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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O dilúvio e as 10 pragas em Joinville


POR JORDI CASTAN

Depois de mais de 40 dias de chuva, Joinville ganhou um dia sem chuva. Noé abriu uma janela na arca e soltou uma pomba. A chuva é a culpada de tudo. O problema é a chuva. Choveu demais... Assim fica fácil, até porque a chuva não pode se defender e nós não precisamos fazer nada. Ao fim das contas a culpa não é nossa, é da chuva. Teve até estúpido que, desde a sumidade da sua própria estupidez, culpou os colonizadores de terem escolhido o local errado e aindasugeriu que Joinville deveria ser em Barra Velha. Sem compreender que aí não seria mais Joinville.

Não vamos a discutir o quanto choveu. Tampouco vamos aqui a discorrer sobre a frequência das chuvas ou sobre a intensidade do El Niño, até porque tanto a chuva como o El Niño, são anteriores à Colônia Dona Francisca. Mas vamos discorrer aqui sobre as causas de que cada vez os estragos sejam maiores, os custos das obras para amenizar o impacto das enchentes sejam equivalentes aos das três principais pirâmides do Egito e o futuro que será com certeza ainda pior.

1.- A primeira praga foi a urbanização dos fundos de vale. Rios precisam de espaço para se espraiar em época de chuvas intensas. Os fundos de vale cumprem essa função. Absorvem mais água nos momentos de pico e aos poucos voltam ao seu volume normal. Ao urbanizar as áreas que permitiam que o rio alargasse, não resta outra saída para a água do que tentar recuperar os espaços que secularmente lhe pertenciam.

2.- A segunda praga a impermeabilização do solo urbano. Com menos áreas verdes e com mais áreas construídas, a água de chuva não infiltra a acaba chegando aos rios com maior velocidade e rapidez. O resultado é que se reduz o tempo e mais água chega ao sistema de drenagem, saturando-o e comprometendo a sua função.

3.- O aterramento das áreas de amortecimento das cheias. Quando um rio saía do seu leito natural, ocupava as áreas baixas na sua volta. Ao descer de novo o nível, as águas voltavam ao leito e os prejuízos eram menores ou inexistentes. Na medida em que se aterram as áreas que antes permitiam esse amortecimento - e sem a água ter para onde ir -, a cada nova chuva a água alcança cotas mas altas, provocando prejuízos onde não os tinha provocado. Assim a cada novo aterro teremos novas cotas de inundação. O que agrava mais e mais a situação.

4.- A quarta praga foi o aumento do perímetro urbano para áreas sabidamente alagáveis. De maneira irresponsável, planejadores, autoridades e legisladores têm autorizado o aumento do perímetro urbano e a correspondente urbanização de áreas sabidamente alagáveis. É sabido que o Jativoca, o Morro do Meio, o Cubatão alagavam com a menor chuva. Agora seguem alagando e causam prejuízos cada vez  maiores. Alguém ganhou muito dinheiro quando estas áreas foram urbanizadas e até agora ninguém foi responsabilizado.

5.- A ganância de políticos e especuladores que em troca de benefícios autorizaram loteamentos e a ocupação de áreas abaixo do nível da maré. Sem a cobiça de uns e a ganância de outros, esses loteamentos nunca teriam sido autorizados. Especial responsabilidade têm os órgãos de planejamento urbano, que não só não se posicionaram frontalmente contra o absurdo, mas calaram e contribuíram, com a sua omissão, para agravar o problema de centenas de imóveis localizados dentro da denominada “Mancha de Inundação” - aquelas áreas da cidade que pela sua cota de nível, não deveriam ser ocupadas.

6.- A construção de um prédio na margem do Cachoeira estrangula o rio. Um dos maiores absurdos é a construção, devidamente autorizada de um prédio, na margem do Rio Cachoeira, na frente de própria prefeitura... e os responsáveis fingem que não veem. Quem olha para o outro lado e que não tem a coragem que faz falta para implodir um prédio que nunca deveria ter sido construído. Em tempo: quem autorizou? Na gestão de que prefeito? Quem foi o secretário de obras?

7.- O avanço das construções sobre as margens dos rios. Esta praga tem dois componentes. O primeiro é o avanço das construções até as margens dos curso de água, impedindo completamente o espraiamento natural e cíclico dos rios, oprimindo-os e delimitando-os com muros, defensas e construções. Sem ter como espraiar e ocupar as áreas mais baixas os rios sobem de nível e ocupam áreas que antes não ocupavam.

8.- A destruição da mata ciliar. A mata ciliar protege rios, como os cílios protegem os olhos. Do mesmo modo a vegetação que cresce de maneira natural as margens protege os rios, evita o assoreamento, serve de área de expansão e espraiamento e ainda aumenta a área verde e serve de corredor  e refúgio para a fauna.

9.- A construção sobre os próprios rios e córregos, cobrindo os seus cursos, e em alguns casos construindo sobre eles. Não satisfeitos com a sétima praga, os joinvilenses ousaram ainda mais e construíram dentro dos rios. Colocaram prédios sobre o que ontem eram cursos de água. Chegaram a colocar estacas, construir muros e com isso estrangularam ainda mais o que já tinha sido estreitado. Sem acesso para manutenção e dragagem a cada nova chuva os rios de Joinville apresentam um problema maior.

10.- Converter rios e cursos de agua em lixões a céu aberto, que recebem de colchões a pneus, com isso reduzindo o volume de água e transbordamentos com maior facilidade. É possível encontrar de fogão a pneu, de colchão a carro roubado. Tudo cabe nos rios de Joinville, sem esquecer das bolsas de plástico, as garrafas pet e móveis velhos.

Mas há quem prefira dizer que o problema é a chuva, sem querer entender que o maior problema são as 10 pragas que sofre esta cidade desde a sua fundação. Hoje ainda poderíamos acrescentar outras duas. Os políticos corruptos e os gestores ineptos preferem culpar a chuva pela sua incompetência. Nem me surpreenderia que algum vereador mais assanhado não apresente um projeto de lei proibindo a chuva em Joinville em horários que coincidam com a maré alta.