terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O Brasil e a suruba ideológica

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Pobre Brasil. Os efeitos do golpe podem ser comparados ao bêbado que, ao descer uma escada, erra o primeiro degrau. E se errou o primeiro... erra todos. O fato é que o país mergulhou numa espiral de insanidade que parece não ter hora para acabar. As estocadas não foram apenas políticas (a queda de Dilma) ou econômicas (a imposição de um modelo neoliberal). O buraco é mais em baixo.

A grande mudança foi cultural. Mas de forma negativa. O Brasil está a ser transformado numa enorme suruba ideológica, onde escroques e todos os tipos de aproveitadores estão empenhado em açambarcar a sua parte do butim. A coisa virou uma bandalheira. A moral e a ética despencaram para o grau zero e muitas pessoas do círculo do poder atual perderam a noção de ridículo. Não é teoria. Há fatos e personagens para comprovar. 

O analfabeto-mirim Kim Kataguiri divulgou uma lista de pessoas que se recusaram a “debater” com ele? Fico por um dos nomes: Jânio de Freitas. É um crime de lesa-inteligência. Será que ele pensa mesmo ser capaz de debater com o velho jornalista. Ah ah ah. Aliás, é bom lembrar que ele foi atropelado pelo senador Roberto Requião num debate na Guaíba.

E o que dizer da ex-futura-quase-ministra Cristiane Brasil que, cercada por genéricos de Alexandre Frota num barco de luxo, pôs a circular nas redes sociais um vídeo onde diz nada com coisa alguma. E para completar o nonsense, os brucutus ainda acham relevante para a história o planeta que façam depoimentos a defendê-la. Sério?

A coluna Painel, da Folha, divulgou que o juiz Marcelo Bretas foi inquirido por receber auxílio moradia, junto com a mulher. O que é proibido, segundo o jornal. Diante do fato, o juiz, muito conhecido pelo seu moralismo e fervor evangélico, argumentou ser tudo legal.  É moral? Claro que não. Mas os moralistas têm uma moralidade muito volátil.

O “presidente” Michel Temer vai ao programa Sílvio Santos, numa tentativa de fazer a reforma da previdência ficar mais palatável para o povão. De fato, quis mesmo foi dar um cagaço na população. Para fechar a coisa, tentou fazer humor: “eu vou passar um dinheiro para você”. E deu 50 reais ao apresentador em mãos. Mas todos sabem o que significa, né?

Enfim, são apenas alguns exemplos a mostrar o grau de descaramento que tomou conta do país. Perdeu-se a noção de ridículo. As esferas de poder estão mergulhadas num lodaçal e, com as atuais peças em jogo, não parece que um dia seja possível dar um xeque-mate aos malfeitos. Pobre Brasil.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O jeito chileno de fazer bem versus o jeito sambaquiano de fazer nas coxas

POR JORDI CASTAN
Aproveitei as férias para visitar Santiago de Chile e cheguei à conclusão que estes chilenos estão loucos. Endoidaram. Insistem em fazer as coisas bem feitas, em manter as cidades limpas e bem conservadas. E, imaginem, em priorizar as pessoas sobre os veículos e o verde sobre o cinza do concreto. 

As praças, parques e as árvores que vicejam nas ruas da cidade estão bem cuidadas. Há equipes de jardineiros profissionais que cuidam, plantam e podam as plantas com conhecimento e cuidado. Tudo bem diferente das roçadas de mato por apenados e outros trabalhadores desqualificados, sem conhecimento ou formação adequadas para o trabalho e a função. 

Calçadas e praças têm pisos adequados, acessíveis e seguros. Nada de pavers e outras soluções que se utilizam nas terras sambaquianas, que envelhecem rápido demais e mal. Ou seja, soluções que priorizam o barato sobre a qualidade e a durabilidade. Mas são critérios. Os chilenos insistem em escolher materiais duráveis, de qualidade melhor e de trabalhar com profissionais que conhecem o seu trabalho e gostam de fazê-lo bem feito. 

Porque as coisas não duram, quebram antes do que deveriam e têm um acabamento tosco e de baixa qualidade? Ou pior: por que insistimos em projetar mal, executar pior e não prever nenhuma manutenção que aumente a durabilidade e acabe custando menos. Ora, toda esta inépcia custa muito cara a toda a sociedade.

Difícil achar uma resposta que sintetize a diferença entre o modelo seguido com persistência por chilenos e pela maioria dos países desenvolvidos e os países e sociedades que preferem a opção de fazer coisas pelo método que no Brasil é conhecido, desde a época colonial, pela expressão: "feito nas coxas". Há uma cultura estabelecida e bem consolidada de fazer as coisas nas coxas. E o resultado, aqui por estas bandas sambaquianas, é uma cidade que se esfarela, obras públicas pagas a peso de ouro que não duram e que precisam ser reformadas antes de prazo. 

A ideia de fazer bem feito nem passa pela cabeça dos administradores públicos. Projetos sem detalhamento, sem definição de materiais e sem especificações técnicas adequadas permitem que sejam usados materiais de qualidade inferior, que não se cumpram nem prazos, nem se respeitem orçamentos. Um bom exemplo de coisas feitas nas coxas é o projeto e a execução da duplicação da Avenida Santos Dumont. Ou alguém tem outra expressão que sintetize melhor a falta de planejamento, a péssima qualidade dos projetos elaborados e a forma como é mal gasto o dinheiro público. Lembremos que essa obra se alastra por anos a fio,  já causou dezenas de acidentes, alguns mortais, e quando fique pronta será só um remendo medíocre do que foi anunciado.

A insistência dos chilenos em querer fazer as coisas bem e em mantê-las para que sigam bem e não precisem ser refeitas antes do prazo é a maior prova que os chilenos estão loucos. Certos estamos nós.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Dia da Infâmia: ditadura da toga cassa o direito de Lula ser presidente

POR DOMINGOS MIRANDA
O 24 de janeiro de 2018 será conhecido como o Dia da Infâmia. Nesta data, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), por unanimidade, aprovaram a condenação de Lula, em sentença dada pelo juiz Sérgio Moro, e aumentaram a sua pena para 12 anos de prisão. Isto significa que o candidato do PT, líder nas pesquisas, não poderá ser candidato a presidente neste ano. Na edição do dia 23, o jornal americano The New York Times, publicou uma extensa matéria e seu título sinalizava o nosso futuro: “Democracia do Brasil empurrada para o abismo”.

O analista político Mark Weisbrot, bem diferente da nossa grande imprensa que faz parte da Ditadura da Toga e deturpa os fatos, disse que “um judiciário politizado pode excluir um líder político popular de se candidatar a cargos. Isso seria uma calamidade para os brasileiros, a região e o mundo”.

A elite do atraso arquitetou o plano para retirar a presidenta Dilma do poder usando artifícios jurídicos fajutos, chamados de pedaladas fiscais e utilizados também pelos presidentes anteriores para regularizar contas das empresas estatais. Mas os golpistas não esperavam que Lula sobreviveria politicamente ao maior ataque midiático contra um político. Como o “sapo barbudo” se preparava para dar um salto por cima de todos os outros candidatos da direita durante as eleições, anteciparam o julgamento.

A condenação de Lula foi feita na base de convicções do juiz Moro, onde ele não apresentou nenhuma prova concreta de que o apartamento triplex do Guarujá pertencia ao ex-presidente. A atitude dos desembargadores no TRF4 parecia uma ação entre compadres, com elogios orgásticos aos procuradores e ao juiz de Curitiba. O ex-guerrilheiro e ex-deputado gaúcho Flávio Koutzii comenta este momento aziago: “Parece que estamos nos alinhando com as trevas que estão avançando no mundo, não tem saída fácil para isso”.

Montesquieu, célebre filósofo francês do século 17, autor do livro “O Espírito das Leis”, que propunha a separação dos poderes, deve estar se contorcendo na tumba ao ver o que acontece no Brasil. Diante da desmoralização do Executivo e Legislativo, envolvido até o pescoço em falcatruas, o Judiciário assumiu um protagonismo que eclipsou os outros dois poderes. Juízes constrangem o presidente da República e as lideranças do Legislativo com sugestões que beiram a petulância. Melhor do que chamar a farda é colocar o poder de fato nas mãos dos togados. As aparências enganam. O que é mais incrível, juízes que desrespeitam o teto salarial, estabelecido pela Constituição, condenam acusados  pelo crime de corrupção.

Como diz o jornalista Luiz Nassif: “São tempos bicudos, nos quais se misturam o atrevimento dos corruptos, a irresponsabilidade dos deslumbrados e o temor dos legalistas”. A direita avança, mas nesta hora difícil a esquerda deve centrar suas forças em um único candidato sob o risco de chegar ao segundo turno dois candidatos do retrocesso, um deles fascista. Aqui vale a citação de Bernie Sanders, senador socialista dos EUA, que serve para nós também: “Eles têm o dinheiro, mas nós temos as pessoas”. De pé famélicos da terra, bem unidos façamos a nossa revolução.

Coxinha alegre


POR SANDRO SCHMIDT

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
E chegou o dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muita coisa poderia ser dita sobre o evento, mas como santo de casa não faz milagre a ideia é publicar um metatexto (um texto sobre outro texto). E como os conservadores brasileiros adoram pagar pau para gringo, a fonte vai ser um jornalão da terra do Tio Sam. Afinal, só no Brasil a expressão “deu no NY Times” podia virar um bordão. 

Então, vamos lá. Na edição de ontem, um texto do analista político Mark Weisbrot, economista norte-americano, co-diretor do CEPR - Center for Economic and Policy Research, em Washington, que faz um overview sobre a situação brasileira. A coisa começa a pegar logo no título, que define o atual momento do país como grave: “a democracia do Brasil está a ser empurrada para o abismo”.

Mais palavra, menos palavra, o colunista diz que os dois últimos anos desviaram o Brasil dos eixos da democracia. “Esta semana a democracia pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018, ou mesmo preso”.

Mark Weisbrot, que está longe de poder chamado de petralha, lembra o que se passou na relação entre política e o poder judiciário. “O que poderia ter sido um avanço histórico – o governo do Partido dos Trabalhadores concedeu autonomia ao judiciário para investigar e processar a corrupção oficial – acabou por tornar-se o contrário. A democracia brasileira agora é mais fraca do que tem sido desde que o governo militar acabou”.

Sérgio Moro está em foco. Diz Weisbrot que ele “demonstrou seu próprio partidarismo em numerosas ocasiões”. E acrescenta que “as evidências contra o Sr. da Silva estão muito abaixo dos padrões que seriam levados a sério, por exemplo, no sistema judicial dos Estados Unidos”. E, acrescento eu, muito abaixo do que seria levado a sério em qualquer país da Europa Ocidental. E está todo o mundo de olho.

O texto do NY Times, jornal de referência em todo o planeta, não passa ao lado do golpe. “O estado de direito no Brasil já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016, quando a indicada do Sr. Silva, Sra. Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014, foi acusada e demitida do cargo”. Não por corrupção, mas por uma manobra contábil, diz o analista, ao lembrar que “o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime”.

Enfim, não sou eu a dizer. Deu no NY Times. Maldito jornal petralha!

É a dança da chuva.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Lula: antes de melhorar, ainda vai piorar bastante

POR MURILO CLETO
Faltam poucas horas pro julgamento que deve sacramentar o destino do ex-presidente Lula. Na quarta-feira, 24, o TRF4 avalia recurso da defesa que contesta a sentença do juiz Sergio Moro, proferida no ano passado. Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva por considerar que a empreiteira OAS lhe presenteou com um apartamento triplex no Guarujá.

Há muita gente bem mais qualificada juridicamente do que eu pra dizer se a sentença está correta ou não e se Lula é realmente culpado. Tenho pra mim que não, mas nesse mérito eu não entro nem por decreto. O que mais chamou a minha atenção, observando com muito cuidado o comportamento das militâncias polarizadas ao longo desses meses todos, foi a relação meramente utilitarista que se desenvolveu com o julgamento.

De um lado, a esquerda que, à exceção do PCO, não tem coragem de – nesse contexto moralista e punitivista – se assumir contrária à Lei da Ficha Limpa e só quer que, independentemente do que decidir o colegiado, Lula seja candidato à presidência em outubro. De outro lado, o antipetismo que enxerga o julgamento de Lula como a oportunidade de barrá-lo nas eleições e de colocá-lo na cadeia.

No interior dessa dinâmica, absolutamente ninguém quer saber o que cada juiz vai dizer pra embasar sua decisão. Foi assim quando Moro julgou. Em instantes as 218 páginas da sentença já estavam rechaçadas de um lado e aplaudidas de outro.

É evidente que decisões judiciais não são absolutas (a própria existência de recursos prova isso) e que o debate em torno delas é saudável pra qualquer democracia. O problema é que o Brasil pós-2013 já não se vê reconhecido em quaisquer instituições. E o que é resolvido por elas serve apenas pra, de qualquer forma, validar uma posição já de antemão estabelecida na performance discursiva.

Se elas decidiram contra a minha causa, é porque estão comprometidas com os poderosos. “Se até elas” decidiram em favor da minha causa, é porque eu estou tão certo que nem elas são capazes de negar. Isso acontece o tempo todo com o Ministério Público, por exemplo. Dia desses ele era, para a esquerda, parte ativa do golpe reacionário que atropela garantias constitucionais mínimas. Depois a posição do MP serviu pra fundamentar a posição de progressistas contra o fechamento da exposição Queermuseu.

De novo, o trauma aqui não está na desconfiança nas instituições. É – insisto também nesse caso – saudável que elas tenham sido dessacralizadas. Acontece que no lugar delas não se colocou nada. E a principal função das instituições, que é a de mediar os sujeitos, desapareceu. Não se media nada num país polarizado como o nosso. Natural que em condições assim a sociedade responda com violência, sob a forma de mais justiçamentos e censura. Nesse cenário, o argumento de uma condenação ou de uma absolvição, sujeito à posição que se ocupa nesse front, não significa nada. Porque aqui o argumento também não significa nada. O total de brasileiros que vai mudar de opinião sobre Lula depois de quarta-feira é 0. Como foi em julho.

O cenário eleitoral de 2018 não é catastrófico apenas porque tem tudo pra ser uma versão caricatural de 1989, como muitos têm sugerido depois do anúncio da pré-candidatura de Collor. Mas porque até aqui ninguém, da classe política ou dos movimentos sociais, apresentou alguma alternativa suficientemente viável pra uma crise desse porte, muito maior do que a que é exibida pelos indicadores econômicos. E pior, a essa altura do campeonato é difícil achar alguém que não seja parte significativa dela.

Pode ser que melhore. Mas tudo indica que, antes de melhorar, ainda vai piorar bastante.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Sérgio Cabral e o canibal que come a própria carne

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A transferência do ex-governador Sérgio Cabral, algemado, com os tornozelos presos por correntes e exposto aos cliques dos fotógrafos, foi um espetáculo repugnante. E que fique claro: não se trata de defender o ex-governador (a sua culpa ou inocência é atribuição da Justiça), mas sim de abordar um episódio indigno e que, visto de fora, empurra o Brasil para o estatuto de uma republiqueta das bananas.

É preciso também lançar um olhar para a reação dos indivíduos. É inquietante ver pessoas que, movidas por um moralismo revanchista, até comemoraram essa exposição medieval do ex-governador. “É bandido e bandido tem que estar algemando mesmo”, escreveu nas redes sociais uma apoiadora de Aécio Neves. É como se a sociedade voltasse aos tempos em que se humilhava publicamente as pessoas com piche e penas.

O ressurgimento da palavra “medieval” não é obra do acaso. Afinal, houve tempos em que as execuções públicas funcionavam como entretenimento para as populações. O que mudou? Apenas o lugar. As praças, espaço público de outros tempos, apenas foram substituídas pelas redes sociais. Mas o tempo passou. E se antes um ser humano podia ser exibido com troféu, hoje isso é apenas barbárie. 

O contrassenso que salta aos olhos. Os que embarcam nessa febre punitivista são os mesmos que vivem a reclamar um país moderno. Cegos pelo moralismo e pelo desejo de vingança, nem percebem que é exatamente este tipo de atitude que empurra o Brasil para o terceiro mundo. Ou alguém duvida que esse episódio jamais seria possível numa democracia madura?

Há uma clara sede de vingança. E o argumento é o dente por dente. Como salientou Barthes, é uma questão de “iludir os valores qualitativos, em opor aos processos em transformação a estática das igualdades (olho por olho, efeito por causa, mercadoria por dinheiro, vintém por vintém, etc.)”. Quer dizer, se ele roubou ou desviou dinheiro da saúde, da educação ou do saneamento básico, então merece ser degradado desta maneira. 

Tornar a transferência de um preso num espetáculo para massas famintas de vingança é um perigo. Já disse alguém que se começamos a usar a lógica do olho por olho, o risco é que um dia acabem todos cegos. Mas infelizmente o aviso parece não convencer os conservadores (reacionários) brasileiros. É que eles são como o canibal que come a própria carne e acha que está a se alimentar.

É a dança da chuva.


PS1: Se o ex-governador pegar 342 anos de cadeia, para mim é igual ao litro. Se os crimes forem inequivocamente comprovados, nada mais justo que ele pague por isso.


PS2: Segundo a lei “só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Bandidos daqui e de outros países. Será que somos melhores?

POR DOMINGOS MIRANDA
Em minha adolescência gostava de ler histórias sobre os maiores bandidos dos Estados Unidos, tais como Al Capone, Bonnie e Clyde, Butch Cassidy e Sundance Kid, entre outros. Confesso que ficava intrigado como Al Capone que, com a ajuda de bons advogados, conseguia escapar das acusações de assassinatos, contrabando e venda de bebidas durante a Lei Seca. Mas acabou sendo preso por causa da sonegação de imposto de renda. Meio século mais tarde a mesma estupefação me acompanha ao ver o presidente Michel Temer escapar de tantas acusações contra ele.

Nunca na história deste país, um presidente em exercício do poder esteve envolvido numa série de falcatruas, junto com toda a alta cúpula política de seu governo. São nove ministros e ex-ministros alvos de inquéritos ou que já estão presos. A Polícia Federal diz que Temer é o líder de uma organização criminosa chamada de “Quadrilhão” do PMDB. A Procuradoria Geral da República apresentou duas denúncias contra o presidente da República, que foram engavetadas depois de repasse de verbas para deputados ou anistia de dívidas para a bancada ruralista. Não faltam provas, desde vídeo com mala de dinheiro até conversas telefônicas.

Mas será que somos um caso único neste quesito de governo malfeitor? Não. Pesquisando, descobrimos que na Bolívia da década de 80 houve um caso de criminosos que tomaram o poder. Em 17 de julho de 1980, o general Luiz Garcia Meza deu um golpe de Estado para derrubar a presidenta Lídia Gueiller Tejada, que era sua prima. O objetivo maior desta ação foi impedir a posse do recém-eleito presidente Hernan Siles Suazo, de esquerda.

Com a ajuda da CIA, do departamento antidrogas americano (DEA), do empresariado e da mídia boliviana, o golpe foi tramado. Durante os 13 meses de governo do ditador, houve uma série de violências, inclusive o assassinato de líderes políticos de oposição e sindicalistas. Em 1995, Luiz Garcia Meza foi levado a julgamento e condenado a 30 anos de prisão. Também pegou 30 anos de cadeia o seu ex-ministro do Interior, o coronel Luiz Arce Gomez. Ambos foram acusados por desaparecimentos de pessoas, assalto a recursos público e tráfico de cocaína a partir da própria presidência.

Os Estados Unidos sabiam do envolvimento do general com o narcotráfico, mas mesmo assim seus governantes não tiveram pudores em ajudá-lo na derrubada de uma presidenta da República. Em seu livro “The Big White Lie”, o ex-agente da DEA e escritor americano Michael Levine, descreve como a DEA e a CIA trabalharam para levar Meza e os produtores de coca ao poder.

Nesta história comparativa, o que nos anima é saber que os dois maiores responsáveis pelo governo narcotraficante da Bolívia estão mofando na cadeia. Vamos esperar que aqui aconteça o mesmo, pois temos certeza que estes traidores de nossa pátria amanhã pagarão por todos os seus crimes. Para que isso aconteça basta que cada brasileiro cumpra o seu dever nas eleições de outubro. Como dizia a canção “Aroeira”, de Geraldo Vandré:  “É a volta do cipó de aroeira/no lombo de quem mandou dar”.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Os buracos de merda de Donald Trump

POR LEO VORTIS
Shithole. Você sabe o que significa? É literalmente “buraco de merda”. Lugar que, todos sabemos, é um cu. A palavra foi usada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para dizer que desprezava os imigrantes de “shithole countries” como o Haiti, El Salvador e alguns países africanos. A expressão caiu mal, a notícia correu mundo e o presidente foi logo tachado de racista (dá para acreditar?).

O pessoal do staff da Casa Branca, como tem feito repetidamente ao longo do último ano, tentou reverter a situação. Mas às vezes a emenda sai pior que o soneto. E os tipos decidiram criar uma versão para lá de bizarra: Trump não teria dito “shithole countries”, mas sim “shithouse countries”. Ou seja, em vez de “buracos de merda” teria dito “casas de merda”. Ficou a merda. É ridículo, mas estamos a falar de um presidente que faz do ridículo o seu dia a dia.

Donald Trump reclamou daquilo que considera falta de qualidade dos imigrantes. E perguntou: por que não são os noruegueses a ir para os Estados Unidos? Ora, é só olhar para alguns dados acerca da Noruega para saber. O sistema público de saúde. A maior expectativa de vida. A maior prosperidade econômica. O sistema público de educação. A igualdade de gênero. A liberdade política e de imprensa. As 46 semanas para mulheres que dão à luz. O índice de felicidade.

Hoje em dia as ferramentas digitais permitem fazer coisas interessantes, por vezes até driblar o poder. E foi o que fez o artista Robin Bell que, munido com um projetor de luz, projetou a palavra “shithole” num lugar emblemático: a fachada da Trump Tower, em Manhattan. As imagens, transmitidas para todo o mundo pelas redes sociais, foram motivo de gáudio para aqueles que não aturam o atual inquilino da Casa Branca.


A projeção na Trump Tower

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Por onde andam os "heróis" do pré-golpe (vídeo)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


(pode ver o filme, em vez de ler, porque o conteúdo é o mesmo)
A fase do pré-golpe produziu cenas e figuras caricatas e muita gente ganhou fama nacional. Eram conhecidas de norte a sul do país. O motivo dessa gente era sempre o ódio de classe e o ódio ao Partido dos Trabalhadores. É certo que alguns até tentavam disfarçar. Diziam que era contra a corrupção, por causa do preço da gasolina e havia até os que diziam que bandeira do Brasil jamais seria vermelha.

Bem… passado um ano do golpe, todos sabemos o que aconteceu. Deu chabu. E essas pessoas, que eram protagonistas, simplesmente desapareceram. E hoje todo mundo pergunta: por onde andam?

Uma das figurinhas é Taís Helena Galon Borges. Todos lembramos dela. É aquela senhora que aparece a gritar num posto de gasolina a dizer para os motoristas não abastecerem os seus carros. Nessa época a gasolina custava R$ 2,80. E hoje, depois de tantos reajustes, com o preço a rondar os R$ 5 reais, cadê a mulher? Nem um grito, nem um protesto, tomou chá de sumiço.

Outra figura divertida é Rosangela Elisabeth Muller. O nome não diz nada? É aquela senhora que confundiu a bandeira do Japão com a futura bandeira comunista do Brasil. Vocês lembram, com certeza, desse episódio caricato. Aliás, se derem olhadinha no Facebook da senhora, vão ver que ela e outros do time batem continência para o nada. Todos adoram essa coisa do “militar”. E, claro, elogiam Jair Bolsonaro. Só que depois das notícias das últimas semanas, quando Bolsonaro foi apanhado em contrapé,  esse pessoal deve estar com uma tremenda dor de cabeça.

Mas entre todas essas criaturas estranhas que surgiram nos últimos tempos, os meus preferidos são aqueles que fizeram a micareta do “Fora Dilma, Fora Lula, Fora PT”. Se eu ainda estivesse no jornalismo diário, essa seria uma pauta obrigatória: tentar encontrar essas pessoas e tentar saber o que passava pela cabeça delas. Se bem que a resposta não deve ser difícil. Elas não têm nada na cabeça, portanto passa tudo. Entra por um lado sai por outro. Mas mesmo assim gostaria de saber quem são, quais as motivações e onde elas se escondem hoje em dia, porque ninguém sabe onde estão. Não é estranho.

Enfim, no frigir dos ovos parece que era mesmo apenas ódio contra um partido. Ou duvidam disso?

É a dança da chuva.