POR FELIPE CARDOSO
Mulher, preta, pobre, carioca e universitária. Mirian França, 31, decidiu
passar suas férias no Ceará. Longe da mãe e dos amigos, a jovem, que faz
doutorado na UFRJ, onde se formou em Farmácia e, por não ter renda, morava desde
os 20 anos, vive um pesadelo.
Acusada pelo assassinato da italiana Gaia Barbara Molinari, a acadêmica negra que curtia as suas férias está presa desde o dia 26 de dezembro, incomunicável e sem o direito de defesa.
Acusada pelo assassinato da italiana Gaia Barbara Molinari, a acadêmica negra que curtia as suas férias está presa desde o dia 26 de dezembro, incomunicável e sem o direito de defesa.
Assim como tantos outros milhares de casos, quando o suspeito é pobre ou preto a imprensa trata logo de mostrar o rosto do indivíduo e invadir sua privacidade, fazendo seu julgamento antes mesmo do judiciário que, ultimamente, vem sendo muito influenciado pela opinião pública. Como não bastasse a imprensa brasileira dar seu espetáculo com a falta de profissionalismo, Mirian sofre com o racismo e a podridão da imprensa italiana que, desde o acontecimento, tem atacado a jovem brasileira.
O crime ocorreu em Jijoca de Jericoacara, área conhecida por ser preferida da
máfia italiana e pela morte e estupros de turistas que visitam a região. A
brutalidade com que a jovem foi assassinada indica que o crime foi cometido por
um homem muito forte ou, até mesmo, por dois homens, e que houve luta corporal.
Mas o interessante é que nada disso foi dito na “grande mídia”, nem a polícia
do Ceará apresentou fatos, como marcas no corpo, por exemplo, que mostrem que
Mirian tenha alguma participação no crime. Também não foi dito que querem
cremar o corpo de Gaia sem que o caso seja concluído.
Enquanto mais um circo é armado pela imprensa brasileira, mais um corpo negro é exposto, explorado e humilhado. Enquanto eles aumentam a audiência e a tiragem dos jornais, mais um corpo negro sofre com a injustiça. Isso já se normatizou no país, por isso, já não causa estranheza e os brasileiros aceitam como verdade.
O jornalismo sensacionalista e mau caráter se torna, a cada dia, o órgão de
justiça mais importante do país. O quarto poder realmente existe: a mídia. E
Elza Soares tinha razão: “A carne mais barata do mercado é a carne negra... que
vai de graça para o presídio”.
O que está acontecendo com Mirian França, aconteceu com Claudia, morta e
arrastada por policiais. Aconteceu com o dançarino DG, assassinado por
policiais. Aconteceu com Amarildo, assassinado por policiais que até hoje não
revelaram o paradeiro do corpo do ajudante de pedreiro. Aconteceu com o ator
Vinícius Romão de Souza, preso por engano pela polícia.
Aconteceu e acontece com milhares de negros diariamente e ninguém fala nada.
Todos acreditam na versão da polícia e dessa imprensa golpista. Por isso volto
a repetir: a nossa voz é importante e garantirá a nossa liberdade.
Devemos lutar por justiça para que esses casos cessem. Esses safados querem nos
manter amarrados, acuados e sem voz.
Não somos suspeitos. Não somos criminosos.
Por que não ficam comovidos com a morte de milhares de jovens negros
anualmente? Por que sentem pena da morte da italiana e não sentem pena da jovem
negra injustiçada?
Se fosse uma mulher branca, estudante, fazendo doutorado em uma das maiores faculdades do país, dificilmente estaria encarcerada. Mas é uma mulher negra e pobre.
Se fosse uma mulher branca, estudante, fazendo doutorado em uma das maiores faculdades do país, dificilmente estaria encarcerada. Mas é uma mulher negra e pobre.
Seu pensamento escravista vai ser desconstruído por bem ou por mal.
A luta de classes não começou no governo petista... Ela sempre existiu.
Liberdade para os negros injustiçados. Liberdade para as favelas oprimidas. Liberdade para Mirian França.
A luta de classes não começou no governo petista... Ela sempre existiu.
Liberdade para os negros injustiçados. Liberdade para as favelas oprimidas. Liberdade para Mirian França.