POR JORDI CASTAN
Finalmente se conhecem os detalhes de como surgiu a ideia da
reforma administrativa. E os joinvilenses têm o direito de saber. A reforma
administrativa teve basicamente dois lances, o antes e o depois. O antes: o
surgimento da ideia preliminar é um capítulo interessante da nossa historia
recente e é justamente o que gostaria de compartilhar aqui. O segundo
capítulo: envolve o amplo debate que não houve na nossa Câmara de Vereadores e deverá ter ainda desdobramentos quando puder ser avaliado, com a perspectiva do
tempo, o impacto que a reforma possa vir a ter para o cidadão e como nos
afetará no futuro.
Pouca gente sabe que a ideia original da reforma não partiu
do próprio prefeito e foi o resultado de um acidente de percurso, o que poderia
ser considerado uma casualidade. Mas o que muita gente sabe é da paixão do
prefeito pela música erudita. E justamente por ser tão conhecida, o prefeito
foi convidado pelo prefeito de uma cidade vizinha para assistir um concerto de
música erudita, no programa a Sinfonia Incompleta D 759, de Franz Schubert.
À ultima hora - e para atender um convite urgente em Brasília - o prefeito teve que declinar o convite e transferiu a responsabilidade de
representá-lo a um dos seus secretários mais próximos. Não há unanimidade sobre
se o secretário que o representou foi este ou aquele, mas o que sim se sabe é
que o secretário em questão entendia pouco de música e menos ainda de música
erudita. No dia seguinte, o secretário elaborou um detalhado relatório, com o
objetivo de informar o prefeito do que tinha visto e fazer as suas recomendações.
Foi justamente depois de ler este informe que o prefeito indicou o
secretario para elaborar o projeto da reforma administrativa que aprovou
o nosso legislativo.
O informe ao que o Chuva Ácida tem tido acesso em exclussividade.
1.- Os músicos que tocam os instrumentos de madeira demoram
muito tempo em começar a tocar, ficam uma boa parte do tempo sem fazer nada. A minha sugestão é que se reduza a sua quantidade e parte do seu trabalho seja
redistribuído entre outros músicos para reduzir a ociosidade.
2.- Por esse mesmo motivo, os músicos que tocam o triângulo,
o címbalo, o bombo e outros instrumentos de percussão devem ser reduzidos: um
único musico pode tocar todos os instrumentos e ainda para aumentar a
produtividade o músico escolhido poderá além de usar os dois braços utilizar as
duas pernas.
3.- Os doze violinos
tocam todos as mesmas notas. É evidente que há um desperdício de esforços e, com esta repetição, é recomendável reduzir drasticamente o número de músicos neste
grupo. Se o objetivo de contar com esta quantidade de violinos é o de produzir
um som mais alto, isso poderia ser obtido facilmente com um amplificador
eletrônico de alta potência e com dois ou, no máximo, três músicos.
4.- A orquestra dedica um enorme esforço a tocar fusas e, aparentemente, isso representa um sofisticação inútil. Seria recomendável reduzir
todas as fusas para as duplas colcheias ou para colcheias mais próximas.
Simplificando o processo será possível poder utilizar estagiários e músicos
menos qualificados e será possível baixar os custos.
5.- A repetição constante por outros instrumentos das
passagens já interpretados pelos instrumentos de corda é cansativa e acrescenta
pouco. Se todas estas repetições fossem retiradas da partitura, a peça, que dura
quase duas horas, poderia ser interpretada em pouco mais de vinte minutos.
6.- Se tomadas em conta e aplicadas as recomendações aqui
mencionadas, haverá uma redução do número de músicos de 90%. Assim, dos 82
músicos que atualmente compõem a orquestra seria possível trabalhar com um
efetivo de 8,2 músicos.
7.- Também seria possível reduzir os custos de utilização da
sala de concertos, com a nova composição da orquestra seria possível utilizar
uma sala de reuniões de tamanho médio e retransmitir o concerto utilizando
equipamentos audiovisuais e de videoconferência.
8.- Inclusive o teatro utilizado para a apresentação
perderia a utilidade e não seria mais necessário. Poderia ser fechado e depois
vendido e o seu espaço aproveitado para a implantação de um moderno projeto
imobiliário, uma torre com 30 andares por exemplo.
9.- Finalmente, senhor prefeito, se o dito Schubert tivesse
prestado um pouco mais de atenção a estes aspectos, seguramente teria acabado a
sua sinfonia no prazo estabelecido e não a teria deixado inacabada.
Isso posto, está explicada a linha mestra da reforma
administrativa e o porquê foi abraçada com tanto entusiasmo pela administração
municipal com o prefeito à cabeça. Não há como se surpreender que os vereadores - os mesmo que aprovaram que o passeio seja agora para os veículos e não mais
para os pedestres - pudessem aprovar tão facilmente uma proposta arrojada,
inovadora e moderna como a que o executivo elaborou e o prefeito chancelou.