terça-feira, 6 de novembro de 2018

Eu avisei (na sexta-feira)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O último texto (logo abaixo) dizia que política externa não é para amadores. E alertava para o fato de que transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém não era boa ideia. Nem foi preciso esperar muito. O governo do Egito cancelou o encontro com o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, pouco tempo antes da data marcada.

A alegação foi de que havia problemas de agenda, mas essa, todos sabemos, é a explicação diplomática. De fato, a ideia do futuro presidente Jair Bolsonaro acabou por mexer no formigueiro e levantou uma forte reação nos países árabes. Em resumo, em tempos de diplomacia comercial, as decisões econômicas não podem ficar na mão e uma pessoa de baixa cultura como o presidente Jair Bolsonaro.

Não é estranho? O sujeito é a favor do agronegócio, mas põe em risco o mercado comprador de carne halal. E para que não venham com os argumentos tão comuns nos dias de hoje, como "foi a imprensa que falseou" ou "não foi bem isso que ele quis dizer", deixo aqui abaixo o recorte de uma reportagem da revista "Veja", insuspeita de "esquerdismo".




sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Parece uma pequena besteira de Bolsonaro, mas é grande...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Jair Bolsonaro anunciou que vai transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. É um erro. Sabe aquela expressão “deixar quieto”? Era o melhor. Mas Bolsonaro é um homem intelectualmente limitado e entende muito pouco ou nada de política externa. O novo presidente parece não saber que nas relações internacionais atuais a linguagem é a da diplomacia comercial.  

A explicação é de que estava no seu programa de governo. É bem provável que tenha sido aconselhado por um desses líderes políticos de baixa estatura moral que pululam no Brasil. Porque essa decisão  só pode ser uma questão de fé. O leitor e a leitora podem até achar um fator menos relevante, mas não é. Com a decisão, o novo governo está a pôr em risco uma parceria comercial estratégica para o país, porque os países da região do Oriente Médio são importantes parceiros comerciais do Brasil.

Eis alguns números de 2016, a mostrar três exemplos de exportações para a região.

Arábia Saudita (25%) US$ 2,49 bilhões
Alguns exemplos dos produtos exportados:   Carne de frango (46%), açúcar (14%), soja (6%), carne bovina (4,4%), milho (4,3%), Automóveis de passageiros (4,2%), Munição de caça e esporte (2,6%), tubos de ferro fundido, ferro, aço e acessórios (2,1%).

Emirados Árabes Unidos (22%) US$ 2,24 bilhões*
Alguns exemplos dos produtos exportados: Carnes de frango (21%), açúcar refinado (16%), óxidos e hidróxidos de alumínio (11%), Tubos de ferro fundido, ferro, aço e acessórios (7,3%), carne de bovino (3,4%), calçados (0,74%).

Irã (22%) US$ 2,23 bilhões*
Alguns exemplos dos produtos exportados: Milho em grãos (36%), soja (21%), carne de bovino (17%), resíduos de óleo de soja (11%), açúcar (9,2%), chassis com motor para veículos e automóveis (3,2%), veículos de carga (0,15%), suco de laranja (0,12%). 

Mas não é só na economia que a decisão cria riscos. O Brasil será o terceiro país do mundo a mudar a embaixada, depois de Estados Unidos e Guatemala. Parece que o futuro presidente do Brasil encontrou em Donald Trump o seu "role model". Mas o Brasil não é os EUA. O fato é que consequências podem ir além das comerciais e ter efeitos políticos. O Brasil pode acabar entre os países considerados inimigos do islão. E, por extensão, pode entrar na rota dos grupos terroristas religiosos que perpetram ataques terroristas pelo mundo. É um risco desnecessário.

É a dança da chuva.

*Dados disponíveis em: http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/comex-vis/frame-bloco?bloco=oriente_medio s



quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Bolo de Milho













Ingredientes

1 e 1/2 lata de milho
1 e 1/2 lata de fubá
3 xícaras de açúcar
1 pacote de coco ralado (100gr)
1 e 1/2 lata de leite morno
5 ovos
1 copo (de requeijão) de óleo
2 colheres rasas (de chá) de fermento

 Bater tudo no liquidificador e assar.

 Nível: muito fácil, até vocês conseguem fazer.

 Assado, desenformar e servir.

 E bom apetite!

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Bolsominions raiz x bolsominios nutela. Quem vencerá?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tem muita gente por aí a apostar que o futuro será um enfrentamento entre os eleitores de Bolsonaro e o pessoal que apoiou Haddad. Não vai rolar. Acho que a esquerda vai ficar estrategicamente de butuca a ver o que será a verdadeira batalha: o clash entre os “bolsominions raiz” e os “bolsomininios nutela”. Como? A colisão é inevitável.

O que é um bolsominion raiz?
É o cara que há dois anos dava 13% para o candidato. As coisas eram muito simples.
Bolsonaro queria liberar as armas. Os seus seguidores mal podem esperar para desatar aos tiros.
Bolsonaro era homofóbico. O seguidores acham que perseguir homossexuais é quase uma diversão.
Bolsonaro era racista e xenófobo. Os seus seguidores odeiam negros, mas não têm cultura suficiente para saber o que é xenofobia.
Bolsonaro mal conseguia (consegue) articular discurso. Os seus seguidores não querem saber de conversa.
Bolsonaro era misógino. Os seus seguidores só querem muiher para usar e exibir (sorry, Vinícius).
Bolsonaro queria uma ditadura. Os seus seguidores acham que já demorou.

O que é um bolsomion nutela?
É o cara que mesmo tendo votado em Bolsonaro, está ciente da desgraça que o presidente eleito. Mas mesmo assim respira com fé: “pelo menos tirei o PT”. O problema é que o bolsominion nutela foi contagiado pelo vírus Regina Duarte. E acredita piamente que tudo o que Bolsonaro diz é da boca para fora. Que lá dentro ele tem um bom coração. Ah… e que todas as imagens que apareceram com Bolsonaro a dizer barbaridades são montagem. Esse pessoal é tão lesado que sequer sabe o que é uma montagem.

Brucutu or not brucutu, eis a questão...
O que vai acontecer quando essas duas versões de Bolsonaro forem postas à prova? O futuro presidente vai estar em meio a um sério dilema. Se deixa o perfil brucutu para trás, afeta a própria imagem e pode amolgar a personagem do “mito”. Porque sem o discurso de ódio, Bolsonaro é apenas um político comum. Aliás, incomum, porque há poucos políticos são desprovidos de qualidade.

O equilíbrio vai ser difícil e um dos tipos de bolsominion - o raiz ou nutela - vai ficar decepcionado. O nutela tem esperança. O raiz está só esperando a hora de começar a detonar tudo o que não gosta. O pior é que no futuro eles também não vão gostar dos nutela. É aí que mora o perigo.

É a dança da chuva

83,18%


POR JORDI CASTAN
O resultado da eleição em Joinville me deixou com pena da Fahya Kury Cassins. Dela e de tantos outros que, durante semanas de trabalho incansável, se dedicaram com afinco a fazer campanha contra #ele. Foi um esforço digno de encômio, pela teimosia, a persistência, pela obstinação e a insistência. E deve ser reconhecido.

Outros companheiros aqui no Chuva Ácida e muitos dos que aqui comentam, também se dedicaram, com entusiasmo, a mostrar o risco que representaria para a democracia que #ele ganhasse. Apelaram ao bom e velho fascismo e avisaram de todos os perigos que sua eleição representaria. Foi bom avisar. Até porque o eleitor já conhecia o perigo que representaria a volta do PT ao poder. Esse era um ponto que não precisaria ser mais divulgado.

Mesmo com tanto esforço, nada dos joinvilenses atender os seus apelos. A Fahya tem toda a razão: o joinvilense, em especial, e o catarinense, em geral, é mau e um caso a ser estudado. Esta vila é tão conservdora e tradicional que votou em massa no #Ele. Lembro até que a Dilma não se elegeria presidenta aqui na Vila. Olha como o eleitor daqui foi sábio. Antevendo o que vinha, preferiu votar no Aécio. E olha que depois descobrimos que tampouco era flor que se cheirasse. A mesma democracia que alguns viram ameaçada, pela prática da própria democracia, que ousou permitir que os eleitores escolhessem seus representantes, estava sendo colocada em dúvida.

Há nisso uma lógica estranha, quando uma minoria, no caso de Joinville, exatamente 16,82% insistem em se arvorar de donos da razão e da verdade e acreditam, piamente, que seu candidato é o bom e todos os que não votarem nele são fascistas, há uma forte dose de autoritarismo. Eu me atreveria a dizer que essa foi uma atitude fascista. Mas vou levar pau. Então vou dizer que foi autoritária. A autoridade da minoria barulhenta e belicosa.

Vamos combinar que o joinvilense já viveu sob uma gestão do PT e não gostou. Tanto não gostou que escolheu outro candidato. Agora até parece que esse mesmo eleitor tampouco anda satisfeito com a gestão que o atual prefeito está fazendo. Pessoalmente acho que não está fazendo nada e essa é a maior crítica a fazer a esta gestão.

O eleitor da Vila vota com a sua simplicidade. A mesma que alguns preferem chamar de ignorância. É como se o conhecimento e a sabedoria fossem monopólio da minoria que andou tão atarefada, nestes dias, querendo que voltem aqueles envolvidos em corrupção. Os mesmos que aparelharam o estado, assaltaram os cofres públicos, apoiam ditaduras e destruíram a economia e os valores do país. São os mesmos que tem seu líder preso já faz uns meses.

Um político cearense, num ato do próprio PT, os chamou há poucos dias, de babacas, pela sua dificuldade em entender que as coisas estão mudando e que o cidadão comum, esse justamente que em Joinville representa 83,18% dos votos validos, acha que é hora de mudar e votou pela mudança.

Acredita o eleitor que se este capitão reformado tampouco der certo, em quatro anos teremos nova eleição e poderá votar num novo candidato. Até porque a democracia implica alternância, implica saber ganhar e perder. Implica aceitar a derrota. A democracia é mudança e isso. Para alguns, está custando mais do que deveria. O próprio Haddad precisou de mais tempo, que o prudencial, para entender que agora devemos pensar no Brasil e no seu futuro.

Os que estão mais preocupados são os que acumulam os privilégios e as benesses a que o sistema os acostumou, os que ficaram por décadas pendurados nos úberes do Estado. Entendo que estejam preocupados, alguns correm o risco de ter que trabalhar, quero dizer trabalhar de verdade.

Ah! E para não confundir brancos e nulos não são votos contra #ele. São votos que não se sentiram representados nem pelo 13, nem pelo 17. Querer capitalizar esses votos é deturpar a lógica e o bom senso. Ou é coisa de quem, depois de anos de péssima educação, anda com dificuldade tanto com as matemáticas, como com o português.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Ovos mexidos com mioleira de borrego e queijo da ilha de São Jorge

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um prato da culinária regional açoriana.

INGREDIENTES
2 mioleiras de borrego
1 raminho de salsa
3 folhas de alho-francês (parte verde)
6 ovos
6 unidade
1/2 colher de sopa de salsa picada
15 gramas de queijo da Ilha de São Jorge ralado
25 gramas de manteiga sem sal
Sal e pimenta-preta q.b.

PREPARAÇÃO
- Colocar as mioleiras numa taça com água fria, pelo menos 1 hora, e deixar sangrar. De preferência, mudar a água duas ou três vezes.
- Colocar numa panela o raminho de salsa, as folhas de alho-francês e sal. Adicionar 500 a 600 ml de água e levar ao lume. Deixar ferver uns minutos.
- Colocar as mioleiras e deixar cozer durante cinco a sete minutos.
- Numa taça, bater os ovos. Adicionar a salsa picada, o queijo da ilha e as mioleiras cortadas em pedaços.
- Temperar com sal e pimenta-preta a gosto.
- Levar a manteiga ao lume numa frigideira. Assim que derreter, colocar a mistura de ovos e mioleira e deixar cozer, mexendo. Os ovos devem ficar húmidos.
- Ao servir, polvilhar com um pouco de salsa picada.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Jair Bolsonaro e a viagem ao passado. Bem-vindo a 1964...

POR ET BARTHES
Às vésperas das eleições, um filme com informações suficientes para estabelecer o perfil do candidato Jair Bolsonaro. É lógico que haveria mais fatos acrescentar, mas estes 15 exemplos são mais que suficientes para "entender" o caráter do candidato (e dos seus defensores, claro). Enfim, o eleitor pode sair para votar no domingo e na segunda-feira acordar em pleno ano de 1964. Depois não venham dizer que não estavam avisados.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A indiferença é irmã gêmea do fascismo

POR CLÓVIS GRUNER
O deputado e candidato à presidência Jair Bolsonaro é um fascista. E seus eleitores, também? Na segunda (22), meu colega José António Baço respondeu afirmativamente à questão e, nos comentários, um dos anônimos mencionou meu nada santo nome em vão, no que me soou uma espécie de inquirição. Minha resposta à pergunta está em um texto publicado em agosto, e não vejo motivos para reparar o que está escrito nele.

Mas o problema me parece outro: faz mesmo alguma diferença se os eleitores de Bolsonaro são todos fascistas? Mesmo que não o sejam (e não acho que sejam) ao votarem nele, não legitimam a ascensão de um fascista? No domingo, a se confirmarem as pesquisas, Bolsonaro chega ao poder montado na campanha mais sórdida, mentirosa e violenta na história recente da República – e o páreo, convenhamos, é duro.

Ele não era oficialmente candidato, mas já viajava o país em campanha usando ilegalmente recursos públicos, quando vociferou que, em seu governo, as minorias se submetem à maioria, ou desaparecem. O que ele pretendeu com a afirmação, ficou mais claro no silêncio que manteve, e mantém, sobre o assassinato de Marielle Franco, executada com três tiros na cabeça por não se sujeitar e combater a maioria e as milícias, aquelas que Bolsonaro elogiou em um de seus discursos parlamentares.

Em seu primeiro pronunciamento após a votação do primeiro turno, condicionou a unificação do país ao fim de “toda forma de ativismo”. Não é preciso nenhum esforço para entender a que ativismo ele se referia, porque é legítimo supor que os seus próprios ativismos e aqueles que reverberam suas ideias (tipo mulheres ganharem menos e pobres serem privados do ensino superior), deverão ser mantidos e estimulados em seu governo.

No domingo, seguro que tem o apoio de uma maioria nada silenciosa, e contando com a conivência acovardada do STF, que insiste em afirmar a “normalidade das instituições”, Bolsonaro ampliou o escopo daqueles que pretende perseguir caso eleito: a “escória vermelha”, disse, precisa escolher entre o exílio ou a prisão (aos trabalhadores ele já sugeriu escolherem entre direitos e emprego), e aniquilá-la será a condição para melhorar o país.

Os exemplos abundam, mas não é preciso que me alongue mais. É bastante provável que, a essas alturas, a maioria dos seus eleitores conheça cada uma dessas declarações e outras tantas. Mas a tendência geral é, cinicamente, ignorá-las, relativizá-las ou justificá-las, como no episódio do caixa 2, apelando a teorias conspiratórias as mais esdrúxulas. Bolsonaro é “mito” até quando recebe apoio da Ku Klux  Klan e reduz a “coitadismo” a desigualdade e o preconceito.

A parada do velho novo – Em “Como a democracia chega ao fim”, o cientista político David Runciman parte da eleição de Donald Trump nos EUA, para analisar o que chama de “versão caricatural do fascismo”. A insatisfação e a desconfiança com a democracia, geradas principalmente pela crise econômica, propiciaram a ascensão de um líder populista, que se apresentou aos eleitores como um outsider antissistêmico. Sem um programa claro, Trump foi eleito oferecendo soluções simplistas para problemas complexos, somando-se a isso a produção e proliferação serial de fake news, o preconceito contra minorias e o anti-intelectualismo.

Há semelhanças com o caso brasileiro, mas as diferenças chamam mais a atenção. Não temos o poder nem a influência econômica dos EUA. Na linguagem do mercado, o Brasil não é um player, e a eleição de um fascista pode dificultar a almejada recuperação econômica. Além disso, a democracia americana é sólida o suficiente para assegurar a cada cidadão, eleitor ou não de Trump, que seu mandato tem prazo de validade. Não temos a mesma garantia.

Além disso, Bolsonaro conjuga elementos do fascismo histórico – a irracionalidade, o personalismo, o elogio da força física e da violência, a moralização da política e a demonização de supostos inimigos, por exemplo –, a formas de autoritarismo cultivadas no terreno fértil da história nacional: a escravidão, experiência estruturante do nosso racismo; a violência estatal contra movimentos sociais; o esquecimento da ditadura; a cordialidade, raiz de nossa baixa tolerância à democracia.

As democracias modernas, nos ensina Runciman, morrem por dentro. A eleição de líderes populistas autoritários, argumenta, é o primeiro passo para um caminho de difícil retorno: quando abrimos mão de nossos direitos e liberdades, ou simplesmente votamos insensíveis ao fato de que indivíduos e grupos serão forçosamente privados deles, porque parte de “minorias”, estamos legitimando com nossas escolhas o fascismo.

Na segunda, não por acaso o dia seguinte ao discurso inflamado de Bolsonaro me oferecendo e a muitos de meus conhecidos, a prisão ou o exílio, e nos ameaçando com o aniquilamento, uma petição pública virtual circulou pela internet pedindo apoio à proposta de pena de morte para “petistas”. Antes de ser tirada do ar, já havia colhido cerca de 400 assinaturas.

Um eleitor de Bolsonaro me disse, em meio a uma discussão algo acalorada, que eu estava a exagerar; o abaixo assinado, afinal, não prosperou. Que ele tenha sido concebido e proposto, e que quase quatro centenas de internautas tenham se disposto a assiná-lo, basta. Se todos os eleitores de Bolsonaro são, como ele, fascistas? Como eu disse, isso importa menos. São indiferentes, e a indiferença já produziu, na história, um bom quinhão de barbárie.