POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não há como fugir ao poder das redes sociais.
Se os meios de comunicação social tradicionais monopolizavam a mediação da
informação, hoje esse espectro ficou muito alargado. Para o bem e para o mal. O
lado bom é que a circulação de discurso tornou-se mais democratizada. O lado
mau é que, frente a um volume enorme de inputs,
muitos patinam na hora de fazer uma gestão coerente da informação.
Um dos resultados deste novo quadro é o
surgimento dos neopolitizados (neologismo que circula por aí). Quem são?
Pessoas que antes estavam arredadas das trocas discursivas e agora encontram
lugar de expressão pública nas redes sociais. O problema é que, em expressivo
número de casos, os neopolitizados limitam-se a ser “contra tudo isso que está
aí”. Ou seja, há apenas a rejeição moralista daquilo que consideram errado.
Como caracterizar essas pessoas? Sem querer
fazer sociologia, há coisas óbvias. A rede social mais popular no Brasil é o
Facebook, com quase 90 milhões de usuários (pessoas que acessam pelo menos uma
vez por mês). Um dado interessante é o acesso por faixas etárias, que revela
uma distribuição quase equânime entre os 25 e 54 anos (o público vai até aos maiores
de 65 anos).
O que é possível concluir? Ora, muitas dessas
pessoas foram criadas nos tempos da ditadura ou apanharam os seus eflúvios. E há
coisas que demoram a desaparecer. Ainda hoje algumas influências dos anos de
chumbo parecem interferir no inconsciente social. É o que permite, por exemplo,
explicar a existência de pessoas que pedem a volta da ditadura e clamam pelo
fim da democracia.
Tendo sido criados num sem ambiente de
liberdade de expressão, muitos sentem dificuldade em compreender o debate e o
ato de esgrimir argumentos. Reclamam, reclamam e reclamam. E limitam-se a isso,
pois a indignação fica reduzida ao chorume nas redes sociais. Discursos
erráticos e rezingões não produzem mudanças.
É como diz o velho deitado: se você está contra tudo, então não está contra coisa alguma.