sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A saúde pública, o conhecimento popular e o preconceito do gestor

POR DOMINGOS MIRANDA
O universo tem como característica a diversidade. A sociedade também segue este padrão, não é formada apenas por branco e preto, existem inúmeros outros matizes. E na saúde sabemos que é possível tratar as doenças do corpo e da mente das mais diferentes maneiras. O bom gestor não deve ter preconceito e colocar em prática todos os métodos possíveis. Duas cidades do Sul do Paraná – Rebouças e São João do Triunfo – deram um exemplo neste sentido. O serviço público de saúde criou carteirinhas para as benzedeiras e benzedores, permitindo que estes frequentem os estabelecimentos de saúde e que acompanhem os pacientes que desejarem o seu serviço. A população da vizinha Irati também está se mobilizando para alcançar o mesmo objetivo.

Isto não tem nada de anormal, falta apenas vontade política dos gestores. A Organização Mundial de Saúde, através da sua Declaração de Alma Ata, de 1978, deixa claro que é importante o aproveitamento dos saberes populares no atendimento primário de saúde. A Política Nacional de Práticas Alternativas, do Ministério da Saúde, já permite esta prática. No caso das comunidades do Paraná, isto aconteceu porque o povo se uniu em torno do Movimento Aprendizes da Sabedoria. O médico neurocirurgião Sérgio Felipe de Oliveira defende a presença das benzedeiras nos tratamentos e diz que “a força da fé é tremenda”.

No entanto há um outro lado importante desta prática religiosa. Quase todas as benzedeiras também trabalham com a fitoterapia, oferecendo de graça remédios feitos com plantas medicinais. Em um momento de crise profunda na economia, está aí uma boa solução para aliviar o bolso dos doentes e dos cofres públicos. A ciência já provou que as ervas curam, como faziam nossos avós no passado.

No entanto, como dizia o aclamado físico Albert Einstein, “é mais fácil quebrar um átomo do que derrubar um preconceito”. E isto é o que estamos vendo em Joinville. Em 2010 foi aprovada a Lei 6.774, de autoria do vereador Manuel Bento, que criava o Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O então prefeito Carlito Merss, com o apoio de outras entidades como a Pastoral da Saúde, começou a colocar em prática a fitoterapia na Secretaria de Saúde. Mas, a partir de  2012, no governo do prefeito Udo Döhler, o programa foi desativado. Por falta de incentivo, uma associação de pessoas que produziam remédios fitoterápicos deixou de existir. Quem mais perde com atitudes como esta é a população.

Em 2016, o deputado Darci de Matos encaminhou ofício à reitora da Univille,  Sandra Furlan, propondo que fosse estabelecido contato com a Universidade de Medicina Tradicional Chinesa, em Henan, cidade irmã de Joinville, no sentido de firmar um convênio. A universidade chinesa tem importantes trabalhos na área de fitoterapia e em Joinville temos um dos maiores laboratórios fitoterápicos do país. A Univille poderia ser um elo importante nesta parceria. Mas até hoje o parlamentar não obteve resposta.

Assim, caminhando na contramão de outras cidades que deixaram de lado o preconceito, Joinville abdica de usufruir dos benefícios de uma terapia alternativa tradicional, já testada pelos cientistas, pelos índios e por nossos antepassados. A fitoterapia tem custo barato, pois a natureza nos oferece de graça os seus ingredientes básicos. Mas, nossos gestores continuam teimosos, se recusando a enxergar uma saída para as dores da sociedade. Há cerca de dois anos foi feita uma pesquisa e 65% da população colocou a saúde como a principal queixa contra a prefeitura. Está na hora de atentar para este dado e aliviar o sofrimento do povo que depende do SUS.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Pobre


POR SANDRO SCHMIDT

Por que Judith Butler assusta os obscurantistas?

POR JANDIRA FERRAZ
“Queima, bruxa. Aqui no Brasil não”. Esta foi a proclamação feita ontem, em altos berros, em frente ao Sesc Pompeia, em São Paulo. Parecia o anúncio da chegada da Idade Média, mas não. A bruxa em questão – materializada num boneco queimada em termos simbólicos – é a pensadora Judith Butler, uma referência no estudo da teoria do gênero em todo o mundo.

Mas o que faz essa perigosa Judith Butler para provocar tamanha ira? Talvez a resposta comece pela própria descrição: “pensadora”, “filósofa”. Ah… nada assusta mais os obscurantistas que uma pessoa associada ao pensamento. E para os fanáticos do Brasil destes tempos tudo virou “ideologia de gênero”, tudo tem o objetivo de destruir os alicerces da família.

E que tal tentar entender o que pensa a filósofa? Um aviso: o texto que segue não pretende analisar a obra da professora norte-americana, mas apenas fazer uma recolha de algumas citações (quotes) facilmente encontradas na internet. Mas se são citações normais em qualquer universidade do mundo, não é a mesma coisa no Brasil, onde provocam medo.

- “Sempre fui uma feminista. Isso significa que eu me oponho à discriminação das mulheres, a todas as formas de desigualdade com base no gênero, mas também significa que exijo uma política que leve em consideração as restrições impostas pelo gênero no desenvolvimento humano”. 

- “O jornalismo é um lugar de luta política... Inevitavelmente”. 

- “Sem dúvida, o casamento e as alianças familiares do mesmo sexo devem ser opções disponíveis, mas convertê-las um modelo de legitimidade sexual é precisamente restringir a socialidade do corpo de forma aceitável”.

- “Qualquer que seja a liberdade por que lutamos, deve ser uma liberdade baseada na igualdade”.

- “Existe uma boa maneira de categorizar os corpos? O que as categorias nos dizem? As categorias nos dizem mais sobre a necessidade de categorizar os corpos do que sobre os próprios corpos”.

- “As pessoas se perdem no que leem, apenas para retornar a si mesmas, transformadas e fazendo parte de um mundo mais amplo".

- “Afinal, a justificativa para a luta está no campo sensorial. O som e a imagem são usados para nos recrutar para uma realidade e para nos fazer participar dela. De certa forma, toda guerra é uma guerra contra os sentidos. Sem a alteração dos sentidos, nenhum Estado poderia fazer a guerra”.

- “Também não acredito que a literatura possa nos ensinar a viver, mas as pessoas que têm dúvidas sobre como viver tendem a recorrer à literatura”.

- “A estrutura das crenças é forte ao ponto de permitir que alguns tipos de violência sejam justificados ou nem mesmo sejam considerados como violência. Assim, vemos que não se fala de assassinatos, mas de baixas, e que não se menciona a guerra, mas a luta pela liberdade”.

- “Se Lacan presume que a homossexualidade feminina é causada por uma heterossexualidade mal resolvida, como mostra a observação, não seria tão claro para o observador que a heterossexualidade provenha de uma homossexualidade mal resolvida?”

- “O amor não é um estado, um sentimento, uma disposição, mas uma troca. Desigual, repleta de história, fantasmas, anseios que são mais ou menos legíveis para aqueles que tentam se ver com a sua própria visão defeituosa”. 

- “Os papéis masculino e feminino não são biologicamente fixos, mas socialmente construídos”.

E então? Dá para achar que Judith Butler é uma bruxa?

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O mito e o mico: Bolsonaro vai ter aulas de economia “básica”

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O negócio é o seguinte. Segundo a imprensa, Bolsonaro está a contratar um professor para ter aulas de economia “básica”. Atenção, que nunca é demais repetir: “básica”. E tudo por causa daquele mico gigantesco na entrevista concedida à jornalista Mariana Godoy, na RedeTV. Há o risco de a notícia ser falsa. É difícil acreditar que Bolsonaro esteja disposto a estudar. Não faz sentido. A ignorância é a essência do “mito”.

A ser verdade, a civilização terá uma rara oportunidade de concordar com Bolsonaro. Quem não sabe estuda. Pena que a sua rude capacidade intelectual não lhe permita ir além do “básico”. Mas pode ser um precedente perigoso para o putativo candidato à presidência. Se ele está determinado a estudar as coisas em que é ignorante, então os professores terão muito trabalho para os próximos anos. Não é só a economia.

Bolsonaro deveria estudar história, geografia, administração, relações internacionais, antropologia, sociologia, educação física (lembram das flexões?), comunicação social, oratória, direitos civis, cultura e tantas outras áreas onde já demonstrou ser olimpicamente ignorante. Mas se Bolsonaro não for estudar há uma saída: estudar Bolsonaro. Afinal, quem já estudou semiologia sabe que o mito é distorção da realidade. Faz sentido. 

O problema para Bolsonaro, se for mesmo estudar, é o risco de perder votos. Afinal, expressiva parte do seu eleitorado é formada por gente que aposta no obscurantismo e que não cansa de dar provas de fé no anti-intelectualismo. Ou seja, o “mito” só existe para pessoas que rejeitam o conhecimento, as luzes e a modernidade. Se introduz a ideia de estudo no seu perfil, Bolsonaro arrisca-se a quebrar os elos que o unem ao eleitorado.

Mas no frigir dos ovos, o candidato já  proporcionou um dos momentos mais antológicos da televisão nos últimos tempos. A reação perplexa da jornalista Mariana Godoy ao ouvir Bolsonaro a trucidar a história e elogiar os governos militares. Uma interjeição simples, formada por apenas duas simples letrinhas, é a melhor definição das qualidades intelectuais de Bolsonaro. E vale também para os seus seguidores.

- Oi!?!?!?!?!?

Está tudo dito.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Udo quer ser governador? Quer sim... e quer muito


POR JORDI CASTAN
Começou o debate. O prefeito Udo Dohler quer ou não quer ser candidato a governador? É um debate sem fôlego e que acaba antes mesmo de começar. Porque ele quer sim. Acrescentaria que quer muito. Quer mais do que quis ser prefeito. O poder inebria e, depois da sua reeleição, o prefeito já acredita que ganhou o pleno direito de ser o candidato do PMDB ao governo do Estado.

Até acredito que não seria tão ruim para Joinville a sua candidatura, ainda que pouco provável. Há quem defenda que, caso eleito, poderia não fazer em Santa Catarina tudo o que não fez em Joinville. Dois pontos merecem destaque aqui. Vejamos:

1. O primeiro é que, para boa parte do Estado, não seria possível identificar uma mudança significativa entre a inoperância do atual governo estadual e a nova advinda do prefeito de Joinville.
2. A segunda é que a inoperância, que hoje fica restrita a Joinville, ganharia dimensão estadual.

Nenhum dos dois pontos parece ser suficiente para alavancar sua candidatura. Pelo contrário. Parecem pouco meritórios e é fácil acreditar que, até dentro do seu partido, haja meia dúzia de nomes acreditando piamente que podem fazer mais e melhor.
 Mas há uma questão interessante.

Caso se confirmasse a candidatura de Udo Dohler, os joinvilenses redescobririam a importância do vice. Até agora o major Nelson Coelho tem sido uma figura decorativa na administração municipal. Ao assumir a Prefeitura teríamos a oportunidade de conhecer o trabalho e a capacidade do nosso vice-prefeito, hoje num papel opaco por causa do "excelente" trabalho realizado pelo omnipresente prefeito.

Aliás, nesse caso seria mais fácil mostrar os logros e os resultados desta gestão. Assim os eleitores catarinenses saberiam o que esperar de Udo Dohler como governador.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Ideologia de gênero: muita confusão para nenhum benefício

POR DOMINGOS MIRANDA
A ideologia de gênero tomou proporções inimagináveis há pouco tempo por causa dos grandes debates entre progressistas, de um lado, e conservadores e religiosos, de outro. Sempre achei esta questão de querer evitar a definição de sexos entre crianças uma grande estupidez. No entanto, evitava entrar nesta discussão para que não achassem que eu estaria no mesmo barco que estes trogloditas como o pastor Silas Malafaia ou o deputado Marcos Feliciano. Mas, depois que descobri o documentário “O Paradoxo da Igualdade”, do jornalista, humorista e sociólogo norueguês Harald Eia, achei que não podia me calar, mesmo que muitos amigos fiquem bravos comigo. 

Imagino que a ideologia de gênero seja como uma arapuca, armadilha que nós crianças usávamos para capturar aves. Colocávamos uma isca apetitosa para atrair a vítima e capturá-la. Esta nova ideia que agita a sociedade usa como isca a luta pela igualdade entre homem, mulher e o segmento LGBT. Muitos progressistas embarcam por esta estrada, esquecendo um velho ditado: “O caminho do inferno está calçado de boas intenções”.

Este debate serve aos interesses da direita. Veja o que aconteceu na semana passada, onde parcela importante da nossa riqueza petrolífera foi entregue a preço de banana para empresas estrangeiras, em um leilão espúrio. Diante de um momento tão tenebroso, o que a sociedade estava debatendo com maior furor? A ideologia de gênero. Em Blumenau, a Câmara de Vereadores ficou lotada para acompanhar um projeto de lei sobre o assunto. No plenário, os dois grupos, contra e a favor, quase saíram no tapa.

Todo assunto comportamental gera enorme polêmica em nossa sociedade e os setores religiosos mais conservadores se pontificam na crítica. Não devemos confundir a educação sexual com a ideologia de gênero. A primeira é um ensino normal nas escolas, como outras matérias e que visa orientar os estudantes sobre sexualidade. Já a segunda prega que a criança não deve ter definido se é menino ou menina. É uma teoria sem base científica. Seus defensores alegam que, agindo assim, poderia se evitar, futuramente, preconceitos contra o sexo feminino e o grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

A esquerda se isola ao adotar a defesa desta tese, pois a igreja católica, importante aliada na luta contra o golpe que afastou Dilma do poder, é totalmente contra a ideologia de gênero. Aqui não quero entrar no aspecto religioso, mas pesquisas científicas realizadas ao redor do mundo têm demonstrado que cada gênero tem propensão diferente para certas profissões. Portanto, não é abolindo a definição de sexo que a total igualdade de gênero seria conquistada.

Acho que a ideologia de gênero serve aos interesses da direita porque camufla a verdadeira luta para alcançar a igualdade entre homens e mulheres. Esta equiparação só será conseguida com muita luta depois de mudar a estrutura de dominação na sociedade, não só de classes, mas também de gêneros. Ao desviar a mira do verdadeiro inimigo os dominadores continuarão reinando por mais tempo. Se fosse tão simples fazer esta revolução, apenas não definindo o sexo das crianças,  a verdadeira igualdade poderia aparecer num passe de mágica. Mas milagre não existe, infelizmente. Vale a pena assistir o documentário  “O Paradoxo da Igualdade” para tirar as suas conclusões.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

O repórter fodão, o guarda e a liberdade de imprensa

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
"’Tu quer ser o repórter fodão? Bota a mão na cabeça’, me disse um guarda municipal de Joinville na tarde deste domingo. Isso aconteceu depois que fiz fotos de dois guardas revistando seis jovens no jardim do Museu de Arte de Joinville (MAJ). Estou bem, mas desconfiado de que há agentes que não simpatizam com a liberdade de imprensa na cidade. Será que estou exagerando? O que vocês acham? Já presenciaram situações parecidas?”

O relato é do repórter Alex Sander Magdyel, o tal “fodão”. O episódio ficou quase restrito às redes sociais e pouco mais. Infelizmente. Porque a fraca repercussão midiática não está em linha com a seriedade dos fatos. Em qualquer democracia, o caso seria motivo para ações visíveis e inequívocas das autoridades, neste caso o poder público municipal. Em Joinville, todos sabemos, vai ser um simples “fait divers” e cair no esquecimento.

Não se enganem. O caso é grave. Não apenas pela agressividade contra o repórter, mas pela resposta frouxa dos inquilinos da Prefeitura. A reação resumiu-se a uma nota de 12 pontos, na qual 11 são uma defesa dos policiais e o outro é pura miopia. É quando diz que “em momento algum foi cerceado o direito à liberdade de imprensa”. Errado. Apontar uma arma taser e revistar a mochila do repórter configura um caso claro de agressão à liberdade de imprensa.

Mas discutir liberdade de imprensa em Joinville é jogar palavras ao vento. E a nota é a melhor prova disso. Tímida. Burocrática. Tediosa. Quem lê fica com a sensação de que o redator já estava de pijama, pronto para dormir, quando foi obrigado a sair da cama para escrever o texto. Entende-se. Para o poder, o tema da liberdade de imprensa é sempre uma chatice. Para os jornalistas, é como os discos voadores: todos ouviram falar, mas nunca viram.

Todos sabemos que o ambiente da comunicação não é democrático. Nem no país, nem em Joinville. Qualquer jornalista conhece o poder das verbas publicitárias e o efeito dos telefonemas para as redações. É um vício de décadas. Mas este momento é diferente e pede reflexão. É preocupante quando a autocracia ganha força muscular. E porta armas. O risco não é apenas para a liberdade de imprensa, mas para toda a sociedade.

É a dança da chuva.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Fodão



POR SANDRO SCHMIDT

Pré-sal: Temer amputa o Brasil e hipoteca o futuro dos brasileiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer comemorou o resultado dos leilões para a exploração dos campos de petróleo do pré-sal, realizados na semana passada. O presidente disse que o país agora entra num novo ciclo de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, acenou com a criação de 500 mil novos empregos. O negócio garantiu ao governo uma arrecadação de 6,15 bilhões de reais em bônus (abaixo do esperado). Michel Temer tenta passar a ideia de que a entrega do pré-sal aos estrangeiros foi um negocião.

Só que logo a seguir a revista “Exame” tratou de jogar água no chope de Temer, com uma manchete até irônica: “pré-sal arrecada 1/5 do que Temer gastou para escapar de denúncia”. Segundo a revista, a grana que entra para os cofres públicos cobre parte ínfima do buraco financeiro. Não dá para comemorar, claro. Mas o que está em jogo não são os números. É o entreguismo. A corja do golpe está a entregar o Brasil de bandeja. E os brasileiros permanecem em estado de catatonia. 

Entreguismo é a palavra do momento. É possível que muitos não saibam, mas há muito tempo a expressão é vista como um conceito ideológico, com repercussões nos planos político, social e econômico. O entreguismo é um mal do tal terceiro mundo e consiste na entrega das riquezas nacionais para a exploração de outros países. Gente com outros interesses. A desnacionalização de certos setores estratégicos para as economias nacionais faz parte da estratégia. É a tragédia de um passado colonial que nunca acaba.

A entrega do pré-sal põe a nu a lógica do entreguismo. Deixa claro que as elites lesa-pátria estão do lado dos estrangeiros. Temer e a sua catrefa podem insistir nessa tecla, mas nenhum negócio é aceitável se representa um golpe na soberania nacional. E quem ainda tem na memória o escandaloso processo de privatização da Vale do Rio Doce sabe do que estamos a tratar: uma das empresas mais valiosas do patrimônio público é vendida a preço de banana. Mas logo a seguir não pára de dar lucro aos compradores.

Mas não se ouve uma única panela. Porque muitos brasileiros, em especial a classe média, vivem o delírio de um estado mínimo e um pretenso liberalismo. O problema é que a maioria não faz a mínima ideia do que está a falar. E nem percebe que está a ser envolvida por um tipo de “ideologia”. Por quê? Porque o discurso, feito a partir da colagem de clichês surrados, é fácil de absorver. Tão fácil que até os analfabetos mirins do MBL, por exemplo, conseguem passar por inteligentes.

O país está nas mãos de gente disposta a entregar os anéis, mas também os dedos. Não se iludam, porque não estamos a falar de estratégias políticas ou econômicas. Estamos, isto sim, a tratar de simples entreguismo, autênticos crimes de lesa-pátria. Há quem não consiga enxergar, mas quando o “gigante acordar” a sério vai ver um Brasil amputado nas suas riquezas. E com o futuro dos brasileiros hipotecado. Eis a ironia: quem alertou para a sacanagem foi tachado de “petralha, bolivariano, esquerdopata”. Mas quem avisa...

É a dança da chuva.