segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Hackathon. Ou como a montanha vai parir um rato

POR JORDI CASTAN
A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável promoveu o encontro "Hackathon Desenhos Urbanos Colaborativos - Desafio Join.Valle". Foi um momento para mostrar ideias criativas que permitam tornar a região central de Joinville mais interessante e humana. Os resultados devem ser apresentados ao prefeito Udo Döhler, em novembro.

O que parecia algo promissor, deu poucos frutos. Não há como não se decepcionar com as propostas apresentadas para revitalizar o centro da cidade. Falta ousadia, criatividade e coragem. Nenhuma das propostas é capaz de olhar para além da mesmice e da mediocridade instaladas no espírito desta Joinville que já foi e não é mais.

Gostaria de discorrer aqui sobre esse lindo exercício de diletantismo, de resultado mais que duvidoso. Propor ideias sem compromisso com a sua execução, sem envolver os atores e sem outro objetivo que discorrer sobre utopias desvinculadas de uma análise metodológica ou de um diagnóstico detalhado é pura perda de tempo.

As propostas divulgadas não passam de uma repetição dos belos projetos policromos e fantasiosos que têm sido apresentados ao longo dos anos. E que nunca tem saído do papel. Aliás, quando eventualmente são implantados se tornam uma caricatura do que tinha sido projetado. Há muitos casos que ajudam a comprovar este fato.

Os parques do Fonplata ou as obras do Rio Morro Alto são dois exemplos. A duplicação da avenida Santos Dumont e as obras de contenção das cheias do Ribeirão Mathias são exemplos mais recentes aos quais poderíamos acrescentar muitos outros, como as intermináveis obras das Ruas São Paulo ou Piratuba.

O estado de abandono de Joinville - e especialmente do centro - é não é o resultado das decisões equivocadas tomadas no passado. Pelo contrário, é mais  resultado das decisões não tomadas ao longo do tempo. Pagamos um preço cada vez mais alto pela inação, pela falta de ação que nesta gestão esta vivendo o seu ápice. A mediocridade é contagiosa. 

Vivemos numa época denominada VICA. Uma época que se caracteriza pela volatilidade de conceitos e valores, pela incerteza e pela complexidade. Uma época em que não há espaço para gestores com uma visão simplória, um tempo em que predomina a ambiguidade. Não ha espaço neste tempo para lideres autoritários, lineares, que se aferram a certezas e ainda acreditam que a terra seja plana.

A incapacidade de pensar a cidade de maneira consistente é a raiz dos males que assolam a Joinville destes tempos. Não espanta, portanto, que isso se reflita em eventos como o Hackathon. É um caso para lembrar o velho adágio: "a montanha vai parir um rato".

Quem tiver interesse em conhecer algumas propostas, clique (aqui) para ler no AN.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Jogar com a camisa 13. Dá sorte ou azar?

POR MARCO CASAGRANDE
Jogador de futebol é supersticioso? Uns dizem que sim, outros que não? Mas o que dizer de uns caras que, sempre que entram em campo, fazem questão de usar o pé direito? Vestir a camisa número 13, então, é motivo de desconfiança. Nos países mais assustadiços com as coisas do outro mundo, os jogadores evitam. Em outras culturas mais racionais, nem tanto.

No Brasil, tem muita gente jurando que o 13 dá azar. Mas também houve quem invertesse essa lógica para dizer que o número dá sorte. Ninguém melhor que Mário Jorge Lobo Zagallo, o ex-jogador e treinador da seleção brasileira, para afirmar que não há azar. Afinal, como jogador ele foi campeão mundial em 1958 e 1962, vestindo a camisa 13.

E temos Pelé. O maior craque brasileiro de todos os tempos tornou a camisa 10 um símbolo. Tanto que durante muito tempo o número era reservado aos craques de qualquer time. O que poucos sabem é que quando estreou pela seleção nacional, em 1957 (um ano antes de ser campeão mundial), Pelé tinha o número 13 às costas. Seria um amuleto?

Aliás, o “rei” Pelé tinha uma admiração especial pelo craque português Eusébio, que sempre considerou um dos maiores jogadores de todos os tempos. O “Pantera Negra”, como era conhecido o moçambicano de nacionalidade portuguesa, foi dono da camisa 10 no seu clube, o Benfica, mas na seleção imortalizou a camisa número 13.

Uma história parecida é a do argentino Mario Kempes. O atacante começou a jogar pela seleção do país vizinho com o número 13. Mas em 1978, quando os argentinos conquistaram a primeira Copa do Mundo, Kempes já usava a mítica camisa 10 alviceleste, a mesma que tempos depois viria a ser de Maradona e Messi.

A lista de jogadores que fizeram sucesso com a camisa 13 é extensa. Entre os casos mais recentes está o brasileiro Maicon, que brilhou na Internazionale de Milão. E o número 13 não é estranho a Daniel Alves, seu contemporâneo de seleção. Outro é o craque alemão Michael Ballack, que usou a camisa nos clubes e na seleção da Alemanha.

E para terminar, uma curiosidade. Na Espanha o número parece ser destinado aos goleiros. É só conferir: Bravo (Barcelona), Oblak (Atlético de Madrid), Keylor Navas (Real Madrid). Podemos lembrar o goleirão Courtois, do Chelsea e da seleção belga, que jogou no Atlético. Outro é o português Beto, que jogou no Sevilha e hoje está na Turquia.

Sorte ou azar? É para quem quiser acreditar.

Pelé, Kempes, Zagallo e Eusébio: todos têm uma história com a camisa 13







Marco Casagrande é estudante de geologia em Rio Claro,
torce pelo São Paulo e é a favor
de entrar com o pé direito em campo.


A mídia ajudou no linchamento público de Cancellier

POR DOMINGOS MIRANDA
A morte do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 2 de outubro, causou repercussão em toda a sociedade e por isso merece um novo comentário. A imprensa, que teve papel de destaque no linchamento público, sente-se incomodada e começa a fazer uma autocrítica. Como é de conhecimento geral, Cancellier foi levado preso pelos policiais federais, despido, invadido em suas partes íntimas e algemado nos pés e mãos numa cela junto com presos comuns. Ele não era acusado, nem sentenciado, mas apenas investigado por um suposto desvio de dinheiro na UFSC na gestão passada. Mas a mídia vendeu a notícia repassada pela polícia e destruiu a reputação do reitor, adquirida ao longo de quatro décadas.

No dia 8 de outubro a Folha de S. Paulo publicou artigo da ombudsman Paula Cesarino Costa, sob o título “Jornalismo de ouvidos moucos”, criticando a cobertura da prisão e morte  de Cancellier. São suas palavras: “Em uma versão eletrônica, a reportagem de setembro tem hoje um sinal de Erramos, produzido 23 dias depois de sua publicação: ‘A reportagem deixou de informar que o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, era investigado por suspeita de interferir na apuração sobre o desvio de recursos na universidade, e não pelo desvio em si’. A admissão do erro foi direto, mas insuficiente e demorada”.

A ombudsman revela que o jornal não tem correspondente em Florianópolis e por isso que as informações da primeira reportagem foram apuradas por telefone e e-mail da polícia. E ressalta: “O que interessa é refletir sobre a maneira como a mídia tem lidado com operações policiais que buscam holofotes em investigações ainda em andamento. (...) Em alguns momentos, é preciso ter coragem para publicar. Em outros, a ousadia de não publicar”.

No mesmo dia e no mesmo jornal, o experiente jornalista Elio Gaspari, autor de cinco livros sobre a ditadura militar, abordava em sua coluna dominical o caso Cancellier, com pesadas críticas. “Nos dias de hoje, proibir um reitor afastado de pisar na universidade serve apenas para humilhá-lo. Vale lembrar que a ditadura nunca proibiu os professores que cassou de entrar nas escolas.” Dias depois veio à tona mais uma arbitrariedade: a justiça proibiu, por quatro vezes, o reitor de receber ajuda espiritual. Gaspari termina seu artigo dizendo: “O reitor Cancellier tornou-se um desencanto para o Brasil da Lava Jato”.

Outro ícone do jornalismo, Kennedy Alencar, comentou em seu programa da CBN: “Esses funcionários públicos têm poder demais para usá-lo sem questionamento da sociedade. Não gostam de controle externo, algo necessário numa democracia. A imprensa, que tem o dever de ser crítica do poder, de fiscalizar os políticos, precisa ter a mesma atitude em relação a policiais, promotores e juízes. O jornalismo não pode ser correia de transmissão da polícia nem do Ministério Público. Tampouco do Judiciário”.

O direito à dignidade foi uma conquista da democracia. Autoridades não podem agir ao seu próprio arbítrio, desrespeitando normas, quando fazem suas investigações. Com a Lava Jato, por causa de uma popularidade adquirida e que começa a declinar, muitos juízes, procuradores e delegados começaram a atuar como verdadeiros déspotas, sem prestar contas a ninguém. A nota que as associações de servidores públicos que atuaram neste caso deram à sociedade foi um escárnio à população.

Diante de tantos abusos, há urgência na aprovação do  Projeto de Lei 7596/17, que tramita na Câmara desde 10 de maio e já foi aprovado pelo Senado e que define os crimes de abuso de autoridade cometidos por juízes e procuradores. O senador Roberto Requião batizou a lei que deverá entrar em vigor de Luiz Carlos Cancellier. Em discurso, Requião falou: “Deus meu, que a morte do reitor Cancellier seja o freio das arbitrariedades e do excesso das corporações que agem à margem da lei. Amém!”.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Dove tira campanha do ar. Foi racismo?

POR LEO VORTIS
O mundo digital facilita o cotidiano. Mas também complica a vida para as marcas, que precisam estar cada vez mais atentas ao que publicam. Com a internet, tudo tem maior visibilidade. A semana foi marcada pelos protestos e acusações de racismo contra a Dove por causa de um filme exibido no Facebook, nos Estados Unidos. 

Numa pela feita para as redes sociais, uma mulher negra tira uma camiseta marrom e, no seu lugar, aparece outra mulher, de pele e camisa claras. O filme não a acaba aqui, mas a confusão é apenas sobre esta parte. Porque há um outro take em que a mulher branca tira a camisa e, no seu lugar, aparece outra mulher, mas de traços asiáticos.

Algumas pessoas não veem racismo. Dizem que os publicitários apenas marcaram touca na  montagem do filme. E contra-argumentam. Uma mulher de pele escura sendo substituída por outra de pele clara é racismo, mas uma mulher de pele clara substituída por outra de pele asiática (mais escura) não gera controvérsia.

O fato é que as reações negativas dominaram as redes sociais. Os mais exaltados dizem que é claramente um anúncio racista, uma vez que a mulher negra estaria sendo “branqueada”. As críticas ganharam tamanho eco que a marca foi obrigada a emitir uma nota pedindo desculpas por ofensas causadas. E retirou o post da sua timeline.

O problema é que o fabricante tem um historial nesse campo. Há poucos anos, a marca passou por situação semelhante, quando publicou um anúncio com três mulheres, mas posicionou a mulher de pele escura sob a palavra “antes” e a de pele clara sob a palavra “depois”. Deu rolo. E a marca também teve que pedir desculpas.

E se fosse num país pobre, será que isso aconteceria? Há anos o mesmo fabricante tem um produto chamado Fair & Lovely, comercializado na Índia, que branqueia a pele. Na comunicação, a marca associa o sucesso à cor da pele. Quanto mais clara, melhor. O Fair & Lovely existe há anos e até hoje os países ocidentais nunca se queixaram. O segundo filme (abaixo) é bem claro.



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Quem é o dono do "movimento das bichinhas livres"?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Fernando Holiday: “Agora tem o tarado por travesti achando que é dono do MBL. Pelo amor de Deus! Volta lá para o seu filme pornô. O que que é isso? Falta de vergonha na cara, Frota”.
Alexandre Frota: “Tarado eu sou, sim. Mas não por essa sua bundinha. Entendeu, essa sua bundinha é seca. Fraca. Se boto você de quatro, você não aguenta. Você morre ali mesmo”.

É oficial. O Brasil está mesmo no fundo do poço. Não sei se esse era o plano dos golpistas, que não mediram esforços para levar essa gente para o círculo do poder. Mas o certo é que  a democracia sangra de morte no Brasil destes dias. Já não estamos a falar apenas de obscurantismo, mas no mais nefasto momento da história recente do país. A diatribe entre esses dois nomes “relevantes” da direita brasileira é a prova dessa agonia.

É fácil perceber do que se trata, mas se o leitor e a leitora ainda não sabem a origem dessa baixaria, estamos em meio a uma disputa para ver quem é o dono do MBL - Movimento Brasil Livre. O nível do debate - lembremos que Frota ameaça matar Holiday à pirocada - nem pode ser considerado rasteiro. É inqualificável. É indizível. É vexatório. Pobre Brasil, que sangra lentamente nas mãos destes boçais.

Qual é o butim em causa? O MBL é identificado por ser uma fábrica de mentiras (as mais escabrosas), por ter sustentação financeira a partir de fontes duvidosas e por estar ligado a partidos de direita, de forma dissimulada. No entanto, o maior problema para a sociedade é o fato de ser uma pandilha de analfabetos mirins que consegue ser seguida por analfabetos políticos adultos. É o retrato da sanidade mental do país. 

E a gritaria continua. De um lado temos um bando de moleques desvairados e ignorantes que dizem ser os donos do MBL. Do outro temos um ator pornô desvairado e ignorante que diz ser o dono do MBL (“movimento das bichinhas livres”, nas palavras do próprio Frota). A assistir tudo isso está um país abúlico, uma sociedade tão habituada à lama que já nem se revolta por ser emporcalhada.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Poder branco.


A fábrica de multas está de olho no seu bolso


POR JORDI CASTAN
As informações mais recentes mostram que a receita com as infrações de trânsito continua aumentando. Joinville quebra recordes de arrecadação e o trânsito segue ruim e inseguro. As ações de prevenção, sinalização e educação são praticamente inexistentes. O dinheiro some.

Provavelmente, o bando de estultos e áulicos de sempre já vai retomar o discurso que não há fábrica de multas, que a culpa é unicamente dos motoristas que não cumprem a legislação. Esse é um discurso fácil e tendencioso, mas um discurso que, no caso de Joinville, é fácil de desconstruir.

Que tal começar pelos agentes de trânsito? Primeiro para lembrar que, como não há um orçamento específico para pagar os salários, é necessário contar com os recursos provenientes das infrações para cobrir a folha. Desta forma, os agentes precisam multar para assegurar os próprios salários ao final de mês. E se estabelece um vínculo perverso que penaliza o motorista.


Semana passada, por exemplo, presenciei um fato surpreendente em Balneário Camboriú. Agentes de trânsito no meio da rua, com apito na boca dirigindo o trânsito. O fato aqui em Joinville seria inédito aqui agentes só são vistos escondidos e com um bloco na mão. Fazer fluir o trânsito em horários de pico nos gargalos de sempre não parece estar entre suas atribuições.

Lombadas eletrônicas não melhoram a segurança e só servem para multar. Vamos a outro exemplo. Na rua Prefeito Helmut Fallgatter há dois sinaleiros acionados por botoeira e duas lombadas eletrônicas de 40 km/h, mais um pardal de 60 km/h. Poderíamos iniciar uma discussão sobre os estudos técnicos, 
sobre função e utilidade, que embasaram a decisão de instalar estes equipamentos todos. Para começar, em nenhum momento a Prefeitura apresentou os pontos críticos, aqueles em que há um maior numero de acidentes e de acidentes mais graves. Nem para esta rua nem para nenhuma outra.

Apresentar esta informação inexistente com a localização de radares, lombadas eletrônicas e outros equipamentos de fiscalização e controle permitiria uma maior transparência e controle da sociedade. Publicar regularmente dados estatísticos, mostrando a redução do número de acidentes com mortes ou feridos e evidenciar a relação entre os equipamentos instalados e a melhoria da segurança, também seria uma informação relevante. Lamentavelmente tampouco está disponível. Faltando a primeira, a segunda é puro achismo. A única informação verificável é o aumento da arrecadação.

Mas voltemos à rua Helmut Fallgatter. É o caso que usarei como referência para mostrar que o objetivo do poder público é unicamente o de arrecadar. Iludem-se o que pensam que é  para aumentar a segurança, principalmente dos pedestres, que são o elemento mais vulnerável quando o tema é trânsito.

Em frente ao terminal urbano Tupy e a Escola Bahkita, foram instalados sinaleiros de botoeira. Bom lembrar que ambos têm mais de 20 anos de instalados e o seu funcionamento é simples. Tão simples que tanto uma criança de 5 anos como um agente de trânsito conseguem compreender. O sinaleiro está permanentemente em verde e quando um pedestre precisa atravessar a rua, basta premir a botoeira, que o sinal fica vermelho para os veículos e verde para os pedestres.


Simples de vez, os veículos detêm-se completamente e os pedestres atravessam. O resto do tempo, fora dos horários de escola, nos feriados, a noite, não atrapalham o fluxo normal de veículos que podem manter a velocidade estabelecida para essa rua de 60 km/h. Evidentemente que se algum motorista furar o sinal vermelho deve ser multado e essa é uma infração gravíssima.

Frente a Escola Presidente Medici e a Igreja do Evangelho Quadrangular foram instaladas duas lombadas eletrônicas de 40 km/h. Os veículos não precisam deter-se como no caso dos sinaleiros de botoeira e elas ficam la multando dia e noite, haja culto ou não, haja aula ou seja período de ferias escolares. Penalizando quem passa a mais de 40 km/h numa rua que tem velocidade prevista de 60 km/h.


Definir velocidades diferentes para uma mesma rua é uma forma de confundir o motorista. Instalar lombadas eletrônicas em lugar de optar por sinaleiros de botoeira tem um único objetivo: arrecadar mais. Porque lombadas não são mais seguras para os pedestres.


Ainda é oportuno lembrar que as faixas de pedestres frente aos quatro pontos da rua mantêm o padrão da maioria das ruas de Joinville. Ou seja, desapareceram e, quando pintadas, não duram mais de 4 ou 5 meses, mas isso tampouco importa.

Mas haverá ainda quem insistira no discurso de que não há fábrica de multas?

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Raul, Jorge Campos e as camisas coloridas dos goleiros

POR MARCELA DOMINGUES
Quando ainda estava na faculdade, um professor de design lançou um desafio para os alunos. Um trabalho sobre os uniformes de futebol. Comecei a fazer a pesquisa e, por acaso, deparei com casos interessantes. Um deles era a figura do goleiro mexicano Jorge Campos, que jogava com uniformes extravagantes. E achei que o tema podia ficar apenas nos goleiros, porque havia muita coisa interessante.

Mesmo estudando na Espanha, decidi começar a pesquisa pelo Brasil. Não havia muitos dados, mas o caso do goleiro Raul Plassmann pareceu merecer uma análise. Conta a história que, quando foi para o Cruzeiro, o jogador não tinha uma camisa que lhe servisse. Como não queria ficar desconfortável (e nem com a barriga de fora) pediu emprestada uma camisa qualquer. E só havia uma amarela.

Parece que deu sorte no jogo e então ele passou a jogar sempre com camisas dessa cor. Não sem enfrentar a gozação das torcidas, que, num tempo de machismo ainda mais evidente, viam algo de “efeminado” na escolha. Naqueles tempos havia uma cor padrão e todos os goleiros jogavam de preto. Mas Raul Plassmann não se importou com a polêmica e permaneceu no clube por 13 anos, sempre conquistando títulos com a camisa amarela.

A história de Raul vem dos anos 60 e 70 e foi um marco. Parece que depois disso nada de “revolucionário” aconteceu. Foi preciso muitos anos até surgir, no México, um outro goleiro capaz de fazer história. Não exatamente pelo bom gosto, mas pelo exotismo dos seus uniformes: o baixinho goleiro Jorge Campos. Diz quem lembra que também jogava na linha e marcava gols. Mas foram as suas camisas coloridas e largas que entraram para a história.

Houve jogos em que jogava com camisas discretas. Mas entrou para a história pela qualidade do futebol e pelos uniformes espalhafatosos. Jorge Campos era o centro das atenções. Mais do que falar, deixo aqui algumas imagens de uniformes usados pelo ídolo mexicano. Quanto a mim, tive muito gosto em fazer a pesquisa e escrever sobre o tema.

P.S. Não posso deixar de falar do goleiro da seleção da Inglaterra, David Seaman, que usou uma das camisas mais feias que já vi.

Raul, Seaman e Campos: camisas que marcaram





Marcela Domingues é designer de comunicação, graduada em Belas Artes pela Universidade de Granada (Espanha), vive no Rio de Janeiro e é torcedora do Vasco.

Tretas