POR JESSICA MICHELS
Este é um convite para uma conversa as margens do lago do MAJ (Museu de Arte de Joinville). É meu primeiro texto no Chuva Ácida e, por esse motivo, acho necessário avisar que sou relativamente jovem, tenho 26 anos, e minha premissa de debate é exatamente sobre o acesso da população jovem à cidade.
Há uma discussão acontecendo, mais um burburinho talvez, que prevê cercar o espaço do jardim do MAJ. Não sei detalhes sobre esse possível projeto, se ficaria aberto até meia-noite ou talvez se haveria mais policiamento nessas áreas. Reconheço que são informações necessárias para se discutir a justificativa real desta ação, mas enquanto elas não estão públicas, vamos antecipando a conversa.
Para quem não conhece (sim, infelizmente tenho que trabalhar com essa ideia), o Museu de Arte fica na região central da cidade. No espaço (que é público, sempre bom reforçar), além do museu (uma estrutura belíssima que já foi residência de Ottokar Doefffel), temos um amplo jardim e um pequeno lago. E esse lugar tem sido frequentemente ocupado pela juventude nos fins de semana para realizações de piqueniques, luaus, saraus e tudo mais. Por ser um lugar com ‘gente jovem reunida’, sabemos que incomoda.
Os eventos recentes que ocorreram no jardim do MAJ apontam mais de duas mil pessoas circulando naquele local numa noite. Um luau/sarau que tinha como simples objetivo distribuir amor e entrosamento com as pessoas, respeitando toda a diversidade. E trouxeram muitas considerações sobre o gerenciamento dos resíduos que foram acumulados, sobre a falta de banheiro, sobre o barulho e outras problemáticas que devemos discutir também em outro momento.
Mas sobre simplesmente cercar este espaço público e limitar o acesso, eu fico realmente entristecida com a proposta. Penso que já há grades demais na cidade, há catracas demais. Além da falta de dinheiro para alguns programas privados, ainda temos uma tarifa abusiva de transporte público, que dificulta - e muito -, o acesso da juventude para todas as possibilidades de lazer, esporte e entretenimento. Seja para assistir a uma peça teatral gratuita na Ajote ou ir ao cinema no shopping, ou até mesmo o acesso para participar de um culto de uma igreja moderninha de Joinville.
A juventude não tem espaços. A juventude não tem acessos. A juventude vem sofrendo um cerceamento constante. Não tem esporte, lazer, cultura acessíveis em todos os bairros. E depois, temos que suportar as duras críticas sobre a marginalidade e a vulnerabilidade dos nossos, sobre a criminalidade e o tráfico de drogas.
E o questionamento: o que é um espaço público?
E dependendo desta resposta, me pergunto também:
- Para onde vamos, então?
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Piquenique organizado no jardim do MAJ pela autora em agosto de 2016. Foto: Débora Michels. |