terça-feira, 19 de maio de 2015

LHS e o Cisne renhido


POR DAUTO J. DA SILVEIRA*

Há duas formas de se explicar o interesse da mídia dominante catarinense e de alguns setores produtivos e sociais em reverenciar o ex-governador Luiz Henrique da Silveira. A primeira delas é a tentativa de colar à sua experiência política, construída em torno de interesses imediatos de grupos reitores, especialmente, catarinenses, a um figurino político intocável, inquestionável. A tentativa, portanto, é de demonstrar que não há outra forma de agir politicamente. Essa estratégia, tão fecunda, dissolve qualquer debilidade que possa surgir e eclipsar o “sucesso” do ex-governador e tira do horizonte as possibilidades reais de se enfrentar os problemas que assolam o nosso Estado.

A segunda forma de explicar é caudatária da primeira, ou seja, é o ocultamento dos interesses burgueses que corriam na veia do ex-governador que nos fornece a chave explicativa da defesa angustiante da mídia catarinense. Não é exagero dizer que o ex-governador, ao longo da sua vitoriosa vida política, demonstrou comprometimento, sagacidade e um considerável traquejo com os seus negócios. A manutenção e ampliação do prestígio político, que se manifestava de forma impactante nas urnas e, porque não dizer, no apreço, ainda que ingênuo, de boa parte dos joinvilenses não é algo que deva ser desconsiderado nesta análise. Ocorre que todo este espectro político não teve como ponto de partida o intento de transformar profundamente a sociedade: a única forma capaz de tornar um político verdadeiramente prestigioso.

Para ser sincero o ex-governador sempre foi um político de extrato burguês e que não possuía nenhum laço identitário com a classe trabalhadora. Era o representante orgânico dos interesses de setores da burguesia catarinense e joinvilense. Mesmo vindo de um período em que fez oposição ao regime militar, nunca se destacou por ser um político das massas, de um político que pensasse à frente dos limites liberais da política, razão pela qual sempre atuou com certa liberdade dentro do congresso militar. Por tal condição não avançou um milímetro na luta pela superação das desigualdades sociais. Ficou muito reconhecido por sua “habilidade” ou por sua “articulação política”. Não obstante aos seus “traquejos políticos”, tudo era realizado de acordo com os interesses reduzidos. Isso é mais verdade se olharmos a teia complexa de relações políticas, partidárias, sociais e comunicacionais que estavam jungidas ao seu crivo. O controle desta teia é o que ainda explicava a sua condição de “cacique político” do Estado de Santa Catarina.

Se o que estamos a dizer faz sentido o projeto de poder lançado com a formação da tríplice aliança, enquanto marca desta capacidade de articulação, enfraquece-se com o seu falecimento. Ainda que os interesses possam ser mantidos, o vazio deixado levará algum tempo para ser preenchido; se é que possa ser preenchido diante da crise política e institucional que passamos.

Diante do esgotamento do sistema político liberal e de coalizão (enquanto forma de governar) só terá chances reais aquele político que estiver a integrar um projeto político efetivamente popular; que socialize os rendimentos do estado, portanto proponha um ataque aos interesses privados, dissolva as formas de prestígio social e as formas de poder dominante. Obviamente que estamos a falar de um político de “novo tipo”.

* Professor e Sociólogo

FHC comprou deputados? (com vídeo)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO





Rei do Rio.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Teje preso!


A LOT, o Fritz, a polícia e o futuro

POR JORDI CASTAN




         LOT E AS MEIAS RESPOSTAS - A LOT - Lei de Ordenamento Territorial segue parecendo mais uma interminável novela mexicana do que uma proposta concreta para uma Joinville melhor. Decisão da 2ª Vara da Fazenda Pública considerou cumprida pelo IPPUJ a exigência de apresentação de documentos sobre o projeto da LOT.

A mesma decisão, porém, reconhece que há pontos não esclarecidos nos documentos e estudos apresentados pelo IPPUJ. Os documentos não permitem identificar quais as regiões de Joinville terão maior volume de tráfego de veículos quando a lei for aprovada e entrar em vigor. Outro ponto sem resposta é se a mudança de zoneamento terá impacto no sistema de coleta de esgoto.

A decisão é um caso típico de "nim": sim... porém não. Assim a LOT avança para ser aprovada sem que haja respostas às questões levantadas desde o início do debate e sem que sejam apresentadas provas convincentes e estudos definitivos que permitam avaliar impacto que a LOT terá sobre a cidade. É estranha, para não dizer estranhíssima, a resposta do juiz que, por um lado, garante que o IPPUJ cumpriu a determinação, mas, pelo outro identifica os pontos que não foram respondidos. Reconhece que há dúvidas e perguntas sem ser respondidas mas aceita as meias respostas do IPPUJ.

O resultado é uma pá de cal, ao reconhecer que os estudos foram apresentados, e outra pá de areia, ao identificar quais pontos não foram atendidos. Daí que alguém possa achar que o tema da LOT envolve poderosos interesses econômicos ou os interesses econômicos de poderosos e que o tema deve ser tratado politicamente, quando deveria ser tratado juridicamente.

A decisão do juiz não responde a pergunta: foram ou não apresentados todos os estudos técnicos e as informações necessárias para que a população, em primeiro lugar, e a Câmara de Vereadores, posteriormente, possam se manifestar e votar com convicção e conhecimento, tendo em mãos todos os elementos? A decisão do juiz abre espaço para novas ações na justiça e acaba suscitando ainda mais dúvidas.

A MORTE DE FRITZ - Joinville perde mais um personagem ilustre. Símbolo da luta por um Rio Cachoeira limpo e despoluído, a morte, na semana passada, do seu habitante mais famoso é uma perda para quem acreditava que o rio algum dia voltaria a ser limpo. Quem tem oportunidade de viajar pela Europa não deixa de se surpreender com a transparência e a qualidade da agua dos seus grandes rios, seja o Reno em Colônia, o Sena em Paris, o Tamisa a sua passagem por Londres ou o Tejo em Lisboa. Aqui imaginar que um dia o Rio Cachoeira possa voltar a ser um rio limpo e se converter, um dia, numa opção de lazer ou no eixo de um parque linear que sirva para o lazer de todos é um sonho cada vez mais distante.

SEGURANÇA INSEGURA - Dados divulgados esta semana revelam que o número de policiais em Joinville, em relação ao índice de habitantes por policial, passou de 585 habitantes/policial em 2001, para os atuais 721 habitantes/policial. Não sei se fico mais incomodado com o descaso do Governo do Estado com Joinville ou com o silêncio das entidades empresariais, com a ACIJ à frente.

O resultado é que Joinville é hoje uma cidade muito mais insegura. Os assaltos têm aumentado e a sensação de que a impunidade campeia à vontade não se restringe aos bairros mais distantes ou as áreas tradicionalmente mais inseguras. Hoje não há quem não tenha uma historia de violência urbana, de insegurança vivida pessoalmente ou por alguém muito próximo. O prefeito deve achar que a Guarda Municipal vai mudar esse quadro e por isso faz pouco para se esforçar em trazer para Joinville os 179 policiais militares que Joinville precisa para voltar aos índices de 2001.

CELERIDADE - Depois de cinco anos sem uso, o prédio que abrigou a CASAN primeiro e a Gerência de Educação mais recentemente, o Governo do Estado está pedindo autorização para colocar o imóvel à venda. Foram cinco anos. Ainda há quem ache que foi rápido. Se compararmos com outros exemplos locais, pode ser que sim, que este processo ande rápido. O joinvilense é campeão no quesito esperar sem reclamar, e a gente que se aproveita desse jeito pacato de ser.

- E assim vamos, cada dia dando um passo mais avançando na direção a Joinville do futuro.