
Para quem ganha um salário acima de R$ 3.000,00 - portanto, baixo - e sofre para pagar a prestação do carro, do apartamento ou da faculdade, pode parecer estranho que a vida seja tão mais difícil para outros. Daí vem a ideia que ao outro falta esforço, que desperdiçam as oportunidades. Afinal, se "eu" me sacrifico e, aos poucos, conquisto, por que "eles" não conseguem?
Mas isso acontece porque boa parte da população não conhece - ou seria reconhece? - a situação dos trabalhadores do país. Quem gasta uma parte do seu salário na prestação da casa e do carro não sabe (ou não lembra) como é gastar a maior parte do salário com aluguel e com transporte público.
Quem ganha três mil ou mais parece não se ligar que os salários nos empregos mais precários variam do mínimo (agora R$ 880,00) a R$ 1.200,00. Um salário baixo de R$ 3.000,00 é, portanto, o triplo do salário do grosso da massa trabalhadora.
Por isso, quando a passagem de ônibus, que já era absurdamente cara, aumenta para 3,80 e 4,50, o milionário prefeito, rico desde a infância, não tem direito de falar de bom senso.
Para quem ganha bem e anda de carro, o aumento da tarifa em alguns centavos é irrelevante. Para quem ganha até mil reais, mora na periferia, precisa pagar ou ajudar a pagar o aluguel, gasta o que sobra com remédios, cada centavo é um roubo. Digo, um rombo.