terça-feira, 9 de maio de 2017

Bairro Costa e Silva é nosso maior monumento à ditadura



POR IZAIAS FREIRE*

Uma hipótese que desenvolvi em recente pesquisa sobre Joinville durante o regime civil-militar instaurado em 1964 foi a de que o momento em que mais se fez sentir a repressão na cidade foi durante o governo Geisel, ao contrário dos grandes centros urbanos do país. E, no entanto, Geisel praticamente caiu no esquecimento. A memória coletiva na cidade tem em Costa e Silva a principal referência acerca das marcas do regime de 1964 em nosso passado recente. Isso talvez aconteça pelo fato de o general-ditador constituir-se no mais visível monumento à ditadura no cotidiano da cidade, afinal, não se trata de um logradouro qualquer, Costa e Silva dá nome a um de seus principais bairros.

Observe os demais monumentos à ditadura em Joinville. Poucos sabem que na galeria dos títulos honoríficos concedidos pelo legislativo da cidade figura o de cidadão honorário de Joinville dado a Médici em 1971. Quais transeuntes já se deram conta da Praça Marechal Castelo Branco no centro da cidade? Estabelecimentos de ensino como as escolas E.E.B. Presidente Médici e E.M. Presidente Castelo Branco continuam como monumentos ao regime de 1964, embora sejam estes mais transitórios: escolas são fechadas o tempo todo e junto com elas vão-se os vestígios desse passado. Quem se lembra do retrato de Geisel no Conselheiro Mafra? Quem ainda se lembra da Escola de 1° Grau 31 de Março no Iririú? São monumentos contingenciais, com o tempo deixam de existir, aos poucos tendem a desaparecer da memória coletiva. Quando a referência é um bairro, por outro lado, o monumento tende a perpetuar-se.

O monumento a Costa e Silva constitui-se, na acepção do pensador alemão Walter Benjamim, um documento à barbárie, cujo processo de transmissão tem passado de um vencedor a outro, configurando-se assim como um poder material e simbólico que tem atuado no reconhecimento público desse vencedor.

O que está em jogo na mudança de nome do bairro Costa e Silva é a identificação ou não com esse monumento. Ou seja, passados os anos, as pessoas na cidade sentem-se representadas pelo ditador que instaurou o AI-5? A população precisa decidir, a despeito de todos os inconvenientes que implicam na mudança de nome de um bairro, se quer continuar a conviver com a referência a um regime que exilava, prendia, torturava e matava seus oponentes. Se aceita manter um monumento ao autoritarismo na constelação de seu patrimônio histórico em tempos de democracia.

É fato que o legado de Costa e Silva deixou marcas para cidadãos joinvilenses: pessoas foram presas, torturadas, censuradas, investigadas, alvos dos temidos serviços de informações como o SNI e o DOPS, outras perderam emprego, entraram para “listas negras” de personas não gratas nas fábricas locais.

Embora a nossa tradição histórica tenha sido a da conciliação, está mais que na hora de abrir esse debate que só cabe a uma cultura política democrática. E não estamos a tratar de algo incomum. Essa tem sido a tendência do movimento da história nas últimas décadas. Quando os regimes autoritários caíram na Europa, seus monumentos tiveram a mesma sorte. Assim foram destruídos os monumentos nazistas, stalinistas e fascistas de um modo geral. O monumento histórico só é legítimo quando não nega as lutas e contradições que o envolveu, quando não visa naturalizar a história do vencedor sobre os vencidos.

*Izaias Freire é Mestre em História, pesquisador da ditadura civil-militar em Joinville e membro do Movimento pra mudar o nome do bairro Costa e Silva.

Um primeiro encontro...

POR ET BARTHES

Porque há casos em que é sempre um primeiro encontro.



segunda-feira, 8 de maio de 2017

A maior cidade do estado também tem os maiores problemas

POR JORDI CASTAN
Joinville vive dividida entre o seu sonho de ser grande e sua necessidade de ser melhor. Fez a pior escolha e renunciou a ser melhor, para seguir crescendo com a mesma lógica que utilizam as células cancerígenas. O resultado é o título de maior cidade do Estado. Ora, Santa Catarina é o único estado em que a capital não tem a maior população.

Ser a maior só garante que os problemas que Joinville sejam também os maiores. Os indicadores são perversos e mostram o quanto a cidade é penalizada por essa ânsia de crescer. Um crescimento sem planejamento e sem recursos. Podemos acrescentar ainda: sem ideias, sem visão e sem outro modelo que não seja o de continuar crescendo. Há, no imaginário dos dirigentes locais, a ideia consolidada que é possível seguir crescendo indefinidamente.

É um conceito que já tem sido abandonado pela maioria de cidades modernas e avançadas, que entendem que não é possível crescer sem que se estabeleçam parâmetros e indicadores de qualidade para a população. O modelo das cidades grandes é o que se baseia ainda no princípio de economia linear, aquela que precisa de recursos infinitos num mundo finito.
As cidades inteligentes estão orientadas no modelo da economia circular. Cidades pensadas para ser sustentáveis. Para ser mais econômicas e eficientes. Para oferecer mais qualidade de vida aos seus habitantes.

Os pedestres ganham mais espaço e o espaço público é planejado para permitir que haja uma menor necessidade de deslocamentos de um extremo ao outro da cidade. O transporte individual é desestimulado e é cada vez maior o número de cidades que fecham as áreas centrais aos veículos individuais. Nos próximos 10 anos, já haverá cidades que não permitirão o acesso aos carros.


Ainda há tempo para reagir, mas a mudança exigiria um esforço enorme do poder público, que parece aceitar bovinamente a sua incapacidade para fazer e fazer bem feito. Se isso não fosse suficientemente grave, ainda por cima o joinvilense tem desistido de acreditar que outra Joinville é possível. E aceita a inépcia como modelo de gestão e o tamanho como modelo de cidade.

Joinville cresce muito e continua crescendo mal. As obras públicas são mal planejadas e pior executadas. A quantidade de imóveis públicos abandonados ou em péssimo estado de manutenção é a melhor prova do descaso com que é tratada a coisa pública.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Nón faltava dinheirro, faltava xestón. Agorra é um marravilha...

POR BARON VON EHCSZTEIN
Esse pessoal da Chufa Ácida precisa de um surra de cinta. Todo dia tem alguém falando do nossa querrida prefeito. A Xordi Castan põe foto parra disser que a Boulevard Cachoeirra esdá apodrecendo. Depois tem aquela vermelhinha do Raquel Migliorrini, que fica apontando a dedo parra tudo que tem o mão do prefeiturra. Ontem foi aquela moça nova, a Fahya Curry, que teve o despautérrio de juntar a prefeito e fraldas parra idosos na mesmo texto. Nón pode ser assim, suas cretinos.

Freunde, esdou preocupado com a nossa querrida prefeito. Faz tempo que nón vejo ele e tem pessoas jurrando que ele dessaparreceu. Tem até xente imaxinando um coissa mais grave: que todo o administraçón do prefeiturra sumiu. Todo mundo. Porque o citade parece esdar abandonada. Ninguém mais aparrece. Mas deve ser mais um brilhante esdradégia da nossa querrida prefeito. Keine Antwort ist auch eine Antwort. A silêncio também fala. Eu concordo. As xestores xeniais fassem muito e falam pouco.

Tem umas xarropes falando que a nossa querrida prefeito esdá trabalhando no surdina parra ser governador da Estado. Gemein Gerücht ist selten erlogen. O povón diz que as boatos têm uma pouquinho de verdade. Sou contra. A nossa querrida prefeita esdá a fasser o melhor gestón do histórria do citade e tem que ficar aqui. Nón pode? Entón tem que mudar o lei, porque porque nós nón querremos mudar de prefeito. Tem que ficar até 2030, parra terminar a sua marravilhoso projeto futurrista.

Também tem xente dissendo que a nossa querrida prefeito está fazendo máxica e tirrando coelhos do cartola parra pagar os contas do prefeiturra. É mentirra. Nón faltava dinheirro, faltava xestón. Agorra tudo esdá funcionando no perfeiçón no nosso citade. Nón tem mais burraco nos ruas, as transportes são bons, a trânsito circula bem, o saúde funciona bem, as parques dos crianças nón têm mato. É por isso que a nossa querida prefeito deu esse sumidinha. Nach getaner Arbeit ist gut ruhn. Trabalho feito, descanso merrecido.

E fica uma avisso: nón acreditem no que essas cretinos da Chufa Ácida dizem, porque essa gente é meio forra do casinha (e nón pagam a ipeteú). Alle Tassen im Schrank. 

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Entre o "não fazer" e o "fazer perfeito" está uma cidade abandonada


POR RAQUEL MIGLIORINI
A Secretaria de Administração da Prefeitura de Joinville é um caso a ser estudado por uma equipe multidisciplinar. O prefeito do vilarejo germânico se orgulha de nunca ter sido envolvido em escândalos e atribui ao "bom funcionamento" da secretaria em questão.

Muito bem. Ao abrir o Jornal A Notícia no dia 02/05, me deparo com a manchete “Abrigo Animal está ameaçado por falta de álvará de localização e pode não renovar convênio” ao lado da foto de dois lindos cãezinhos de lá. O convênio entre a prefeitura e o Abrigo ocorre desde 2006.

Em 2013, na primeira gestão de Udo Döhler, todos os convênios foram refeitos porque a secretaria disse que tudo o que havia sido feito até então estava errado e os novos funcionários, e somente eles, sabiam como fazer certo. Fico imaginando os demais servidores da pasta, como não se sentiram. Acontece que nem em 2013 , e nem nunca, o Abrigo Animal teve alvará de localização, simplesmente porque está em área irregular. O convênio é renovado anualmente e foram necessários 4 anos para que pessoas tão competentes percebessem isso? E o que farão com centenas de cães e gatos, caso resolvam levar à termo a decisão da não-renovação? A atual gestão se interessa em manter esse convênio? A questão não é somente burocrática e tem que ser resolvida. 

Numa outra situação, podemos questionar porque o elevador do Mirante, com menos de dois anos de uso, está quebrado e assim permanece. Uma secretaria competente teria feito a licitação para a manutenção do equipamento antes da inauguração, como foi solicitado. Mas, por excesso de zelo, vamos chamar assim, com os termos de referência apresentados, esse processo não aconteceu. Não somos tão bons gestores como o prefeito e mesmo assim sabemos que um aparelho parado e sem manutenção se deteriora muito mais rápido. E lá se vai nosso dinheirinho...

Nessa mesma linha temos a manutenção do Parque Morro do Finder, já mostrado aqui. O investimento feito para a revitalização da Unidade de Conservação do Bairro Bom Retiro/Iririú foi perdido pelo total abandono do local. O mirante do Finder está em processo de licitação desde 2014. Essa eficiência é demorada mesmo.

O texto do Jordi Castan, publicado no dia 1º de Maio, aqui no blog, mostra outros lugares sem manutenção e abandonados. Nem o centro da cidade escapa da deterioração. Estamos entregues a uma administração que não se envolve em escândalos não pela lisura dos processos, mas simplesmente por não fazer a máquina andar.

Tudo isso me fez lembrar da imagem dos lápis e da analogia que ela traz para essa administração: você pode ser um lápis bem bonito e bem apontado, e parecer melhor perto dos lápis gastos e sem ponta. Só vale lembrar que o lápis bonito nunca foi usado, ou nunca colocou a mão na massa.