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Foto: Rogério da Silva |
Mais uma vez Joinville ficará sem o Carnaval. Em uma nota lançada ontem pela Prefeitura da cidade, informou-se que o evento foi cancelado para seguir a recomendação feita pelo Ministério Público de Contas de Santa Catarina.
A exemplo do que fez com o dia da Consciência Negra, a atual gestão se blinda atrás de entidades e órgãos para manter a sua imagem preservada. Para quem não lembra, após aprovar o dia 20 de novembro como feriado municipal, o prefeito se viu obrigado a acatar a decisão judicial (pois entidades empresariais entraram com uma ação judicial contra o feriado) e cancelar o feriado sancionado. Parece que é uma prática comum dessa gestão não responder por conta própria a decisão de não realizar algumas festividades e eventos.
Veremos se o Ministério Público de Contas também se pronunciará a respeito das Festas das Flores. Não que queiramos que essa festa não aconteça, mas se tratando de crise, o pau que dá em Chico tem que ser dado em Francisco. Mesmo porque tal festividade ocorrerou tranquilamente em todos esses anos sem Carnaval, mesmo tendo um valor de investimento mais elevado se comparado com o evento do começo do ano. Haverá alguma outra explicação para tamanha coincidência? Ou talvez seja apenas o fato da diferença na pigmentação da pele das pessoas que fazem e frequentam cada evento? Não saberemos. Apenas podemos trabalhar com especulações e lamentar profundamente mais essa perda cultural.
A atual gestão e sua equipe sabem que tem respaldo para cancelar o Carnaval, pois o senso comum da cidade acredita ser um evento pecaminoso. E é com isso que o prefeito conta para realizar suas ações. O discurso de defesa é único: prioridades. Saúde e educação em primeiro lugar.
Como se, com um bom planejamento, não pudéssemos reunir tudo isso dentro da mesma festividade. Já imaginou quantas calorias se perde sambando? Já pesquisou como a autoestima interfere na saúde das pessoas? Pois bem, o Carnaval é capaz de produzir isso tudo e muito mais. Sem contar os resgates históricos que são feitos na produção do enredo de uma escola de samba, a moda presente nas fantasias que apresentam por meio de suas cores, formas e detalhes, o que a escola quer passar para os espectadores, a engenharia por trás da construção de um carro alegórico, dentre outras coisas.
Em 2013, por exemplo, a Escola Príncipes do Samba trouxe em seu enredo a história da Avenida Cubas. Uma das mais famosas avenidas da cidade. Em seu samba-enredo contou histórias e trouxe, para muitas pessoas, informações desconhecidas e também relembrou a importância de uma das ruas que contribuiu para o crescimento da cidade, econômica e culturalmente, falando da importância do Rio Bucarein na construção da cidade e as festas que aconteciam por lá. Lembrou de personagens que marcaram época em Joinville como os jogadores Pingo e Piava e o Mestre Bera (escute o samba-enredo: https://goo.gl/Vld8Yj).
Educação e saúde não se resumem apenas na construção de mais prédios. Educação também se faz fora das salas de aulas e podem ser muito bem introduzidas e misturadas com o universo rico do carnaval, bem como, pode abrir novas portas para que novos temas sejam abordados e estudados, para que a memória e a tradição da cidade sejam preservadas e propagadas. E a construção de mais hospitais é investimento em doenças, precisamos investir também na prevenção delas, seja através de esportes ou da dança, como o samba, que ajuda a queimar calorias, a manter o corpo saudável fisicamente e contribui para a alegria e autoestima de quem pratica, conservando a saúde da mente.
Enfim, com um bom planejamento e com boa vontade, há espaço para tudo ser feito. Mas parece que falta isso para alguns gestores que dizem querer trabalhar.