quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Boicote



POR FELIPE CARDOSO

Dois mil e dezesseis mal começou e as denúncias de racismo já começaram a aparecer. Muitos já afirmam que o ano de 2015 ainda não acabou. Então, vamos a luta.

Os resultados do vestibular acenderam, mais uma vez, o debate sobre as cotas sociais. Assunto já tratado aqui, anteriormente. O que não faltou foi gente afirmando que não conseguiram a aprovação no vestibular por conta das cotas, como se quem faz uso dessa política paliativa não tivesse que estudar para conseguir cursar a universidade e já tivesse com a vaga garantida.

Não há negros entre os atores indicados ao Oscar, mais uma vez, mostrando o silenciamento, invisibilidade e o desprezo aos excelentes trabalhos realizados por atores e atrizes negros no cinema.

A Rede Globo iniciou a transmissão de mais uma edição Big Brother Brasil e com mais racismo (para não perder o costume). Uma esponja, para os participantes lavarem a louça durante três meses – com transmissão para todo o Brasil – tem simplesmente o formato de um homem negro com um black power. O corpo do boneco é a base e o cabelo é a esponja. Por estar definhando por falta de audiência, os diretores do programa certamente acharam que colocar temas polêmicos dentro da casa “mais vigiada do país”, pudesse recuperar o sucesso obtido no início. Mais uma vez tentando fazer dinheiro com a nossa desgraça.

A tragédia racial parece não ter fim.


A cada dia fica mais visível que o racismo está em todo lugar. É um sistema perverso, estrutural e institucional, não sendo exclusividade apenas brasileira, tendo formatos diferentes em cada país, mas que possui o mesmo objetivo e resultado: a morte e o encarceramento da população negra.

Não é de hoje que viemos estudando e denunciando o papel influente da mídia em relação a esse grave problema que nos atinge. Mas parece que não querem nos escutar, principalmente as marcas que insistem em não enxergar negros e negras como um público consumidor.

Prova disso é a recente propaganda da Pepsi em que afirma que o mundo está muito chato atualmente, por conta das reivindicações das minorias em busca das conquistas dos seus direitos. Isso só deixa mais visível o distanciamento da realidade entre a marca e o público, a falta de empatia e sensibilidade para perceber, entender e acompanhar as mudanças do mundo. Talvez a democracia e a multiculturalidade poderiam dar mais resultados positivos e lucrativos a marca de refrigerante do que a propagação de mais discursos de intolerância que vem mostrando desastres catastróficos diariamente.

Mas quem deseja ouvir no mundo da mídia e da publicidade? Talvez outras medidas podem fazer as ditas camadas minoritárias serem ouvidas e passarem a ser respeitadas.

Boicote!

Em resposta a todos esses acontecimentos, diversos negros e negras começaram uma campanha de boicote pelo mundo. Nos EUA, diversos artistas lançaram uma campanha de boicote a premiação do Oscar. No Brasil, as mulheres negras lançaram a campanha “não me vejo, não compro”, para tentar mostrar para a sociedade que a população negra também gosta de ser representada e se identificar com os produtos expostos nas lojas, na novela, na publicidade, no cinema, no teatro, na moda…

Parece que as pessoas brancas, detentoras do poder econômico, não querem representar a variedade cultural existente no mundo. Daí, quando criam-se cotas para a inserção e garantia da democracia na sociedade, as pessoas torcem o nariz, criticam, mas não conseguem observar tamanha disparidade, denunciada durante anos. Não haveria necessidade de cotas caso algumas pessoas notassem seus privilégios em relação as outras e tomassem medidas para mudar o quadro.

Pode parecer inofensivo, no momento, uma campanha de boicote, mas com cada vez mais pessoas acessando as mídias sociais, fica mais fácil organizar uma grande ação para mostrar para empresários e agências de publicidade que o público negro existe, trabalha e merece respeito e representação, assim como mulheres e LGBTs. Eventos passados, como os boicotes realizados nos EUA, durante o século passado, nos inspiram e nos asseguram sucesso na luta por direitos.

Alguns resultados começam a aparecer. Por conta do boicote, a Academia anuncioumudanças no Oscar. Para os pessimistas, que achavam que isso não importava, que era vitimismo dos negros e negras, poderão agora repensar sobre o assunto, pois as mudanças não contribuirão apenas para a valorização de atores, atrizes, diretores e diretoras negras, mas também para asiáticos e latinos que também não recebem devida atenção pelos trabalhos produzidos.

Tomemos como exemplo esses diversos acontecimentos para lembrar que o poder está nas nossas mãos e devemos saberutilizá-lo com coerência.

O “sonho” de Luther King se constrói com muita luta! Avante, negros e negras!

12 comentários:

  1. Não é só para o Oscar, tem que haver cotas para brancos que são minoria nos prêmios do Grammy, melhores da NBA , melhores do Atletismo, etc.

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  2. O único ator negro capaz de concorrer ao Oscar neste ano seria o Samuel L. Jackson (que nem se manifestou a favor do boicote), porém Kurt Russel (que é branco) teve a mesma interpretação majestosa de seu colega no mesmo filme, e também não foi indicado... Atores negros são minoria, logo as indicações a eles também são raras.

    Eu sempre digo, cotas é faca de dois gumes: na próxima vez que Spike Lee e Will Smith forem indicados, terão a pecha de “cotistas”: um empurrãozinho pela cor da pele deles, não pela interpretação.

    Por sorte a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é séria e não vai se dobrar por medidas afirmativas que trarão desconforto e descrédito à instituição e aos atores.

    Eduardo, Jlle

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  3. a presidente do oscar é negra.
    cota prá prêmio, meu senhor...

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  4. Algo só é justo quando tratado com igualdade, sem diferenças, assim não se combate justiça com injustiça.
    Quanto ao boicote acho um caminho legítimo de contestação, acho que a transformação pode vir por este caminho, desde que claro os fins não se deturbem através dos meios (por exemplo acho forçada esta questão de identificar racismo no BBB por causa de uma esponja com estilo "Black Power")

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  5. Eu vou começar boicotando esse site...

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  6. Se a pessoal afrodescendente estudou não tem porque ter cotas. Acho que inteligência e capacitação não é levado pela cor de pele. Se fosse assim não teríamos melhor jogador do mundo, maior velocista, presidente do EUA, jogador de basquete, jogador de golf, entre outros. Temos vários negros também que tiram em primeiro lugar nos vestibulares sem necessitar desta cota e sim por mérito. Resto do texto concordo com você. Abraços.

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  7. Boicote é o que vc está fazendo quando não publica os comentários contrários a sua opinião.

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  8. Tem como não se impressionar o negacionismo dos comentadores anônimos? Negar o racismo institucional deve ser uma questão de honra pra essa gente que não sabe o que é racismo. E se eles não sabem, não sofrem, não sentem, obviamente a coisa não existe. Deve ser essa a lógica que os move nesse mundo perfeito onde eles vivem.

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  9. Pelo amor e Deus, não exagera bicho! Ainda existe racismo, com certeza! Porém, ficar forçando a barra tentando ver e extrair racismo e discriminação de tudo, principalmente em coisas que não existem, já é de mais, famoso "vitimismo", onde (exemplo) "a pessoa não pode dar o pisca pra esquerda pq meia dúzia de malas vão dizer que é preconceito com quem da pisca pra direita".

    A esponja não tem absolutamente NADA DE MAIS! Me diz onde tem racismo numa coisa dessas?! A mesma empresa que lançou essa esponja também fez um homem branco no mesmo estilo, fez um carinha com o cabelo moicano/punk.... mas não, tem que olhar o fato isolado e criar polemica dizendo que é racismo.

    INFELIZMENTE esse ano não houve nenhuma atuação digna ao Oscar feita por uma pessoa afrodescendente (infelizmente é um fato), mas seguindo sua lógica, dever-se-ia indicar alguém só pra dizer que foi indicado e não por merecimento e, ainda assim, se esta pessoa não ganhasse iriam dar um jeito de encher o saco dizendo que é preconceito, independente se a atuação foi boa ou ruim. Cara, olha a atuação do DiCaprio esse ano e me diz que tem alguma (independentemente do filme ou ator neste ano) que esteja à altura?

    Atual grande exemplo são os manequins das lojas Reverse pendurados e cabeça para baixo. Poxa, as cores da marca são o VERMELHO e PRETO, devido ao layout da loja todos os manequins são pintados de preto por meros fins estéticos para combinar com o restante da decoração. Seguindo, a 9 anos a empresa tem o costume de, nas suas promoções pendurar os manequins de cabeça pra baixo juntamente com os letreiros e, inclusive, o próprio nome da marca, puramente por uma jogada de marketing devido a promoção (invertendo os valores) e pelo nome da marca ser REVERSE. Dai lá vem outra meia dúzia de malas mal intencionados e tiram foto apenas dos manequins sem mostrar o resto e saem cagando teses dizendo que aquilo é um ato de racismo, que é loja de gente branca, bla bla bla... PORRA, será que não da pra ver que aquilo não tem nada a ver com racismo e que o manequim poderia ser rosa, azul, branco, transparente, o caralho a quatro, que não passa de um manequim pendurado igual todo o resto meramente por fins publicitários? Mas não, TEM QUE dar um jeito de distorcer pra dizer que é racismo.

    Você citou a propaganda da Pepsi, mas parando pra pensar ela faz bastante sentido, o mundo ta muito chato, a pessoa tem que cuidar com ABSOLUTAMENTE tudo que ela fala, posta, pensa, faz, etc., pois está "em alta" se sentir ofendido, mesmo que seja algo totalmente inocente e sem sentido. O que parece é que as pessoas estão propositalmente intolerantes e forçosas a se ofender, mesmo com coisas singelas e sem sentido, apenas para criar intriga, ao invés de realmente se focarem em ofensas e ataques que significamente fazem sentido. De boa, esse vitimismo não resolve nada, apenas gera mais revolta e cria um ciclo negativo onde alguém que não possuía nada contra acaba criando uma má impressão por causa de outra pessoa que se aproveitou e distorceu uma situação para se fazer de vitima.

    Sério cara, eu admiro muito teus textos e sua escrita, mas algumas vezes você exagera na dose. Muitas vezes concordo com você, mas esse tipo de argumentação e utilizar fatos tendenciosos pra mostrar um ponto de vista tira parte da credibilidade das tuas ótimas ideias.

    Expor o racismo e preconceitos impostos pela sociedade é totalmente valido e acredito que tem mais é que ser feito para mudarmos esta podre realidade, todavia, cuidado com o vitimismo e forçação de barra!

    Grande abraço e muito sucesso.

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