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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mobilidade urbana: como eu volto da balada às 3h da manhã?


POR FELIPE SILVEIRA

Semana passada, mais precisamente na quinta-feira (22), foi celebrado o Dia Mundial sem Carro. A ideia é boa: fazer as pessoas refletirem sobre o uso excessivo do carro e pensar nas alternativas de mobilidade, como o transporte público e a bicicleta. Pensando nesse tema tão importante, nesse trânsito tão caótico, escrevi esse texto, que começa com a seguinte historinha:

Lá pelos 16 ou 17 anos, meu grande dilema era saber como voltar pra casa de uma festa que acabasse mais cedo, lá pelas 2 ou 3 horas, por exemplo. Sem carro nem permissão pra dirigir, sem bicicleta (não dava pra ir pra balada de zica), sem dinheiro pro táxi e sem carona, eu tinha que esperar, pelo menos, até as 4 horas pra voltar pra casa, que era mais ou menos a hora que o ônibus começava a rodar.

Por causa dessa dificuldade pra voltar pra casa, o meu sonho era fazer logo 18 anos e a carteira de motorista, para não me incomodar mais com essa situação. E, assim como eu, milhões de moleques não vêem a hora de sair por aí motorizados.

É claro que esse não é o motivo principal para alguém querer ter um carro, mas esse pequeno relato pessoal ilustra a questão que, para mim, é central para o debate da mobilidade urbana. O transporte público precisa oferecer vantagens reais para as pessoas, pois só assim será usado efetivamente. “Não adianta” trabalhar pela conscientização se, na vida real, andar de ônibus é um inferno. E é.

O mesmo vale para a bicicleta. Eu, que ando de magrela há 15 anos para trabalhar e estudar, tenho me sentido cada vez mais inseguro nas ruas sem ciclovias e sem respeito algum por parte dos motoristas.

O preço da passagem do ônibus é um absurdo. Simplesmente não vale a pena. Só anda de ônibus quem não tem condições (financeira ou outra) para andar de carro. Sem falar do desconforto e da demora do transporte público. Recentemente, eu tive a oportunidade de escolher entre ir trabalhar de carro ou de ônibus, pois o local era longe da minha casa. Fiz as contas e o carro saiu mais barato. Mesmo que a passagem custasse a metade do preço, ainda assim seria muito cara para a população optar pelo ônibus.

Ou seja, é urgente que se pense em tornar o transporte coletivo vantajoso para a população. A conscientização deve caminhar junto, mas ela sozinha não resolve. Quando conseguirmos pegar o ônibus pertinho de casa, viajar confortavelmente, e chegarmos rapidamente e próximo ao destino, com baixo custo (ou nenhum custo, como na proposta do Movimento Passe Livre) aí sim iremos avançar nessa questão.

Esse texto é apenas uma pincelada sobre a questão do transporte, que envolve muito mais coisas, como o direito de ir e vir, o acesso à cultura, ao lazer. Não há, aqui, nenhuma pretensão em dar uma palavra final sobre a questão. Espero que o debate se estenda nos comentários e em postagens futuras (minha e dos colegas).