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terça-feira, 10 de março de 2015

Amizade?

PEDRO HENRIQUE LEAL
Esse tipo a de imagem exemplifica a parte um do problema
A parte dois vem quando o postador insiste que não há insulto.


Faz um bom tempo que tenho notado um certo padrão em discussões políticas. Seja qual for o tópico, o cidadão xinga, insulta, acusa, calunia e difama quem discorda de suas posições. É contra a pena de morte, redução da maioridade penal, tortura? Deve ser bandido. Votou na Dilma? É corrupto, idiota, ou recebe bolsa família. É a favor de taxação de grandes fortunas? Vagabundo que não trabalha e é sustentado pelos pais. A favor da legalização das drogas? Bandido maconheiro, traficante que nunca trabalhou na vida. Defende direitos LGBT? Viado; se defende adoção, é pedófilo. Critica ações militares no oriente médio? Terrorista. A lista é grande.

Mas esse velho padrão de insultos não é o padrão que eu notei. Não, o padrão é mais embaixo. Esse vem depois dos insultos. Quando se trata de lidar com as pessoas que tão ferozmente agride, esses cidadãos revoltados se acanham e se calam. Ou vem com uma cartada mais do que manjada: “não deixemos política estragar nossa amizade”.

Alguns adicionam um parenteses na argumentação, A estranha ideia que, por não mencionarem nenhum nome, os insultos online “não são pra você”. Outra variação é que, como foram pela internet, “não são de verdade”. Como se houvesse uma separação discursiva entre “online e offline”. E como se o conjunto “proponentes do controle de armas” não incluísse “meu amigo que é a favor do controle de armas”.

Desculpem me os que discordarem... mas que espécie de “amigo” diz que o “amigo” merece ser espancado? Que a “amiga” feminista precisa ser estuprada, o “amigo” comunista devia ser fuzilado, o amigo gay que quer adotar um filho(a) “quer molestar”, e o amigo que votou no candidato X é culpado por todos problemas do mundo?

Frente a isso, os “amigos” insultados têm três opções. Uma é fingir que não foram repetidas vezes insultados, e virar um tipo de “Stepford Wife” sociopolítica, mantendo um sorriso por conveniência. Outra é romper a “amizade” tóxica, ao menos até que o cidadão aprenda a não xingar quem discorda das posições dele. E quando se toma esse caminho, a reação é ainda mais fascinante do que o problema em si.

Eu perdi a conta de quantas vezes vi ou ouvi isso: pessoas surtando online porque foram excluídas das redes sociais, ou porque o “amigo” que alguns dias atrás, na mesa de bar, ele disse ser um “filho da p.... salafrário” por votar no “candidato errado” não fala mais com ele. Não raro, chamam a perda de contato de “censura” e “ditadura”. Como se amizade fosse uma obrigação, um direito essencial que não pode ser rompido por uma das partes.

A última opção racional é confrontar o “amigo” quanto a esse comportamento, de forma civilizada. E essa opção raramente tem bons resultados. Quando a pessoa chega a esse ponto, é improvável que ainda se disponha a ouvir. Chances são que xingue mais, esperneie, acuse o amigo que tentou dar um toque sincero de ser “imbecil” e “corrupto”... Enfim, não há dialogo.

Faço questão de frisar que os exemplos de insulto no começo do texto se devem a uma questão simples: em minha experiência, vejo mais de um lado do debate. E muitas vezes, esse comportamento é fomentado por políticos e formadores de opinião deste ou daquele lado. Vide, por exemplo, as inúmeras calúnias forjadas contra políticos, ou os discursos relinchantes de certos políticos.

Não significa que os partidários de uma vertente política sejam incapazes de conviver com os de outras. Mas sim que certas pessoas atingem um nível de radicalismo tão venal e tão tóxico, que tudo se torna motivo para o insulto. E quanto a essas pessoas, minha recomendação é que mesmo quem concorde com as posições dela deveria romper a “amizade”. Se é que isso é amizade.