quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Eu quero pagar pela Tarifa Zero e você também deveria querer

POR FELIPE SILVEIRA

Depois de muito tempo de esquiva, me enfiei novamente em um debate sobre Tarifa Zero com um amigo de direita (estou falando daquilo que nós, identificados com a esquerda, chamamos de direita, embora muitas vezes eles não se assumam como tal – e respeito a posição). Mais uma vez o debate gira em torno da questão do financiamento e o chavão “não existe almoço grátis” vem à tona. É clichê, mas é um debate que importa e muitas vezes fica jogado de lado. Por isso decidi escrever algumas palavras sobre o assunto.

A direita erra ao considerar que pessoas e movimentos que propõem e defendem a Tarifa Zero, especialmente o MPL (grande protagonista da causa no Brasil), não se importam com a questão do financiamento. Não há uma pessoa que defenda a ideia a sério, com profundidade, que não saiba das complicações que a execução da ideia exige. Porém, muitas vezes esta questão nos é tão óbvia que parecemos não nos preocupar com ela. Às vezes, no calor das palavras de ordem, da indignação com a violência, da defesa de um direito (agora constitucional), não ligamos muito em mostrar que temos propostas, que não estamos sonhando e que faz sentido lutarmos, imediatamente, por esta causa.

Feita a introdução, vamos ao que interessa. Enumero alguns pontos abaixo, mas friso que alguns são inspirados em construções coletivas (ideias que o MPL defende, por exemplo) e outros argumentos são posições individuais, a partir da observação de outras pautas e conceitos não diretamente relacionados ao transporte. Algumas ideias são do candidato a prefeito pelo PSOL nas últimas eleições, Leonel Camasão, que escreveu as suas sugestões aqui. Acho importante dizer que sempre participei de manifestações e atividades pelo passe livre, mas nunca fiz parte do MPL.

1) CONTE UMA NOVIDADE SOBRE ALMOÇO GRÁTIS
O passe livre custa caro e ninguém sonha com almoço grátis. Porém, entendemos que este direito é importantíssimo, assim como saúde e educação, de modo que, não importa o custo, precisamos desenvolver uma forma de pagá-lo. Por isso faz pouco sentido falar em valores específicos. As cidades têm tamanhos e contextos diferentes. Cada uma vai exigir um diálogo com a sociedade e um desenvolvimento diferente da questão.

2) DESIGUALDADE QUE GERA MAIS DESIGUALDADE
Entendemos que a distribuição dos recursos no mundo e no Brasil é bastante desigual, de modo que há dinheiro para pagar saúde, educação, lazer e transporte para todos. A maneira como as coisas funcionam hoje tira dinheiro de quem tem pouco para encher o bolso de quem já tem muito. No caso da tarifa de ônibus é exatamente assim que funciona. O trabalhador gasta uma parte considerável de seu salário para usar um serviço essencial e que rende altos lucros para as empresas que exploram o serviço. Os imensos lucros das empresas contrastam com o bolso do trabalhador, que esvazia a cada viagem. Alguns afirmam que as empresas não tem lucro, em evidente negação da realidade. Ora, as famílias que controlam as empresas aparecem na coluna social, exibem suas viagens, joias e jantares. De onde acham que sai o dinheiro?

3) SERVIÇO PÚBLICO FUNCIONA
É justamente pelo argumento acima que defendemos a municipalização do transporte público. O transporte é um direito, um serviço essencial, não é para dar lucro. Pessoas andam quilômetros a pé ou deixam de comer para pagar a passagem. Se vocês não conhecem alguém que passou por isso, muito prazer, Felipe Silveira. E conheço mais algumas dezenas de pessoas próximas que vivenciaram isso. Então, como o serviço público não dá lucro (em teoria), faz todo sentido que o transporte público seja operado por uma empresa pública.

Você vai dizer que o serviço público é uma droga, que não funciona, que a burocracia atrapalha, que há corrupção. E, bem, nada disso é mentira. Mas, assim como criamos e defendemos o SUS, que sofre de tudo isso também, temos que resolver os problemas que vem junto com o pacote. Para alguém de direita (aquilo que entendemos como direita, em suas mais variadas vertentes), o serviço é falho por ser público, faz parte do credo e da campanha de difamação. Mas a verdade é que o SUS salva milhões de vidas que só tiveram uma chance por causa do serviço público.

4) PROCESSO E DIÁLOGO
Eu defendo que a implantação da Tarifa Zero seja gradativa. Acredito que não seja possível, de uma hora pra outra, comprar centenas de ônibus, contratar e capacitar profissionais, preparar a oficina e o setor administrativo do órgão responsável etc. É preciso dialogar com a sociedade para decidir a forma de implantação. Sendo assim, começar a operar o serviço a partir de algumas linhas é uma possibilidade. No caso de um sistema integrado, como em Joinville (SC), elas teriam que ser separadas. De todo modo, é necessário o diálogo com a população para definir a melhor estratégia.

5) REDUZIR A CONTA É NECESSÁRIO
Reduzir os custos é necessário. Meu amigo de direita gosta de economia e, no meio do papo que motivou esse texto, alertou para algo importante. Diz ele que todo serviço público depende de um fator para funcionar: baixa demanda. Eu acho que ele está coberto de razão. Evidentemente a demanda do transporte coletivo é altíssima, e com a Tarifa Zero tenderia a aumentar. Muita gente deixa de usar o sistema porque não pode e até mesmo não quer pagar o preço. Porém, acredito que as soluções para os problemas são múltiplas e há maneiras de reduzir bastante a demanda. Escrevo sobre duas abaixo:

5.1) Como cicloativista, e ciclista desde a infância, acredito que uma cidade ciclável tem muito mais qualidade de vida. Por experiência própria e com base em centenas de histórias contadas na internet, digo que andar de bicicleta muda a vida para muito melhor. Melhora a saúde, a resistência, é barato, é prazeroso. Por isso, acredito que tornar a cidade mais ciclável pode reduzir muito a demanda do transporte coletivo. Isso aconteceu, por exemplo, em Copenhague, na Dinamarca. A cidade investiu na melhoria das condições para andar a pé, de bicicleta e de transporte coletivo, reduzindo o uso do carro. Dessa forma, cerca de 25% da população (o número pode estar desatualizado) usa, diariamente, a bicicleta para se locomover, outros 25% usam transporte coletivo, outros 25% andam a pé e o restante de carro. Isso não quer dizer que você não possa usar o carro num dia, o ônibus no outro e ir a pé quando quiser. Significa, apenas, que você vai escolher o modal que faz mais sentido para a sua necessidade.

5.2) A cidade precisa ser reorganizada. No século 20, as cidades se desenvolveram de modo desigual, promovendo mais e mais desigualdade, concentrando riqueza no centro e aumentando a pobreza nas periferias. Assim, o trabalho ficou muito longe de casa, impedindo que as pessoas façam suas viagens diárias a pé ou de bicicleta, transformando bairros em dormitórios. Por isso, é preciso reorganizar a cidade e trazer o emprego/estudo para perto de casa ou ir morar perto do emprego/estudo. Ninguém que more a dez minutos a pé do trabalho vai optar pelo ônibus (salvo exceções). Andar a pé é prazeroso e saudável. É algo que deve ser estimulado.

6) COMO PAGAR A CONTA?
Em certo sentido, administrar uma cidade ou uma empresa é a mesma coisa. A tarefa do administrador é organizar, fazer render mais com os recursos que existem. Por isso que candidatos do meio empresarial ganham eleições, vendendo a ideia de bons gestores. A coisa pública, porém, tem várias diferenças que não permitem tratar os dois tipos de administração da mesma maneira. Cidadãos não são clientes, certos setores não podem ser cortados, as regras são mais rígidas e o jogo é mais complexo. Assim, financiar o transporte coletivo é uma decisão política e recursos do município serão usados para executá-la.

São inúmeras as maneiras de aumentar a arrecadação e distribuí-la de forma mais justa, mas é preciso coragem política e efetiva participação popular para colocá-las em prática. Um exemplo disso é a tentativa do próprio Haddad de implantar o IPTU progressivo em São Paulo, que fracassou na hora de passar na Câmara de Vereadores. Nenhuma vitória política é resultado de canetaço. Tudo que os trabalhadores e trabalhadoras conquistaram foi na base do sacrifício, da pressão. A partir do momento que a pressão for maior do que a resistência daqueles que não querem ceder, qualquer pauta vai ser aprovada. Nossa tarefa é seguir na luta e mostrar que é possível. Por isso, listo abaixo algumas das formas de financiamento da Tarifa Zero.

6.1 IPTU progressivo
A implantação desta política é urgente, pois resolve inúmeros problemas de uma só vez. Ela é fundamental para reorganizar a cidade, combater a acumulação de capital, gerar emprego e diminuir custos para a população. Ela afeta diretamente aqueles que acumulam com especulação imobiliária, o que justifica a forte resistência deste setor. E quem lucra com especulação? Todos os ricos que adquirem imóveis e os usam como poupança. Ou vocês conhecem algum rico (rico mesmo) que não tenha imóveis? Contudo, a partir do momento que se aumenta a alíquota para os especuladores, isso resulta no aumento da arrecadação do município ao mesmo tempo que força a redução da especulação. Explico:

Vamos supor que um especulador seja dono de cem imóveis. Destes, 50 estão ocupados e outros 50 vazios, esperando que alguém pague o alto preço do aluguel que tanto sacrifica famílias e pequenos e médios empreendedores. Como o especulador vai ter que pagar mais, ele vai ter que tirar o dinheiro de algum lugar. Assim, ele pode vender alguns imóveis ou baixar a taxa para conseguir alugar alguns para novos clientes. Entra aí a lei da oferta e da procura, pois este movimento vai forçar o aumento da oferta de imóveis no mercado. Com o aluguel mais barato, mais pessoas podem morar perto do trabalho, mais negócios vão surgir, outros não vão fechar, vai haver mais emprego. Tudo começa a funcionar melhor, menos a acumulação de capital do especulador, que ainda assim não vai ser ruim. Com o aumento da arrecadação para a cidade, um percentual pode ser destinado ao financiamento do transporte coletivo. O aumento no IPTU não será repassado no aluguel por uma questão da lei da oferta e da procura. É ela que vai forçar a baixa dos valores cobrados atualmente.

6.2 CIDE
Essa é uma proposta defendida pelo próprio Fernando Haddad. O Cide é um imposto federal sobre o combustível que pouco retorna para o município. Existe uma PEC (179/2007), de autoria de Jilmar Tatto (PT/SP), que propõe justamente o uso do imposto no subsídio ao transporte coletivo.

6.3 Destinação de multas de trânsito, estacionamento rotativo e estacionamentos públicos
Diminuir a circulação de carros e a velocidade média do tráfego é um desafio para as cidades mais progressistas do mundo. Radares que geram multas por excesso de velocidade são eficientes para alcançar o objetivo da diminuição. As multas, que ninguém precisa tomar se não ultrapassar a velocidade permitida, podem reforçar o caixa destinado ao transporte público. O estacionamento rotativo também gera arrecadação e resolve o problema de vagas no centro. Ao contrário de alguns, defendo que o custo da hora no estacionamento rotativo não pese demais no bolso do cidadão.

6.4 Publicidade no transporte coletivo
No sistema capitalista, a publicidade é um lucrativo negócio. Ônibus são ótimos espaços de publicidade ambulante. Pode-se muito bem aproveitar o espaço para arrecadar fundos que serão destinados ao financiamento do sistema.

6.5 Pedágio Urbano
Outra medida a ser utilizada é o pedágio urbano, mas deve gerar mais polêmica. Por isso que essa demanda precisa ser de uma boa parte da sociedade, de modo que todos topem fazer sacrifícios para financiar o melhor para a coletividade. Se a ideia é diminuir a circulação de carros e fazer com que os mais ricos paguem uma parte da conta, então o pedágio é uma boa forma de somar à arrecadação e diminuir a circulação de carros.

6.6 Economia gerada em outros setores
Uma das melhores consequências da Tarifa Zero é a melhoria na saúde da população. Além de diminuir a poluição, as pessoas que optarem pela caminhada e pela pedalada vão fazer atividade física automaticamente. A consequência poderá ser vista na fila dos hospitais. Além disso, o número de acidentes de trânsito deve diminuir consideravelmente, pois teremos menos gente de carro e moto, menos velocidade, menos pressa e mais consciência. Logo, isso gera uma economia dos recursos destinados à saúde. Sobra mais para a cidade.

6.7 Cobrança de empresas
A população da cidade pode debater uma taxa a ser cobrada das empresas pelo número de funcionários que vão ao trabalho pelo sistema gratuito. É uma ideia que vai ter resistência empresarial, mas pagar o passe já faz parte dos benefícios que muitas empresas oferecem. Trata-se de chegar a um consenso social.

6.8 Percentual na conta de água ou luz
Se a sociedade decidir custear a tarifa, uma pequena taxa poderia ser incorporada às contas de luz ou de água. Um pequeno valor custeado por todos para um serviço que poderia ser usado por qualquer um a qualquer momento. Seria muito mais barato pagar um pequeno valor uma vez por mês do que três ou quatro passagens do jeito que é hoje. Valeria muito a pena. Tudo é uma questão de a sociedade querer fazer isso. Eu quero, e você?


OUTRA SOCIEDADE É POSSÍVEL

Defender a Tarifa Zero como uma política pública concreta, possível a curto e médio prazo, é defender um outro modelo de sociedade que apenas parece inalcançável. Sem dúvida que os contrários ao novo modelo o vendem como impossível, sonho, utopia. Mas as transformações ocorrem todos os dias, em todos os lugares, e dependem de corações e mentes trabalhando juntos. Um exemplo de política pública que também tem tudo a ver com o parto do novo mundo é a Renda Básica Incondicional, que vai promover uma redistribuição considerável de renda e acabar com a pobreza. Mais um exemplo é a redução da jornada de trabalho, urgente no combate ao desemprego em um mundo que cada vez reduz postos de trabalho ao mesmo tempo que cada vez mais suga o trabalhador, obrigando-o a dedicar a maior parte de sua vida e energia para as empresas. O modelo atual afeta diretamente a saúde e o bem-estar das pessoas, cada vez mais tristes e dependentes de remédios para aguentar o tranco que é viver.

Somos convencidos de que é inútil, mas imaginar, planejar e executar um novo mundo está ao nosso alcance. Neste texto falei de apenas uma coisa que vai mudar a vida de todo mundo para melhor e citei mais duas no último parágrafo. Sem utopias, sem ilusões, apenas criatividade e planejamento bastam.

32 comentários:

  1. É? Onde a constituição diz que o transporte público deve ser gratuito?

    Ok, assumem que não existe almoço grátis, o almoço é pago, mas não fazem ideia de como pagá-lo, é isso? Ou é com aumento de IPTU?

    Felipe, seguinte: o transporte público pago não é o principal empecilho na vida do cidadão. Os aposentados e estudantes têm o valor subsidiado pelo poder público, os trabalhadores têm a passagem subsidiada pelo empregador, o passe é único em Joinville e na maioria das grandes cidades, nunca se vendeu tantos automóveis (e tantas famílias ficaram endividadas) como nos últimos dez anos, o uso da bicicleta vem sendo estimulado nos últimos anos com a construção de ciclovias... Para o trabalhador esse aumento é ínfimo se comparado ao aumento do combustível, da energia elétrica, da inflação!

    É perda de tempo, coisa de piá sem ter o que fazer, não há argumentos. Ficar chamando empresário de burguês porque ele tem lucro não cola mais. Abra você e seus amigos do MPL uma “empresa sem fins lucrativos” e eu quero ver sua transformação um ano depois, imagine os empresários donos de empresas com fins lucrativos.

    O serviço público não produz nada, e não sabe produzir. Só sabe cobrar impostos e gastar com cabides de empregos e cafezinhos. Sequer a fiscalização, que seria o último a se esperar de um órgão público, o setor público faz direito. Como quer que o setor público administre um serviço de transporte público gratuito ele próprio fiscaliza? Veja o que está ocorrendo com a Petrobrás, com os Correios, com a Eletrobrás, com o BNDES? Veja a destruição que os governos Chávez/Maduro causaram à Venezuela estatizando e desapropriando setores privados? É muita alienação!

    Aliás, em Copenhague, capital de um dos países que mais cobram impostos de seus cidadãos, o transporte público é gratuito?

    Digamos que o seu mundo torna-se realidade e o poder público brasileiro “eficientíssimo” cobre como cobra a Dinamarca, por exemplo, você acha que a base dos problemas do cidadão é o transporte público? Faltam escolas, centros de saúde, hospitais, guarnição...

    Não sei onde estão as cabeças desses esquerdistas classe-média...

    (A propósito, dia 15, quando estava voltando do trabalho, próximo à praça da bandeira vi uma participante do MPL, bela e formosa, tirando selfies com sua companheira enquanto os usuários cansados esperavam para retornar para as casas. Achei engraçado e pensei: não tem dinheiro para pagar R$ 0,45 a mais no passe do ônibus – se é que ela usa o transporte público – mas não se importa em pagar 50% a mais de imposto num Iphone-capitalista-opressor.)

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    1. Onde, neste texto, chamo empresário de burguês? O teu comentário mostra que você só leu o título.

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    2. Não precisa escrever...

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    3. Olá Antonio Carlos,

      Um projeto de emenda a constituição (a pec 90), realizada pela Deputada Luiza Erundina, saiu da gaveta depois da jornada de luta de junho de 2013. O texto diz que o direito ao transporte é um direito social. Ou seja, tá lá no artigo 5. E detalhe: o relator do projeto foi o Aloisio Nunes, do PSDB, candidato a vice do Aécio na eleição passada. Mais informações de caráter técnico e político sugiro visitar o site tarifazero.org Link da notícia http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/09/senado-aprova-pec-que-torna-transporte-publico-direito-social.html O mais massa disso tudo é que foi na luta na rua que fez o projeto andar. Maikon

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    4. Essa turminha não se cansa de falar em especulação imobiliária. Acham que a terra foi adquirida como? Com suor de trabalho e pagando os impostos, entre eles o IPTU que vcs insistem em bancar o transporte livre. Vcs deveriam levantar outra bandeira: a da ineficiência pela administração dos recursos arrecadados com impostos, que venhamos e convenhamos, tem uma carga tributária pra lá de exagerada em contrapartida do que recebemos. Eu pelo menos tenho o direito de reclamar, pois pago meus impostos em dia e antes de manifestos contrários, não tenho propriedades para ser chamado de mini fundiário. Vamos economizar na cervejinha e parar de reclamar do preço de transporte. Vão bater na porta do executivo ou legislativo e parar de incomodar o poder privado.

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    5. Acho esse tipo de dedução, um troço muito esquisito:

      "não tem dinheiro para pagar R$ 0,45 a mais no passe do ônibus – se é que ela usa o transporte público – mas não se importa em pagar 50% a mais de imposto num Iphone-capitalista-opressor.)".

      Como saber se o aparelho é dela? E, admitindo que seja, como saber se o aparelho não foi dado de presente à ela (e neste caso, a moça não teria pago). Outra coisa: algumas pessoas do MPL realmente não precisariam/ necessitariam engajar-se na luta pelo transporte gratuito, considerando sua situação financeira. Elas o fazem porque pensam em outras pessoas: as que não podem ou as que custeiam o transporte com muito sacrifício.

      Outra coisa: para mim, trabalhadora, esse aumento não é ínfimo, ainda que comparado ao que pode ser observado em relação a outros produtos. Então, fale por você, ok?

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    6. Felipe aponta, educadamente, vários argumentos e possibilidades para viabilizar a tarifa zero e o cara rebate com:
      "É perda de tempo, coisa de piá sem ter o que fazer, não há argumentos. "

      Felps, na mosca! A "base dos problemas do cidadão" pode até não ser o transporte público, mas vamos combinar que a tarifa zero seria um "alívio" e tanto - especialmente para o meu bolso.

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    7. http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/10/politica/1447193346_169410.html

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    8. Países ricos, com infraestrutura, com população consciente e usuária do transporte público NÃO OFERECEM TRANSPORTE GRATUITO, muito pelo contrário. O ônibus em Manchester UK custa R$9,50. Em Madrid o ônibus e metro custam (na zona 1, a mais barata) R$ 6,70. Em Tóquio, R$ 7,85 por 5km. Em Santiago, R$ 4,20. Todos cobram pelo serviço, deixar o serviço para o estado fornecer ou poder público bancar o serviço de empresas privadas vai:

      1)Onerar os impostos já escandalosamente caros;
      2)Beneficiar grupos de intere$$e$ políticos dentro do poder público;
      3)“Se eu, poder público, forneço o serviço, quem vai fiscalizar, eu mesmo?”;
      4)Não há lei, nem é constitucional afirmar que o rico ou empresário deve custear 100% o transporte público dos mais pobres, aliás a população já banca aposentados e estudantes e os empresários bancam 50% dos trabalhadores;
      5)Serviços custam $, os aumentos continuarão a existir, pois vão seguir a inflação, além da manutenção da frota. Ou seja, o aumento será diluído no IPTU para todos: inválidos, aposentados, ciclistas...

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    9. É constitucional estabelecer alíquotas de imposto de renda para as diversos salários (ganhos menores pagam menos, ganhos maiores pagam mais), é constitucional cobrar alíquotas diferenciadas do IPTU pelo valor venal do imóvel, mas é inconstitucional selecionar determinados grupos da sociedade e cobrar deles impostos diferenciados para determinado fim.

      Em outras palavras: o custo do transporte público gratuito não será pago pelos mais ricos, mas por toda a população. Então se não tens um imóvel no teu nome ou não pagas IPTU, algum ente teu pagará pelos custos do TEU transporte. Achas isto justo?

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    10. Sim, acho justo, porque eu também vou pagar para ele usufruir. Todos vão poder usufruir!

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    11. Ah é? Por acaso pagas algum desses impostos?
      IPTU, ISS, ITBI...

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    12. Pago alguns. Você não paga?
      E, caso você não tenha lido o texto, propus outras formas de taxação.

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  2. tu acha mesmo que o estado gere bem a nossa grana, né?

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    1. Acho que não, mas, como disse no texto, não é uma questão intrínseca ao Estado. O dinheiro pode ser bem administrado ou mal administrado, dependendo da organização da sociedade em relação a isso. Leia essa entrevista com o Jessé Souza que fala, entre outras coisas, sobre o assunto: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/10/politica/1447193346_169410.html

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  3. vi o título e na boa, não.
    o mercado, felipe, somos nós, não tem um monstro na rua querendo pegar o teu dinheiro. consumidor é soberano, pq decide se, como, quando e onde comprar.
    nós sabemos melhor do que qualquer um o que fazer com o nosso dinheiro. entregar teu dinheiro na mão de outro - qualquer outro - para que esse outro decida o que fazer com ele é burrice. ah, e preço é informação. sem preço vc não tem como avaliar se o serviço presta e decidir se faz uso dele ou não.
    a solução para os males é estudo e trabalho. não é fácil, mas quando criança se te disseram que seria mentiram prá vc.

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    1. "consumidor é soberano, pq decide se, como, quando e onde comprar."
      Quais são as suas opções para compra de energia elétrica? Saneamento Básico? Transporte público?

      "nós sabemos melhor do que qualquer um o que fazer com o nosso dinheiro. entregar teu dinheiro na mão de outro - qualquer outro - para que esse outro decida o que fazer com ele é burrice"

      Suponho que você trabalhe. O que fazer com o dinheiro dos impostos devidos? Você é burro e entrega ele para o governo ou é um cidadão inteligente e o guarda pra si?

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    2. nossa, esse comentário vindo de você?

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  4. Como liberal não acredito em almoço grátis, assim como o Felipe pelo visto também não.
    Acho sim que é um assunto que pode e deve ser discutido racionalmente.
    Algumas das idéias levantadas pelo Felipe já me passaram pela cabeça, acho que a redução do número de veículos reduziria os custos de manutenção das vias públicas por isto vejo com simpatia a cobrança do pedágio urbano se alinhado a um transporte público descente (vias exclusivas para ônibus, ciclovias, etc...).
    Mas temos atualmente um grande empecilho constitucional, a maior parte dos gastos governamentais é obrigatório e sobra pouca margem de manobra e muito desperdício, enquanto isto não mudar acho difícil liberar verbas para atingir tal intento sem aumento de tributos que por sinal ninguém aguenta mais pagar.

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    1. Obrigado, Anderson. Você mostrou, no comentário, que podemos ter linhas ideológicas diferentes e ter um debate produtivo ao mesmo tempo. Muita gente já parte do princípio contrário e nem começa o debate.

      Sobre o assunto, o que você sugere para resolver o problema. Tem outras sugestões?

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    2. Felipe, eu fiz o comentário das 12:25.
      na sua resposta ao anderson, achei que o "muita gente" foi dirigido a mim, se sim não foi minha intenção te agredir, nada a ver eu escrever o burrice ali, desculpa. e decidi não ler o texto q vc linkou pq acho q não vai acrescentar nada ao q penso. mas gosto de ler sobre coisas com as quais não concordo.

      Ao L. S.: aparentemente concordamos então q o estado se mete demais na vida das pessoas, mas eu não sou defensor de estado mínimo e coisa e tal. se ele fosse eficiente já estava de bom tamanho. saneamento básico, taí uma coisa que valeria a pena lutar por melhoria, né? século 21 e a gente ainda jogando bosta em rios. isso deveria nos preocupar mais do que buzão gratuito, que nunca, jamais, em hipótese nenhuma será gratuito. e sim, pago impostos como todo ser humano que consome. do jogo.

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    3. Olá Felipe desculpe a demora em responder.
      Não creio em vinculação de receitas de impostos, acho que este é um dos maiores problemas do Estado Brasileiro e gera enormes desperdícios de verbas públicas (outro problema é a estabilidade absoluta). Acredito em orçamento base zero, onde todo ano se discute a distribuição das verbas conforme as prioridades do momento. Assim se o povo quer transporte público gratuito não há problema desde que se abra mão de outro gasto, aí então passaremos a discutir questões como: número de funcionários da câmara, estrutura administrativa,verbas de propaganda, etc... se não for assim logo a carga tributária será de 100%.

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  5. Existem milhares de municípios no Brasil onde não paga-se nada pelo transporte coletivo, por um simples motivo : não existe transporte público.

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  6. Belo texto, muito bem argumentado, as idéias são boas, mas isso depende da sociedade "também" e pelos comentários temos uma noção que isso nunca irá acontecer.
    Infelizmente as pessoas leem o texto sem ter conhecimento do assunto, sem conhecer a história, politica, enfim é triste viver num pais desigual e a população achar isso normal.

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  7. O país quebrado, municípios e estados quebrados, impostos altíssimos, empregadores fechando fábricas e os caras querem dar mais poder àquele que levou o país a bancarrota, ou seja, o poder público para que o mesmo cobre mais impostos dos cidadãos por um transporte gratuito com vias esburacadas, com escolas e hospitais sucateados?

    Um pouco de senso de realidade não faz mal a ninguém. Antes do transporte gratuito tem de cobrar eficiência de serviços públicos muito mais importantes.


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  8. Uma das formas de reduzir a tarifa do transporte é agrupar as linhas em troncos. A cidade é muito espalhada, deveria ser planejada para ter uma densidade populacional maior. Ter mais prédios para que se tenha de ter um percurso menor, mas ainda assim manter a qualidade de vida.

    No entanto existe um grupo que não aceita a construção de prédios, mesmo os de menor porte. Uma cidade do tamanho de Joinville não é tão fácil ter um bom sistema de transporte.

    Outro fator que poderia ajudar é fazer o centro ter moradores, assim estes poderiam fazer seu percurso a pé, sem depender de transporte ou carro. Cadê o projeto de reavivar o centro antigo com moradias?

    Tem muito mais a ser discutido do que se tirar dinheiro de um lugar para pagar o custo. Já dizia o Haddad: se é para pedir algo de graça, vamos pedir Disney de graça.

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  9. Felipe, vou pegar um exemplo bem atual que acontece em SP com a administração Haddad. E já aviso a coxarada que o cara está revolucionando a cidade com conceitos nunca praticados e tem ganho elogios no mundo todo, menos dos vira-latas daqui obviamente. Algumas das politicas públicas implementadas lá vem justamente ao encontro das idéias listadas neste post.
    Pois bem, o Haddad andou desabafando que tem tido oportunidades de estreitamento de diálogos com moradores de ruas, LGBT, dependentes quimicos, sem tetos, etc, etc, mas com o MPL tem sido dificil. E isto que em SP já existe passagem grátis para uma boa parcela da população, especialmente estudantes e pobres.
    Mas o que me chamou a atenção é que para bancar a todos a tal passagem gratuíta, apesar de IPTU progressivo e tudo mais, teria que destinar TODA A ARRECADAÇÃO DO IPTU para isto. Ora, todos sabemos que é a maior arrecadação municipal que existe. De que viveriam os municipios, da onde sairia a tão necessária grana para investimentos? É obvio que sei da legitimidade desta luta, mas dá realmente para ter gratuidade total nessas condições?

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    1. Sérgio, eu falei sobre este ponto quando defendi que o processo é gradativo.

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  10. Já que você citou o Haddad como exemplo no seu texto segue a opinião atualizada dele a respeito do tema:

    http://oglobo.globo.com/brasil/haddad-compara-pedido-por-tarifa-zero-com-ida-disney-18517997

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