quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cegueira coletiva


POR MÁRIO MANCINI

O título pode se substituído por teimosia, se assim preferirem, para ficar no (chato) politicamente correto. Porém, é o que ocorre na atual administração municipal de Joinville, talvez na ânsia de acertar, marcar como o mandato da “geston”, tenha cometidos erros crassos, pois não enxergam o óbvio.


Arrisco afirmar que só a Educação vai bem, notem que iniciei com um “arrisco”, pois há professores descontentes, como há anos não ouvia falar. Porém, este não é o assunto de hoje e fica para outro texto. Muito menos saúde (talvez o pior de todos), mas um assunto que o Jordi Castan aborda com maestria, a mobilidade urbana, mais especificamente a Avenida Santos Dumont.

Trata-se de uma avenida estadual na área urbana que, dizem, um dia será duplicada, algo que já deveria ter sido realizado na época da sua abertura. Porém, como é o costume, o planejamento foi feito para o hoje, não para o amanhã, e agora temos o impasse das onerosas desapropriações.

Como não há dinheiro para estas desapropriações está a ser criado um monstrinho urbano, com um binário, uma parte com 4 pistas e a última com 6 pistas, respectivamente, da mais movimentada para a menos, numa clara demonstração de falta de planejamento. Aliás, não pode faltar o que não se tem.

Mesmo sabendo que não aceitam sugestões, pois afirmam que o que está decidido está decidido, arrisco uma solução, radical, que precisaria de coragem, mas seria um marco administrativo.

Mudar todo o projeto, deixando-o em partes, para terminar lá por 2030, como gosta o prefeito. Primeiro concentraria todas as forças (principalmente econômicas) na duplicação do primeiro trecho, entre o final da João Colin e o trevo universitário, sem usar um elevado (palavrão para o IPPUJ), só um sinaleiro para o acesso do retorno pela Blumenau e uma boa reformulação no trevo das universidades (aquilo é um “balaio de gato”).
O grande gargalo do trânsito estaria resolvido, até para o transporte coletivo antiquado que reina por aqui, as outras duas partes seriam feitas na sequência, até 2030.

Como escrevi, precisa de coragem, envolve concentrar finanças, mão de obra, etc., em uma única etapa, causaria melindro e afins, ou seja, continuaram falando que agora é tarde, ou não?

terça-feira, 28 de abril de 2015

Calbuco


Não precisamos de Luciano Huck


POR FELIPE CARDOSO

Os programas da televisão aberta brasileira são ruins, isso é um ponto inegável, e é só observarmos a perda de audiência das emissoras para constatar que o telespectador tupiniquim está ficando cada vez mais crítico.

Enquanto as novelas tentam inserir visões revolucionárias em seus roteiros para atrair a atenção do público, os seriados e as séries estrangeiras vêm ganhando, a cada dia, mais fãs e espectadores brasileiros.

Poderia citar vários fatores que levaram a essa grande mudança. O acesso à internet e as promoções dos canais por assinatura contribuíram para a transformação desse quadro, por exemplo.

Mas acredito que o ponto principal esteja mesmo no desgaste dos programas. O brasileiro já está ficando cansado com a falta de imparcialidade e, principalmente, de profissionalismo do jornalismo “tradicional” brasileiro e vem buscando, cada vez mais, mídias alternativas para se informar. E as novelas demoraram e estão demorando muito para se atualizar e trazer uma visão completamente diferente de teledramaturgia ao seu público. Ou seja, os brasileiros já perceberam que as emissoras abertas não querem mudar de verdade, por isso estão migrando.

Um ponto em que observo e que chama muito a atenção, além dos programas sensacionalistas – que contribuem para a construção e o aumento do medo e desespero -, são os programas de auditório. Celso Portiolli, Gugu, Geraldo, Eliana, Luciano Huck, Regina Casé, Ratinho… Além de oferecerem quadros copiados do exterior, têm em comum a necessidade de se utilizar da população pobre para ganhar audiência e, automaticamente, patrocinadores, ou seja, verba, grana, dimdim, bufunfa, cascalhos…

Só que essa fórmula só dava certo quando as pessoas não tinham acesso ou não buscavam outros meios de entretenimento. Então era meio que obrigatório você assistir televisão e ver a história do pobre, bem pobre, conhecer a sua casa, as suas dificuldades e depois vê-lo se humilhar no palco para conseguir uma reforma no carro ou na casa, ou apenas para voltar a sua terra natal e, de alguma forma, alegrar-se com isso e ir trabalhar no dia seguinte.

Só que hoje, com muito mais informações que antes, com grupos muito mais organizados e buscando uma melhor politização e formação, esses programas não atraem tanto assim, mas os diretores parecem não notar isso e continuam optando em manter o mesmo formato antigo.

E falando politicamente sobre, tanto a esquerda, quanto a direita já estão cansadas desses programas. A primeira por fazer uma análise crítica sobre a representação desses programas na vida das pessoas e a segunda por acreditar na tese da meritocracia.

Não é de hoje que se aproveitam da tragédia alheia para lucrar, mas as pessoas estão se conscientizando que algum dia poderá ser a tragédia delas exposta para milhões de brasileiros e, depois de usada, descartada. Pois na modernidade é assim: o tempo está cada vez mais curto e não sobra espaço para uma só história. Quanto mais desgraça tiver, melhor é. E a comunicação tem se aproveitado disso.

Como uma mistura de urubu com sanguessuga eles ficam procurando pela desgraça para usar, sugar e descartar.

JOINVILLE

Um exemplo recente foi o caso do menino que agradeceu ao juiz que deixou a mãe, uma presa em estado terminal, passar os últimos dias em casa. Em uma matéria muito bem escrita, o jornalista Roelton Maciel relatou o fato e, preservando a imagem da criança, mostrou o agradecimento na íntegra (veja aqui: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2015/04/veja-como-um-menino-agradeceu-ao-juiz-que-deixou-a-mae-uma-presa-em-estado-terminal-passar-os-ultimos-dias-em-casa-4739772.html).

Tanto o papel do juiz, quanto o do jornalista foram feitos da maneira correta, preservando os envolvidos e propagando a humanização. Mas o que vimos após a repercussão da notícia, foi o vício que a imprensa brasileira tem com a tragédia.

Por ser um caso raro, infelizmente, a notícia se espalhou rapidamente e os abutres começaram a procurar a carne fresca para comer e depois jogar fora.

Emissoras de TV foram na casa do menino para entrevista-lo, colocando a tarja ou deixando a tela escura, para não aparecer, outras mostraram fotos também escondendo o rosto.

Para que? Não bastava apenas informar? Será mesmo que há a necessidade de explorar a fundo a vida de cada personagem? Qual é, realmente, a função de um jornalista?

Parece que o mosquito do ego cansou dos publicitários e está começando a picar jornalistas.

De agora em diante ninguém mais se importa com a vida e a história desse menino, a não ser que no futuro, não se tenha mais pauta, então façam outra matéria sobre o caso, para ganhar um pouco mais de audiência e aumentar a tiragem. Pois é isso o que realmente importa para alguns veículos, mas não para todos os jornalistas.

Precisamos, urgentemente, de uma democratização dos veículos de comunicação, isso é imprescindível, mas também precisamos formar mais jornalistas humanos, que saibam honrar seus compromissos de maneira séria, sabendo que o seu papel não é ser protagonista de cada matéria ou programa.

Ou isso, ou morreremos todos os comunicadores abraçados, afundando no mesmo barco.

Observação: a foto que ilustra o texto é do quadro “Jornal Jornal” do programa “Hermes e Renato”. Nesse episódio eles contam a vida de um menino que enfrenta duras dificuldades até chegar a escola (assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=B6Vyhtvpp4k).

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Uma bela história no céu das letras

POR ET BARTHES


É uma daquelas histórias que deixam um sorriso nos lábios.

Agora virou deboche!!!

POR JORDI CASTAN


Escrevi aqui no Chuva Ácida, faz agora um mês, sobre a sucessão de erros e o excesso de incompetência com que esta administração tem tratado a duplicação da avenida Santos Dumont. (Transito mata mais que homicidios em Joinville)

Na semana passada a imprensa noticiou as mudanças no projeto, para tentar concluir a obra. Não li nenhum pedido de desculpas, nenhum ato de contrição, nenhum reconhecimento por parte dos responsáveis pelos erros cometidos. As alterações divulgadas até agora reduzem a qualidade da proposta original, comprometem a efetividade e o impacto da "duplicação", que a partir de agora só deveria ser citada entre aspas para não confundir o contribuinte.

Pessoalmente acho que esta nova proposta põe definitivamente una pá de cal em qualquer esperança que o eleitor poderia ter que esta fosse uma administração modelar. Aquela que assentaria as bases, traçaria as linhas estratégicas e definiria o perfil da Joinville dos próximos 30 anos.

Sem nenhum projeto estruturante, sem nenhuma visão estratégica, sem um modelo de cidade moderno e eficiente, a Joinville que possa surgir desta gestão é uma cidade mediana. Uma cidade que pensa pequeno, planeja pequeno e executa ainda menor.

Sem uma visão de cidade, o que está proposto são ações pontuais, que a cada dia parecem mais eleitoreiras que estruturantes. O resultado é evidente. O que era para ser asfalto novo, agora virou recapamento. O que era para ser duplicação se converteu em um meio binário e um trecho duplicado onde menos é preciso. As outras duplicações anunciadas não devem sair do papel. E por aí vai. 

Se alguém acredita que haja nessa gestão municipal a competência necessária para planejar a Joinville do futuro, sugiro que assine certificado de estultice em grau máximo e que encaminhe para a secretaria de idiotia e candidez. Em tempo, quando Millôr escreveu a frase: "Vocês já observaram o refinamento, o cuidado, o extremo acabamento - claro, a bom custo - com que neste país se exerce a incompetência?"

Fica a impressão que ele estaria se referindo especialmente a Joinville

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não é só pela depressão


POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES 


Há pouco mais de duas semanas, no percurso ao trabalho, ao ligar o rádio reconheci de imediato o tom agressivo da voz do comentarista Luiz Carlos Prates, como um pitbull da moral a rosnar contra o movimento Orgulho Gay. Exclamou ele: “... como ter orgulho de ser doente?!” De pronto, desliguei o rádio. Pensei: “O dia está apenas começando e meu humor não pode ser afetado por grosserias intencionalmente ofensivas”.

Mas evidentemente que fiquei meditando sobre o que acabara de ouvir. Não, aquelas palavras não poderiam ter sido emitidas por alguém com capacidade de raciocínio, de leitura e de, no mínimo, bom senso. Será que existem pessoas dispostas a consumir esse tipo de informação? 

Já fazia muito tempo que não conseguia ouvir um comentário na íntegra deste sujeito desrespeitoso e sem noção de qualquer valor humanístico, que costuma se colocar como um deus da verdade, com direito a julgar, de forma torpe, quem quer que seja só porque tem a condição de se esconder atrás de diplomas acadêmicos que, sinceramente não sei como os conseguiu.


Não o conheço pessoalmente, mas pela abordagem de seus comentários, cada vez mais agressivos, distanciados e dissociados da realidade, suscitavam-me dúvidas quanto ao índice de audiência ou de credibilidade, pois seria apostar na ingenuidade e desinformação dos telespectadores, ouvintes ou leitores, que ao consumir conteúdos preconceituosos não tivessem a prerrogativa da crítica. 

É neste ponto que entendo o aspecto da demissão do referido comunicador uma semana depois do tal comentário que escutei via rádio. Soube por outros canais de comunicação de que sua demissão foi motivada por um comentário sobre pessoas que sofrem de depressão, aos chamá-las de “covardes existenciais”.

Ou seja, sem adentrar na questão imediata de sua demissão por ser demais revoltante e desrespeitosa com milhares de pessoas, é certo que a sua visão torpe sobre as relações humanas já não mais contribuía para fidelizar consumidores de informação, tão necessário em qualquer meio de comunicação diante da “guerra” de concorrência entre empresas. 

No entanto, esta não é a primeira vez que o sujeito foi desligado de empresa de comunicação por emitir desastrosa opinião sem qualquer fundamento que sustente sua verdade particular constituída a partir de uma irresponsabilidade comunicacional, talvez por já não mais ter o que dizer para assegurar o seu papel de comunicador impactante, base sobre a qual construiu a sua fama.


A sua irresponsabilidade demonstrou não ter limites quando se trata de estufar o peito para atacar a todos que não estejam dentro de um conceito que sua visão moralista considere ser o mundo perfeito, preferencialmente, com contornos que expressem os valores cruéis de uma política militar autoritária.  
Vá pra casa, Prates! Vá destilar o teu recalque, o teu ódio no silêncio do teu espaço privado onde ninguém mais possa ouvir os teus julgamentos patéticos e preconceituosos sem assim desejar, mas tão somente por estar conectado a um meio de comunicação.

Espero não vê-lo mais sentado em frente às câmaras exibindo as técnicas de oratória (na avaliação de alguns entendidos no assunto, exemplar), enquanto semeias ideias equivocadas com requintes de ódio em relação aos temas apresentados, sem o mínimo de discernimento intelectual que justifique o sentido das frases de efeito ofensivas, revestidas sob o manto da moral e dos bons costumes de “gente de bem”. 

Não me deprima! 






quarta-feira, 22 de abril de 2015

A história do trabalho e a terceirização



POR VANDERSON SOARES

É engraçada essa coisa de trabalho. Já parou pra pensar em como chegamos nesse modelo de trabalho? O mundo ocidental foi moldado à imagem do mundo greco-romano.  E sua exuberância, com grandes monumentos e obras faraônicas forjadas pelo trabalho escravo. 

Nos idos de II a.C até o século V, a herança greco-romana sobre o trabalho era relacionada à escravidão, considerando o trabalho como algo menor, indecente ou de gente que está sendo punida.

Nosso mundo passa desta fase e chega, pomposo, à Idade Medieval em que a relação se modifica um pouco. Não é mais escravo, mas servo. A relação ainda é de dependência, onde o servo trabalha um pouco para si e o restante para o seu senhor. Mas se o sistema escravocrata estava tão bem, por que mudar? Sentiu-se a necessidade de vender e comercializar a mais pessoas, neste caso, para os escravos, que agora eram “livres”. Esse retrato europeu do trabalho foi importado e a relação de exploração do outro moldou a forma de trabalho ocidental. No Brasil e EUA, por exemplo, o sistema de trabalho foi todo edificado sob essa ótica.

Karl Marx fazia uma relação interessante sobre isso, explicando questões como preço e valor e a famosa “mais-valia” que seria a diferença entre o valor pago ao trabalhador para produzir determinado bem e o real custo para produzi-lo.

Para incrementar a história, faltava a religião entrar no jogo e dar sua contribuição relacionando o trabalho com castigo. E foi isso que se sucedeu. O judaísmo contribuiu doutrinando que o trabalho era um castigo devido à desobediência de Adão e Eva, ainda quando estavam dentro dos “portões” do Éden.  Aqui parafraseio o livro de Gênese quando Deus diz “Tirarás dela (da terra) com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida...Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gen, 3, 17-19).

Essa ideia de trabalho ser castigo se passou para o ocidente e permeia muitos até hoje, quando a igreja católica, herdando as concepções semitas, relaciona pobreza à salvação, riqueza à condenação e trabalho a algo penoso  aludido à castigo.

Continuando a viagem, nos idos dos séculos XVI o protestantismo vai trazer uma inflexão no tema, aludindo o trabalho, que nasce junto com o capitalismo, como continuação da obra divina onde o acumular e guardar será valorizado. Ainda hoje, em condições visuais de observação, é comum observar um protestante numa posição social mais privilegiada do que um católico (observação pessoal do autor). Esta relação do protestantismo com a evolução do trabalho e do capitalismo é muito bem expressada na obra de Max Weber, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, obra do século XIX, mas de uma atualidade brutal.

No Brasil, quem começou a discutir e implementar os direitos trabalhistas foi o presidente Getúlio Vargas. Hoje se comenta da legalização da terceirização, o que eu vejo como algo extremamente pernicioso para nossa sociedade. A herança escravagista e exploratória, mesmo com os direitos trabalhistas, é muito presente em muitas regiões do Brasil. Legalizando a terceirização estaremos retroagindo neste ponto. Analogamente, é mais ou menos como se estivéssemos cancelando os direitos trabalhistas, mudando os nomes e vínculos, mas não mexendo nas condições de trabalho.

É claro que causa revolta quando um trabalhador “encostado” trabalha na reforma de sua casa ou de maneira informal para fazer renda extra  ou pedindo atestados médicos por motivos inexistentes. Há de se observar também o lado das pessoas que não levam a sério suas obrigações profissionais e abusam da fragilidade do nosso sistema, mas ainda assim, concordado com o protestantismo defendo que o trabalho é a continuação da obra divina de cada um, onde a contribuição pessoal para o desenvolvimento do mundo é feita de maneira prazerosa. O que não é possível ocorrer se o trabalhador não se sentir protegido, por meio oficializado, ou seja, pela Lei.