quarta-feira, 16 de abril de 2014
Os midiots e os 174 jornais
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Lembro de ter lido, em um livro qualquer, que uma única edição de fim de
semana do “The New York Times” trazia mais conteúdos do que Emmanuel Kant teria
recebido de informação ao longo de toda a vida. É difícil de acreditar, mas, de
qualquer forma, estamos a falar na era do impresso e da pouca mobilidade
geográfica. Pode explicar.
Um dia destes, fiquei a saber de um estudo realizado pela Universidade da
Califórnia (publicado na revista Science) que apresentava este cálculo: nos
dias de hoje, numa sociedade moderna, uma pessoa recebe um volume de informação
que se equipara a 174 jornais por dia. Há pouco mais de duas décadas, antes da
internet, esse número era de 40 jornais diários.
É claro que estamos a falar dos infoincluídos, das pessoas que têm acesso à
internet e a todas as suas vantagens, em especial as redes sociais. Aliás, acho
divertidas as pessoas que não têm Twitter ou Facebook, quando estamos à frente
de dois dos maiores negócios do nosso tempo (somente o Facebook faturou US$ 1,6
bilhão só no ano passado).
Mas o que essa gente faz com tanta informação? Despreza. Desperdiça.
Desaproveita. Como é possível ter acesso a um volume de informação
correspondente a 174 jornais e permanecer na iliteracia? É só passar uns cinco
minutinhos no Twitter ou no Facebook para perceber que esses meios representam
a democratização da estupidez. O problema não é o volume de informação, mas a
capacidade de gerir essa informação.
Há um diferença: comunicar é uma coisa, informar é outra. Não basta ter
acesso à informação. É preciso dispor de instrumentos mentais que permitam
interpretá-la e ler o mundo. Quer dizer: essa gente vive soterrada em
informação, mas não entende patavina. É a alienação (palavra de outros tempos).
É uma geração de “midiots”. Ou seja, idiotas da mídia. Os caras estão
ligados à internet, têm acesso à informação e conseguem comunicar em tempo real
por meio de engenhocas cada vez mais sofisticadas. Mas continuam idiotizados. Entenderam, anônimos?
terça-feira, 15 de abril de 2014
Chamar a presidente de ladra?
As redes sociais fizeram com que muitas
pessoas perdessem o pudor. Se você chamasse, publicamente, o seu vizinho de
ladrão, o que acha que ele faria? Muito provavelmente iniciaria um processo
judicial para pedir responsabilidades. E pedir provas que confirmem a acusação.
Mas nas redes sociais não é assim.
Vejam o exemplo dos dois comentários abaixo.
As pessoas chamam a presidente Dilma Rousseff de ladra sem pestanejar. Fica a
pergunta: e se a presidente soubesse e decidisse processar os sujeitos? Ora,
uma pessoa pode, legitimamente, não gostar dela ou do partido dela. Mas daí a
chamá-la de ladra (e sem provas, claro) e um passo um tanto exagerado. Só pela
certeza de impunidade é que isso acontece.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Audiências democráticas e participativas na LOT. Onde?
POR JORDI CASTAN
O IPPUJ pretende
realizar as audiências públicas da LOT a um ritmo trepidante: uma por dia, com duração
de duas horas por sessão. As chances de que programa previsto não dê certo são
muito maiores que as chances que tudo funcione como o Instituto prevê. O mais
curioso neste caso é a resistência feroz dos organizadores em aprender com os
erros do passado.
O primeiro ponto é o
fato que o IPPUJ ainda não entendeu o que é e como deve ser organizada uma
audiência pública que permita uma ampla participação e que abra espaço para que
todos os cidadãos possam se manifestar. Mais do que isso, para que propostas,
sugestões e críticas sejam acatadas e incluídas na proposta apresentada. Quando
o tema da audiência pública é a LOT, a constante tem esta: os técnicos tem
estado mais perdidos e confusos que Adão no Dia das Mães. Pelo rico histórico
de trapalhadas e atrasos, seria melhor e mais conveniente que o IPPUJ fosse
menos ambicioso e mais realista.
Não deve ser fácil para
alguém com o perfil do presidente do IPPUJ enfrentar armado só com bom senso a
enorme pressão em prol de audiências expeditas, que sem nenhum tipo de sutileza
exercem os setores interessados na aprovação da LOT. Aliás, setores estes que
têm no próprio prefeito o seu principal expoente e representante.
Não têm sido ainda
apresentados os estudos necessários para que cada joinvilense possa avaliar o
impacto da LOT no seu bairro, na sua rua ou na sua quadra. É preciso que estes
dados sejam apresentados com antecedência suficiente para análise dos interessados,
para que possam apresentar, em tempo hábil, alternativas ao projeto atual. Sem
apresentar todas as informações necessárias e adequadas, qualquer aprovação que
possa se dar será um cheque em branco e um salto para o desconhecido.
A programação
divulgada pelo IPPUJ no seu site prevê uma única audiência em cada uma das
regiões propostas e uma duração máxima de duas horas, tempo que já se anuncia
insuficiente para uma audiência pública de tanta importância. Serve como exemplo
a reunião realizada no Bairro Santo Antonio para debater, com a comunidade, o
sentido de um pretenso binário, o que gerou um acalorado e prolongado debate.
Quem prevê
audiências tão breves para um tema tão complexo e de tanto impacto só pode ter
em mente o velho modelo das audiências homologatórias, tão comuns em Joinville.
Aquelas em que tudo já está decidido e os cidadãos são chamados para aplaudir,
concordar ou até espernear, mas sem que não seja mudada nenhuma virgula do
projeto apresentado.
Já tive oportunidade
de participar de várias audiências públicas e este tem sido o modelo. O calendário,
os horários, a falta de informação sobre o modelo e formato das audiências, a
ausência de informações adequadas transparentes e acessíveis ao cidadão que participar
das audiências não deixam muito espaço para imaginar que algo tenha mudado em
Joinville.
Assim, as chances de que a democracia passe longe das audiências públicas
da LOT é grande. Vamos esperar para ver.
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