sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A monstruosidade do imediatismo
















POR LIZANDRA CARPES 
Elencar algo para refletir em meio ao turbilhão que vivemos no Brasil é um desafio. Muito para pensar, muito para lamentar e muito para fazer. Os acontecimentos têm a velocidade do “imediatismo”. Isso significa: respostas a curto prazo e que não consideram as consequências. O imediatismo é fruto do consumismo.

A sociedade consumista (que consome desde informação até futilidades absurdas como tirar gordura das faces) substitui o conhecimento por falta de tempo para pensar. As pessoas precisam trabalhar exaustivamente para manter seus caprichos inúteis. Um prato cheio para o poder hegemônico, porque assim tomam as decisões apoiados por uma massa de manobra que não se enxerga como massa, porque perdeu a capacidade de reflexão, de pensar.

O imediatismo tem a função de transformar em algo novo o que já foi vivenciado na história, pelo simples fato de que é pouco provável que a massa se atente em fazer um resgate, uma análise de conjuntura. Vem como promessa de transformação, quando na verdade se aproveita da fragilidade da alienação para tornar suas pautas agradáveis aos olhos da sociedade.

Ou seja, sangue na tela e violência resultam em mais presídios, mais investimento em segurança pública com armamento; o impeachment e os “heróis” da Operação Lava-Jato, vão acabar com a corrupção no Brasil, de uma maneira simples de doer, vão  prender o Lula e sangrar o PT;  ouve-se clamores para a volta da ditadura militar brasileira como solução imediata. Tudo sem aprofundamento da raiz daquilo que se almeja, sem o crivo da razão, muito mais pautados pelo emocional abalado por conta da lavagem cerebral que o sistema nos impõe.

Logo, esta sociedade aceita qualquer discurso que prometa prosperidade econômica. A aflição provocada pelo imediatismo interfere no pensar e no agir das pessoas e opta por transferir responsabilidades a um salvador da pátria. Ele que pense por nós.

A cultura imediatista alimenta a urgência e um pensador, Douglas Rushkoff, professor de estudos de mídia na The New School University de Manhattan, traz uma definição certeira: a cultura do imediatismo apaga o passado, bloqueia o futuro e afeta as nossas escolhas políticas, sociais e ambientais. E este é o retrato da realidade que nos leva para a barbárie.

Os imediatistas não gostam de filosofia, de história e sociologia. Não gostam de estudar ciências humanas, nem ler. No entanto, dizem que têm certeza que sabem o que é melhor para a política. Mas, quem precisa da herança de Sócrates de questionar sobre:  O que é o bem? O que é a Justiça? O que é a virtude? Estas reflexões não interessam aos que se habituam a  enxergar as sombras do Mito da Caverna, de Platão. 




quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Velho.


José Serra, os BRICS e a “tatarocracia”















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É difícil gostar de José Serra. Porque é uma figura sinistra. Do ponto de vista pessoal a recusa é clara: a sofreguidão que ele demonstra de entregar o Pré-sal ao capital internacional (coisa que vai conseguindo fazer, como vimos ontem). O petróleo nas mãos de estrangeiros é uma coisa que vai hipotecar o futuro do país. Lembremos que boa parte do dinheiro deveria ser investido em saúde e educação. É incompreensível esse vício que Serra tem de dar bolada nas costas do Brasil.

Do mais sério ao mais ridículo, haveria muito a dizer sobre o homem. Nem é preciso pesquisar muito para encontrar coisas nada dignificantes. É só lembrar a denúncia feita pela “Folha de S. Paulo”, há poucas semanas, quando publicou, em matéria de capa: “Serra recebeu R$23 milhões via caixa 2, diz Odebrecht”. Em que outro lugar ele continuaria ministro depois de uma notícia como esta? Não continuaria. Isso só é possível em países com déficits de democracia, como o Brasil.

Também há os episódios menores, alguns beirando a sacanagem. Quem não lembra da farsa da bolinha de papel, na campanha de 2010? Teve até tomografia. Ou da declaração de que era contra o aborto, insinuando que Dilma era a favor? E “esquecendo” que a própria mulher tinha feito uma interrupção voluntária da gravidez. Ou que num único dia de campanha chegou a comungar seis vezes para passar a ideia de religioso. Enfim, o anedotário é extenso.

Mas agora que José Serra é ministro, chegamos a um momento que pede um pouco de atenção. Será que o homem está cheché? Há um filme a circular pela internet que mostra José Serra a tentar falar nos BRICS (ver abaixo). E tudo que sai é um discurso tátaro, onde ele parece mais perdido que cachorro caído de mudança. Não consegue lembrar de nada e, em meio ao tatibitate, até inclui a Argentina entre os países do bloco. Diabo de disfasia.

É natural que as redes sociais tenham sido invadidas por gente a questionar o estado de saúde do ministro. Um deles é o jornalista Luis Nassif que escreve: “é possível que Serra esteja neurologicamente decrépito”. Ok... é um diagnóstico que cabe aos especialistas médicos, mas é preciso que os brasileiros estejam atentos. Porque ver o Brasil transformado numa “tatarocracia” é um cenário a ter em conta. 

É a dança da chuva.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os bodes eleitorais

POR FELIPE SILVEIRA

O resultado da eleição gera uma cachoeira de opiniões. A direita comemora a diminuição do PT, a esquerda passa a dizer que o pobre não sabe votar, simpatizantes passam a sugerir estratégias eleitorais, anarquistas comemoram as abstenções, militantes começam a discutir os erros internos…

O problema é que algumas dessas opiniões, que mais parecem certezas em alguns discursos, escondem alguns enganos. O maior deles é dizer que o pobre não sabe votar, que votou no vilão etc. Primeiro que este argumento é tentador, mas não passa de um bode expiatório, algo para disfarçar a nossa própria culpa. As pessoas votam no que parece melhor para elas e é nossa responsabilidade não nos colocarmos como a melhor alternativa.

Outra coisa bizarra desta enxurrada de pitaco é o tanto de gente dizendo o que aqueles que perderam deviam ter feito. Não questiono a boa vontade, mas onde estavam essas pessoas antes da eleição? Uma boa parte das opiniões é coisa que a gente já sabe, que já discutimos, mas que achamos melhor não fazer ou não tivemos braços para isso. Algumas pessoas mal fizeram o cadastramento biométrico, mas querem dizer como a campanha deveria ter sido feita. Eu agradeço as sugestões, mas sugiro que a pessoa faça isso com pelo menos alguns meses de antecedência na próxima.

Acho que toda a discussão é bem válida, legítima, mas acredito que devemos avançar no que podemos fazer a partir de agora para resistir aos ataques governamentais e também para construir a alternativa para as próximas disputas.

A primeira coisa é para de falar de político como se isso fosse algo extraterrestre, distante de nós. Aceitemos a nossa condição de ser político e façamos a nossa parte.

Outra coisa é criar mecanismos e participar de movimentos de fiscalização coletiva do poder público. Há diversas formas de fazer isso, seja por meio de imprensa alternativa ou de núcleos de análise de dados, transformando isso em demandas que serão apresentadas pela população.

Também vale a pena começar a frequentar os espaços públicos de debate político, como os fóruns específicos, associações, sindicatos e a própria Câmara de Vereadores. Essas são apenas algumas coisas que podemos fazer para começar o processo de transformação social que desejamos.

Você pode fazer outras sugestões nos comentários e começar a botar a mão na massa. É melhor do que ficar procurando culpados e desculpas.

Faça você mesmo!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Os comissionados devem ter melhores salários?















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Eis a tese: os comissionados das prefeituras devem ter melhores salários. Ops! A afirmação pode causar algum ranger de dentes no eleitorado, mas faz sentido. Por quê? Porque as administrações públicas são incapazes de atrair profissionais de topo para os seus quadros. O resultado é que os postos-chave são ocupados pessoas que, na maioria dos casos, não são profissionais de primeira apanha. E isso emperra a máquina.

É só dar uma olhada para o perfil dos comissionados nas prefeituras. É gente que está lá por causa da carteirinha dos partidos. É a famosa boquinha. Ou teta. Ou mamata. O diabo é que são a maioria. Há também os que têm algumas aptidões técnicas, mas que por alguma razão não conseguem singrar na iniciativa privada. E há os comissionados profissionais: entra governo sai governo, os caras dão um jeito de ficar lá.

Generalizações são para evitar, porque há os que conseguem fazer a máquina andar. Mas são como os cometas e só aparecem de vez em quando. Enfim, a coisa é sofrível. O que temos são administrações de baixa competência, ausência de imaginação e incapacidade de produzir bons resultados. Mas, por ironia, isso poderia mudar com melhores salários, porque permitiria ir ao mercado captar gente melhor preparada.

Aliás, sob este aspecto vale uma palavra sobre o prefeito Udo Dohler. O homem chegou à Prefeitura com o discurso de gestor, mas se afastou rapidinho desse perfil. O prefeito tem o velho ditado em sua defesa: não se faz omeletes sem ovos. E não há como disfarçar: os comissionados estão na gênese dessa incapacidade intrínseca que as prefeituras têm de resolver os problemas com competência. A competência é exígua.

Há uma leitura política a fazer. Por serem cargos políticos, a democracia fica comprometida. Quem não tem visto, nas eleições, comissionados transformados em cabos eleitorais? É ilegal? Não sei. Mas é imoral. Os caras podem até alegar fé num determinado projeto, mas só os distraídos não verão uma luta pela manutenção do “emprego”. Aliás, há casos que beiram o escárnio: tem muito pretendente a comissionado a dar o ar da graça por aí.

Enfim, os caras lutam pela sobrevivência num ambiente facilitador. Porque o mundo real é exigente e as empresas privadas não são albergues para impreparados (ao contrário das prefeituras). O eleitorado pode até reagir à ideia, mas com outro nível de salários seria possível encontrar gente melhor preparada. Sem clientelismos a coisa só pode andar melhor. Afinal, se só temos profissionais meia-boca os resultados serão sempre meia-boca.


É a dança da chuva.