segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Em Joinville, a decoração de Natal também serve para o Carnaval



POR JORDI CASTAN
É impossível não perceber a mudança de estilo e de mensagem da decoração natalina. Os enfeites de Natal,  tanto públicas quanto privados, vem mudando nos últimos anos e Joinville, como cidade ligada ao mundo, não poderia ficar de fora desta tendência. Sai toda a simbologia cristã ligada ao Natal e aos seus elementos de referência. Não há mais nem presépios, nem menino Deus, nem anjos, nem arcanjos, nem coros celestiais. Entram em troca efeitos luminosos que reúnem simultaneamente a cafonice, o excesso e o mau gosto. É uma mistura de barroco tecnológico, com falta completa de bom senso e bom gosto.

Neste sentido é difícil, no caso de Joinville, achar uma que possa tirar o primeiro prêmio do projeto luminotécnico da decoração da Prefeitura Municipal. Um bom amigo, engenheiro aposentado da Celesc, insiste que aquilo não é mesmo uma decoração mesma: é só o estoque a céu aberto de todos os enfeites que sobraram. E que, como não tiveram tempo nem local para colocar, acabaram ficando meio jogados, meio esquecidos no gramado da Beira Rio. Difícil discordar dele. Custa acreditar que aquele amontoado de luzes seja o resultado de um projeto e que alguém possa ser responsável por aquele exagerado desperdício de energia e gosto estético.

O mau gosto não é exclusividade da municipalidade. Há bons exemplos também na iniciativa privada. Trenós com renas à espera da primeira nevada dezembrina, Papais Noéis barrigudos e narigudos ou constelações de estrelas piscantes compõem a decoração, lado a lado com o mais absoluto nada. Longas fileiras de lâmpadas chinesas enfeitam árvores, palmeiras, fachadas, objetos, sacadas e qualquer tipo de objeto inanimado que, indefeso, sofre o ataque furibundo da brigada da cafonice, que se propaga com virulência e entusiasmo assustador.

A única certeza é que a do próximo ano será ainda pior, mais colorida, exagerada e carente de conteúdo e de mensagem. O resultado será uma cidade perdida no seu labirinto, sem saber o que é, nem para onde vai. O ponto mais positivo é que a mesma decoração pode ser mantida nas ruas até ao Carnaval, ao fim das contas ninguém sabe mesmo qual o objetivo deste festival de mau gosto. Vai que é para deixar as ruas mais iluminadas, as cidades mais iguais e o espírito natalino completamente ofuscado pelo excesso de iluminação e a falta de bom gosto.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

MEC-Usaid, o avô da Escola Sem Partido

POR DOMINGOS MIRANDA
Há cerca de meio século houve uma mudança radical no nosso ensino, colocada em prática sob a orientação de técnicos norte-americanos. O principal objetivo do Acordo MEC-Usaid (United States Agency for International Development) era acabar com as ideologias nas escolas e faculdades e orientar os estudos para os interesses das grandes empresas multinacionais. É claro que houve muitos protestos, cujo auge foi em 1968 e que resultou no famigerado AI-5, que acabou com o que ainda restava de garantias democráticas.

O Acordo MEC-Usaid começou a ser gestado em 1964, logo depois do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart. O professor norte-americano Rudolph Atcon realizou estudo sobre o ensino superior brasileiro, a pedido do MEC (Ministério da Educação). Ele propunha que “a universidade deveria se libertar de todas as malhas do Estado, ter autonomia plena para se desenvolver enquanto empresa privada”.

Quando foi colocado em prática, uma de suas medidas foi a extinção das disciplinas de filosofia e latim e a introdução de outras, como Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). No XXVIII Fórum da UNE, os estudantes afirmaram que “o governo militar propõe para a universidade, uma universidade e um universitário inteiramente distantes e alienados dos problemas do seu país e do seu povo”.

Para a sua implantação, o governo utilizou de muita repressão. O temido Artigo 477 foi utilizado com frequência para a expulsão de professores e alunos considerados indesejáveis. Centenas de estudantes foram presos, torturados ou mortos. O último presidente da UNE antes de sua desarticulação, Honestino Guimarães, está desaparecido até os dias atuais. Em cada sala de aula sempre havia um informante do governo para relatar o posicionamento de professores e alunos.

Há um célebre ditado popular que ressalta que errar é humano, repetir o erro é burrice. Atualmente existe um movimento chamado Escola Sem Partido que, em linhas gerais, é a volta do Acordo MEC-Usaid. Seus defensores alegam que os professores estariam proibidos de abordar alguns assuntos considerados “doutrinas de esquerda”. Sem nenhuma criatividade, a direita tenta retomar uma prática adotada meio século atrás e que deixou sequelas por toda uma geração.

A burrice desses Torquemadas modernos chega a tal ponto que querem retirar o Paulo Freire como patrono da educação brasileira. Freire é um dos educadores mais respeitados em todo o mundo, mas em seu país alguns saudosistas da ditadura querem bani-lo mais uma vez das salas de aula. Aqui vale repetir uma frase do filósofo espanhol Baltazar Gracian: “A insensatez sempre se precipita à ação, pois todos os tolos são audazes”.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A posse de armas vai a votos. Sim ou não?

















POR ET BARTHES
Há no Senado brasileiro um movimento para revogar o Estatuto do Desarmamento, que foi criado em dezembro de 2003. Um relatório a favor da realização de um plebiscito - que deve ser realizado no ano que vem - foi apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e teve o “ok” do relator, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Você concorda? Sim ou não. Hoje trazemos alguns filmes do Reino Unido e, claro, dos Estados Unidos (na maioria), onde o tema está sempre na agenda por causa dos sucessivos massacres. Os filmes estão todos língua inglesa, mas é fácil entender.
















terça-feira, 28 de novembro de 2017

Quer viver em Portugal? Então deixe de ser coxinha...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Viver em Portugal. É um dos temas cada vez mais recorrentes nas redes sociais. Parece que o país está de novo na moda. Todos os dias chegam mais e mais imigrantes brasileiros aterrissam na terra de Camões. A história se repete e faz lembrar os tempos dos governos FHC, quando a crise interminável provocou uma debandada rumo a Portugal. Hoje é praticamente impossível passar um dia sem ouvir um sotaque brasileiro.

É uma espécie de refluxo. Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, as coisas melhoraram e o Brasil voltou a ser opção para viver. Nessa época, muitos imigrantes brasileiros decidiram voltar para casa. Aliás, a imagem do Brasil era tão boa e as perspectivas tão animadoras que o país tornou-se um destino para os próprios europeus. Então veio o golpe e a coisa parece ter desandado.

Desta vez o fluxo migratório tem diferenças. O padrão sócio-econômico dos brasileiros que desembarcam em Portugal mudou muito. Entre os recém-chegados, há muitos daqueles que a sociedade se habituou a chamar “coxinhas”. Sim, os mesmos que apoiaram o golpe e repetiram o clichê “primeiro a gente tira a Dilma, depois...”. Eis os fatos: “primeiro a gente tira a Dilma, vê a cagada que fez e então emigra para a Europa”.

Seria triste se não fosse a ironia. Os caras procuram em Portugal aquilo que não queriam no Brasil. E isso faz adivinhar que a adaptação ao estilo de vida português pode ter alguns percalços. Mas como acho que todos devem ser bem recebidos, vou dar uma forcinha e fazer 10 recomendações que, entendo, podem ajudar na integração:

1. Os portugueses lutaram pela democracia e gostam muito dela. Não venham estragar. Viver em democracia é uma coisa legal, tenho a certeza de que quando entenderem o conceito certamente vão gostar. Tudo bem, acho que vão achar tudo meio “comunista”, mas acostumam com o tempo. Ah... trocando em miúdos: aqui a gente respeita a regra e ninguém pensa em derrubar um presidente ou um primeiro-ministro apenas “porque sim”.

2. Outra coisa. Se no Brasil o cara se acha o importantão, isso não funciona deste lado do Atlântico. As pessoas “cagam” (expressão popular lusitana) para essa importância. Aliás, quem tenta parecer melhor que os outros é até mal visto.

3. Mais uma chatice. Os seus pimpolhos vão estudar na escola pública, junto do filho da faxineira, e vão aprender que ricos e pobres podem ocupar os mesmos espaços sociais. Em tempo: são raras as famílias que têm empregadas domésticas. E é melhor nem dizer que no Brasil existe o tal elevador de serviço. Nenhum português entenderia.

4. As universidades são quase todas públicas e, por serem financiadas pelo dinheiro público, é natural que o acesso seja mais democratizado. Também há universidades privadas, algumas com elevada qualidade, mas você tem que desembolsar o seu rico dinheirinho. Uau! Escola pública para os pobres? Isso é muito diferente das “federais” no Brasil, que se tornaram verdadeiros feudos dos ricos.

5. Ah... e você pode ter plano de saúde privado. Mas no frigir dos ovos vai perceber que um sistema de saúde público universal, geral e tendencialmente gratuito dá um jeitão. É mais ou menos como aquele SUS que estava a ser implantado no Brasil e que o golpe pôs um fim.

6. Não se preocupe por ter que andar em transportes públicos, porque você consegue viver sem carro. Tem gente que reclama, claro, mas ainda assim está a milhas dos transportes no Brasil (comparar com uma cidade como Joinville, então, beira a anedota). Outro hábito brasileiro que não funciona por estes lados. Você pode até comprar um carrão, mas ninguém vai ligar a mínima. É sério. Mas se tiver um carrão, pode pisar no acelerador que as estradas até que são boas.

7. E a coisa dos poderes. É claro que tudo tem defeitos, mas na Europa os defeitos são a exceção e não a norma. É só olhar para o Judiciário. Os juízes não são justiceiros. Os nossos procuradores não acusam por “convicções”. As pessoas conhecem os seus lugares e você não veria um juiz a ser sempre fotografado ao lado de políticos (sempre do mesmo partido), como acontece lá para as bandas de Curitiba. E acreditem: os nossos partidos de direita seriam acusados de ser “comunistas” no Brasil.

8. E olha só que coisa legal para a formação do inconsciente coletivo. Em Portugal – e acredito no resto da Europa – a sociedade não deixa surgirem excrescências como o MBL. Ninguém dá ouvidos a um energúmeno como Olavo de Carvalho. Ah... e Bolsonaro não se elegia nem síndico.

9. E o fator que muitos consideram o mais importante. Os portugueses prezam muito as suas condições de segurança. O país tem baixos índices de criminalidade. As pessoas vivem seguras. E a polícia (que por vezes comete erros) tende a ser eficiente. Aliás, tem uns caras no Brasil que defendem o uso de armas. Esqueçam isso. Para os portugueses ter armas é uma coisa que não faz sentido.

10. Enfim, Portugal está rotinado para valorizar o bem comum. Ah... e não posso deixar de perguntar: vocês sabem que o governo é formado pelo Partido Socialista, com sustentação parlamentar do Partido Comunista e Bloco de Esquerda? Triste, né? E parece que vai ser assim por mais dois anos. Então, tem uma boa solução para se adaptar: é só deixar de ser coxinha.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Cidades inteligentes não são feitas por gestões burras


POR JORDI CASTAN
De novo Joinville é citada como uma cidade inteligente. Poderíamos começar discutindo o conceito de cidades inteligentes (smart cities). E, a partir daí, tentar entender  como uma cidade só patina pode ser considerada uma inteligente. Mas a conversa ia ficar enfadonha. Custa acreditar que Joinville possa ser considerada uma cidade inteligente e, caso seja mesmo a intenção, talvez seja mais indicada uma reflexão sobre o nível de indigência mental que anda por aí.

Por causa do meu trabalho, passo muito tempo fora de Joinville e, apenas neste ano, visitei 14 capitais e mais de 50 cidades de médio e grande porte. Em todas elas tenho encontrado bons exemplos do que poderíamos fazer por aqui. Há centenas de boas ideias sendo postas em prática todos os dias em cidades de toda América latina, África e Europa.

A maior parte das ideias está direcionada a fazer as cidades mais eficientes, com gestão mais transparente e de forma a dar mais vez e voz ao cidadão. Eis um exemplo recente de um caso ocorrido em Guadalajara, no México. O sinaleiro do cruzamento, que fica em  frente ao escritório, estragou. O meu colega pegou no celular, acessou o aplicativo da própria prefeitura e enviou a imagem do problema. Em menos de 30 minutos uma equipe estava resolvendo o problema.

Em Bucaramanga, na Colômbia, é possível postar fotos de buracos e denunciar problemas de acessibilidade de forma imediata, incluindo fotos e as coordenadas geográficas. Em Barcelona, a prefeitura coloca à disposição dos seus cidadãos todas as redes sociais para que possam perguntar, denunciar ou questionar. A internet permite que cada cidadão acompanhe o processo da sua denúncia, do seu alerta, do seu aviso. Permite que mais cidadãos contribuam e mantenham a informação atualizada, novas imagens mostram a situação e se ela esta ou não sendo resolvida. A rapidez de resposta é elogiada e a lentidão gera comentários e reprovação.

Aí lembro da Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Joinville e de todas as queixas dos contribuintes: inoperância, da falta de transparência, dificuldade de poder fazer um seguimento adequado e respostas padrão que nada respondem. É evidente que a Ouvidoria esta aí mais para proteger o sistema do que para atender ao cidadão. Dedica mais tempo a justificar o injustificável do que a resolver de fato.

Lembro também que não interessa ao “status quo” que o contribuinte tenha acesso a sistemas mais transparentes e atuais. Ou seja, sistemas e aplicativos que evidenciariam facilmente o tempo de resposta, a resolução efetiva dos problemas, quantas vezes o mesmo problema se repete e tantas outras informações que serviriam para medir a eficiência da gestão municipal. Lembro ainda que essas medidas, que tanto interessam ao joinvilense, não interessam à administração municipal, que poderia ver quantificada e escancarada a sua inoperância.

Aí entendo por que não temos - e não teremos tão cedo - um ouvidor municipal que defenda os interesses e os direitos dos contribuintes. Porque não estamos preparados para ter um “ombudsman”. E, claro, por que estamos tão longe de ser uma cidade inteligente.