POR VANESSA BENCZ*
Eram 9 da manhã, e o outono começava a se evidenciar com um vento fresquinho. Eu tinha 18 anos e saí de casa levando comigo um motivo especial. Queria ver de perto essa tal Feira do Livro que os jornais e a televisão falavam que ocorreria em Joinville, pela primeira vez. Eu nunca tinha visto uma coisa dessas na minha vida. Eu amava ler; então, era minha obrigação levantar cedo para conferir tal evento.
Lembro-me da sensação de incredulidade, quando avancei pelo Expocentro Edmundo Doubrawa. Vi aqueles quiosques ainda sendo montados. Livros sendo empilhados, um por um, em mesas e nas prateleiras das estantes. Pessoas apressadas, amontoando obras literárias de capas coloridas, conferindo cor, vida e mistério ao ambiente. Meio amortecida, avancei pelos corredores e senti o aroma de livros novos e antigos; o perfume que nos faz estremecer, ao aproximar o nariz das páginas de um livro desejado.
Parei no quiosque da Editora UFSC para observar melhor aqueles livros de capa amarela. Eram livros de cálculo. O homem que montava o quiosque perguntou se eu queria ajudá-lo a organizar os livros. Aceitei. E não saí mais de lá, até o final da feira – foi o meu primeiro emprego. O mais próximo, desde então, daquilo que eu sempre amei: a literatura.
Eu organizava os livros em uma mesa de madeira, e também os vendia para os visitantes. De livro – mesmo os de cálculo - eu entendo! Aquele homem remunerou o meu serviço, ao final do evento, com três livros e muitas palavras de agradecimento.
É com imenso carinho que eu guardo a lembrança da primeira Feira do Livro. Não apenas porque foi lá que experimentei o entusiasmo em trabalhar com livros. E, sim, porque vi nascer e crescer um evento que hoje é parte imprescindível de Joinville.
Na edição de 2008, acompanhei de perto a organização para a feira. Sueli Brandão, que encabeça o evento desde o começo, corria contra o tempo para amarrar toda a programação da melhor maneira. Tive a oportunidade de redigir, para a programação, um breve currículo de cada escritor famoso que viria. Me senti novamente integrada à feira, e com muito orgulho.
Nas edições que se seguiram, fiz cobertura jornalística da feira para os diversos veículos em que trabalhei. Mas, em nenhuma das edições, eu tive a ousadia em imaginar que um dia eu teria a chance de lançar um livro na feira, o que estou muito perto de realizar.
A gente sempre tem carinho por aquilo ou aqueles que vemos crescer. A feira, hoje, já é peça importante no quebra-cabeça que é Joinville. Estamos na nona edição, que começa em 12 de abril e dura 11 dias. E fico muito feliz em ver que o evento novamente será realizado no Expocentro Edmundo Doubrawa.
Não que não achasse legal quando era na praça Nereu Ramos – foi uma fase importante, até para levar os livros para mais perto da rua, do nosso cotidiano, do nosso caminho e da relação com a cidade, com aquilo que é urbano. Mas, no caso da Feira do Livro de Joinville, acho elegante – e até mais seguro, por causa das chuvas típicas da cidade – deixar os protagonistas dessa festa reinarem em um local especial, paralelo à correria do miolo da cidade.
A Feira do Livro é imprescindível para o leitor, e também para o escritor. Principalmente o escritor joinvilense. Este tem uma responsabilidade dobrada, quando se trata da feira. Eles são o argumento da festa, a prova de que aqui se lê, e aqui também se escreve. Quase uma coisa subsistente: aqui nós lemos, e também escrevemos. E nós lemos o que nós escrevemos.
Sugiro que todos os moradores de Joinville tirem um tempinho para visitar a Feira do Livro de Joinville. Mesmo que você nem goste tanto assim de ler. Porque com certeza você vai encontrar um outro tipo de manifestação artística que lhe chame a atenção – seja um grupo de atores brincando, um quiosque de bugigangas coloridas ou, quem sabe, a capa de um livro que te acorde a vontade de ler. E vai que alguém te convida para ajudar a organizar os livros em uma prateleira? No meu caso, mudou os rumos da minha história.
* Vanessa Bencz é jornalista.