quinta-feira, 25 de maio de 2017

A crônica de um dia incomum... entre as 6 e as 10

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O dia amanhece ensolarado nesta manhã de primavera em Lisboa. Tomo o pequeno almoço (café da manhã) e, enquanto passo a manteiga no pão, ouço o apresentador do telejornal a falar de um país onde manifestantes invadem e queimam prédios de ministérios. É a Venezuela, penso. Não. É o Brasil. Um país onde um presidente continua acantonado e se recusa a renunciar. É um morto político. Nunca foi um governo, mas agora virou uma versão classe c do “the walking dead”.

No trem, a caminho do trabalho, um cartaz das Conferências do Estoril. O painel de conferencistas é formado por pessoas que “mudaram o mundo”. Gente de peso. Madeleine Albright, ex-secretária de Estado de Bill Clinton, é a cabeça de cartaz. O time conta ainda com quatro ganhadores do Nobel da Paz e figuras como Oliver Stone, Nigel Farage ou Edward Snowden (por videoconferência). Num cantinho, aparece a foto de Sérgio Moro. Não dá para conter o riso com o erro de casting.

A viagem deve durar uns 20 minutos. Aproveito para entrar no Twitter, que é onde encontramos a informação em primeira mão. Tenho uma notificação. É uma mensagem de uma pessoa cujo maior mérito na vida foi nascer de pais ricos, a me apontar o dedo e a falar em “corrupto de estimação”. Podia encetar uma discussão, mas o cara é um seguidor de Jair Bolsonaro. Quer dizer, não tem os dois dedinhos de testa necessários para construir uma frase com sentido. Em frente...

As notícias são muito más, todos sabemos. Vejo a foto de um policial com uma arma na mão ameaçando atirar em manifestantes. Talvez seja mesmo melhor chamar o Exército. Mas para tirar as armas desses policiais mal preparados. Que perigo. Uma pessoa fala em Aécio e sobre ameaças de suicídio. Outra diz que Aécio teria sido preso, mas não tem certeza. Um jornalista fala na briga pelo poder entre a PF e a PGR. E o líder de movimento popular diz que “é o roteiro da queda de Temer”.

Mas nem tudo é tensão. De volta a Joinville, alguém republica um post onde um “jênio” local tinha feito uma promessa. “Vou deixar bem claro, se eu flagrar black brocks, vândalos pseudos esquerdistas e outros movimentos, destruindo bens públicos e ou privados, não vou assistir passivamente. Aproveito para informar que tive excelente treinamento militar, com especialização em armadilhas de selva e urbana. Estão avisados”. É isso. Mal escrito assim mesmo. Você podem dormir sossegados, joinvilenses.

Troco de rede. O Facebook é mais ilustrativo. Há fotos da marcha sobre Brasília, de manifestantes ensanguentados, de gente a apanhar da polícia e outros num choro forçado pelo gás. Imagens do Buzzfeed mostram a cavalaria a avançar sobre a multidão e, logo a seguir, a multidão a avançar sobre a cavalaria. Outro vídeo mostra que lá dentro, no plenário, deputados decidiram partir para a porrada. Mas a imagem mais impressionante é a de um dedo extirpado e abandonado na grama (espero que não seja verdadeira).

Já no trabalho, recebo mensagem de um amigo que vai com a família de férias para o Brasil e tem as passagens compradas. Quer saber se corre algum risco. Não sei o que responder, limito-me a dizer que é melhor esperar pelos próximos acontecimentos. Uma amiga vem até a minha mesa e diz que viu o noticiário da noite anterior. Ficou assustada com o que se passa e pergunta por que o presidente insiste em não renunciar. Digo apenas que talvez ele queira sair, mas está amarrado por muitos interesses.

Daqui a pouco tenho uma reunião de trabalho. Enquanto espero, fico a pensar: “Desrespeitar a democracia é uma coisa fodida. É como estar numa escada e perder o equilíbrio. Porque se erra um degrau, erra todos”. Eis o caminho para o caos. E são apenas 10 da manhã em Portugal (6 horas no Brasil).

É a dança da chuva.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Joinvilenses não ligam para Santa Catarina

POR FELIPE SILVEIRA
O bairrismo joinvilense é impressionante. A cidade catarinense tem no governo estadual Raimundo Colombo, alvo de diferentes pedidos de impeachment na Assembleia Legislativa. O principal secretário do governo caiu, depois de aparecer, junto ao chefe, na delação da JBS. Também apareceram na caguetagem os senadores Paulo Bauer (PSDB) e Dário Berger. Mas qual é o joinvilense que liga pra isso? Não sei se tem 10 em 500 mil.

Mas fala qualquer coisa de Joinville pra ver? “Fora, forasteiros”. Ou pior: faça uma crítica ao bairro do cidadão para ver. Recentemente criamos um movimento para mudar o nome do bairro Costa e Silva, que faz uma homenagem, bizarra, ao general-ditador. A reação tem sido violenta. Tem gente que nem sabe o que é, mas abraçou a defesa da ditadura com unhas e dentes.

O povo daqui não gosta de discutir muito as coisas. Estamos sendo explorados por duas empresas sem licitação que operam o transporte? “Sim, mas olha o tamanho de Joinville, a maior do estado blá blá blá”.

Não que Joinville não fale dos seus problemas. Porém, problema para joinvilense é buraco de rua e falta de policial. Gravidez na adolescência? Crescimento dos números da AIDS? Falta de oportunidades para os jovens? Déficit habitacional gigante? Especulação imobiliária? Gentrificação? São temas que não viralizam, que nem chega a ser pauta no debate.

O bairrismo tacanho leva a uma preguiça intelectual que nos impede o desenvolvimento social e nos leva a tomar decisões ruim. Tanto é que, se dependesse de Joinville, Aécio Neves seria eleito, assim como foram Raimundo Colombo, Paulo Bauer, Marco Tebaldi...

Vale lembrar:

Agora é hora de FORA, TEMER e DIRETAS JÁ!

Um problema sério, um conselho diferente

POR ET BARTHES
Câncer de mama? Eis uma boa forma de mostrar como se faz. É usar um homem. Uma forma divertida de tratar um assunto sério.



terça-feira, 23 de maio de 2017

Mito.


Cabeça vazia é a oficina do tinhoso (sim, aquele com a faixa presidencial)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O Brasil já foi considerado o país do futuro. O problema é que na prática insiste em ser um país sem futuro. Se tivesse que fazer um diagnóstico meio à pressa, diria que há uma explicação muito razoável: é que o país tem uma das piores direitas do planeta (talvez a pior). No Brasil, a direita é mais burra, mais intolerante e tem maior tendência para o irracionalismo.

A maior expressão desse estado de indigência mental está, por exemplo, nos heróis que ela escolhe. É só gente inútil do ponto de vista intelectual. Para evoluir qualquer país precisa de inteligência, bom senso e massa crítica. É tudo o que falta a essa direita. E onde os neurônios são preguiçosos, opera o besteirol. Quer exemplos práticos? Então, vamos ver alguns highligths mais recentes. Tem para todos os (des)gostos.

- Rachel Sheherazade diz que Hitler fundou o PT na Alemanha. Ah... que falta fazem umas aulinhas de história.
- Marcelo Madureira diz que foi apanhado de surpresa pela ligação de Aécio à corrupção. Zeus! Ele nunca tinha ouvido falar em Furnas, no aeroporto nas terras do tio ou nos milhões da saúde mineira?
- Lobão sai em defesa de Temer e assume a tese das gravações fraudadas. Mais alguém, além dele e do próprio Temer, acredita?
- Janaína Paschoal diz que “prometi a Tancredo Neves que olharia pelo país e confesso que acreditei que os netos dele também tinham esse sentimento”. Será que também vai ter áudio?
- João Doria rejeita Aécio Neves. “É estarrecedor um senador da República utilizar essa linguagem. Palavras de baixíssimo calão. É absolutamente lamentável”. Uai! Palavrão é corrupção.
- Diogo Mainardi dá um furo jornalístico: Joesley comprou deputados com o objetivo de impedir o impeachment de Dilma. É... pelo visto a coisa funcionou direitinho.
- Roberto Jefferson, em prisão domiciliar, mas “miraculosamente” convertido em oráculo dessa direita apatetada, diz que o PT quer diretas já porque pode ainda contar com a ajudinha das urnas eletrônicas. Hã!?
- Alexandre Frota diz que “o açougueiro da JBS é sócio de Lulinha tem Lula por trás de tudo isso”. Qual dos dois é Lulinha? O Joesley ou o Wesley?
- Carlos Bolsonaro, o filho mais atrapalhado de Jair Bolsonaro, elogia o talento do pai como gestor: “a JBS faz o maior trambique já visto com o seu dinheiro com todos os governos, via BNDES, e você falando que Bolsonaro não manja nada de economia”. Putz. Bolsonaro para ministro da Economia já!

O problema dessa direita no Brasil é não ser uma força convencional, com a pretensão de ocupar lugar no arco político. Pelo contrário, essa gente está totalmente fora do eixo. É uma direita, em muitos casos extrema, que não está disposta a contribuir com soluções. É gente que gosta do fuzuê, de bagunça, de anarquia (não confundir com os anarquistas, por favor). Tudo o que pretende é impor a agenda do atraso. Enfim, cabeça vazia é a oficina do tinhoso (sim, aquele com a faixa presidencial).

É a dança da chuva.