POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES
Ultimamente, para resolver questões pessoais, precisei de serviços que envolveram instituições privadas e públicas e, francamente, não consigo me relacionar de forma amigável com o trâmite moroso da burocracia. Parece que quanto mais as tecnologias se desenvolvem, mais dificuldades se têm no atendimento, desde uma simples informação à emissão de um documento.
Neste quesito, as instituições públicas (as quais precisei), foram exemplares na conduta negativa de atendimento, beirando ao desleixo, desde a falta de educação de servidores públicos ao telefone, à sua falta de conhecimento das atividades internas, sem contar com o desencontro de informações de um setor para outro e de dezenas de telefonemas que foram parar no além, em algum “buraco negro” (não gosto deste conceito, mas faço uso por não encontrar significado melhor para descrever a situação), sem chegar ao destino solicitado.
Alguém já se perguntou por que uma instituição mantém um Portal com informações desatualizadas, como endereço de local de funcionamento, número de telefone, cargos de servidores? Não sei se é para confundir, para não atender, ou se é por falta de capacidade técnica para alimentar o sistema com informações atualizadas. Nos tempos da agilidade comunicacional, este instrumento operacional de acesso à informação, nestas condições, se assemelha a uma locomotiva do século XIX.
Nesta jornada, que durou semanas, rendeu uma experiência qualificada daquilo que não se deve fazer no atendimento ao público. O caso mais emblemático foi a resposta que obtive de um órgão público estadual quando solicitei um serviço, ao ouvir da servidora de que a pessoa responsável pelo setor estava de férias e por isso recomendou que eu retornasse dentro de três semanas porque não havia outra pessoa habilitada para executar o tal serviço, ou seja, verificar nos arquivos o número de uma portaria.
Sou e sempre fui defensora do serviço público e não será esta experiência que irá motivar para que eu pense de forma contrária, mesmo porque entendo ser uma estratégia neoliberal o esfacelamento dos órgãos públicos, uma espécie de antessala, para legitimar a privatização. O mau atendimento no serviço público tem a função pedagógica de conduzir a sociedade a se manifestar favoravelmente à aceitação de outras formas de prestação de serviço e de relações trabalhistas que atendam aos interesses do capital.
O projeto neoliberal está se fortalecendo não só com o apoio de cidadãos consumidores que acreditam nos benefícios da eficiência de serviços privados, mas também com o envelhecimento dos ideais da representação dos trabalhadores que não consegue mais mobilizar a classe para reivindicar condições de trabalho para além de questão salarial.
Assim se cria o imobilismo entre aqueles que se garantem com a estabilidade de emprego, estabelecendo uma burocracia irracional, enquanto a população reivindica agilidade e qualidade no atendimento para atender às suas necessidades, mesmo que para isso se privatize os serviços, sem, no entanto, entender a face oculta embutida neste pacote neoliberal.