quarta-feira, 5 de julho de 2023

Falar no diploma de Lula é só conversa para boi dormir

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

As cenas surgiram na internet, mas no início não reconheci aquele senhor idoso, muito alquebrado e com ar abatido, a dar uma entrevista no programa Roda Viva. Foi preciso pesquisar um pouco para saber que era o apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, na desinteligência dos seus 87 anos. O excerto que circulou na internet tinha a ver com o diploma de Lula. Que tédio.

O homem não foi meigo. “O senhor me explica de um presidente da República, no dia que recebe o diploma de presidente, chora e diz que é o primeiro diploma que recebeu na vida? Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil, qualquer coisa que seja, ser presidente da República? Por isso que o país está desse jeito”, disparou o senhor da praça.

É apenas ranço de classe. No Brasil, um canudo universitário é historicamente associado a um status social mais elevado. Houve tempos em que ter um diploma na parede era um privilégio reservado aos ricos. Aliás, esse é um borrão difícil de limpar no inconsciente social da pequena-burguesia endinheirada. Os ricos brasileiros precisam ter pobres à volta para se sentirem verdadeiramente ricos.

Há um pavor de classe. Se os pobres começam a ter pleno acesso ao ensino, há o risco de se desequilibrar a “ordem natural”. É importante que os pobres fiquem no lugar dos pobres. E lugar de pobre não é nas universidades. A educação precisa continuar a ser um divisor de águas na sociedade: os ricos têm diplomas, os pobres não precisam. Porque, afinal, devem permanecer na escala inferior que lhes é destinada.

A intervenção do senhor, que herdou do pai um banco inteirinho (daqueles de sentar), foi logo atacada pelo pessoal da esquerda. Lembraram que Sílvio Santos, o verdadeiro dono da praça, também não tem diploma. Mas isso é apenas whataboutism e pouco contribui para discutir o que realmente interessa. Importante lembrar que nos dois primeiros mandatos, o atual presidente criou 18 novas universidades federais e 173 campus universitários.

Importante salientar também que, durante esse período, o governo petista conseguiu duplicar o número de alunos do ensino superior no Brasil. Ou seja, a população brasileira com ensino superior passou de 8,3%, em 2002, para quase 17% da população. Para ter uma comparação, é só dizer que os números de pessoas com ensino superior em Portugal, com 35%, e Suécia, onde o número sobe aos 43%. Há muito a fazer e Lula não baixa os braços.

Portanto, falar da falta de diploma do presidente é apenas conversa para boi dormir. Tudo misturado com uma boa dose de ressentimento de classe. Porque Lula tem muita inteligência emocional e sabe ler o mundo melhor que muitos dos seus críticos. É conversa de reacionários tentando ter algum tema, num tempo em que o governo está a conseguir pôr o país nos trilhos. Além de que um apoiante de Bolsonaro nada deve à inteligência.

É a dança da chuva.



 
Em tempo: em 2012, escrevi um texto chamado “Os licenciadozinhos contra o Doutor Lu”, aqui mesmo. Dá um pulinho lá.
http://www.chuvaacida.info/2012/05/os-licenciadozinhos-contra-o-doutor.html

4 comentários:

  1. Esse cara senta nas conquistas do pai. É um frustrado e só mais um rançoso ignorante a desserviço da sociedade.

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    1. Na verdade, no tal programa ele serve de escada para os outros. Nem aí é protagonista.

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  2. Concordo. O problema não é ser iletrado ou ser de esquerda. O problema maior e o cerne do debate é ele ser corrupto. O resto é fumaça.

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  3. Fato. Até acho que devia ser julgado por corrupção. Tem um cara chamado Sérgio Moro que podia ser o juiz, né?!

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