quinta-feira, 28 de maio de 2015

Descaso político


POR MÁRIO MANCINI

Joinville possui o maior colégio eleitoral de Santa Catarina, o suficiente para decidir uma eleição, tanto que os políticos sabem disso, quando em campanha são totalmente dedicados à cidade e, principalmente, a seus eleitores.
Passada a eleição, o descaso aparece, promessas (há quem acredite nelas) são esquecidas, junta-se a isso a participação pífia dos representantes locais nos governos Federal e Estadual.
Temos alguns exemplos para justificar a premissa acima. Comecemos pela Arena. Enquanto a local vive a míngua, à espera de recursos, enquanto as “lideranças” políticas locais trocam “elogios” pelas redes sociais, a de Chapecó está pronta, com todo respeito que a cidade merece, não tem comparação, em tamanho, habitantes, economia, etc., só que possuem representação mais ativa.
A duplicação da avenida Santos Dumont foi transformada em uma colcha de retalhos, trocada pelos famosos binários, um paliativo de duração limitada. A desculpa de sempre, o custo das desapropriações. Pergunto: fosse em Florianópolis já não estaria pronta?
A elevação da rua Minas Gerais, a duplicação da Rua Dona Francisca, a UFSC e seu acesso, o Hospital da Mulher, BR 280, etc.
Já passou do momento de cobramos dos nossos políticos o retorno dos votos neles depositados. Chega de sermos “vaquinhas de presépio”, cobrar resultados faz parte da democracia.
Sabemos que sem projetos não há dinheiro, e que projeto não é o forte da atual administração, nem licitações, pois cobremos deles.
Ano que vem tem eleição. Façamos a lição de casa, ou melhor, comecemos a arrumar a casa, mudando, se necessário, e assim sucessivamente, até acertar. Ou não?

***
JEC
O que está acontecendo com o time? Excesso de respeito é sinônimo de medo e em futebol é técnica suicida. Não é este o perfil do time.


Coragem, pois poderemos até perder, mas perder de cabeça erguida. Fica a dica...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Planejar e investir em cidades médias pode ser uma solução?

Bilbao, na Espanha, tem cerca de 350 mil habitantes
Olhando assim, até que se parece com Joinville

POR FELIPE SILVEIRA

Talvez seja desconhecimento, mas nunca vi ninguém propor ou defender que uma das maneiras de resolver os problemas das cidades grandes é justamente diminui-las. Não sei o que geógrafos, sociólogos e urbanistas dizem, mas gostaria de saber, e também não vi a proposta no campo da esquerda, até porque ela bate de frente com outra.

Cidades com milhões de pessoas não fazem sentido. Muito menos quando estes números chegam a 6 ou 12 milhões, como Rio de Janeiro e São Paulo. Algumas comunidades nessas cidades têm 100 mil pessoas, muito mais populosas que milhares de cidades do país.

O que imagino como ideal é o investimento em cidades menores/médias de modo que possam atrair a população sem gerar um grande impacto. Imagino que o aumento moderado e planejado de certas cidades possa gerar um aumento do número de empregos principalmente nos setores do comércio e de serviços. Cidades médias precisam ou comportam mais jornais, restaurantes, lojas, médicos, advogados etc.

Cidades com 100, 200 ou até 500 mil pessoas são possíveis (não fáceis) de administrar e de planejar. Não vou dizer manter a ordem (vade retro), mas vocês entendem o que quero dizer. É claro que não se pode deixar de investir nas comunidades super-populosas que não contam com nenhum investimento do Estado que não seja tiro, porrada e bomba. Mas também é preciso pensar em outras maneiras de evitar e resolver o problema.

Pode ser que a conta não feche, que a premissa esteja errada, que eu tenha falado uma bobagem. Mas tenho pensado há algum tempinho nisso e não tive nenhum motivo ainda para "despensar". Alguém tem um?

Otimista!


terça-feira, 26 de maio de 2015

Luz no fim do...


Nossa justiça injusta

POR FELIPE CARDOSO

Queria acreditar que fosse coisa da minha cabeça. Queria acreditar que em 2015 não existisse mais isto. Mas os fatos transformam em ilusão o pensamento de quem afirma que o racismo não existe ou que acabou.

Poderia dedicar esse texto somente para tratar da questão da enorme tentativa dos veículos de comunicação tradicionais tupiniquins de ganharem mais apoiadores para a aprovação da lei da maioridade penal, mas aproveitarei esse assunto para falar também sobre a justiça brasileira.

Recentemente, uma das notícias que ganharam destaque na imprensa nacional foi o assassinato do médico Jaime Gold, que pedalava na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio de Janeiro, na terça- feira, dia 19 de maio.

Um dos suspeitos de praticarem o ato foi preso dois dias depois. O jovem negro, com apenas 16 anos de idade e que já tinha15 anotações criminais, foi encaminhado ao DH.

Em 2012, Thor Batista, filho de Eike Batista, em alta velocidade e possivelmente embriagado, atropelou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos. Thor já tinha cometido algumas infrações ao volante e, segundo informações, havia abandonado o carro. Mas o jovem de 20 anos teria retornado em seguida para fazer o teste do bafômetro. Até hoje não se sabe quanto tempo ele demorou para retornar. Os familiares da vítima afirmam que o ajudante de caminhoneiro fazia diariamente o percurso e alegam que ele estaria no acostamento no momento em que foi atingido. Mas a imprensa tratou logo de veicular que no local é comum acontecer acidentes e a versão do filho do milionário foi de que Wanderson atravessava a rodovia. Segundo o jornal O Globo, “Wanderson teve o braço e a perna arrancados e o peito aberto”. O carro do suspeito chegou a ser recolhido para um pátio da Polícia Rodoviária Federal, mas foi levado pelo advogado de Thor, que prometeu deixar o veículo “sem modificações” e à disposição da polícia.

Mesmo assim, após uma novela judiciaria, o filho do milionário foi absolvido e só teve que prestar serviços comunitários.

Os dois casos contém violência e assassinato, os dois casos envolvem ciclistas e os dois jovens já tinham cometidos erros anteriormente.

O único problema é que o jovem negro não teve a mesma sorte do jovem branco. Não nasceu rico e não pôde comprar pessoas para assumirem a culpa ou bons advogados para se livrar da cadeia ou até mesmo, quem sabe, “molhar a mão” do juiz para que o mesmo pegasse leve na sentença. Esse rapaz já nasceu morto e com os dias contados. Diferente do filho do milionário que acha que é o dono do mundo e tem na sua mente que é eterno. Por isso, apenas por isso, só o jovem menor de idade teve como pena  a privação do seu direito de liberdade.

O Brasil é um país que se categoriza e constrói seus estereótipos de acordo com sistema escravista. Aqui um engenheiro vale mais que um professor. Um médico vale mais que um gari. Um político vale mais do que uma empregada doméstica e assim por diante. E cada uma dessas profissões têm cor e para conseguir credibilidade nessas áreas é preciso seguir esse pensamento. Quanto mais alto for o salário, mais branco a pessoa é, e quanto menor for o salário mais negra a pessoa é. Isso está naturalizado. Faz parte do imaginário popular e da realidade brasileira.

Duvida?

Alguém lembra daquela jornalista que disse que os médicos cubanos tinham cara de tudo, menos de médicos e que pareciam mais com empregados domésticos do que “doutores”? Sim, pois a cor aqui no nosso país define o que você é, que profissão deve ter e por onde deve andar e morar. E, infelizmente, esse tipo de pensamento atinge a nossa justiça.

O lugar do negro tem que ser no subemprego, na periferia, nos presídios, nas ruas. O lugar do branco é em altos cargos, empregos bons, em condomínios fechados, viajando pelo mundo.

Já dizia Edi Rock na música “Negro Drama”: “me ver preso ou morto já é cultural”. E a nossa própria justiça já apresentou diversas evidências que também é vítima desse vício do pensamento escravista e acaba se tornando parte opressora ao continuar perpetuando e realizando tais atos.

Esses dois casos representam os excessos de um país desigual. De um lado se mata por não ter dinheiro e oportunidades. Do outro se mata por puro prazer, luxúria e ostentação.

Só que, infelizmente, a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco, do lado mais pobre.

Assim, quando se mata um médico branco que transitava pela rua com sua bicicleta, e o assassino é um jovem negro, há uma sensibilização de toda a sociedade e, principalmente, da mídia que induz o coro a uma busca por justiça de tal caso. Mas quando acontece o inverso, quando se mata um trabalhador negro, que retornava de bicicleta do trabalho e o assassino é rico e branco, há um conformismo e um tapinha nas costas. E é assim que caminha a nossa humanidade.

Além disso, casos como acidente do filho do governador de São Paulo e do casal global Luciano Huck e Angélica merecem mais destaques midiáticos que a morte do garoto Eduardo, do dançarino DG, da injustiça cometida com Mirian França e vários outros casos rotineiros na periferia.

Eles nos forçam a sentir empatia por pessoas que nem conhecemos e estão muito distantes de nós e da nossa realidade e nos conduzem a desprezar nossos vizinhos.

Redução da Maioridade Penal

Já era de se esperar que esse caso do médico assassinado serviria para reforçar a ideia dos conservadores para exigir a redução da maioridade penal. Nesse domingo, por exemplo, o “Fantástico” dedicou-se para espalhar o caos na pouca audiência que lhes resta. Mas o que não esperavam e não noticiaram foi o depoimento da ex-mulher da vítima que teve lucidez para comentar o ocorrido.

Fala-se muito que nossos políticos não querem nos fazer pensar, por isso não se investe em educação, mas já paramos para pensar o motivo de tais veículos de comunicação também não contribuírem para educar melhor os espectadores?

Enquanto alguns países se orgulham por estarem fechando cadeias, aqui no Brasil, que tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, querem construir mais. Mas por que há tanto interesse nesse sistema prisional?

Porque cadeia dá lucro, então a ideia é a seguinte: aumentar o número de pessoas presas, mostrar a ineficiência do poder público na cadeia, destacar o descaso, o mau tratamento, a desumanidade, para deixar evidente, mais uma vez, que o Estado não é capaz de dar conta disso. Assim como não é capaz de dar educação, saúde, transporte… E como única solução para sair desse (e de qualquer outro) problema: PRIVATIZAR AS CADEIAS.

Sim, não basta querer privatizar a Petrobrás, as escolas, os hospitais, o transporte… Pensando apenas no lucro, as pessoas são tratadas como gado, apenas vão para onde mandam e fazem tudo o que pedem.

Não preciso nem dizer a cor e a classe que sustentará essa linda ideia de privatização, não é mesmo?

Para não me estender muito por aqui, compartilho o link de um texto mais completo e que relata muito bem a ideia apresentada aqui.