POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O maior problema do Brasil é aquilo que podemos chamar “apartheid social”. O quê? É o fosso que foi sendo escavado entre os ricos e os pobres, ao longo da história. Em termos culturais, o resultado é a negação do outro pelas elites. O rico é, o pobre não é. O condomínio é, a favela não é. A escola privada é, o ensino público não é. O carrão é, o ônibus não é. O diplomado é, o sem diploma não é.
Este preâmbulo é apenas para introduzir um episódio que, um dia destes, fez sentir uma certa vergonha alheia. O dramaturgo Aguinaldo Silva, autor de novelas da Rede Globo decidiu, do nada, mostrar ao país o lustro da sua “superioridade” intelectual. Como? Ora, voltando ao velho e surrado tema do Lula “analfabeto”. O empregado dos Marinho publicou um tuíte acintoso, onde nem tentou disfarçar o seu ódio de classe. Eis...
“Hoje é o Dia do Leitor. E eu quero aproveitar para perguntar ao favorito nas pesquisas para futuro Presidente do Brasil: que livro o Lula está lendo neste momento? Qual foi o último livro que ele leu e quando foi? Ou para ser mais preciso: alguma vez na vida ele leu algum livro?”, regurgita o autor noveleiro. Haveria muito a dizer, mas fico por dois temas: o pedantismo típico das elites e o culto do livro num país pouco dado à leitura.
Aguinaldo Silva está a ser preconceituoso, arrogante e presunçoso. Uma atitude que nada tem a ver com as luzes, com o esclarecimento ou com a condição do intelectual. Apenas tem um papel deplorável. Aliás, neste plano específico Lula parece ser muito mais culto que Aguinaldo Silva. Não adianta ler livros se não se aprende a ler o mundo. E na arte de ler o mundo parece que o analfabeto é o autor da Globo.
E também temos o culto ao livro. No Brasil, ler livros ainda é um fator de distinção social. Eu leio, por isso sou melhor. Deveria ser um não-assunto, mas infelizmente não é. Mas os verdadeiros analfabetos são os que sabem ler e não aprendem com isso. Porque as pessoas são o resultado das suas leituras (ou não). Aliás, o meu pai, que só faz a escola primária, repetia uma frase exagerada, mas com algum sentido: um doutor é apenas um burro carregado de livros.
Aguinaldo Silva sente-se à vontade para ser pedante e apontar o dedo cheio de preconceito ao ex-presidente Lula. E isso é sinal de que não sabe ler ou de que tem lido as coisas erradas. E se o episódio passa batido no Brasil, isso nunca aconteceria num país desenvolvido. Enfim, como sempre digo, o terceiro mundo não é um lugar, mas um estado da mente.
É a dança da chuva.
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
segunda-feira, 8 de janeiro de 2018
O que esperar de 2018? Que em 2019 tudo se resolva...
POR JORDI CASTAN
Janeiro é sempre tempo de fazer promessas, criar
expectativas e de até mesmo previsões para o ano que inicia. E 2018 tem tudo para ser
um ano emocionante. O mês começou com a nomeação de uma ministra do Trabalho
que não cumpre a legislação. E ainda trará o julgamento, no dia 24 de janeiro, do
ex-presidente Lula, em Porto Alegre. Lula pode sair de lá para a cadeia ou para
o Planalto.
Fevereiro é tempo de carnaval, de festa, de alegria e de
esquecer tudo. Como todos os anos, o Brasil será o pais de faz de conta, o País de
Alice. Depois seria o tempo de começar a trabalhar. Mas essa é outra historia.
Março e tempo de celebração em Joinville. Talvez celebrar que ainda temos pela frente mais três anos de inépcia e incompetência. Ninguém deve esperar novidades por estes lados. O que não aconteceu até agora, continuará sem acontecer.
Abril traz novos feriados. E nada melhor para um ano
eleitoral que começar a conhecer os candidatos que estarão no páreo. Começa o período
de desincompatibilizações. E seguiremos com os mesmos nomes
de sempre. Quem viver verá. Pouca chance de mudanças.
Maio já é tempo de começar a falar de futebol. A Copa do Mundo esta aí e nada melhor para o Brasil do que uma abundância de pão e circo. Aliás, cada vez mais circo
e menos pão.
Junho é tempo de deixar a bola rolar. O planeta vai parar
para ver o maior espetáculo da terra. A CBF deverá ter um novo presidente e é curioso imaginar quem poderá ser o candidato eleito. Como dizia um velho
conhecedor do mundo da bola: "não há virgens na zona".
Em Julho, acabada a Copa, é tempo de falar de política. A
campanha já estará a pleno vapor, mesmo que tecnicamente não tenha começado. De
fato, há candidato que está em campanha faz mais de dois anos. Em Joinville, não devemos
ter nenhuma mudança significativa e tudo deve seguir como até hoje.
Agosto é o mês do cachorro louco e tempo de alianças improváveis,
de ver inimigos de ontem se abraçarem e compartilharem cama e mesa.
Setembro é tempo de festas e nada melhor para dar uma relaxada
depois de tanta tensão e emoção. A campanha seguirá e a promiscuidade aumentará
um ou dois degraus.
Outubro será o ápice de momento político. O clímax, o suprassumo do onanismo. Ainda que para os melhor classificados reste ainda uma segunda rodada em novembro.
Novembro, enquanto Joinville prepara a Festa das Flores, o
Brasil vive um momento histórico. O grande dia chegou e o resultado das urnas
garante que nada vai mudar. A máquina política funcionou, a perfeição o pais
segue com passo firme em direção a um futuro incerto. Porque seja qual for o resultado
das urnas, a única certeza é que nada vai mudar e que seguiremos escutando os
mesmos discursos, as mesmas falácias e as mesmas mentiras.
Dezembro é hora de pensar em 2019, tempo de fazer novas
promessas e acreditar que as coisas mudarão, sem entender que o Brasil, Santa
Catarina e Joinville não vão mudar nunca se a mudança não começa por nós
mesmos.
E que venha 2019
Nem sempre as coisas são o que parecem
POR ET BARTHES
Na vida, como ensinam os filósofos, é preciso tomar cuidado com as verdades... porque elas podem ser apenas uma questão de perspectiva.sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
30 anos sem Henfil: o humor ajudou a derrubar a ditadura
POR DOMINGOS MIRANDA
Há momentos em que o humor é a única arma contra a opressão. O mineiro Henrique Souza Filho, o Henfil, foi quem encarnou isto de forma mais apurada. Numa época de controle absoluto da imprensa, durante a ditadura militar, ele conseguiu driblar a censura e passar para os leitores, através de seus personagens, aquilo que estava engasgado na boca dos brasileiros. Os fradinhos Cumprido e Baixinho, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo, o paranóico, são alguns dos seus personagens mais marcantes. Infelizmente, no dia 4 de janeiro de 1988, Henfil morreu, aos 43 anos de idade.
Até na morte ele contribuiu para denunciar o descaso do governo para com a saúde. Henfil e seus dois irmãos, o sociólogo Betinho e o músico Francisco Mário, eram hemofílicos. Nas transfusões de sangue, os três foram contaminados pela Aids, numa época em que não havia tratamento para a doença. A vontade de viver era enorme, mas a doença foi implacável com os irmãos. Chico Mário morreu em 14 de março de 1988 e Betinho em 9 de agosto de 1997. Diante da repercussão destes casos, a coleta de sangue passou a ser mais rigorosa.
Henfil era cartunista, jornalista e escritor. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país, mas se sobressaiu no jornal alternativo O Pasquim. Numa entrevista com o senador Teotônio Vilela ele perguntou: “E as eleições diretas, quando?” A resposta “diretas já” transformou-se no nome da maior campanha popular da história do Brasil e título de um de seus livros. O cartunista sempre usava uma crítica ácida para denunciar os abusos das autoridades, a fome, a hipocrisia e a falta de liberdade.
Como escritor também angariou fervorosos leitores, principalmente com a coluna “Cartas da mãe”. Ao escrever para a tradicional matriarca mineira sofredora, que tinha um filho no exílio e o outro correndo o risco de ser preso por causa de suas diabruras na imprensa, falava de assuntos que continuavam na penumbra. Foi através destes escritos que a maior parte da população tomou conhecimento que 10 mil brasileiros estavam exilados e proibidos de retornar ao país. Com a anistia, lá estava toda a família para receber Betinho, que iria criar a Ação da Cidadania contra a Fome, Miséria e pela Vida, sendo indicado para o prêmio Nobel da Paz.
Um gênio da literatura, Guimarães Rosa, que entendeu como ninguém a alma humana, disse: “O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Henfil nos trouxe alegria misturada com denúncia e conscientização. Ficou pouco tempo entre nós, mas nos ajudou a ter esperança em um dos momentos mais trágicos da vida política nacional. Por causa deste seu belo trabalho ele continua presente na nossa mente, não morreu. Mas, faz uma enorme falta para todos aqueles que amam a liberdade e a justiça.
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Noivas de preto? Sim... essa já foi a cor
POR JANDIRA FERRAZ
Tudo é histórico. Portanto, a moda também. E hoje – a convite do blog - trago uma curiosidade que pode interessar aos leitores: alguma história dos vestidos de noiva. Sabem a tradição de que o branco significa pureza? Talvez não tenha sido sempre assim.
Há relatos de que a cor preferida das noivas até o século 19 era o preto, apesar de elas também usarem o azul, o marrom e o cinza. Se a família da moça tivesse dinheiro, não havia dúvida: era um vestido preto de seda. E tinha uma explicação. Era possível usar o vestido em outras ocasiões festivas. Havia noivas que escolhiam vestidos em preto, mas com tom opaco, porque estes podiam ser reutilizados para a missa, enterros etc.
É que naquela época, antes da Revolução Industrial, ter um vestido para usar uma única vez era um desperdício imperdoável. O problema com o branco – e as cores claras – é que sujava rápido e era pouco prático para usar em outros lugares. E não vamos esquecer que os casamentos naquela época não tinham muitos “eu-te-amos”, porque eram arranjados pelos pais como um negócio.
A coisa só mudou por volta de 1940, por causa da Rainha Vitória que, no seu casamento com o príncipe Albert, decidiu usar um vestido branco. E se a monarquia usa, então vira moda. Todos vocês, leitor e leitora, já devem ter ouvido falar em moral vitoriana, que prega a contenção sexual. Talvez seja daí a origem dessa crença: o vestido branco é sinal de pureza. Ou seja, um fato em sintonia com a “valorização” de virgindade.
E por falar em aristocracia e roupas negras, não foi a primeira vez que a cor esteve na moda. Um pequeno recuo no tempo permite encontrar o famigerado rei Felipe II, todo-poderoso na Espanha no século XVI. Era a época dos grandes descobrimentos marítimos e, por causa da riqueza do império, a corte espanhola vivia a esbanjar. Mas apesar do clima de prosperidade, as cores desapareceram do mapa.
Tudo por causa de Felipe II, um fanático religioso que deixou a Inquisição como grande marca para a história. E na hora de se vestir, adivinhem a cor escolhida: o monarca só se vestia de preto, para ficar parecido com os monges. Nessa altura os espanhóis mandavam no mundo e a cor virou uma moda mundial.
Tem outra coisa curiosa. Se o leitor e a leitora forem dar uma olhada nos retratos dos espanhóis da época vão perceber que todos usam cavanhaque. Também tem explicação. É que os homens usavam uma gola tão apertada e alta que quase chegava às orelhas. Se tivesse barba, os movimentos ficavam difíceis porque os pelos enroscavam. Foi o que fez com que os espanhóis abrissem mão da barba e passassem todos a usar só costeleta e cavanhaque.
Coisas da história e da moda.
s
Tudo é histórico. Portanto, a moda também. E hoje – a convite do blog - trago uma curiosidade que pode interessar aos leitores: alguma história dos vestidos de noiva. Sabem a tradição de que o branco significa pureza? Talvez não tenha sido sempre assim.
Há relatos de que a cor preferida das noivas até o século 19 era o preto, apesar de elas também usarem o azul, o marrom e o cinza. Se a família da moça tivesse dinheiro, não havia dúvida: era um vestido preto de seda. E tinha uma explicação. Era possível usar o vestido em outras ocasiões festivas. Havia noivas que escolhiam vestidos em preto, mas com tom opaco, porque estes podiam ser reutilizados para a missa, enterros etc.
É que naquela época, antes da Revolução Industrial, ter um vestido para usar uma única vez era um desperdício imperdoável. O problema com o branco – e as cores claras – é que sujava rápido e era pouco prático para usar em outros lugares. E não vamos esquecer que os casamentos naquela época não tinham muitos “eu-te-amos”, porque eram arranjados pelos pais como um negócio.
A coisa só mudou por volta de 1940, por causa da Rainha Vitória que, no seu casamento com o príncipe Albert, decidiu usar um vestido branco. E se a monarquia usa, então vira moda. Todos vocês, leitor e leitora, já devem ter ouvido falar em moral vitoriana, que prega a contenção sexual. Talvez seja daí a origem dessa crença: o vestido branco é sinal de pureza. Ou seja, um fato em sintonia com a “valorização” de virgindade.
E por falar em aristocracia e roupas negras, não foi a primeira vez que a cor esteve na moda. Um pequeno recuo no tempo permite encontrar o famigerado rei Felipe II, todo-poderoso na Espanha no século XVI. Era a época dos grandes descobrimentos marítimos e, por causa da riqueza do império, a corte espanhola vivia a esbanjar. Mas apesar do clima de prosperidade, as cores desapareceram do mapa.
Tudo por causa de Felipe II, um fanático religioso que deixou a Inquisição como grande marca para a história. E na hora de se vestir, adivinhem a cor escolhida: o monarca só se vestia de preto, para ficar parecido com os monges. Nessa altura os espanhóis mandavam no mundo e a cor virou uma moda mundial.
Tem outra coisa curiosa. Se o leitor e a leitora forem dar uma olhada nos retratos dos espanhóis da época vão perceber que todos usam cavanhaque. Também tem explicação. É que os homens usavam uma gola tão apertada e alta que quase chegava às orelhas. Se tivesse barba, os movimentos ficavam difíceis porque os pelos enroscavam. Foi o que fez com que os espanhóis abrissem mão da barba e passassem todos a usar só costeleta e cavanhaque.
Coisas da história e da moda.
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