terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Xingar Lula é normal, mas ser xingado dói

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É comum dizer que a internet – em especial as redes sociais – é uma terra sem lei. A lista de crimes praticados todos os dias é longa, mas o pulular de situações torna impossível identificar e punir todos os casos. A calúnia, os insultos e a difamação estão entre as práticas mais comuns e todos os dias esbarramos com pessoas a fazer na esfera virtual o que não fariam na esfera pública.

As redes sociais tornaram-se um autêntico faroeste verbal. E hoje uso um exemplo pessoal para mostrar o comportamento nada cívico e civilizado das pessoas. Um amigo publicou um post no Facebook a falar da aposentadoria da primeira-dama de Goiás, Valéria Perillo, sobre a qual haveria algumas dúvidas. E logo no primeiro comentário, sem que nada apontasse para isso, apareceu um tipo a falar do ex-presidente Lula.

Ou seja, essa pessoa esqueceu totalmente a mulher do governador de Goiás. E entrou de sola, chamando Lula de “bandido”. Fiz um comentário a dizer que isso pode caracterizar crime, uma vez que quem faz esse tipo de acusação deve ter provas. E a resposta veio na forma de apoio de um segundo tipo, que chamou Lula de “safado” e ironizou a ideia de calúnia e difamação.

De propósito, escrevi que não iria "conversar" com este segundo sujeito, porque ele tinha um “jeitão de corrupto”. O que aconteceu? O homem virou bicho. Em tom ameaçador, disse que não admite esse tipo de tratamento. Não é hilário? O cara pode falar o que lhe dá na real gana, mas quando lança os mesmos argumentos contra ele, reage como uma virgem ofendida.

“Não sou moleque para ficar lendo besteira contra a minha pessoa”, esbravejou o sujeito que minutos antes chamava Lula de safado. Ora, ora, ora. Dói quando a ofensa é contra nós. Mas quem fala o que quer ouve o que não quer. O problema é que as pessoas veem nas redes sociais um espaço onde podem ofender, caluniar, difamar. É a lei do cão. Mas haverá um dia em que terão que responder por isso na Justiça. Porque só assim o espaço virtual poderá tornar-se civilizado.


É a dança da chuva.








segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Joinville é mesmo uma ilha de honestidade?

POR JORDI CASTAN

O prefeito Udo Dohler concedeu uma entrevista ao jornal A Notícia, na qual fez balanço da sua gestão até agora e falou das suas expectativas para os meses que ainda tem pela frente. A impressão era a de escutar o candidato em lugar de quem ainda não conseguiu mostrar a que veio.  Entre as muitas frases de efeito que pululam pelo texto há algumas que gostaria de destacar.

- “Limpamos a máquina pública. Nos deparamos aqui com um cenário assustador de corrupção e desvios de conduta. A população está vendo, em todo o Brasil, escândalo atrás de escândalo, e é por isso que me orgulho de ter mantido erguida aquela que foi uma das minhas principais bandeiras nas eleições de 2012: mãos limpas.”

O prefeito gosta de fazer declarações pirotécnicas e tem feito isso em outras entrevistas. 
Contudo, cometeu de novo um erro que deveria ter evitado. Falar de "um cenário assustador de corrupção", sem citar nenhum caso concreto, sem apresentar dados, sem nomes, sem mencionar os delitos cometidos, em que setores, sem divulgar quantos inquéritos administrativos foram abertos, quantos casos foram identificados, quanto dinheiro foi devolvido, sem apresentar quanto é o tamanho do prejuízo causado pela corrupção tem pouco efeito.

Primeiro porque o resultado é nulo. Segundo porque é impossível ignorar que o prefeito é pré-candidato natural à reeleição e num momento em que o Brasil está revoltado pelos índices escandalosos de corrupção e impunidade, o discurso contra a corrupção, a favor da honestidade, retomando ainda o lema das “mãos limpas” que usou na campanha de 2012, não engana mais. Sem provas, sem nomes, e sem dados é conversa para boi dormir.

É importante não fazer acusações sem provas e sem nomes. É ainda mais importante não jogar lama nos funcionários públicos honestos que formam os quadros da Prefeitura. Porque não é justo falar de cenário assustador e jogar dúvidas sobre a honestidade da maioria dos funcionários do quadro efetivo. Alias seria bom se o prefeito viesse a público a citar quantos foram exonerados por corrupção na sua gestão e como conseguiu o milagre de fazer de Joinville essa ilha de honestidade, a que faz referência, numa sociedade em que a corrupção se espalha como mancha de óleo

- "O cidadão não gosta de buracos nas suas ruas, mas gosta menos ainda da política corrupta e suja que se pratica em outros lugares".

Aliás, nesse tema da corrupção, que diz que se pratica em outros lugares, ele anda num terreno escorregadio. Para começo de conversa, a sua campanha recebeu recursos da Engevix, empresa que tem executivos presos e condenados por corrupção. Digamos que ninguém neste momento gostaria de ver a Engevix na lista dos seus doadores de campanha.

O prefeito declarou nestes dias ao MPSC que tinha conhecimento de que realmente ouviu que alguns vereadores estariam propondo emendas a LOT em troca de pagamentos por "fora". Disse o prefeito na sua declaração no MPSC “que o declarante esclarece que tomou conhecimento de possível 'lobby' de vereadores no sentido de diminuição da exigência da metragem dos lotes da região conhecida como Estrada da Ilha, até porque o projeto original estipulava 2.500 metros, passando posteriormente com o consentimento da Associação de Moradores locais – que sentiam receio que o fracionamento diminuísse ainda mais – para 1.200 metros, sendo que, ainda, chegou-se na emenda efetivamente apresentada no fracionamento de 650 metros, o que na visão do declarante, demonstra claramente toda a pressão que envolveu pontualmente essa situação”, diz o teor do depoimento ao promotor Marcelo Mengarda.

Disse o Prefeito Udo Dohler não saber os nomes. “...o declarante não sabe informar a identificação de possíveis vereadores que estariam solicitando o pagamento (por fora) para aprovação de emendas na LOT; QUE o declarante esclarece que realmente ouviu de determinadas pessoas, as quais prefere não declinar, que realmente houve por parte de alguns vereadores a utilização de algumas emendas na LOT como chance de arrecadar cifrões, com preço estipulado; QUE o declarante não chegou a ter conhecimento de quais valores seriam cobrados”, concluiu em seu depoimento.

Pode até não saber ou não lembrar dos nomes dos vereadores envolvidos. Se são ou não do seu partido, se são ou não da situação. Mas eu aconselharia ao prefeito que andasse com um caderninho na mão para anotar. Seria melhor se fosse menos enfático ao afirmar que aqui não se pratica a política corrupta e suja que se pratica em outros lugares. 

SAÚDE E EDUCAÇÃO - Na entrevista o prefeito dia que fez as suas escolhas. Preferiu investir mais em saúde e educação que em mobilidade. Uma escolha para aplaudir. Talvez deveria ter pensado melhor antes, durante a campanha, quando incluiu no seu plano de governo 300 km de asfalto. Mas sabemos como é campanha, se promete tudo para se eleger e depois se esquece o que se prometeu. No fim das contas, uma vez eleito vale tudo.

Da declaração do prefeito se desprende uma afirmação a todas luzes inverídica: a de que a saúde e a educação estão bem, porque não se investiu em asfaltamento. Os funcionários do Hospital São José, por exemplo, informam que faltam remédios, macas, cadeiras e que nem o ar condicionado esta funcionando. O quadro nas escolas não é muito diferente. Alunos que estavam no período integral voltaram ao meio período. Se reduziu a carga horária para poder oferecer mais vagas. Assim se vestiu um santo e se desvestiu outro.