POR ET BARTHES
Sem palavras.terça-feira, 27 de novembro de 2012
Os botos do Cachoeira
POR JORDI CASTAN
O brasileiro gosta de acreditar em histórias fantasiosas. A magia, o sobrenatural e o fantástico florescem no nosso imaginário. Do Saci Pererê a Curupira, passando pelo Boto Tucuxi e a Mula Sem Cabeça, temos também a lenda do político honesto. Cada região do país cultua suas lendas e a população acredita nelas. No sul, de forma geral, e aqui em Joinville, em particular, a sensação é que o racional, o cartesiano e a lógica prosperam. E pouca gente acredita em jovens apostos que aparecem nas noites de lua cheia para encantar as donzelas virgens.
Um dos segredos melhor guardados desta cidade - ignorado inclusive por Ficker, que não o cita no seu livro da história de Joinville - é que desde o início da vida política da cidade grupos de gente estudada, inclusive com títulos obtidos nas mais prestigiosas universidade, se juntam aos menos escolarizados e de forma quase sorumbática se reúnem às margens do Rio Cachoeira, em maior quantidade la pelos lados do mercado municipal.
Estes encontros ritualísticos acontecem aproximadamente a cada quatro anos e o objetivo não é outro que esperar que se produza o milagre da aparição dos botos do Cachoeira. De acordo com a tradição, entre a baia de Saguaçu e o Museu de Sambaqui nas noites de lua nova, no negrume das horas mortas, no pico da preamar um cardume de botos pretos como o carvão sobe rio acima e um deles, o escolhido pelo destino, sai da água, se alastra torpemente pela margem e, de forma espasmódica, adquire forma humana e se converte no escolhido. Ele será o candidato que na data certa será ungido pelas urnas e se converterá em burgomestre da vila. Encantará eleitores com seus discursos melífluos e enamorará eleitoras com seu olhar penetrante
Neste ano alguma coisa estranha deve ter acontecido. Há preocupação entre os estudiosos das lendas sambaquianas, que entre outras teorias culpam a feérica iluminação que agora margeia o rio, consideram eles se não seria ela a que tenha ofuscado os botos e tenha impedido sua migração. A lenda dos botos do Cachoeira já esteve ameaçada no passado recente quando um prefeito iniciou a construção de um muro de concreto margeando o rio.
Há preocupação com que os encantadores de eleitores que pregavam a Joinville fantástica acabem desaparecendo. Os mais antigos juram que nada impedira que os botos reencontrassem o seu caminho e voltem periodicamente para cumprir o seu rito sagrado de engabelar eleitores, oferecendo sonhos e deflorando virgens com seu olhar.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
As imagens da bomba em Oslo
POR ET BARTHES
As autoridades norueguesas divulgaram as imagens da explosão da bomba, no atentado perpetrado por Anders Behring Breivik no ano passado. Não dá para entender o que é dito em norueguês, mas as imagens são bastante esclarecedoras.As cotas e os heróis da direita
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Reinaldo Azevedo e Joaquim Barbosa devem ser, neste momento, dois dos ídolos mais queridos da direita hidrófoba. O primeiro por causa de um estilo marcado pela pouca cultura, uma enorme truculência e uma indisfarçável raiva de classe (não dá para chamar ódio de classe, porque é patológico e não sociológico). O segundo - talvez involuntariamente - virou queridinho da Reaçolândia por ter mandado engaiolar os caras do mensalão.A popularidade de Joaquim Barbosa entre os conservadores não para de crescer. O delírio é tanto que, imaginem, o homem já foi comparado ao Batman. Santa loucura! Mas tem explicação. É que a direita hidrófoba está louquinha para ver se ele consegue jogar a tarrafa sobre o ex-presidente Lula. O fato é que essa gente, há muito tempo órfã de resultados nas urnas, move-se pela sede de vingança. E espera que o novo ministro do STF seja o instrumento dessa caça ao homem. A torcida é por uma espécie de duelo entre morcego e molusco.
Essa sublimação que os conservadores fazem de Joaquim Barbosa é tão insana que já começam a confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obras. Para a direita, Barbosa é uma espécie de super-homem da moralidade. E agora até surgiu uma campanha nas redes sociais a dizer que ele chegou à presidência do STF sem precisar de cotas. Ok... a questão precisa de um esclarecimento. O fato é que Joaquim Barbosa é a favor das cotas.
É aqui que os destinos dos dois heróis da direita hidrófoba se cruzam. Mas a coisa fica estranha. O que move a direita não é um ideário político, mas apenas retaliação: se é contra Lula é meu aliado. Quando manifestou apoio às cotas, Joaquim Barbosa foi alvo de duras críticas de... adivinhem quem? Ora, foi o próprio Reinaldo Azevedo, esse oráculo da direita iliterata, a detonar o ministro do STF. No seu entender, o negro e pró-cotas Joaquim Barbosa dividia o mundo entre bem e o mal. O bem do lado dos defensores das cotas, o mal do lado dos opositores.
Foi assim, nas palavras do próprio Tiozinho Rei, num texto com alguns meses :
- "É surrealista! Qualquer ministro branco que eventualmente se opusesse às cotas, então, estaria, segundo Barbosa, defendendo um interesse pessoal. Já Barbosa, negro e pró-cotas, só tem esse pensamento porque é um amigo da humanidade. O Bem de um lado, o Mal de outro. Conviva sem reação com esses absurdos retóricos e argumentativos quem quiser. Eu não convivo. E não venham com a história de que Barbosa disse ou quis dizer outra coisa. Está tudo gravado. Está lá. Ele disse e quis dizer o que disse".
Pois é, gente. O problema é que os conservadores gostam apenas da espuma dos fatos. E sofrem de uma espécie de glaucoma político: veem apenas o que querem ver, acreditam apenas no que querem acreditar.
Em tempo: Joaquim Barbosa tem muito mérito em chegar ao lugar onde chegou. Mas talvez tenha chegado com um atraso histórico. Porque se o sistema de cotas tivesse sido implantado antes, talvez um negro chegar ao cargo não tivesse sido tão demorado.
Construir a marca Joinville - 3* (final)
QUE CIDADE EM 2028? – É preciso que
o próximo prefeito consiga ver para além das eleições e tenha coragem de lançar
um olhar sobre o futuro. A questão é a seguinte: que cidade Joinville quer ser
em 2030 ou 2040? Parece tempo demais para os políticos de vistas curtas, mas é
um trabalho que precisa ser feito. E com método, organização e ambição.
Criar uma marca é
também ter respostas para perguntas simples que um estrangeiro ou um brasileiro
de outra região poderia fazer.
- Por que eu devo
fazer turismo em Joinville?
- Por que a minha
empresa, que é da geração digital, iria para Joinville?
- Por que eu deveria
considerar Joinville uma opção cultural?
- Por que eu, que sou
um “cérebro”, devo transferir o meu quociente intelectual para Joinville?
A maioria dessas
perguntas teria respostas insatisfatórias. Porque não existe uma idéia clara do
que Joinville representa na mente das pessoas. Hoje a cidade é um bom destino
para os migrantes e para as empresas que vivem pela lógica das chaminés. Mas o
mundo vive tempos pós-industriais e é necessário cada vez mais investir num
progresso limpo e tentar atrair cérebros. Joinville quer ter uma imagem
parecida com o Silicon Valley ou com a cidade de Cubatão?
COMO CRIAR A MARCA? – Tudo começa
com uma decisão estratégica. É preciso que a cidade assuma uma vocação e, a
partir daí, definir um rumo para o futuro. É preciso perguntar se Joinville
quer ser a cidade da ética protestante, de um rio de águas negras, professores
sem produção intelectual, de uma economia em que tudo gira à volta das
chaminés? Não parece.
A marca-Joinville
(que, repito é mais do que um slogan e um logotipo) tem que apontar para o
futuro, para a ecologia, para a sociedade do conhecimento, para as tecnologias
da informação, para os cérebros, para o bom turismo, para uma cultura
cosmopolita, para uma mídia moderna, para políticos confiáveis etc. Mas é
preciso uma administração pública disposta a escolher esse caminho de maneira
empenhada.
Aliás, repito para que
fique claro, criar uma marca-cidade não é uma operação de cosmética e muito
menos uma simples campanha de publicidade. A marca não vive de frases, anúncios
ou filmes, mas de um conceito. É preciso mudar mentalidades, porque não adianta
criar uma percepção que não encontra eco na realidade.
A criação da
marca-Joinville exige obras concretas, mas é preciso recusar o imediatismo e
investir num objetivo estratégico de longo prazo. Mais sentido de missão, menos
eleitoralismo. É essencial, acima de tudo, promover a integração de
inteligências para desenvolver soluções criativas.
Ou seja, é preciso
levar a imaginação ao poder.
* Texto publicado há quatro anos no jornal A Notícia mas que, na opinião do autor, ainda permanece válido.
domingo, 25 de novembro de 2012
Vettel tricampeão!!!
O sexto lugar de Sebastian Vettel foi mais do que suficiente para lhe garantir o seu terceiro campeonato consecutivo.
O GP do Brasil foi o reflexo da temporada, embargado de muita emoção e competitividade.
Para finalizar, ainda, Felipe Massa voltou ao pódium no seu país, ocupando o terceiro lugar, lhe fazendo gotejar felicidade de seus olhos, numa vitória pessoal.
Parabéns Vettel e Alonso pelo brilhante campeonato e disputa até as últimas voltas.
Construir a marca Joinville - 2*
A MARCA-CIDADE – Era natural que
a tendência das marcas-país chegasse às cidades. E vale salientar que o desenvolvimento de uma
marca é mais simples nos municípios, uma vez que estamos a tratar de um meio
cultural mais homogêneo e de fácil circunscrição geográfica. É inconcebível,
portanto, que quase nada tenha sido feito em Joinville ao longo de décadas.
O investimento na
imagem é algo que algumas cidades vêm fazendo há muito tempo. E por isso hoje
são marcas fortes. Quem não se lembra do caso do designer Milton Glaser, em
Nova Iorque? Há 30 anos, a cidade que nunca dorme efetivamente perdeu o sono.
Havia muita violência, as ruas tinham mau aspecto e os turistas simplesmente
desapareceram. A administração de Nova Iorque estava à beira da falência.
Foi aí que as
autoridades decidiram investir numa campanha para devolver a auto-estima aos
nova-iorquinos e conquistar os forasteiros. E lançaram as peças publicitárias
com o famoso “I Love NY”. Foi nesse momento que surgiu o lance tão simples
quanto genial de Milton Glaser, que criou a marca “I – coraçãozinho – NY”. Hoje
a cidade tem uma marca fortíssima.
Aliás, não é o único
episódio a envolver um designer. Um caso interessante é o de Manchester, na
Inglaterra, que há alguns anos contratou o designer Peter Saville para ocupar
um cargo inusitado: diretor de criação da cidade. Manchester era uma cidade
feia, chuvosa, triste. E precisava construir uma marca.
Depois da explosão de
uma bomba do IRA, que em 1996 destruiu o centro vitoriano da cidade, as
autoridades decidiram reconstruir o local. E mais: essa seria a semente para
mudar a imagem da cidade. Peter Saville chegou ao conceito de “Manchester
Original Modern”. E faz questão de explicar que não é um slogan, mas um
significante que revela a nova Manchester. Há uma série de ações concretas por
trás desse conceito.
A MANCHESTER CATARINENSE – A experiência
inglesa pode ser um bom exemplo para Joinville que, por coincidência, ainda é
conhecida por muita gente como a Manchester Catarinense. Há pontos comuns entre
as duas cidades. Muitos negativos. Mas os ingleses perceberam o problema e se
lançaram na construção da marca e mudança de imagem. E se a Manchester original
quis mudar...
Construir uma marca é um trabalho difícil e os resultados demoram a
aparecer. E, claro, não dá votos no curto prazo. Talvez isso explique o fato de
nenhum político no poder se ter dedicado ao tema. Mas uma coisa é certa: quem investiu – e investiu bem – na construção da
marca-cidade não tem do que se queixar.
Milão é moda. Nova
Iorque é efervescência. Paris é romance. Barcelona é cultura. Tóquio é
modernidade. E Joinville é... Fica a pergunta: como a cidade é percepcionada dentro
e fora das suas fronteiras? O fato é que não existe uma imagem forte e
sustentada, porque as autoridades nunca se preocuparam em elaborar um projeto a
sério.
As pessoas
ingenuamente alimentam a ilusão de que basta escolher um tema e escrever
frases. Joinville pode ser, por exemplo, a Cidade das Flores, Cidade das
Bicicletas, Cidade da Dança, a Manchester Catarinense ou um pedaço da Europa no
Brasil. Mas nenhuma dessas imagens se firmou porque não é fruto de um trabalho
estratégico bem articulado. E porque talvez Joinville não seja nada disso.
(continua amanhã)
* Texto publicado há quatro anos no jornal A Notícia mas que, na opinião do autor, ainda permanece válido.
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