terça-feira, 21 de março de 2017

A pé ou de bicicleta?


POR JORDI CASTAN
Neste tempo em que há uma preocupação por viver uma vida mais saudável, muita gente aproveita o tempo livre para vestir collants coloridos e usar a bicicleta para praticar esporte. Há um certo olhar de superioridade e de desdém dos grupos de ciclistas a bordo das suas bicicletas sobre os pedestres. "Estes cidadão a pé". É fácil entender que haja um olhar diferente destes sobre os outros. Do mesmo modo que os motorizados olham com o mesmo desdém e ar de superioridade para os ciclistas. Assim, quase sem querer, se estabelece uma disputa entre as duas tribos mais frágeis da selva urbana.

Há quem defenda os ciclistas. Eu mesmo já escrevi sobre isso. Acho que os ciclistas são uma tribo a parte, uns outsiders nesta cidade motorizada. Se o debate é entre motorizados e ciclistas, a minha posição não será outra que a defesa obstinada dos segundos. Mas se o debate for entre caminhar ou andar de bicicleta, minha posição será a favor da caminhada. 

Muitos acreditam que fazer ciclismo é uma atividade melhor que caminhar. No meu caso, como no da maioria dos joinvilenses, caminho menos do que deveria. A cidade não prioriza o pedestre. A legislação municipal, que permite os carros a ocupar as calçadas, é de um anacronismo digno de uma sociedade que toma decisões e legisla com o olhar sobre os finais do século XIX. Em termos de sustentatbilidade, qualidade de vida é planejar uma cidade mais verde e saudável. E as nossas administrações são a vanguarda do atraso.

Atenção defensores dos grupos multicoloridos de ciclistas, que tomam as ruas em algumas tardes noites por semana para praticar ciclismo. E atenção também os corredores urbanos, que, como agulhas do relógio, dão voltas e mais voltas na calçada do 62 BI. Não é a vocês que este texto é dirigido.

O tema é a priorização que a cidade faz ou não faz de alternativas de mobilidade mais saudáveis, mais seguras e melhores para a população. No caso de Joinville, não fez, não faz e dificilmente fará. Não confundamos tampouco o galimatias que o IPPUJ, antes, e agora a Secretaria que o sucedeu, insistem em chamar de ciclofaixas. E que o sambaquiano sabiamente apelidou de ciclofarsas. Um labirinto que liga o nada a coisa nenhuma, que não oferece segurança e não segue a lógica mais elementar de conforto para que sejam uma opção real de mobilidade.

O que devemos discutir, enquanto cidade, é se é melhor incentivar o caminhar, o pedalar ou, vou obviar, o andar em carro. E nem vou entrar no tema do transporte público numa cidade que perde passageiros ano após ano. O joinvilense já deu a sua resposta: o automóvel é melhor e mais barato que o transporte público.

A informação que deve ser colocada sobre a mesa é que caminhar é mais saudável. Para a mesma distância será necessária a mesma energia e caminhar permite um excelente exercício aeróbico, melhora o condicionamento físico e permite ainda ter uma visão melhor da cidade, do entorno e das pessoas que aqui moram. Os ciclistas voltam à carga com os seus argumentos a favor da bicicleta: “Se for necessária a mesma quantidade de energia, então melhor a bicicleta”. A resposta é que não, que sempre é melhor caminhar, porque a bicicleta nos poupa esforço, acaba sendo mais eficiente e menos conveniente que uma boa caminhada.

Em tempo: tanto a bicicleta não é prioridade na cidade que já foi delas, que o MUBI fechou as portas  “sine die” e é que esta é a melhor administração que Joinville já viu #sqn

segunda-feira, 20 de março de 2017

Espeto corrido.


Temer: diplomacia de churrascaria não funciona

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer levou embaixadores a um churrasco após as denúncias do “Carne Fraca”. Onde foi que li essa notícia? Num dos muitos jornais europeus que estão a cobrir o escândalo na produção de carnes no Brasil. A notícia correu o mundo com a rapidez de um rastilho de pólvora. Não deu para estancar a sangria. Temer está a ser naïf ou mal assessorado, porque a notícia do churrasco serve apenas para pôr mais brasa na churrasqueira do escândalo. Ferro enferruja, ensina o marketing.

Temer é do tempo em que os problemas se resolvem num churrasco com os "amigos". Mas para piorar o quadro, alguns jornalões publicaram que a churrascaria onde foi realizado o repasto só serve carnes importadas. Europeias, australianas e uruguaias. Fontes do Palácio do Planalto apressaram-se no desmentido e disseram que todas as carnes servidas tinham origem no Brasil. Não adianta. Todos sabemos que em tempos de pós-verdade e fatos alternativos as pessoas preferem ficar com as versões negativas.

A intenção de Michel Temer era criar goodwill com os embaixadores e torná-los porta-vozes da causa brasileira. A ideia é um tanto ingênua. Se estamos a falar de questões de segurança alimentar, então é obrigatório que os interlocutores tenham alguma autoridade e poder de decisão sobre o tema. E os embaixadores pouco podem fazer. Aliás, sintomático que a imprensa internacional a pôr o tema em foco é da área de negócios.

Há uma constatação inevitável. No exterior, a imagem das carnes brasileiras sofreu um forte abalo. Pode não ser irrecuperável, mas vai levar algum tempo até que a confiança seja restituída. Nem se trata de convencer o consumidor estrangeiro, porque este provavelmente não está tão atento ao tema, mas sim os responsáveis pela segurança alimentar. Pelo menos que se refere à Europa, o tema é levado muito a sério e por vezes as ações roçam o exagero.

É possível ler, aqui e acolá, que o problema não é tão grave como a repercussão faz crer. E talvez não seja. Mas estamos a falar de percepções. E essas são muito difíceis de mudar. Neste momento, a carne brasileira tem muito contra e nada a favor. Aliás, até o preço conta, porque pelo menos na Europa é mais cara que a carne local. Enfim, é mais um setor forte da economia brasileira que ameaça soçobrar.

Uma coisa é certa: a diplomacia de churrascaria não funciona. Tanto que União Europeia, China, Coreia do Sul e Chile, até ver, decidiram impor barreiras à importação de carne do Brasil. E depois do petróleo e da construção civil, a indústria da transformação de carne vem se somar a uma espécie de desmonte da economia nacional. E pensar que as coisas apontavam em sentido diferente até 2013. Que ano mais azarento.


As notícias sobre o escândalo da "Carne Fraca" percorreram o mundo. Há muitos interesses em jogo.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Osso duro!


Política nossa de cada dia

POR FELIPE SILVEIRA

Lula, Bolsonaro, Marina Silva, Ciro, Alckmin, Serra, Dória, Haddad, Chico Alencar, Luciana, Jean Wyllys, Levy Fidelix, Eymael… Nenhum desses nomes é unanimidade (embora Lula tenha chegado perto), mas é provável que um deles seja eleito presidente do Brasil em 2018 – se houver eleições, é claro. Por mais que você não goste do próximo presidente, você é parte do processo que o colocou lá.

Sim, eu sei, a vontade é chutar o balde. E o Tebalde! Político é tudo safado mesmo. Tem que jogar uma bomba no Congresso! Poder popular já! Revolução! Intervenção militar!!!111!

Só que nada disso vai acontecer e tais desejos não podem servir de desculpas para a não participação em um processo que envolve a microparticipação de cada um, um processo que só se constrói tijolinho por tijolinho.

Que fique claro: não estou comparando revolução com intervenção militar. Adoraria que a primeira acontecesse e até pode ser que pegaria em armas, se necessário, se a segunda se tornasse realidade. Apenas acho que tanto a narrativa revolucionária quanto a intervencionista afastam as pessoas do processo político real. É na esteira desta ausência que gente ruim toma posições de poder e passa a definir o rumo das nossas vidas.

Acredito que nossa tarefa neste contexto seja a organização constante, o trabalho em torno de políticas públicas, de garantias e expansão de direitos, da ampliação dos processos democráticos e da resistência popular aos mandos e desmandos do poder. Isso significa muita coisa. Desde a simples manifestação em redes sociais até o envolvimento em ocupações de terra, que são processos altamente radicais e de suma importância, mas não são revolucionários.