POR FELIPE CARDOSO
Já falei aqui a minha opinião sobre o tema, mas parece que quanto mais se debate, menos nos fazemos entender. Por ser analisado superficialmente por algumas pessoas, o racismo até parece soar como algo positivo, simples e normal. E não é.
O racismo tortura, encarcera e mata física e psicologicamente. A invisibilidade, o escárnio, a omissão e o esquecimento criam sentimentos horríveis que podem levar uma vida inteira para ser tratado e curado. Sentimentos como a incapacidade e inferioridade geram traumas, depressão, falta de perspectiva e mais um monte de malefícios que já foram estudados e divulgados.
O Brasil, sendo a última nação da América a abolir oficialmente a escravidão, demonstra um cenário onde a população negra, mesmo representando a maioria da população, vive situações históricas de miséria e violência. Deixando evidente que as questões sociais estão interligadas a questões raciais, em que a sua cor também acaba por definir a sua classe.
O racismo institucional e estrutural mostra toda a sua perversidade nos gráficos e nas pesquisas sobre a população brasileira. Os negros e negras estão entre as maiores taxas de desnutrição, analfabetismo, sistema prisional, internações psiquiátricas manicomiais, unidades socioeducativas e nos homicídios. Ao mesmo tempo, negros e negras são minorias nos grandes cargos de empresas, nas universidades, na política, nas novelas, na publicidade.
Assunto debatido sempre aqui. Inclusive com dados e referências. Mas quem se importa?
Quem se importa que a saúde da população negra é negligenciada? Quem se importa com o fato de uma mulher negra grávida ter que esperar mais tempo para ter o filho (em muitos casos sem anestesia) do que uma mulher branca, por conta do estereótipo da força física negra?
Quem se importa que negros e negras recebam menores salários? Que a violência atinja, com maior intensidade os jovens, as mulheres e LGBTs negros?
Quem gostaria de ter a sua voz silenciada, ser sempre acusado de vitimista, preguiçoso, cotista? Quem gostaria de ter sua crença demonizada? Quem gostaria de ter seus traços, corpo e cabelo ridicularizados?
Por que alguém em sã consciência gostaria de passar por tudo isso? Você realmente acha que isso aqui relatado é legal?
O Brasil não vai conseguir resolver os seus problemas sem antes resolver os problemas raciais. Negar isso, sendo de esquerda ou de direita, é apenas tentar esconder a sujeira debaixo do tapete.
A questão aqui não é uma disputa de quem sofre mais. A questão principal é acabar com o sofrimento.
A nossa luta não se enquadra contra pessoas, mas sim contra uma ideologia. A nossa luta não é contra brancos, a nossa luta é antirracista e anticolonialista, contra todo o processo de dominação, abuso, silenciamento e violência.
Se você quer fazer algo de útil para o mundo, contribua com a luta para acabar com o racismo e não tentando sofrer com algo tão perverso e prejudicial.
Na moral, branco, não queira sofrer de racismo. Isso não é nem um pouco legal.