer expulsá-la, mas como é apenas um pedinte, nem percebem.

Espero que os leitores esmerem-se para auxiliar esta população (ainda que tão somente no voto) a sair desta realidade. Estas pessoas não são assim porque querem, mas porque a falta de oportunidades lhes deu esta vida, se é que se pode usar algum termo relacionado a "viver" para descrever a situação.

Falar para estes joinvilenses de coisas como educação de qualidade, saúde digna, saneamento e qualidade de vida é como explicar a um ateu sobre Deus. Não apenas não conseguem acreditar que existe como ainda zombam de você. Mas é preciso que juntos os façamos acreditar!

Agradecimento especial à amiga Charlotte Maehl por aceitar meu maluco convite de fazer um passeio pela periferia de Joinville para fotografar num belo sábado ensolarado!