POR FELIPE SILVEIRA
Minha família achava que era coisa passageira da adolescência quando eu dizia que não queria ficar rico. De fato, não fiquei, e assim sigo. Inclusive, hoje digo mais: ficar rico é a pior coisa que podemos querer. Pois o rico pressupõe o pobre, e isso é coisa que não desejo pra ninguém.
Não desejo porque entendo que o pobre é alguém sem recursos para usufruir dos seus direitos – moradia, educação, transporte, saúde, lazer – em maior ou menor escala.
A imensa distância que colocamos em relação aos problemas dos pobres é uma das principais ferramentas para a manutenção desse sistema de exclusão, pois o justifica.
Dias atrás eu discutia com uma pessoa bastante próxima sobre as remoções em razão da copa e ela me questionava se as pessoas haviam comprado ou não as casas, pois “não achava certo invadir”. Eu falei sobre o processo de formação dessas comunidades, sobre as razões dessas “invasões”, mas fiquei com a impressão de ter sido em vão. Claro, é muito difícil para alguém que, emergente, cresce com a ideia de conquista da casa própria por meio do trabalho. Mesmo que este sonho seja frustrado ao longo da vida pelos mesmos que forçaram a existência daquelas comunidades.
Os mesmos sonhos e valores ganham as periferias, favelas e outras comunidades. Desde o adolescente que deseja o tênis de marca ao jovem que almeja a compra de um apartamento. O sonho de todos é ficar rico (e aí não importa o grau de riqueza) para conseguir usufruir dos direitos que devem ser de todos. Comprar o tênis, o carro, ir pra balada, viajar...
É difícil mudar essa ideia sem depender das contradições do capitalismo, que, em determinado momento, forçam uma noção mais realista do sistema. O que é uma pena, já que isso não ocorre sem perdas e dor.
Seguimos, no entanto, tentando. Não se trata de fazer voto de pobreza. É o contrário. É um voto de direitos para todos.